Em nome do amor - Emma Darcy





Um pacote vindo do Brasil... entregue por um mensageiro com instruções para que o próprio Nick Ramirez assinasse o recibo ao receber a encomenda. Assim, o recebimento estaria garantido, não haveria chance de extravio.
Nick observou o mensageiro deixar o escritório. Não queria ver o pacote sobre a mesa, não queria abri-lo. O embrulho havia sido enviado pelo pai que não tinha o direito de intervir na vida do filho. Essa porta se fechara há dezesseis anos. Não. Muito antes.
Agora, Nick estava com 34 anos. Tinha somente sete quando se sentiu rejeitado. A lembrança de quando era um menino que não entendia nada fez com que o rapaz, antes sentado, se levantasse. Uma dose de adrenalina o afastou do pacote vindo do Brasil. Aos sete anos, era um menino inocente, preso em uma rede de decepções, tentando encontrar onde se encaixava, e a verdade brutal... não pertencia a lugar nenhum. Então, aprendera a criar o próprio espaço. O escritório fazia parte do
a direção central da agência de publicidade que ocupava dois andares de um edifício respeitável em Circular Quay com vista para o porto de Sidney. Era a empresa de Nick. Somente dele. Ramirez a construíra, prosseguindo com a idéia de que o mercado corresponderia. E estava certo.
Enquanto permanecia à janela, avistando a Ópera e o enorme vão da ponte atrás, Nick se conscientizava de que todo mundo sabia que sexo dava dinheiro. Sexo e
Mas ele sabia tanto que tinha aptidão para descartar, melhor do que ninguém, os dois itens. Gerava impacto, fixando o produto-alvo na mente das pessoas. Seu estilo de criar publicidade o transformara em um homem muito rico, capaz de comprar aquela vista de um milhão de dólares, tanto no escritório quanto na cobertura que tinha em Woolloomooloo.
Ali estava, no topo do próprio mundo, auto-suficiente, um homem bem-sucedido. Não precisava de nada de nenhum dos
— os homens ricos, poderosos, que a mãe atraíra, obtendo deles tudo o que o coração dela desejava e cobiçava.
Ao longo da infância e da adolescência de Nick, esses homens lhe deram muito dinheiro na tentativa de agradar à mãe dele. Usara o dinheiro para financiar seus objetivos e a própria ambição. Por que não? Ganhara essa quantia por não ser um estorvo na vida deles. Mas não recebia mais nada de ninguém. Não precisava. Não queria.
E era muito tarde para Enrique Ramirez lhe oferecer alguma coisa. O brasileiro tivera duas chances para fazer diferença na vida de Nick. Foi embora na primeira vez. Assim como na segunda oportunidade, quando o filho apareceu no Rio de Janeiro. Um jovem de 18 anos procurando se familiarizar com um pai que nunca conhecera. Encontrara ressentimento.
O rapaz foi imprudente ao se apresentar como filho de Enrique na própria casa do pai.
— O que quer? O que pensa que pode tirar de mim? O desprezo do brasileiro, bem-posicionado, estimulou Nick a retrucar:
— Nada. Só queria conhecê-lo. Mas
o seu nome. Posso ver agora que me pertence.
Não dava para negar o padrão genético que lhe tinha sido passado — o mesmo cabelo espesso, preto. Pele morena. Olhos verdes profundos com pestanas grossas. Um nariz longo e aristocrático. Maçãs do rosto salientes. Queixo quadrado com uma fenda central que teria diminuído a impressão de uma masculinidade agressiva, mas lhe proporcionara um poder imoral. Uma boca esculpida para a sensualidade. E o porte alto, musculoso, combinando força e atletismo.
Era realmente filho de Enrique. Ao retornar para casa, na Austrália, reivindicou legalmente o nome Ramirez. Pelo menos, não era mentira. Mas não importava o conteúdo do pacote vindo do Brasil... Nick se rebelava contra qualquer influência que o pai pudesse pensar ter sobre o filho.
O interfone do escritório tocou. Nick atendeu.
— A sra. Condor está na linha, querendo falar com você — informou a assistente.
A mãe dele. Nessa manhã, duas intromissões dos pais que não eram bem-vindas. Uma sensação de ironia incitou Nick a dizer:
— Coloque-a na linha.
Um clique. Então, o convite seco para iniciar a conversa.
— Mãe?
— Querido! Algo extraordinário aconteceu. Temos que conversar.
— Estamos conversando.                                         
— Quero dizer, precisamos nos encontrar. Pode
arranjar um tempinho para me receber essa manhã? Estou a caminho. É importante. Recebi um pacote vindo do Brasil.                                                           
— Eu também — comentou.                                    
— Oh! — Surpresa e desapontamento. — Bem, ia lhe dar a notícia uma vez que ele é seu pai, mas acho que não preciso mais. — Um suspiro dramático. — Que desperdício! Enrique devia estar na faixa dos sessenta. Muito cedo para um homem como ele morrer. Tão viril, determinado.
Nick sentiu uma pontada no coração. Recuou ao saber que o pai morrera. Nunca o conheceria realmente. Não havia mais chances. Olhava fixamente para o pacote em cima da mesa — o último contato!
— Ele me presenteou com um magnífico colar de esmeraldas...
Prazer na voz da mãe enquanto descrevia cada detalhe do colar. A sra. Condor adorava coisas bonitas. Ensinou a Nick o valor do
sensual. Cada homem com quem dividira a cama — marido ou amante — pagara, generosamente, pelo privilégio.
Estava no quinto casamento. E se mais algum sujeito riquíssimo aparecesse, Nick quase não duvidava de que os lindos olhos dourados, repletos de cobiça, iriam vaguear novamente.
Com relação a Enrique Ramirez, a mãe não queria se casar com um brasileiro e se estabelecer em outro país. Sem dúvida, tinha sido suficiente que o jogador de pólo internacional fosse o juiz no Concurso Miss Universo, sediado no Rio de Janeiro, no ano em que Nadia Kilman ganhara o título.
Não pretendia ter engravidado. Foi um acidente. Planejava se casar com Brian Steele, filho e herdeiro de um magnata australiano, Andrew Steele, dono de uma mineradora. Mas, era fácil para uma mulher como ela, charmosa e persuasiva, deixar que o homem que escolhera como marido pensasse ser o pai da criança que carregava no ventre. Prendera o noivo bilionário.
O casamento significava desistir do reinado de um ano como Miss Universo. Mas a mãe nunca aceitou isso. Ainda hoje, sempre que podia, lembrava desse fato.
A história completa do relacionamento da mãe com o filho veio à mente de Nick enquanto a sra. Condor discorria sobre as minas de esmeraldas de Enrique na Bolívia, como se o filho tivesse direito a alguma coisa. A mãe se especializara em fazer acordos convenientes.
Nick se perguntava se teria continuado sendo filho de Brian Steele se a mentira da mãe não tivesse sido descoberta. Mesmo depois do divórcio, Nick ainda acreditava que Brian era seu pai natural. Até que se defrontou com Steele, perguntando por que não o visitava na escola, não comparecia aos eventos esportivos como os outros pais divorciados faziam.
— Pergunte à sua mãe — tinha sido a resposta.
— Não é minha culpa se você não ama mais a minha mãe — retrucou Nick, sentindo-se injustiçado. — Não sou somente filho dela. Sou
filho também.
— Não, não é.
Chocado, magoado, com raiva, Nick lutara contra a frustração.
— Você é meu pai. Só porque agora tem outra família isso não significa...
— Não sou seu pai. — Brian gritara. — Nunca fui. Pelo amor de Deus, garoto! Veja-se no espelho. Não há nenhum traço meu em você.
Do choque à descrença. Não era ruivo, nem tinha pele clara ou olhos azuis. Assumira que herdara o cabelo escuro da mãe, e era isso que o pai odiava — a constante lembrança da ex-mulher.
— Não me quer? — foi embora, provando a amargura de ser vítima de um casamento desfeito. Ainda assim, tentando fazer com que Brian encarasse o fato de que era pai dele.
— Não, não quero. Por que iria querer o filho bastardo de outro homem? O seu verdadeiro pai se chama Enrique Ramirez. Quando não está competindo internacionalmente, jogando pólo, se encontra no Brasil. Duvido que Enrique vá à sua escola para vê-lo jogar. Mas você pode pedir à sua mãe para, em seu nome, entrar em contato com ele.
Aos sete anos de idade, depois de descobrir o verdadeiro parentesco, Nick, determinado, tentou um contato com o pai biológico.
— Querido, lamento que esteja chateado pelo fato de Brian não ser o seu pai — dissera a mãe, sorrindo, ignorando a ferida que o filho alimentava dentro de si. — Mas você tem um padrasto perfeito. Harry é muito mais divertido...
— Quero saber sobre o meu verdadeiro pai — aborreceu-a com tanta teimosia.
— Bem, ele é casado, querido. Sem chances de se divorciar. Totalmente comprometido com a religião e a política do país dele. — As mãos graciosas da mãe tremiam como se suplicasse. — Nunca poderemos formar uma família, mesmo que quiséssemos.
— Ele sabe a meu respeito?
— Sim. Uma dessas infelizes coincidências da vida. Enrique veio à Austrália jogar pólo. O seu avô não o verdadeiro como você sabe agora o convidou para jogar. Imaginando-se um perfeito jogador, construiu um campo de pólo privativo na propriedade que tem perto de Singleton. Foi um fim de semana festivo. Impossível não ir. Imaginei que Enrique seria discreto e fingiria que não me conhecia.
— Ele me reconheceu como filho dele?
— Sua idade, assim como sua aparência... Tive que admitir... e Enrique usou o segredo para... — Chantageá-la a ir para a cama com ele.
Isso era tudo o que Nick sabia sobre o pai biológico — um aproveitador que arranjou um jeito de ter a ex-Miss Universo novamente. Embora Nick suspeitasse que o brasileiro arrogante, bonito e carismático não tivesse se empenhado tanto. Não importava o escândalo. Os dois correram o risco.
— Sua mãe me desejava tanto quanto eu a queria — Enrique se desculpou quando Nick expôs as conseqüências do ato do pai. Nem uma pontada de culpa. Não deu muita importância. — Sua mãe poderia ter dito não. Nunca fiz amor com uma mulher que não quisesse. Foi escolha de Nadia. A vida dela.
— E a
vida era irrelevante para você. — Nick o acusou.
Enrique mostrou indiferença.
— Eu lhe dei a vida. Vá em frente e encontre o prazer em viver. Revirar o passado não lhe trará alegria.
Bom conselho. Nick o acatou. Era por isso que ainda não tocara no pacote vindo do Brasil.
— O que ganhou de presente? — a mãe perguntou, curiosa. O colar de esmeraldas aguçara o apetite dela por mais tesouros vindos do Brasil.
— Diria que a maior parte dos meus traços físicos — Nick zombou.
— Verdade. Mas não foi o que perguntei. Não seja chato. Ele me escreveu dizendo que o colar era uma prova de gratidão por ter lhe dado um filho tão admirável. Se Enrique estava satisfeito com você, lhe deixaria muito mais do que um colar.
— Ainda não abri o pacote.
— Ande logo com isso. Espero saber de tudo quando chegar ao escritório. Isso é tão excitante que mal posso esperar. Seu pai era muito rico, sabe disso.
Sim, Nick sabia, vira um verdadeiro tesouro na casa de Enrique — relíquias, o tipo que pertencia à aristocracia e era mantida em família, passada de pai para filho.
Mas Nick não queria isso. O corpo queimava rejeitando tudo que estava atrelado à vida que tanto significara para o pai, mais do que saber ou brincar com o filho bastardo.
— Devo estar aí em 15 minutos — a mãe avisou. — Não é maravilhoso ser lembrada assim depois de todos esses anos?
Como sempre, vive centrada na própria visão do mundo. Nick, preocupado, disse, com a fala arrastada:
— Não é maravilhoso, mãe.
— Não seja rabujento. O que passou, passou. Deve sempre aproveitar o melhor do que tem.
Esse era o princípio no qual Nadia Kilman Steele Manning Lloyd Hardwick Condor baseara a própria vida.
— Claro. Não vejo a hora de ver a senhora e o seu colar. — O filho sabia que o colar seria usado na primeira oportunidade.
Nick desligou o telefone. Voltou a observar o pacote em cima da mesa. Parte dele queria jogar o embrulho na lixeira. Outra parte queria saber o que o pai julgara que ele merecia. Decidiu ir até o fim. Depois, deixaria tudo para trás.
Abriu o pacote. Havia duas cartas. Uma era de um advogado, Javier Estes, que agora lidava com a herança de Enrique. A outra havia sido escrita pelo pai. O conteúdo era surpreendente. O velho Ramirez conhecia cada detalhe da vida do filho. O grande desenlace da história revirava o mundo de Nick, lançando-lhe um desafio.
Continuava pensando na carta quando a assistente abriu a porta para que a mãe entrasse. Tinha 55 anos... mas não aparentava mais do que 35. Nadia era um mostruário do que havia de mais novo em cosméticos, com um corpo de curvas exuberantes,
Aonde quer que fosse, olhos se voltavam para vê-la e logo se mantinham presos para observá-la. Era muito atraente. Tudo e todos ao redor se tornavam insignificantes. A Miss Universo ainda se fazia notar.
O cabelo espesso, lustroso, longo e ondulado parecia um riacho de seda marrom-escura, tentador. Os olhos grandes, na cor âmbar, tinham o poder de hipnotizar. O nariz era perfeito. A boca
era muito atraente, assim como os dentes brancos, brilhantes.
O longo e gracioso pescoço estava, invariavelmente, adornado com jóias deslumbrantes que complementavam a beleza estonteante, e as roupas da última moda, sempre maravilhosas. Estava vestida de preto-e-branco com alguns toques de vermelho.
Assim que a porta se fechou, a sra. Condor gesticulava para que o filho lhe desse o que ela queria.
— Bem...? — Foi uma aguilhoada junto a um sorriso provocante e apelativo.
Nick perambulava pela sala e, casualmente, se encostou na mesa. Divertia-se enquanto contava à mãe algumas notícias que poderiam enfraquecer a vaidade dela.
— Não acho que seja a única mulher que recebeu um colar de esmeraldas de Enrique Ramirez essa manhã.
O rosto suave desafiou os diversos tratamentos de Botox. A mãe ficou zangada.
— O que quer dizer?
— Aparentemente, meu pai deu muitas cabeçadas durante os anos em que jogava pólo. Tenho um meio-irmão na Inglaterra, e outro nos Estados Unidos. Ambos impressionaram muito o meu querido falecido pai, tanto quanto eu, apesar de nós três sermos bastardos. O que significa que também se sentia agradecido às mães deles.
— Oh! — Deu de ombros. A boca se contorceu em um sorriso tristonho. — Era irresistível. Não duvido de que qualquer mulher se deixaria ser seduzida por Enrique. Mas isso não é muito bom para você, Nick. Acho que isso significa que a herança foi dividida em três partes.
A herança era irrelevante. Nick queria conhecer os meios-irmãos. E, para fazer isso, tinha de satisfazer a fantasia maluca de um homem falecido. Experimentar de novo uma vida diferente através do filho ilegítimo... uma vida baseada em amor verdadeiro e compromisso, fidelidade e paternidade. Isso significava casar e engravidar a esposa nos próximos 12 meses, ou nunca mais saberia nada sobre os meios-irmãos.
Era esse o desejo básico de Enrique... o desafio que deixara para Nick. Esquecer o resto. Nick não acreditava em amor, casamento e famílias felizes. Cumpriria aqueles termos para conseguir um encontro com os meios-irmãos — sua real família de sangue por mais fragmentada que fosse, não meios-irmãos que vinham e iam conforme os casamentos da mãe dele. Queria encontrar os outros rebentos de Enrique Ramirez, saber se eram parecidos com ele, sentir que não era sozinho.
— Não há herança — mentiu, consciente de que a mãe não podia deixar de conspirar a respeito, caso lhe contasse a verdade. Sorriu, zombando, enquanto acrescentava: — Meu pai me concedeu conhecer uma família. Fui atrás disso quando tinha 18 anos. Para você é muito pouco e tarde demais. Não tenho nenhuma pista para encontrá-los. Diferente de mim, nem sabem que são filhos de Enrique. Então, o nome Ramirez não significaria nada para os dois. Fui informado de que as identidades deles serão reveladas a mim quando a questão da herança for resolvida. Posso esperar. Nesse meio-tempo, vou prosseguir com os meus negócios. Se me deixar trabalhar... Dirigiu-se à porta e a abriu para a mãe.
— Obrigado pela visita. Fico contente que esteja feliz com o colar.
— Não está desapontado, Nick?
Deu de ombros.
— Quem não espera nada não pode ficar desapontado.
— Oh, você... — Deu um tapinha no rosto do filho, os olhos de âmbar, dourados, procurando uma fresta na cínica armadura de Nick. — Deveria ter lutado para que Enrique o reconhecesse como filho enquanto estava vivo. Você sempre foi muito orgulhoso. Muito independente.
— Resultado das circunstâncias. Adeus, mãe. Sem ter nada de interessante que a prendesse ali, aceitou partir. Agora, ansiosa para que o colar de esmeraldas fosse avaliado para saber o quanto ela significava para Enrique Ramirez. Nadia era muito boa em matemática quando o assunto era somar o lucro de cada relação que mantivera.
Sozinho novamente, Nick se concentrou em formular a melhor maneira de alcançar o que queria sem pagar um preço muito alto. Não tinha informação suficiente — nada de nomes, descrições, idades — para tentar encontrar os meios-irmãos por conta própria. A única garantia de encontrá-los era percorrer o caminho que o pai traçara.
Não desperdiçaria de jeito nenhum a oportunidade de contatar uma família
Então, isso significava que, primeiro, Nick teria de encarar um casamento e a paternidade. O truque era criar uma situação com a qual pudesse conviver. Não queria nenhum filho seu sofrendo devido ao divórcio dos pais, ficando confuso por se sentir indesejado. Se tinha de ter um filho, precisava estabelecer um ambiente estável para isso.
O pensamento começou a se direcionar para uma mulher. Acreditava que Tess atenderia às necessidades dele e às da criança. Tinha quase certeza de que conseguiria estabelecer um acordo com a moça — um acordo sensato, legal, que protegesse todas as partes envolvidas. Tess não era como nenhuma das outras mulheres que conhecia — que se apressariam a se casar com ele por ser quem era. Tess não queria nada dele, não queria nada de nenhum homem.
Mas talvez quisesse um filho. E sabia a origem Nick. Tessa Steele vinha do mesmo lugar. Não importava se era filha de Brian Steele — filha verdadeira. Tinha idéias próprias e construíra sua vida sozinha, assim como Nick.
A grande questão era... Estaria interessada em forjar uma vida a dois com Nick Ramirez devido ao incentivo de terem um filho juntos?



— Não há nada seu nele, Tessa — o pai resmungou, um olhar de desgosto enquanto observava o neto de dois meses.
Nada
era o queria dizer. Tess sabia que era a filha favorita porque o pai podia ver nela os próprios genes no cabelo ruivo, na pele clara e nos olhos azuis. Nunca tivera certeza se era algum tipo de necessidade masculina primitiva de se ver reproduzido — ou uma reação contra o fato de ter o filho de outro homem se passando como seu. A mãe de Nick deixara estragos ao término do casamento com Brian Steele.
Sem dúvida, tinha sido o orgulho ferido que fizera com que o pai arriscasse casar-se com outra mulher espetacular — a loura e linda estrela dos palcos e das telas, Livvy Curtin. Essa união durou somente dois anos. Mas, ao menos, resultou no nascimento de uma criança. E, depois que o divórcio foi estabelecido, Livvy ficara muito feliz porque Brian teve a maior parte da custódia, deixando-a menos sobrecarregada, de forma que pudesse continuar com a própria carreira de atriz.
Tess sempre soubera que era amada pelo pai. Mesmo depois do terceiro e atual casamento ter resultado em dois filhos dos quais muito se orgulhava. Mas sempre mantivera um lugar especial como única filha. A terceira esposa se ressentia disso e aproveitava cada oportunidade para afastar Tess, juntando-a à mãe que preferia ignorar aquela situação. Livvy —
— não tinha nenhum interesse em representar o papel maternal.
A própria experiência de vida de Tess alimentou a determinação da moça em manter uma linhagem familiar muito simples para o próprio filho. Sem casamentos. Sem divórcios. Nada de relacionamentos confusos. Antes de mais nada, o filho saberia que era amado pela mãe. E o padrão genético dele era irrelevante. Dera a vida àquele bebê. O filho era só dela.
— Ele tem cabelo encaracolado — ressaltou, embora os cachinhos de Tess fossem herança de Livvy, não do pai.
O cabelo de Brian Steele era bem liso, e o ruivo agora tornava-se totalmente branco. Os olhos azuis, entretanto, não desbotaram nada com a idade. Continuavam astuciosos. Principalmente quando se direcionavam à filha, querendo que esta falasse sobre alguns assuntos dos quais sempre escapava.
Estavam sentados no pátio da propriedade da família Steele, em Singleton. Era um dia de sol e ambos descansavam, nada de assuntos relacionados a trabalho. A casa de campo, seguramente isolada, supria a privacidade que Tess desejara para ter o bebê. E, como era primeiro neto, o sr. Steele lhe garantiu a ocupação d casa por alguns meses enquanto ele e a esposa se dividiam entre as residências de Sidney e Melbourne.
— Vai me dizer quem é o pai?
— Não interessa. — Sorriu, externando o profundo amor maternal que sentia pelo bebê, de cabelos pretos e olhos verdes, no carrinho. — É meu filho.
Graças a Deus, a pele morena não seria um problema na ensolarada Austrália. Sem restrições rígidas à infância
Sem medo de desfigurar as sardas no rostinho dele. As palavras traumáticas impostas à mãe.
— Vai ficar muito feia se não proteger o rosto e usar um chapéu grande — nunca fariam parte da vida do filho.
— Tessa, entendo que não quis se casar com o pai do menino...
— Ele também não iria querer se casar comigo — retrucou.
— Por que não? — O pai parecia afrontado como se qualquer homem devesse se sentir honrado por ser o marido dela. Afinal de contas, Tess era uma Steele, filha de um bilionário, herdeira de uma boa parte da fortuna da mineradora da família. E era uma mulher atraente.
Balançou a cabeça, não querendo dar nenhuma pista que identificasse o pai da criança. Brian se sentiria muito mais afrontado se soubesse que tinha que agradecer a Nick Ramirez por ter lhe dado um neto.
— Ele sabe do filho?
— Não. Não disse nada. As coisas só ficariam mais confusas se eu contasse.
— Ele já é casado?
— Não. Foi só uma vez, pai. Um grande erro percebido tarde demais. Ok?
Errado para Nick. O publicitário foi claro com Tess, mostrando-lhe o quanto estava consternado por ter sido pego na combustão espontânea que culminou com um sexo selvagem, quente, com a filha de Brian Steele.
— Não acha que ele pode descobrir ao ver você com um bebê? — O pai a importunou.
— Muito improvável. — Tess imaginava que o fato de terem feito amor era agora um compartimento lacrado na memória de Nick, e nunca seria reaberto. — Não freqüentamos os mesmos lugares. E quando todos souberem que tive um filho, a data de nascimento não terá importância. Então, não haverá nenhuma correlação.
— Não quer que ele saiba — concluiu o pai.
Era tudo muito complicado. À parte os embaraços familiares, Tess não era o tipo de mulher que Nick tentaria levar para a cama. E, devido ao próprio passado, Ramirez odiaria o fato de estar envolvido e uma gravidez acidental. Principalmente com ela!
Era contra o casamento e não acreditava que uma relação de
durasse. Paternidade era um assunto que o irritava. E, se o controle da própria vida lhe fosse tirado por causa de uma paternidade imposta. Tess estremeceu ao pensar na reação de Nick. Não queria que um ressentimento tão feroz atingisse o filho.
Era melhor para Nick que não soubesse. Melhor para ela também. Nick Ramirez era como uma fruta
proibida. Não conseguia parar de desejá-lo, embora soubesse que estar perto daquele homem era envenenar a paz ou a felicidade. Ao parar de lidar com Nick profissionalmente, quando não conseguiria mais esconder a gravidez, livrara-se de um vício. Contar-lhe sobre o filho era convidá-lo a um laço pela vida inteira... Tess sabia que isso só lhe traria confusão.
— Manter segredos... Isso é receita para futuro remorso. Chegará a hora em que o menino vai querer saber quem é o pai. Vai lhe contar mentiras? Dizer que o pai está morto? — indagou o pai.
— Não sei. Ainda não pensei nisso.
— Bem, comece a pensar. É melhor acertar as coisas com o pai da criança agora porque seu filho tem o direito de saber quem ele é. Choques ao longo do caminho não são nada bons.
Olhou-o de esguelha, tentando avaliar se ousaria trazer o passado à tona. Somente há pouco tempo, Livvy lhe contara o que acontecera há tantos anos entre o pai dela e Nick. Como segunda esposa de Brian, ouvira tudo sobre a visita do
O marido, chateado, lhe contara como Nadia Kilman Steele Manning não se incomodara em dizer ao menino que não era filho de Brian.
— Assim como... aconteceu com Nick Ramirez, pai? — perguntou, hesitante.
— Quem lhe contou sobre isso?
— Livvy.
— Não duvido que sua mãe recontou a história como se fosse uma grande obra dramática.
— De fato, pensou que eu deveria estar ciente do passado da família uma vez que estava tratando de negócios com Nick.
— Negócios... Só um pretexto para Livvy fazer mexericos. Negócios são negócios. Um homem bem-sucedido como Nick Ramirez, nunca deixaria que o fato de você ser quem é interferisse nos assuntos dele. Além disso, finalmente, passou a usar o nome do pai verdadeiro e você tem o direito de usar o meu. Nick respeitaria isso.
— Mas foi um choque...? — Tess incitou, querendo continuar a conversa.
— Diabos de choque! — O pai estremeceu diante daquela lembrança. — Não me comportei bem. Estava tão furioso com Nadia, com tanta raiva por ter sido enganado, pensando que Nick era meu filho, que descontei nele. Era somente um menino, lutando pelos direitos que acreditava ter.
— Então, de alguma forma... o admirava? — sondou.
— Não, odiava a coragem dele porque era como se visse aquele brasileiro danado pipocando dentro do menino. Mas, depois, me senti envergonhado da forma como lhe contei a verdade. Estava furioso com Nadia por não ter feito isso ela mesma. — Um suspiro de arrependimento. — Nick só tinha sete anos. Ainda assim, manteve sua posição, me desafiando até que destruí a crença de que eu era o pai. Foi como se eu tivesse matado alguma coisa dentro dele.
O sr. Steele balançou a cabeça.
— Não gostaria que colocasse meu neto nesse tipo de situação, Tessa. Não me importo com o pai. Só não faça isso com o menino. Seu filho tem o direito de saber.
Era um aviso sensato. Nunca esqueceria que Nick ficara
ao fazer amor com ela. O publicitário tinha cuidado para nunca se referir ao que acontecera. Ambos concordaram que uma situação explosiva, íntima, não poderia afetar a relação profissional dos dois.
Freqüentemente, usava os serviços de Tess como agente de elenco para conseguir as pessoas certas que atuariam nos comerciais de TV que criava. Nos meses em que negociaram, frente a frente, a moça esperara por um sinal que indicasse que Nick desejava mais do que uma relação profissional.
Um desejo estúpido. Não viera nenhum sinal. De fato, não demorou muito para que Ramirez começasse uma aventura amorosa com outra modelo, mais uma das que passavam pela cama dele.
Ao saber do passado, Tess imaginara que o publicitário nunca procuraria uma relação íntima com a filha de Brian Steele. Divertira-se ao usar a agência de elenco. Entretanto, depois que a moça provou ser de grande valia para os negócios dele, passou a respeitá-la.
Chegaram a um tipo de amizade platônica na compreensão mútua do passado de cada um. Mas o desejo que incendiara uma noite... para Nick tinha sido altamente
algo percebido tarde demais, não poderia escapar-lhe ao controle nunca mais.
O bom senso a forçou a adotar a mesma atitude toda vez que se encontravam profissionalmente. E, a cada encontro, Nick tornava mais claro que não queria prosseguir com o que considerava um momento de loucura. Limitava-se aos negócios.
Entretanto, Tess percebia que o pai estava certo. Os sentimentos dela e os de Nick eram irrelevantes. O bebê não tinha culpa de nada. Fizeram o filho, e toda criança tem o direito de saber quem são os pais biológicos. Teria de contar a Nick, mas não antes de se sentir menos confiante com relação àquilo tudo, mais capaz de adotar e manter uma posição autônoma convincente.
O celular de Tess tocou. Sorriu para o pai, ao pegar o telefone, e se levantou. Afastou-se em busca de privacidade.
— Pode dar uma olhada em Zack?
Brian balançou a cabeça, concordando, enquanto resmungava.
— Não sei por que teve que chamá-lo de Zack. Que tipo de nome é esse? Alguma idéia extravagante da sua mãe, aposto...
Sem dúvida, era essa a forma do pai lhe mostra que sabia que a mídia focara a chegada da mãe dela Sidney, no dia anterior. E que presumia que o telefonema era de Livvy, que, recentemente, ganhara a desaprovação dele por ter se juntado a um homem mais jovem.
Tess Fizera a mesma suposição e foi por isso que s afastou para não ser ouvida. Sabia que qualquer conversa com a mãe resultaria em um comentário mordaz do pai. Estava quase abrindo o portão do pátio quando aceitou a chamada e a identificou.
— Tess, é Nick Ramirez. O choque de ouvir a voz do homem que acabara de ser o foco do conflito emocional deixou-a sem resposta.
— Onde está? — Nick continuou, impaciente.
Tess deteve o turbilhão que agitava seus pensamentos. Respirou fundo e, com voz calma, perguntou:
— Qual o problema, Nick? — Devia ser alguma coisa relacionada à agência de elenco. Será que sua assistente fizera algo errado que prejudicara o trabalho
— Não há nenhum problema — assegurou-lhe.
— Então, por que está me ligando?
— Quero me encontrar com você.
— Para quê?
Silêncio. Uma onda elétrica de medo percorreu todo o corpo de Tess, deixando-a em estado de alerta. Será que ouvira a respeito do bebê? Será que pensava ser o pai?
— Podemos almoçar juntos? Deve estar de volta a Sidney. Livvy está aqui.
— Não, não estou em Sidney, Nick.
— Não me disse que sua mãe precisava de você como empresária dela, enquanto dirigia o primeiro filme? Não foi por isso que tive que lidar com a sua assistente nos últimos seis meses? Porque estaria fora, junto com Livvy?
— Sim. — Tess admitiu. O estômago se contraía. A moça percebia o quanto seria fácil para Nick descobrir as mentiras dela se resolvesse prestar atenção.
— Bem, Livvy chegou de Los Angeles ontem. Como você recebeu esse telefonema, também está de volta a Austrália. Então, onde está agora?
— Estou em Singleton, visitando meu pai. — Isso, ao menos, era verdade. E, de jeito nenhum, Ramirez apareceria ali.
— Preciso me encontrar com você.
— Para quê?
Ignorou a pergunta, aproveitando-se de um evento no qual a presença dela era esperada.
— A pré-estréia de
na próxima quinta-feira, à noite...
Era um filme de terror, juvenil. O lançamento fora previsto para o fim do ano escolar, esperando atrair grandes audiências, uma vez que as férias de Natal teriam começado. Tess planejara retornar a Sidney no dia seguinte, voltar para casa em Randwick, encontrar-se com a mãe, comprar alguma coisa apropriada para usar na pré-estréia...
— Lembro que escolheu o elenco para esse filme. Se não tiver um acompanhante, posso ir junto. Ok?
Tess não conseguiu conter a surpresa diante dessa sugestão.
— Por quê? — perguntou logo.
— Por que não? — retrucou. — Finalmente, encontrou alguém de quem goste? Alguém que faria objeção de vê-la comigo?
Tess foi incitada a perguntar:
— Não há nenhuma mulher, agarrada ao seu pescoço, que faria objeção de me ver dividindo com você a atenção da mídia na noite da pré-estréia de um filme?
— Ninguém — reclamou.
— Não acredito que não tenha ninguém preso à sua coleira.
— Essa coleira será cortada antes de quinta-feira. — Um comentário enfático, decisivo.
Tess desejava saber se era um comentário ameaçador. Não era incomum que mulheres passassem rapidamente pela vida de Nick. Mas associar a saída da atual dama a esse atípico encontro público com ela... Será que Nick queria esquecer os erros passados e recomeçar um relacionamento para lidar com a paternidade?
Esse encontro não devia ser sobre negócios. Ainda assim, como poderia saber sobre o bebê? Tess saíra de circulação, em Sidney, antes da gravidez ficar visível.
Respirou fundo e confrontou a questão.
— Do que se trata?
— Contarei quando nos encontrarmos. Aonde e a que horas posso buscá-la para a pré-estréia?
Ramirez assumia, com arrogância, que Tess não tinha ninguém para acompanhá-la. Era justo. Afinal, o publicitário acreditava que a moça passara os últimos seis meses em Los Angeles. Então, não estaria comprometida com ninguém da cidade.
Além disso, o recente aviso do pai ainda pesava sobre sua cabeça. Era uma oportunidade para se encontrar pessoalmente com Nick, em nome do filho do casal, se as circunstâncias se mostrassem favoráveis. Melhor não protestar muito quando tinha a própria agenda a cumprir. E não havia nenhum homem a reboque. Por outro lado, até que sentisse que chegara a hora de falar sobre o filho dos dois, Tess não queria que Nick visse Zack, ou que soubesse a respeito do bebê.
— Estarei no Hotel Regente quinta-feira, à noite.
— Terreno completamente neutro.
— A festa será lá — prosseguiu. — Não tenho certeza a que horas as limusines vão começar a se dirigir para o cinema...
— Encontre-me no saguão do hotel, para um drinque, às seis.
Um lugar público estava bom.
— Ok. Às seis.
— Obrigado, Tess.
Havia um quê de alívio na voz dele? Tess estava intrigada com a idéia de Nick Ramirez precisar dela para algo pessoal.
— Você sabe, senti sua falta enquanto esteve fora — acrescentou, e a moça não podia ouvi-lo sorrindo através das palavras. O sorriso seco, zombeteiro, que ele anexava a qualquer expressão emotiva. — Não vejo a hora de estar com você, Tess.
Conexão cortada. A herdeira dos Steeles permaneceu quieta, atordoada. Essa ligação não podia estar relacionada a nenhuma suspeita de que ela tivera um filho
O publicitário acreditara na história sobre Los Angeles, que justificava a longa ausência em relação aos negócios. O mais curioso e intrigante era o fato de Ramirez ter dito que sentia falta dela, o que significava
A pré-estréia do filme não tinha nada a ver com os negócios. E ele também se oferecera para acompanhá-la.
No contexto da atitude anterior, negativa, em relação a qualquer envolvimento pessoal com a filha de Brian Steele, isso não fazia sentido. Ainda nem dissera adeus à atual namorada.
A única resposta possível era... Nick queria alguma coisa de Tess — algo urgente e importante o suficiente para fazê-lo quebrar as próprias regras. Isso agitava, de forma fascinante, os seus planos. Tess decidira que não tinha o que temer. E, possivelmente, muito a ganhar.



Nick sorria para si mesmo ao entrar no Hotel Regente. Jogada brilhante — iniciar um relacionamento sério com Tess no resplendor publicitário de uma pré-estréia. Se o vigia de Enrique estivesse reportando tudo o que se passava a Javier Estes, não perderia isso. Era o primeiro passo em direção ao
Seis horas da tarde e no saguão do hotel havia burburinhos com pessoas entrando, outras à espera de companhia antes de saírem. Nick sabia que os elevadores ficavam na parte de trás do saguão. Posicionou-se em um lugar mais ou menos vazio, perto da recepção, de forma que a srta. Steele pudesse vê-lo quando descesse do quarto. Diferente da maioria das mulheres, Tess primava pela pontualidade.
O respeito aos horários lhe tinha sido incutido no internato onde punições eram distribuídas quando perambulavam além do limite aceitável. Outra parte do passado que tinham em comum... internato. E Nick tinha certeza de que Tess concordaria — nada de internato para o filho
tivessem um.
Ainda não estava totalmente comprometido com a idéia de ser pai, assumindo a difícil e permanente responsabilidade que isso acarretava. Conjeturava o casamento com Tess — um contrato assinado e logo dissolvido de acordo com a conveniência dos envolvidos. A parte relativa à criança era a mais problemática.
O desafio de Enrique, relacionado à paternidade, o instigara a refletir sobre a forma como os pais deveriam tratar os filhos. Nick se viu remoendo uma lista infindável de recusas vindas da própria experiência de vida. Mas tratar uma criança como esta merecia não era uma tarefa fácil.
continuasse com seu plano, precisaria planejar melhor.
Enrique lançara um desafio insidioso. Para Nick chegar aos irmãos, tinha de gerar um filho. Mas uma criança requer atenção e cuidados. Os irmãos, que ainda não conhecia, deviam ser adultos. Talvez o publicitário nem viesse a gostar deles, nem valesse a pena passar por tudo aquilo para chegar aos dois. Apesar disso, ter o direito negado de conhecê-los... Isso era intolerável!
O som de burburinho no saguão mudou — surpresa e especulação. Pessoas se viravam para olhar na direção do alto da escada, que conduzia ao andar do mezanino, onde se encontrava o restaurante principal. Certo de ser um dos atores que estrelava a pré-estréia de hoje à noite, o olhar de Nick cintilava na expectativa de ver um rosto conhecido.
O reconhecimento o chocou. Por alguns momentos, ficou atordoado. Tess... descendo as escadas como se fosse uma rainha de cinema? Tão fabulosa que deixaria Livvy e Nadia à sombra, mesmo nos melhores dias das duas!
O cabelo ruivo, brilhando com realces dourados, caindo em cachinhos longos e soltos sobre os ombros perolados. A beleza natural realçada pela maquiagem. O rosto cintilava como uma estrela poderosa, intensamente iluminada pelos olhos azuis astutos e pelo sorriso branco, ainda mais brilhante.
Usava um vestido espetacular. Uma renda cor de malva com contas prateadas mal cobria os seios. O decote baixo, enredado com gazes de seda, abraçava a pequena cintura. Uma longa saia de rendas e babados sedutores, graduando em tons de malva até um cinza enfumaçado e um violeta intenso. Os babados surpreendiam com as pernas longas e bem torneadas e os pés protegidos em sandálias prateadas, de salto bem alto.
As jóias, todas diamantes, complementavam o traje — bracelete, brincos, e, no pescoço, uma fina corrente com um grande diamante como pingente. Herdeira de uma mineradora, a moça não ocultava suas qualidades nesta noite! A visão causou sensações estranhas ao estômago de Nick. E outras previsíveis à sua masculinidade que lhe fundiram as idéias.

Tess parou. Avistara Nick antes de começar a descida perigosa nos sensuais saltos altos e finos usados com o vestido. O publicitário não se mexia, não dava um passo sequer em direção à moça.
Uma satisfação cruel diante do olhar atordoado de Ramirez. Só porque não se vestira com rigor durante o relacionamento profissional de ambos, não querendo ser vista como mais uma mulher louca para atrair-lhe a atenção, isso não significava que não podia seduzir quando quisesse. Só precisava de tempo para ir ao cabeleireiro, à esteticista, fazer compras. E dinheiro, claro.
Se estragasse as coisas entre eles, ao lhe contar sobre o filho, decidira que estragaria tudo. Iria forçá-lo a vê-la não tão
desejável. Faria com que lembrasse como se sentira na noite em que Zack fora concebido. Não tinha certeza se era orgulho, imprudência, ao se tornar provocante. Ou se era uma necessidade primitiva, selvagem, de impressioná-lo para que reavaliasse o que queria do relacionamento dos dois.
Fazia quase um ano desde que Nick fora embora depois daquela noite explosiva de sexo selvagem, imprudente, forçando-a a colocá-lo de lado também. Será que se lembrava daquela noite agora? Era por isso que não se mexia, não ia ao encontro dela?
Tess desceu as escadas. Uma raiva ardente transformou a elegante postura anterior em um andar pomposo, ostensivo. Talvez o bom senso da cortesia estimulasse Nick, tirando-o do choque. O publicitário começou a se dirigir ao pé da escada. Como de costume, as pessoas recuavam, saindo do caminho, assim como o Mar Vermelho fez com Moisés.
Ramirez era alto, moreno e bonito. Havia algo sobre sua aparência de amante latino que incitava ao perigo. Quando Tess o viu pela primeira vez, pensou que não haveria uma mulher no mundo que seria imune, pelo menos, a um desejo fugaz de tê-lo por uma noite na cama. O problema era que Nick sabia disso.
Tess logo quis ser exceção. Desafiava-lhe o poder de ter mulheres caindo aos seus pés.
Mas a moça não era exceção. Caíra a seus pés quando Nick lhe deu a oportunidade de transarem. E cairia novamente, se tivesse uma chance. Seria muito mais fácil contar a Nick que ele era o pai de Zack se dividissem a mesma cama.
O publicitário tomou-lhe uma das mãos, levando-a à boca.
— Pura
Tess. Entrando no espírito da pré-estréia?
Um dos braços de Tess formigava e uma dose de adrenalina foi disparada na corrente sangüínea, aguçando o pensamento, preparando-a para defender-se. O coração tamborilava a angústia diante da espera agonizante de qualquer coisa diferente que viesse de Nick.
— Pensei que seria melhor executar meu plano relativo à notoriedade publicitária — explicou, esforçando-se para
como se fosse algo profissional, não pessoal.
A risada de Nick tinha um quê de ironia.
— Não só conseguiu executá-lo como superou qualquer possível competição.
— Não estou competindo — negou, odiando a idéia de que Nick suspeitasse que era isso mesmo que fazia. — Exagerei? Foi por isso que ficou ali me olhando em vez de vir me cumprimentar?
Nick balançou a cabeça.
— Não exagerou, Tess. De fato, merece aplausos devido à perfeita produção. Só não esperava sua entrada tão grandiosa.
A moça deu de ombros.
— Posso ser como a minha mãe quando quero. E por que não quando vou a uma pré-estréia?
— De fato, por que não? Simplesmente, só precisava de um momento ou dois para me acostumar a
sua imagem.
— Já havia me visto trajada a rigor — deixou escapar, impulsionada por uma necessidade de que Nick se conscientizasse de que a achara desejável da última vez que ela se arrumou com esmero, na noite em que ambos participaram da festa de lançamento de um produto. Chegaram separados. E terminaram, intimamente juntos.
Ramirez abaixou os cílios grossos, escuros, ocultando a própria resposta à lembrança. Provocou-a ao perguntar:
— Brincando com fogo, Tess?
Um calor subiu pelo pescoço, indo até as maçãs do rosto. Em silêncio, Tess xingou a pele clara, translúcida, que era um barômetro mexeriqueiro, revelando-lhe os sentimentos. A agitação interna apoderou-se de um contra-ataque para se defender.
— Não pedi que estivesse comigo essa noite. Foi você quem pediu, lembra?
— Sim — concordou, mas a boca de Nick continuava zombando como se Tess fosse somente mais uma mulher que sonhava em transar com o publicitário.
— Foi você mesmo quem deu a partida para uma
Primeiro, estava tão preso ao próprio mundo que não consegui chamar sua atenção lá de cima, do andar do mezanino. Então, quando comecei a descer para encontrá-lo e você me viu, em vez de subir as escadas para juntar-se a mim, ficou em pé, parado, me olhando, fazendo com que eu descesse sozinha...
— Não me diga que não gostou de criar uma certa sensação, Tess — retrucou, zombando.
— Acontece que me vesti de acordo com a ocasião. Em vez de ficar inflando seu ego masculino, pensando que fiz isso para impressioná-lo, talvez me acompanhe de volta, ao andar de cima, para que possamos comer alguma coisa na lanchonete, antes de irmos para o cinema.
— A seu dispor. — Lançou-lhe um sorriso largo ao pegar-lhe a mão, que continuava segurando, e aconchegá-la ao redor de um dos braços dele. Subiram as escadas. — E a sua resposta torta acabou de me lembrar o motivo pelo qual senti tanto a sua falta.
O coração de Tess estava acelerado, fazendo com que o pensamento tecesse críticas além dos limites da prudência. Tinha ciúmes de todas as outras mulheres da vida de Nick. Mas não era uma boa idéia demonstrar isso com sua língua mordaz.
Para alívio da moça, Ramirez riu. Os perversos olhos verdes daquele homem demonstravam prazer. E o orgulho que Tess tentava manter estava a ponto de derreter. Não era justo que um homem fosse tão atraente. Se fosse somente o impacto físico, não seria tão difícil manter distância e ignorar. Mas quando os pensamentos dos dois se juntavam, o que acontecia freqüentemente, em diversos níveis, tudo dentro dela ansiava para ter Nick Ramirez como o
Infelizmente, o fato de saber que isso nunca aconteceria não diminuía o desejo. Tess manobrava isso, de forma oposta, sendo o mais racional e realista que podia quando estava perto de Nick. Estava por cima da situação naquela noite. Provavelmente, nunca estaria de novo. Os seis meses em que ficou afastada, sem praticar tal jogo, deixou-a despreparada. E o bom senso de que a situação entre os dois tinha que mudar de qualquer jeito desgastava a velha necessidade de manter tudo como estava.
Retornando à questão dolorosa das mulheres de Ramirez, Tess decidira que deveria ser direta ao pôr em ordem essa situação. Modulando a voz num tom suave, convidou-o a se aproximar.
— Me conte por quê largou a atual parceira de cama para sair comigo hoje à noite. Nick deu de ombros.
— Pura eventualidade. Estava pronta para prosseguir. — Zombou, acrescentando. — Já tinha outro sujeito à espera.
— A moça percebeu que você nunca colocaria uma aliança no dedo dela?
— Nunca fiz com que qualquer mulher acreditasse nisso, Tess.
— Não as impede de esperar por esse momento. Afinal de contas, faz parte do negócio.
— Que negócio?
— Sabe perfeitamente bem
Faz parte do mundo de sucesso e ambição no qual nascemos.
O pai de Tess e a mãe de Nick eram exemplos típicos desse tipo de comportamento.
— Não compro mulheres — protestou o publicitário.
A moça lançou-lhe um olhar zombeteiro.
— Você as compra sendo quem é. Só nunca fecha o negócio. Não imaginam que só lhe interessa visitar os quartos delas, não quer ficar em nenhum. Aposto que cada uma pensa que será a mulher que vai conquistá-lo.
— Não posso controlar esperanças, mas não as alimento.
— Mantendo a marca de integridade?
— Sempre detestei enganar, Tess.
Esse comentário a irritou. Talvez devesse dizer tudo agora mesmo, contar-lhe sobre a paternidade e ver como lidaria com a situação. Por outro lado, ainda não lhe dissera qual era o motivo que se escondia por trás do fato de se oferecer para acompanhá-la essa noite. E devia haver um. Tess não acreditava que, simplesmente, Nick
A questão da paternidade podia esperar um pouco mais. Queria satisfazer sua curiosidade primeiro.
— Um prato de frutas e queijo será suficiente ou quer algo mais substancial? — Nick perguntou enquanto a conduzia a uma mesa vazia da lanchonete, com vista para o saguão. — E o que gostaria de beber?
— Hmmm... um delicioso Brandy Alexander para beber e um perverso pedaço de bolo de chocolate bem cremoso para comer — revirou os olhos ao pensar no aperitivo pecaminoso. Decidiu que uma comida encorajadora poderia ser perdoada essa noite, uma vez que se sentia preocupada e ansiosa. — E não vou dividir. Então, se estiver com fome, peça alguma coisa também.
Diante do olhar de surpresa de Nick por ver um pedido nada dietético, Tess logo apontou:
— Você não veio acompanhado de uma modelo hoje à noite e eu estou com vontade de mimar a mim mesma.
Dessa vez, o sorriso de Ramirez era afetuoso.
— As curvas são boas. — Ao vê-la sentada, desceu o olhar até a fissura entre os seios de Tess, de forma que ela ficou corada novamente. Então, para deixá-la ainda mais corada, havia uma quentura lasciva nos olhos dele quando sorriu. — Vou lá fazer o pedido para que o serviço seja rápido. Volto em um minuto.
Balançou a cabeça, concordando, dizendo a si mesma que estava vestida para atrair o tipo de comportamento masculino que Nick acabara de demonstrar. Não podia deixar de ser o homem que era. Tess deveria se sentir feliz com isso. Queria que o publicitário a desejasse. Mas não somente por causa dos seios que estavam atraentes essa noite. Isso a colocava na mesma categoria de todas as outras mulheres de Ramirez.
Voltou a balançar a cabeça, confusa. Não sabia o que queria dessa noite com Nick. Não queria que o publicitário a visse tão vulnerável aos desejos que ele instigava. Felizmente, havia contas costuradas na renda do corpete, escondendo o fato de que os mamilos tinham acabado de enrijecer e se encontravam salientes.
A verdade é que era irritante ficar desconcertada quando não conseguia respostas de Nick. O publicitário reagia à Tess, mas não tinha iniciativa. Respirou fundo para se acalmar, resolvida a dar o primeiro passo, perguntando, quando ele retornasse.
Antes que pudesse formular um ataque, Nick sentou do outro lado da mesa, ficando de frente para ela, erguendo o rosto para iniciar uma conversa.
— Onde você se enquadra no negócio, Tess?
Perplexa, a moça perguntou:
— De qual negócio está falando?
— Daquele no qual os homens vão atrás das mais atraentes mulheres pelas quais podem pagar, e as mulheres vão atrás dos mais ricos homens que podem atrair.
— Não me enquadro. — Deu de ombros. — Acho que não conseguem separar a herdeira da fortuna que lhes vem atrelada. Como perspectiva de casamento, inevitavelmente, os homens pensariam muito mais no dinheiro do que em mim. E não quero sentir que estão comigo por causa disso.
— É por esse motivo que permanece solteira? Não acredita que alguém possa amá-la pela pessoa que é?
Tess franziu as sobrancelhas.
— Por que está tentando me analisar novamente? Não é bom nisso. Da última vez, decidiu que eu tinha sido enganada e machucada por tantos rapazes que me tornara uma solteirona fria. Tudo porque não entrei no seu jogo.
— Meu jogo?
— Você lança uma rajada de magnetismo e espera que eu amoleça para, então, me manipular como quiser.
Nick revirou os olhos diante da descrição do modo como agia com as mulheres.
— Não tentei arruiná-la com meu magnetismo.
— Isso é natural em você. Mas ficou aborrecido diante da minha resistência. Por que me colocaria de lado?
— Estava sempre negando sua feminilidade, Tess — ressaltou. — Sempre usando calças
camisas; sem maquiagem, o cabelo largado...
— Só estava fazendo o meu trabalho. E isso não requer que eu impressione ninguém com a minha aparência. Como agente de elenco, tenho de fazer propaganda da aparência dos meus clientes. Melhor não mudar o foco.
— Ok, julguei você mal. E provou que eu estava errado. Faz muito tempo desde que...
— Isso foi há apenas um ano — lembrou-o, o momento sendo pertinente, considerando que ainda tinha que lhe contar sobre Zack.
— Conheço você melhor agora — tentou persuadi-la.
— Intimamente melhor — avançou ela, querendo forçá-lo a lembrar-se do que ela não poderia esquecer. Principalmente, quando o resultado da intimidade dos dois tinha que ser revelado.
— Alguma objeção para que fiquemos próximos novamente? — A pergunta veio do nada, sem preliminares, sem atitudes sedutoras que sugerissem algo.
A herdeira dos Steeles perdeu o fôlego, ficou muda. Não formulava pensamentos que pudessem ser transformados em palavras. O vazio parecia repleto com o eco das batidas do coração.
Um garçom chegou à mesa e serviu as bebidas e o bolo de chocolate. Um momento de distração. Nick não esperava que Tess respondesse até que estivessem sozinhos novamente. Encostou-se... esperando... e observando-a. A moça tinha um pressentimento estranho de que o publicitário captava toda a energia que dispunha, pronto para derrubar a resposta dela e conseguir o que queria de qualquer forma. Mas qual o propósito? E por que


Nick desejava saber se deveria livrar-se da abordagem sexual. Não havia dúvida de que Tess ficara chocada. Não esperava e, possivelmente, recuaria.
Compreendera que o andar pomposo, ao descer as escadas, estava direcionado a ele. Mas, talvez, estivesse apenas se exibindo. Festejaria sendo o centro da admiração. Os seis meses em Hollywood com a mãe poderiam ter feito com que esse comportamento parecesse normal.
O problema era... Nick se sentira instigado a uma forte lembrança de como tinha sido quando não havia nada entre os dois, a não ser o calor de um prazer intenso e apaixonado. Grande erro ter se envolvido sexualmente com uma mulher que lhe era de grande valia profissional. Mas a verdade era... sentira-se caminhando em terreno perigoso com Tessa Steele. E os instintos de sobrevivência lhe avisaram para ir embora e não reviver aquela cena. Suscitara muitas conseqüências e não queria encarar nenhuma.
Agora... casamento era outra coisa. E se fosse ter um filho com Tess, as conseqüências tinham que ser enfrentadas. Nick via como um bônus o fato do sexo com a srta. Steele ser maravilhoso. Era uma forma de persuadi-la ao casamento. Não dava para negar que a química entre os dois poderia ser explosiva. Essa noite, ao vê-la sedutoramente vestida, pensara que Tess o convidava para reviver aquela cena que poderia ter lhe proporcionado um caminho seguro em direção a um longo e íntimo relacionamento. Ainda podia, concluiu, se usasse as cartas certas. Queria intimidade com Tess. O desejo era surpreendentemente constrangedor.
A srta. Steele permanecia quieta enquanto o garçom posicionava tudo sobre a mesa. Assim que o rapaz foi embora, fixou o olhar no bolo. Finalmente, pegou o garfo e entalhou uma fatia, manejando a pesada mistura de chocolate, presa aos dentes do garfo, até a boca. Quando estava satisfeita, ergueu o olhar na direção de Ramirez.
— Isso não faz sentido. Por que, de repente, iria fantasiar outra noite comigo?
— Aquela experiência vive na minha memória e desejo repeti-la.
Apesar de corada, os olhos de Tess não hesitaram.
— Pensei que não quisesse compromisso sério.
— Bem, atualmente essa é a atitude mais sensata, no qual troca-se de parceiros com facilidade. Menos desgosto.
— Então, por que voltar atrás por segundos?
— Dessa vez, não penso em apenas uma noite.
— Acho que deveria analisar o que tem em mente, Nick, porque estou me sentindo perdida no caminho que você tomou.
Levou o bolo de chocolate à boca, deixando-o falar sem interrompê-lo. O olhar vigiava qualquer variação na fisionomia de Ramirez.
— Se tivéssemos uma relação muito mais próxima, saberia que não teve nada a ver com o seu dinheiro — começou, devagar, percebendo o rumo que tomaria, tendo cuidado com os sentimentos da moça.
— De fato, nada me induziria a tocar em um centavo da fortuna dos Steeles.
Uma risadinha zombeteira gorgolejou na garganta da moça.
— Pensei que isso se aplicasse a mim também.
Ramirez franziu as sobrancelhas, sem entender o que Tess dissera.
— O que quer dizer?
— Depois do nosso não-planejado... caso... você não queria me tocar novamente. Parecia horrorizado por se envolver com a filha de Brian Steele.
— Acha que me importo com quem seja seu pai? — Estava pasmo por Tess pensar isso, exasperado com a idéia de que qualquer julgamento da moça seria baseado na própria ascendência. — Pais são totalmente irrelevantes para mim. Construímos nossas próprias vidas, independente deles.
— Irrelevantes... — repetiu, embora analisando aquele conceito. Soltou um suspiro profundo. Gesticulou para que Nick continuasse. — Ok, aceito que meu dinheiro não o atraia... Afirma que não importa quem seja meu pai, embora, uma vez, tenha pensado que Brian era seu pai e se sentiu rejeitado por ele.
— É uma velha história.
— E mesmo? — Lançou-lhe um olhar irônico. — sempre pensei que somos a soma do nosso passado, está tudo dentro de nós, direcionando quem e o que somos. Tome os pais como exemplo. Acontece que amo o meu...
— Isso é bom — assegurou-lhe. — Não tenho nenhum problema com Brian Steele. Tinha todo o direito de negar que eu era filho dele. Era a verdade. E não tenho nenhum problema por você ser filha dele.
Nick se divertia com o fato de que o antigo pai seria seu sogro se acabasse se casando com Tess. E Brian não seria capaz de negar que o filho dos dois era neto dele.
A srta. Steele balançou a cabeça, respirou fundo disse:
— Vamos ser claros. A única razão pela qual só tivemos uma única noite de amor foi porque tínhamos negócios juntos. E, para você, não era uma boa idéia estender o envolvimento profissional a um caso amoroso que poderia estragar as coisas entre nós. Estou certa, Nick?
— Sim.
Embora a principal razão tenha sido a forte sensação de cair no mesmo abismo no qual os homens ligados à mãe dele caíram, perdendo o controle das próprias vidas por cederem ao desejo sexual que os dominava. Só uma noite com Tess demonstrara o quanto Nick poderia se viciar nela — experimentando-a por inteiro. Assustava-se com o fato de ceder o controle a qualquer mulher. Entretanto, se pudesse manter a moderação, e Tess era muito sensata...
— Mas visto que a minha agência negociou com você... durante a minha ausência... nos últimos seis meses... você reavaliou a situação e decidiu que pode, ter uma breve e inofensiva aventura amorosa comigo. É onde estamos agora?
O incrédulo tom na voz de Tess avisava que a moça acharia a proposta dele ligeiramente maluca. Mas Nick precisava apresentá-la. E, quanto mais rápido fizesse isso, melhor. Era a oportunidade que precisava para ir adiante.
— Não uma aventura amorosa, Tess. Estava pensando mais além, em casamento. Ter um filho com você.
Para Tess, era uma grande mudança. Dizer que estava estupefata era pouco. O nervosismo tomou conta do cérebro em plena atividade, gritando
Mas a incrível porta do
continuava bloqueando o nervosismo que não se transformava em fala.
Nos últimos minutos, Tess vacilara em contar sobre a questão da paternidade. Diversas vezes pensara que o momento certo chegara, somente para se divertir com a idéia sedutora de Nick querer ter uma aventura amorosa com ela, não somente brincando com o pensamento. De fato, dizendo-lhe às claras, o que era surpreendente... Mas casamento!
Nick seria o marido dela, o sonho impossível se tornaria realidade... Exceto por não dizer que a moça era o amor da vida dele — o que seria uma declaração absurda, devido à recente história dos dois. Onze meses se passaram, era muito tarde para trazer à baila qualquer sentimento de uma ligação profunda. Sem credibilidade. A fantasia do príncipe negro se transformando no cavaleiro branco, com armadura brilhante, simplesmente não aconteceu naquelas circunstâncias.
De fato, parecia que Nick mantinha a proposta devido ao desejo de repetir a experiência sexual que tiveram juntos. E, desde quando casamento tinha alguma coisa a ver com sexo?
Ainda restava...
Excluindo o fato de que já tinham um bebê, por que Nick, de repente, queria o compromisso da paternidade? Aqui estava um homem que evitava qualquer compromisso, qualquer relacionamento mais longo. O que o fizera mudar de opinião?
Não dissera nada sobre o motivo de querer que Tess fosse a esposa dele ou por que queria uma esposa! Sempre demonstrara desprezo pela instituição do casamento. Afirmava que era uma armadilha e que somente loucos entrariam por vontade própria.
De repente, lembrou-se de que Nick lhe assegurara que não tocaria em um centavo da fortuna dos Steeles. Sendo herdeira de uma grande fortuna, Ramirez assumira que Tess não o incomodaria, explorando-o, por causa dos bens dele, se acabassem se divorciando. Então, a armadilha para captar bens não se aplicaria aos dois, caso se casassem. Obviamente, pensara sobre isso. Mas não respondia à grande questão...
— Isso é... uma surpresa — disse, precisando que Nick sustentasse a idéia com razões convincentes.
— Não uma surpresa desagradável, espero. — sorriso magnético brilhava. Os olhos negros vislumbravam a confiança de que os dois chegariam a um entendimento vantajoso para ambos. — Acho que podemos nos dar muito bem juntos, Tess.
O tom persuasivo na voz de Nick era como o canto de uma sereia. Chamava-a, de forma sedutora, para colocar os obstáculos de lado e ir aonde o publicitário quisesse, porque ela também queria. Mas uma barreira de mágoas passadas não deixariam que a srta. Steele mergulhasse às cegas no que, certamente, seria um campo minado em termos emocionais.
— Está cansado de bancar o gato à procura de parceiras, Nick? — Abaixou o garfo e pegou a bebida, fitando-o por cima da borda do copo enquanto o publicitário pensava em uma resposta aceitável.
— Acho que a monogamia com a mulher certa poderia ser muito satisfatória.
— Mmmh... — Tess bebeu um gole do conhaque com creme, tentando não levantar a cabeça. Demonstrava desdém, devido ao prazer de ser rotulada
Isso devia ser bajulação.
era mais adequada.
O próprio orgulho a forçara a permitir que Nick,
desse prosseguimento ao relacionamento profissional dos dois depois da noite que passaram juntos. Não criara nenhum drama emocional quando Ramirez passou a se satisfazer sexualmente com outra mulher. Mas se pensava que Tess manteria um casamento com ele tendo um caso extraconjugal atrás do outro, poderia dar adeus àquela idéia de satisfação.
— Está realmente disposto a tentar — questionou, preparando-se para testar a sinceridade dele — ...ser fiel à sua esposa, até que a morte os separe?
— Estou falando em parceria, Tess, não sentença de vida. Como qualquer parceria, enquanto for bom para os dois, tudo bem. Se não nos der o que queremos, então, a desfazemos.
Em resumo, como sempre, Nick faria o que bem quisesse. Definitivamente, nenhuma declaração de amor imortal vindo dos lábios de Ramirez. Eram maravilhosos para beijar, prometer o mais incrível prazer sexual. E satisfação. Mas amor para durar a vida inteira? Melhor esquecer!
— Não me disse que dois anos era o limite máximo para a paixão? Você nos vê casados por muito tempo?
Ramirez balançou a cabeça, concordando. Tess não podia acreditar. Aquele homem lhe propondo um compromisso que ia além do sexo?
— É onde entra a parte que disse ser satisfatória — explicou. — Sempre gostei da sua companhia, Tess. Nunca me aborreceu nem criou qualquer situação chata. Não acredito que isso mude. Você acha?
— Não sei. Nossos raros encontros não testam essa suposição. Estou pasma que esteja preparado para basear um casamento nisso. Quer me contar o motivo?
Nick não deixava ninguém ler os pensamentos ou perceber os sentimentos dele. Tess quase ouviu o reunir das portas de aço bloqueando a entrada a qualquer coisa que conduzisse ao pensamento dele, quase vendo os sinais luminosos piscando...
PARTICULAR
ALTAMENTE SECRETO
INFORMAÇÃO CONFIDENCIAL
Suspeitava que Nick nunca deixaria nenhuma mulher ultrapassar as barreiras ao redor do coração e da alma dele. E também não estava a ponto de deixar uma esposa fazer isso. A motivação para essa proposta de casamento era forte e muito pessoal porque Nick pretendia escondê-la. Por alguma razão, precisava de uma esposa e a escolhera por ser a candidata mais apropriada.
Tess — cujo poder de atração não tinha sido totalmente gasto na única noite em que estiveram juntos. Tess — que não gritara ou reclamara para demonstrar sua raiva ao vê-lo indo embora em direção a outra mulher. Tess — que não o levaria à falência, quando chegasse o momento da separação, porque tinha dinheiro suficiente para gastar sozinha.
Uma onda de ressentimentos crescia dentro de Tess. Esperava que Nick pensasse em uma réplica que a convencesse a aceitar o pedido de casamento. De jeito nenhum. Estava a ponto de explodir com um grande número de verdades. Enquanto isso, o publicitário se recompunha, sem sorriso, sério. Os olhos verdes sombrios presos aos dela.
— É sobre ter um filho — disse, suavemente. — É sobre criar nosso filho em um lar muito mais estável do que os lares que nos foram dados. Estaria comigo nisso, não estaria, Tess? Sabemos como isso foi para nós, então... — A intensidade nos olhos dele antecipou uma interrupção. — ...faríamos diferente, melhor.
O coração de Tess se alojou na garganta que queimava, interrompendo o longo discurso que estivera prestes a proferir. Nick sabia de Zack. Tinha de saber. E somente propunha casamento porque achava que era a coisa certa a fazer para que o filho deles tivesse os pais morando debaixo do mesmo teto, formando um lar...
— Acho que poderíamos nos dar bem juntos — insistiu.
O pensamento de Tess girava ao redor dessa controvérsia. Simplesmente, não esperava que Nick abraçasse a paternidade, seguisse o caminho tradicional do casamento por causa da criança. Uma voz cínica, por trás da cabeça dela, observava que era tarde demais para propor aborto. O filho deles já nascera. Uma pessoa real. Tinha o sangue de Nick assim como o dela. Será que esse fato instigara no publicitário algum instinto de posse?
— Não tem que se casar comigo — irrompeu, odiando a idéia de qualquer ligação íntima entre os dois baseada em uma cilada. — Não me importo de dividir Zack com você. Fico feliz que queira participar da vida dele.
— Zack? — Nick franziu as sobrancelhas.
Está se preparando para criticar a escolha do nome, assim como o meu pai, Tess pensou.
— Não vejo que tenha direitos sobre o nosso filho ainda, Nick — declarou. — Não estava por perto quando dei à luz há dois meses, então...
— Deu à luz... nosso filho... dois meses atrás? — A voz dele aumentava, indo de um ranger de dentes a emoções fervilhando. Os olhos brilhavam com uma intensidade assustadora. Todo o rosto se contraiu como se construísse rapidamente um muro de resistência ao que Tess acabara de lhe contar. Os ombros se endireitaram.
O estalo de vidro quebrando desviou o olhar de Tess para baixo. O copo, em forma de V, com o martíni de Nick, achava-se torto sobre a mesa. O publicitário ainda segurava a haste. A mão estava cortada, sangrando.
Uma realidade não imaginária, Tess pensou, o próprio coração batendo arrebatadamente ao ter enfrentado Nick. Isso era diferente de fazer um plano. Diferente de ir adiante com uma proposta. Zack... o filho deles... era real.
Ao se dar conta do que acabara de fazer, Tess sentiu-se nocauteada. Fechou os olhos. Calou-se. Tudo saíra do controle. Perdera a capacidade de compreender e lidar com o que estava acontecendo.



O que Tess acabara de revelar não podia ser mentira. Ela, inadvertidamente, revelara a verdade, pensando que ele ja a soubesse.
Não havia malícia no que dissera, não tinha a intenção de lhe arrancar dinheiro, não havia razão para mentir sobre o fato de ter tido um filho dele. E o medo estampado no rosto ao perceber que a proposta de casamento não tinha nada a ver com o bebê que escondera... impossível pensar que ela cometera um erro e a criança era filha de outra pessoa.
As palavras da carta de Enrique começavam a incendiar um caminho diabólico através do pensamento...
Não, sou diferente. Nunca serei irresponsável a ponto de dar cabeçadas... Mas fizera exatamente o que o pai tinha feito. Um filho... nascido há dois meses. Um filho
— Srta. Steele, sua limusine está aqui.
O aviso do mensageiro do hotel abriu caminho através da tumultuada introspecção de Nick.
— Não! Mande-a embora. Não vamos à pré-estréia do filme — Ramirez ordenou, impaciente.
— Senhor! — Aflição no rosto do rapaz. — Houve um acidente com o seu copo? Precisa de cuidados médicos por causa do corte?
Corte? Nick voltou o olhar para a mesa, avistando a bebida derramada, o copo quebrado, a mão manchada de sangue.
— Basta mandar vir algumas gazes para fazer uma atadura — sugeriu Tess.
O mensageiro hesitou.
— Se havia uma fenda no copo que lhe foi servido, sr. Ramirez...
— Não é nada. — Nick logo declarou, não querendo estardalhaço. — Usarei meu lenço. Desculpe-me pela confusão — murmurou.
— Não há problema, senhor. Vou mandar limpar tudo. Com relação à limusine, srta. Steele...
— Tess... — Nick resmungou, avisando-a com um olhar feroz.
A moça respirou fundo e concordou com a mudança de planos.
— Não vou precisar mais. Por favor, avise ao motorista que cancelei. — O mensageiro saiu. Quase ao mesmo tempo, chegou um garçom para limpar
— Tem que checar se o corte é pequeno, Nick — Tess advertiu, desviando o olhar, antes preso ao publicitário, para o lenço enrolado no ferimento.
Nick percebeu que Tess estava nervosa, assustada por lidar com um homem que, descontrolado, quebrou um copo e nem percebeu. Sentada, as mãos no colo, mantinha-se quieta, tentando parecer calma. Mas as maçãs do rosto ruborizadas evidenciavam uma grande agitação interna — um caldeirão de preocupações fervendo por trás daquela tranqüilidade aparente.
Nick verificou o ferimento para aquietar qualquer preocupação.
— Só precisa de um curativo. Nada mais — disse, despreocupado. Então, relaxou enquanto o garçom limpava a bagunça. A adrenalina bombeava todo o corpo. As mãos, no colo, estavam cerradas, prontas para brigar. Mas a razão lhe dizia que era com Enrique que o publicitário queria brigar, não com Tess.
A srta. Steele era a solução, não um problema. Tinha que ser justo e gentil, fazer com que ela concordasse com o que ele queria. E, acima de tudo, provar ao pai que errara com relação ao filho.
— Outro drinque, senhor?
— Não, obrigado.
Era hora de ficar sóbrio, concentrar-se e canalizar toda a perspicácia para ser prudente. Não detinha direitos legais. Tess tinha o filho. E a fortuna dos Steeles, atrás dela, para lutar contra qualquer reivindicação que Nick fizesse sobre o filho. Precisava ser sensato. O poder era todo dela agora. Ramirez tinha que fazê-la casar-se com ele. Trata-se de questão suprema. Não era apenas conseguir encontrar os irmãos. Era sobre o direito
Quando o garçom foi embora, Nick começou.
— Então... veio ao meu encontro hoje para dizer isso, Tess?
Ela balançou a cabeça.
— Queria descobrir o motivo desse encontro. Me questionava se você descobrira de alguma forma... — Um suspiro pesado admitia o erro em tagarelar o que poderia ter continuado em segredo.
Nick não conseguia suavizar o tom de voz cortante quando se dirigiu ao âmago da questão.
— Por que não me contou quando descobriu que ia ter um filho meu, Tess?
A pergunta se apresentava entre os dois, feita em forma de acusação e crítica. Tess se irritou. Depois, acalmou-se. Os vividos olhos azuis, antes quentes, agora estavam frios.
— Não queria lhe contar — declarou de forma honesta, abrupta, sem equívocos.
— Por que não? — indagou.
A moça deu de ombros, relutando em lhe dar mais explicações. Abaixou o olhar. Ergueu as mãos, que estavam no colo, e pegou o drinque. Sentia que precisava de um gole de conhaque.
Nick ficou sisudo, desaprovando os possíveis motivos de Tess, enquanto a moça erguia o copo, levando-o aos lábios.
— Achou que eu negaria que o filho era meu? Tess tomou um gole, recolocando o copo na mesa.
— Você usou preservativo naquela noite — lembrou-o.
— Não são cem por cento seguros. E um deles rompeu. Por isso perguntei se tomava pílula.
A moça ergueu o olhar, lançando uma luz azul forte, de escárnio, em direção a Nick.
— Menti.
— Mentiu?
— Sim. Não sabia que estava preocupado porque um preservativo se rompera. Se tivesse me avisado, tomaria a pílula do dia seguinte.
— Mas por que mentir sobre isso?
— Porque não queria que soubesse que não estivera com ninguém há tanto tempo. Você já havia me classificado como uma solteirona, fria, o que eu não era. Me pareceu mais...
se dissesse que tomava pílula. Tenho certeza de que qualquer mulher com a qual esteve tomava cuidado com essas coisas. Só que eu não estava preparada.
— E foi por isso que não me contou que tínhamos gerado um bebê? — insistiu.
Dessa vez, Tess ergueu o queixo. Os olhos brilhavam como punhais que a feriram.
— Foi somente uma noite, lembra? Você não queria que o episódio tivesse
— Só não queria que o sexo atrapalhasse nosso relacionamento profissional — desculpou-se. Ouvia, na voz dela, a paixão de sentimentos profundamente feridos. Não queria contribuir mais para isso, ainda incapaz de tentar persuadi-la a concordar com o objetivo dele. — Ter um bebê é outra coisa.
A emoção explodiu.
— Sim, ter um bebê é a parte mais essencial de ser mulher e você me rejeitou. Então, por que deveria dividir o bebê com você?
De fato, por quê? Rejeição dói. Sabia o quanto doía. Não imaginara que Tess se sentira dessa forma com relação ao que ele tentou considerar uma brilhante experiência sexual.
— Quando descobri que estava grávida... você já estava com outra mulher.
O retrato da situação era muito claro. Fugira para não se envolver com Tess, preocupando-se somente com o que sentia, o que queria. Tinha sido egocêntrico assim como a mãe, escolhendo ser o personagem central na batalha dos sexos, não um cortesão enamorado.
— Desculpe-me. — O pedido de desculpas era sincero, ainda assim, soava muito fácil, sem valor, mesmo aos ouvidos dele. O que mais poderia dizer? Fez um gesto de súplica por perdão, imaginando que a colocara em uma posição insuportável. O orgulho por si só teria ordenado que não estabelecesse nenhum laço íntimo com Ramirez. Mas, se não fosse por causa da carta vinda do Brasil, e da própria decisão de usar um casamento com Tess para chegar até os meios-irmãos, o filho cresceria sem conhecer o pai. O que provava que Enrique tinha mais razão do que Nick supunha. — Desculpe-me — repetiu, ainda mais angustiado por ter feito tanto mal a Tess de quem realmente gostava e queria manter em sua vida.
A raiva que fervilhava nos olhos dela gelou, transformando-se em um ceticismo brando. Nick se conscientizou de que não lhe dera nenhuma base para acreditar que havia preocupação por trás daquele pedido de desculpas. As palavras não iriam convencê-la. Aproximou-se e pegou a mão esquerda da moça, tentando restabelecer uma ligação física. A forte conexão sexual entre os dois criara essa situação. Automaticamente, Nick empregara aquela força para ultrapassar as barreiras mentais que Tess mantinha contra o publicitário.
— No seu lugar, também não teria me contado — confessou, oferecendo um sorriso arrependido, na esperança de diminuir a tensão. Em seguida, acrescentou. — Estou feliz que tenha me contado agora.
Estava? Tess abaixou o olhar. Lutava para manter a razão acima do desejo que Nick Ramirez estava tão acostumado a pôr em ação. Tinha que se concentrar nas questões levantadas entre os dois, não deixar que os pensamentos se tornassem vagos devido a sentimentos perturbados.
Nick lhe propusera casamento com o objetivo de terem um filho. Havia sido um grande choque descobrir que já tinha um, mas parecia aceitar a paternidade sem protestos. Estava, inclusive, admitindo que a ela tivera razão em esconder-lhe a gravidez.
De modo geral, Nick reagira positivamente. E Tess achava tudo muito confuso. Esse comportamento contradizia as atitudes anteriores quando o assunto era relacionamento. Ainda assim, mantinha-se preso à razão pela qual propusera casamento — queria um filho com ela.
— Onde está, o bebê, nosso filho? — perguntou, emocionado.
Será que o fato de ter um filho o afetara profundamente? Ou era um tipo de representação para prosseguir com o plano que estava determinado a cumprir?
— Na sua suíte aqui? — perguntou.
— Não. — Ainda cautelosa, não sabia qual eram suas intenções, Tess manteve um tom de voz casual enquanto explicava. — Deixei-o em casa com uma enfermeira.
— Enfermeira? — Ficou alarmado.
— Uma enfermeira especialista em ajudar mães de primeira viagem com seus bebês — explicou rapidamente, lançando um sorriso irônico. — Eu precisava mais dela do que Zack necessita. Ele é perfeitamente saudável, Nick.
Alívio. Natural, Tess disse a si mesma. Todo mundo queria uma criança saudável. Embora não conseguisse parar de se questionar o quanto a paternidade teria esgotado Nick se tivesse havido algo errado com Zack. Estava acostumado a ter sua vida conduzida do jeito que projetara. O que não lhe servia era imediatamente descartado.
— Zack. Você o chamou de Zack. É a abreviação de Zackary? — perguntou.
— Não. É só Zack. — Ergueu o queixo a despeito de qualquer opinião que o publicitário pudesse emitir sobre a escolha do nome do menino. — Gostei desse.
— Zack Ramirez. Nada mau. Não convida a nenhuma variação insultuosa na escola. É um nome com o qual um menino pode conviver facilmente.
A apropriação arrogante de Nick irritou Tess que o corrigiu friamente.
— É Zack Steele, não Ramirez.
Logo, uma rajada de energia pesada se transformou em um desafio que surpreendia o coração.
— Sou o pai dele, Tess.
— Terá que me convencer que merece a paternidade, Nick — desafiou-o, embora estivesse desconcertada com a intensidade do olhar daquele homem.
— Então, vamos começar. Levo você para casa e pode me apresentar ao nosso filho.
— Quer vê-lo hoje à noite?
— Há alguma razão pela qual não deveria?
Não estava pronta. Não imaginara esse resultado para o encontro dessa noite. Nick não somente estava tendo um comportamento atípico, mas agora atacava, invadindo-lhe a privacidade, com um motivo óbvio para fazer isso.
Talvez fosse curiosidade sobre a criança que estava provocando essa mudança — curiosidade que poderia ser rapidamente satisfeita. Era melhor concordar com a visita agora. Se Nick realmente queria abraçar a paternidade, bem... ver para crer, disse a si mesma. O grande problema que tivera com a credibilidade de Nick essa noite certamente precisava ser resolvido.
— Tess... — apressou-a, impaciente com a aparente indecisão. Os olhos estavam ávidos por ação. Não fervilhavam de desejo. Somente o filho lhe atraía a atenção.
— Ok. Zack deve estar dormindo e eu preferiria não perturbá-lo, mas se vê-lo vai deixá-lo satisfeito...
— O que for melhor — veio logo o consentimento.
Nick estava em pé, fazendo com que Tess também se levantasse, sem se preocupar com o fato de que o copo dela não estava vazio e que boa parte do bolo de chocolate não havia sido degustado. Devido à intensa avidez para ver o filho, qualquer protesto com relação a bons modos parecia insignificante. Prendeu um dos braços da moça a um dos dele. E Tess se encontrou tomada por uma força poderosa, com um propósito irresistível.
Como sempre, o corpo de Tess tinha consciência do dele, deixando-a envergonhada devido às teimosas respostas. Sabia que sexo era a última coisa que se passava na cabeça de Nick no momento. Poderia ter sido uma arma nessa batalha para conseguir o que queria essa noite, mais cedo. Mas agora estava totalmente embainhada. O pensamento se encontrava voltado para Zack, sua força de vontade direcionada para encontrar o filho.
Começaram a descer a escadaria rumo ao saguão. A maioria das pessoas embaixo olhava para os dois — as mulheres focalizavam Nick, os homens observavam Tess. Não havia dúvidas — o vestido que usava tinha sido idealizado para provocar qualquer homem. Queria ao menos empatar — não ultrapassar — com as outras mulheres de Nick no jogo de
provando que poderia ser impetuosa também. E ele reagira. Tivera êxito em ser um objeto sexual. Exceto que não era exatamente o que ambos queriam. Então, tudo aquilo tinha sido em vão... inclusive o vestido...
Por qualquer razão, Nick decidira que queria um filho e a escolhera como parceira para procriação — uma escolha pragmática. A srta. Steele não ambicionava o dinheiro do publicitário, era jovem o suficiente para garantir que não teria problemas em engravidar, e entendia como a vida dele funcionava. A grande ironia era — se tivesse tomado essa decisão há um ano, Tess teria ficado feliz, não teria se sentido tão chateada e ansiosa.
Tarde demais. Onze meses de devastação da alma e mágoa. Nick tomou-lhe de assalto as próprias defesas. Apoderou-se do último presente de Tess. Demonstrou, sem qualquer sombra de dúvida, que a moça não tinha nenhum valor real para ele. A srta. Steele o odiara por isso — porque o amava e Ramirez não se preocupara o suficiente para reconhecer o que estava recebendo.
Ao menos os 11 meses lhe deixaram sem ilusões sobre o que poderia esperar de um casamento com o publicitário. Nick lhe daria respeito e cortesia, como lhe dera ao longo do relacionamento profissional, mais o prazer duvidoso da companhia dele. Faria com que o sexo fosse bom para Tess. Mas ela sabia que nunca poderia associar carinho verdadeiro — amor — quando fizessem sexo. Não existia. Enganara-se a respeito disso uma vez. Nunca mais.
Contudo, por mais que entendesse Nick e não esperasse mudanças... talvez não devesse ser uma idéia ruim casar-se com ele. Poderia haver benefícios, especialmente para Zack.
O filho teria o pai casado com a mãe, e isso era bom. Zack não se importaria como isso aconteceu. Não saberia mais nada; não lembraria de mais nada a não ser de ter os dois ali, perto dele, como deveria ser.
Isso somente se Nick se tornasse o tipo de pai que seria bom para o menino. Seria capaz de um amor altruísta? Tess duvidava que uma mulher conseguisse isso dele, mas uma criança inocente talvez — uma criança cuja vida ainda não tinha sido marcada com as lições severas da vida — uma criança a quem poderia proteger. Seria isso que disparara o repentino desejo de Nick em relação à paternidade — o desejo de inventar um mundo diferente para o próprio filho?
Chegaram à recepção e Nick solicitava que lhe trouxessem o carro do estacionamento até a entrada do hotel. Tess pensara na suíte que reservara para a noite, sabendo que não retornaria. O mordomo, designado para a suíte, poderia arrumar os pertences pessoais e enviá-los à casa dela no dia seguinte. Era somente bagagem — nada de valor. Havia somente algo de grande importância essa noite. Zack. E como Nick reagiria ao menino.
Se não pudesse sentir-se ligado ao filho, não faria sentido considerar um casamento entre os dois. Era preciso esquecer a atração sexual. Esquecer a fantasia dos dois se amando pelo resto da vida. Esquecer os sonhos do príncipe negro se transformando no brilhante cavaleiro branco, protegendo-a da escuridão. Qualquer futuro que pudessem ter juntos dependia do quanto a paternidade realmente significava para Nick.
Tess fixou aquela verdade no pensamento, sabendo que teria de se apoiar no bom senso ou acabaria seriamente machucada por querer demais de Nick. Um pai para Zack — era o que importava. O verdadeiro pai. E seria bom que Ramirez provasse merecer aquele título!
— Aqui está — murmurou, obviamente referindo-se ao Lamborghini prata que chegara ao local onde o casal aguardava. Tess não conseguia relaxar. Carro rápido... homem rápido... vida rápida... tinha que estar louca para chegar a pensar, por um momento, que uma futura família com Nick Ramirez era ainda remotamente possível. E ela estava permitindo que o publicitário invadisse a vida, a casa, o coração dela...
Tess não percebeu que os dedos tinham se enrascado no braço de Nick. Este cobriu a mão dela com a dele, acariciando-a enquanto usava uma voz aveludada, suave, para reduzir o medo.
— Prometo que tudo vai ficar bem. — Ela respirou fundo. De qualquer forma, era impossível recuar. Nick não esqueceria que tinha um filho. Ergueu o olhar para encontrar e desafiar os olhos verdes que o bebê herdara do pai.
— Zack se parece fisicamente com você, mas não quero que se torne igual no comportamento. Espero que esteja preparado para deixar muita coisa para trás, antes de entrar na vida dele essa noite.
Contraiu a mandíbula, fazendo com que a covinha no queixo ficasse mais saliente, revelando o quanto era um homem dividido entre o Nick superficial e o Nick profundo. Um músculo no rosto pulsava como se não conseguisse controlar uma onda íntima de dor que destruía o brilho dos olhos, deixando-os monótonos e mais insondáveis do que nunca. Suspirou, relaxando. Depois, ofereceu um sorrisinho e disse:
— Bravo novo mundo... aqui vamos nós.
O manobrista do hotel abriu a porta do carona do Lamborghini. Nick fez com que Tess entrasse no carro, acomodou-se no banco do motorista, e dirigiu até o ponto central do bravo novo mundo — um bebê de nove semanas que adormecia rápido, sem saber que se tornara o pretexto ao qual os pais estavam prestes a se agarrar. Delineava-se um futuro muito diferente do que ambos tinham conjeturado.



mal se continha. O poder sedutor do Lamborghini gritava para que o publicitário pisasse no acelerador e chegasse logo à residência de Tess em Randwick. O filho esperava lá.
Mas excesso de velocidade não pertencia ao
da paternidade. Os animados dias de celibato acabaram. Deveria se preparar para deixar muita coisa para trás.
Aquela declaração sarcástica imitava o posicionamento de Nick em relação ao próprio pai. O publicitário se parecia fisicamente com Enrique, mas não queria ser como o jogador de pólo.
Agora era hora de mudar, provar a si mesmo — e a Tess — que podia ser um bom pai de família, um bom marido. Ela não acreditava nisso. Mas, essa noite, abrira a porta para uma vida que Ramirez podia dividir com ela e o filho. Nick sabia que tinha que agarrar aquela oportunidade ou perderia não somente o desafio que Enrique lhe propusera, mas o próprio valor como pessoa.
Tess o impedira de participar da gravidez, do nascimento, dos primeiros meses da infância de Zack. Nem sabia...
— Nasceu em Los Angeles? — indagou.
— Não. Nasceu aqui em Sidney. Em um hospital particular em Mona Vale. — Suspirou. — Não fui a Los Angeles, Nick. Minha mãe não precisa de mim para nada. Sou indiferente na vida de Livvy. Assim como também era na sua. Então, usei Los Angeles para me afastar... ficar fora do âmbito da visão, fora do pensamento.
Odiou aquela declaração modesta. Podia ouvir a mágoa da rejeição por trás daquele comentário.
— Você conquistou um lugar no meu pensamento desde que nos encontramos, Tess — assegurou-lhe. — E, quanto mais nos conhecíamos, maior era o espaço que lhe era reservado. — Sentiu a perturbação de vulnerabilidade conduzindo à silenciosa dúvida: ela acreditaria nele ou não. — Não gostei de lidar com a sua assistente nos últimos seis meses — continuou, determinado a corrigir a visão que a moça tinha dele. — Senti sua falta, Tess. Senti falta da sua opinião sobre o que eu fazia. Senti falta da excitação de estar na sua companhia. Senti falta...
— Excitação? Lançou-lhe um rápido sorriso.
— A batalha sexual que enlaçava cada palavra que dizíamos um ao outro.
— Falávamos de negócios — discutiu.
— Oh, vamos lá — zombou. — Estávamos sempre transando em pensamento. Era o sexo que tínhamos enquanto não transávamos; atacando de todas as formas, indo atrás do sucesso, da alegria de sermos páreo um para o outro, de estarmos à altura um do outro...
Agitada, Tess gesticulou, protestando.
— Era um relacionamento platônico...
— Isso não existe entre um homem e uma mulher quando a química surge.
A voz dela demonstrava impaciência quando recordou:
— Foi o que
insistiu que nós tivéssemos depois...
— Depois que fomos longe demais e a situação ficou incontrolável?
— Não ia mais ser divertido, ia, Tess? Não depois daquela noite. Foi longe demais, muito rápido, e ficou extremamente sério.
— Sexo
divertido para você? — questionou, irritada.
— Uma brincadeira não acaba deixando você preso — argumentou. — É alegria sem problemas. Quando o sexo se torna sério, todas as coisas negativas começam a acontecer... possessividade, ciúme, obsessão servil, discussões. As pessoas fazem papel de bobas, vítimas dos próprios hormônios enraivecidos. Não achei que fosse bom prosseguirmos, indo para lá.
— Porque o sexo se tornou... muito sério?
Nick podia ouvi-la pensando. Tess começava a sentir-se menos sexualmente diminuída pela recusa do publicitário em ter um relacionamento íntimo com a herdeira dos Steeles.
— Valorizava muito o que tínhamos para arriscar em uma paixão que crescia desregradamente, saindo de controle — insistiu. — Queria mantê-la em minha vida sem a irritação de me sentir propriedade sua.
Uma pequena risada nervosa gorgolejou da garganta de Tess.
— Melhor se acostumar a sentir-se propriedade de alguém, Nick... se tiver o coração de um pai. — Outro desafio.
No que dizia respeito a Tess, nenhuma aproximação de caráter íntimo. A noite não era para diversão e jogos entre um homem e uma mulher. E sim para observar como o publicitário reagia ao filho.
A verdade era... Ramirez estava sendo julgado. E sentiu isso no momento em que entrou na mansão estilo colonial, que Tess usava como escritório e casa.
A enfermeira que os cumprimentou à porta da frente foi logo informada:
— Esse é Nick Ramirez, o pai de Zack. — Enquanto os acompanhava ao quarto do bebê, no andar de cima, a enfermeira respondia às perguntas de Tess. O menino ainda não tinha acordado durante a noite para se alimentar.
Ao deixar o casal à porta do quarto, retirou-se. Devia ser um assunto extremamente particular. O olhar crítico de Tess estava afiado ao conduzir Ramirez para dentro do quarto, iluminado por uma lâmpada suave, onde estava o berço branco sob diversos objetos móveis, pendurados no teto.
O corpo inteiro de Nick estava sob tensão ao ver o filho. De repente, sentiu-se torturado pela incerteza de ser capaz de passar no teste da paternidade. Estava preparado para ceder o poder sobre sua vida a outro ser humano... a ser
Forçou os pés a irem adiante, dizendo a si mesmo que era tarde demais para realizar qualquer auto-analise. Além disso, não havia nada a decidir. O bebê no berço era filho dele. Pertenciam um ao outro desde o momento em que Zack fora concebido, e pertenceriam um ao outro enquanto vivessem. Isso era o que estava em risco.
A turbulência que agitava Nick se acalmou, como um milagre, quando o publicitário se aproximou do berço. E, finalmente, pousou o olhar sobre o bebê.
— Tão pequenino... — sussurrou, incrédulo, em tom de respeito.
— Zack é grande para a idade dele. — Tess o informou, seca.
Grande? Nick balançou a cabeça. O bebê era assustadoramente pequeno e estava todo embrulhado, parecendo a miniatura de uma múmia egípcia, em uma roupa xadrez azul e branca. Só o rosto estava à mostra — um rostinho delicado, feições proporcionais, nada muito grande ou muito pequeno, orelhas aconchegadas firmemente à cabeça — importante para um menino.
Tinha muito cabelo preto em forma de cachinhos, o que poderia ser embaraçoso. Mas postura era a chave para deter qualquer provocação que dissesse respeito a isso. Nick imaginava que podia ensinar o filho a ter atitude. O rótulo de
não duraria muito.
A covinha suave no centro do queixo era como um ímã, atraindo o dedo de Nick a tocar no detalhe genético que pertencia a ambos. Pele suave. Ramirez não resistiu. Acariciou o rosto do menino e sorriu quando o filho emitiu um pequeno suspiro. Nick enviou-lhe uma mensagem mental:
A trouxinha embrulhada começou a se contorcer, chutando por liberdade, as mãos socavam a roupa apertada. Depois, soltou um grito vigoroso, provando que os pulmões trabalhavam com capacidade máxima.
Nick assustou-se, virando-se para Tess, alarmado.
— Não o machuquei.
Ela balançou a cabeça, sorrindo, enquanto explicava:
— É somente o reloginho do estômago de Zack despertando. Hora da mamada noturna. Gostaria de pegá-lo ao colo e acalmá-lo enquanto esquento a mamadeira?
— Pegá-lo — murmurou Nick, as mãos se dirigindo à trouxinha em miniatura, ansioso para apanhá-lo para um encontro mais próximo e pessoal. O bebê se mexeu. Balbuciou algo. Não era um brinquedinho passivo. Esse era o filho dele!
— Preocupe-se em segurar-lhe a cabeça — Tess logo o instruiu. — Ainda não é forte o suficiente para segurá-la sozinho.
— Consegui!
O berro cessou assim que o bebê se viu no ar. Em uma manobra muito rápida, Nick o aconchegou contra o peito, a cabeça descansando sobre a curva do braço. Se precisasse embalar, já atingira a posição de ataque. Mas, aparentemente, Zack decidira não precisar ser acalmado. Ou a distração de ser segurado por um estranho impedira mais reclamações. Estava acordado e examinava Nick com olhos bem abertos — olhos verdes!
os olhos pareciam perguntar.
— Sim — Nick ouviu a si mesmo cantarolando. — Pode contar comigo.
— O quê? — Tess questionou, distraída ao pegar uma garrafa de leite da geladeirinha e colocá-la no microondas. A voz dela acabou com o momento de paz. Zack estava muito mais familiarizado com a mãe e gritou por ela. A confiança tinha que ser conquistada. E Nick não estava ali há tanto tempo para já tê-la conquistado.
— Você saiu na minha frente no que diz respeito ai acalmá-lo, Tess — desculpou-se quando, a balançá-lo, não conseguiu aquietá-lo. A mãe veio em sua direção para tirar-lhe o filho dos braços.
— Vou trocar a fralda enquanto o leite aquece — disse, levando-o até um carrinho carregado com uma variedade de artigos infantis para toalete.
Nick foi atrás dela querendo ver o filho sem roupa. Precisava conquistar o mistério da troca de fraldas para não ser acusado de inútil na frente do bebê. A necessidade de ser um pai participativo, que inspirasse a confiança de Zack, crescia dentro dele. Estar ao lado não era suficiente. O vínculo vinha do real envolvimento na vida do menino. E Ramirez tinha que se atualizar rapidamente, para se igualar a Tess, no que se referia à participação do pai e da mãe na vida de um filho.
Uma vez deitado, Zack se livrou da roupa apertada. Precisou de pouca ajuda da mãe. A determinação de se livrar daquele cárcere estava claramente escrita no rostinho dele. Tess teve bastante trabalho para desabotoar o macacão azul devido aos chutes e às contorções do bebê. Entretanto, Zack se manteve quieto enquanto a mãe lhe tirava a fralda. Antes que Nick pudesse dar uma boa olhada no detalhe
do filho, Tess colocara uma pequena toalha em cima.
— Por que a censura? — protestou. — Me parece que Zack gosta de ficar nu.
— Sim. E a primeira coisa que faz quando fica pelado é xixi. Estamos bem na mira dele, mas se quiser arriscar...
Enquanto Tess falava, a toalha começou a ficar molhada e Nick se viu sorrindo diante da expressão de prazer no rostinho de Zack.
— A mamãe sabe mais — disse ao filho e não se incomodou que aquilo soasse tolo. Dois pares de olhos verdes telegrafavam uma compreensão mútua de instinto masculino.
— Pode observá-lo agora — Tess convidou enquanto retirava a toalha absorvente e a jogava em um balde. — Não sou qualificada para comentar a respeito do tamanho das partes íntimas de um bebê menino, mas o pediatra que fez o parto observou que Zack é forte como um touro. E, mediante essa aprovação, presumo que nosso filho não precisará se preocupar em parecer viril.
Um
parecia um exagero, mas Nick estava satisfeito ao ver que essa área especial estava livre de problemas.
— Nada pior para um sujeito do que sentir-se inadequado em relação à própria masculinidade — explicou, contente com a opinião do pediatra.
era tão
Tess lançou-lhe um olhar zombeteiro enquanto cobria Zack com uma fralda limpa.
— Dificilmente uma sensação com a qual você estaria familiarizado.
— Não são somente os homens que se preocupam com o tamanho, Tess — retrucou.
— Tenho certeza de que todas as mulheres que você teve ficaram muito satisfeitas, Nick. Só não quero que Zack pense que tem de experimentar todas as que passarem pela vida dele pelo fato de ser muito bem dotado.
— Não costumo experimentar todas as mulheres que passam pela minha vida — Nick protestou. — Espero que não sobrecarregue Zack com essa confusão neurótica, enchendo-o de proibições.
Tess ajeitou a fralda, terminou de vestir o menino e, confiante em ter muita prática, pegou-o ao colo.
— Acho que vai ter de ficar mais um pouco para ter certeza de que não farei isso — disse, rosto corado novamente enquanto se dirigia ao microondas para buscar a garrafa de leite.
Outro desafio. Mais a questão principal de que Tess controlava a situação... a vida do filho deles. Nick viu claramente que não era apenas uma questão de se casar, mas
casado se quisesse participar de todas as decisões que moldariam o futuro de Zack. E Tess estaria lá também. Não tinha que se casar com ele e já provara que o publicitário era descartável. Ramirez tinha que mudar o pensamento da moça com relação a isso, mostrar-lhe que tinha valor. Tess sentou-se em uma cadeira de balanço com Zack agarrado ao bico da mamadeira. Nick, com raiva da postura crítica dela em relação às escolhas de vida do bebê, teceu um comentário conciso.
— Estou surpreso de que não esteja amamentando. O leite materno não é melhor para os bebês?
— Não pude amamentar. Surgiram complicações.
Nick franziu as sobrancelhas. Tess tinha ótimos seios. Não podia acreditar que falharam, não desempenhando sua função primária. Ramirez sabia que a mãe dele desprezou o ato da amamentação —
— e dizia sempre que a velha aristocracia agira certo ao empregar amas-de-leite para os filhos. Será que Tess estava mentindo, inventando desculpas pela vaidade de não querer seios flácidos no futuro?
— Que complicações — perguntou.
— Não vai querer saber os detalhes desagradáveis — respondeu.
Ficou alarmado uma vez que aquele comentário disparou uma rajada de medos.
— Seguramente eu quero.
Tess estremeceu diante da insistência dele.
— Zack nasceu perfeitamente saudável.
— Mas e você? — questionou. A moça suspirou.
— Era somente um bebê grande. Eu queria um parto natural, mas parecia que ele ficaria preso na passagem. Então, preferi uma cesariana. Zack saiu bem de tudo isso, mas acabei com uma infecção devido à cirurgia e tive que tomar antibióticos...
— Deixando-a fraca para amamentar.
— Por um tempo, fiquei fraca demais para fazer qualquer coisa.
Daí a enfermeira particular, especialista em bebês.
— Deveria ter estado lá. Não podia ter passado por isso sozinha.
— Não estava sozinha.
— Não há dúvida de que a equipe médica do hospital onde você estava era adequada, mas...
— Papai ficou comigo.
— Não... — Disse em um instante de violento protesto. Antes que Nick controlasse o que dizia, o pensamento lançou uma furiosa barreira de ressentimento. — Colocou
pai no
lugar? Deixou que o
filho nascesse como um bastardo assim como aconteceu comigo? Deixou que Brian Steele presenciasse tudo isso?
Não conseguia conter o escândalo, as mãos gesticulando, demonstrando sua fúria.
— Meu Deus, Tess! Por mais que julgue a forma como levava minha vida, culpar-me dessa forma, escolher o homem que me mostrou a porta da rua porque eu não era filho dele, para ficar ao seu lado quando era o
que estava nascendo...
— Ele é meu pai. E a única pessoa com a qual fui capaz de contar para me dar apoio quando precisei.
— Não me pediu, droga! Não me contou! Não me deu a chance de estar lá com você! Estar com vocês dois!
As vozes alteradas dos dois perturbaram Zack que estava concentrado na mamadeira. Abandonou o bico para gritar seu desagrado com relação às vibrações ruins ao redor.
Tess o pegou ao colo, acariciando-lhe as costas. Lançou um olhar de apelo para Nick.
— Podemos deixar isso até que eu o coloque para dormir novamente?
O corpo inteiro de Nick se contraiu. Forçou-se para conter-se. Sentia-se ofendido. O pensamento fervilhava com a rejeição de Tess. Não importava o que a moça sofrerá nas mãos dele.
Ramirez acabou concordando com a mãe do menino e se afastou como se não tivesse nenhuma importância nas vidas deles. Passaria a ser levado em conta como parceiro de Tess na criação do filho! Seria importante como pai de Zack! E isso começaria hoje à noite!



Tess não conseguia acalmar o coração. Sentia-se em uma jaula com um animal selvagem andando ao redor — até que chegasse a hora de atacar. Estava protegida enquanto Zack estivesse nos braços dela. Mas assim que o colocasse no berço, Nick daria vazão aos violentos sentimentos que suprimira desde que quebrara o copo no hotel. Esse Nick furioso não se parecia em nada com o homem sofisticado e afável que Tess conhecera — um homem charmoso que, cinicamente, sabia o valor de tudo, se divertia com isso e quase não se deixava ser atingido.
Não havia nada de refinado com relação ao carinho que acabara de demonstrar. Certamente, não encontrara nada de
nessa situação. Isso o dilacerava de todas as formas, e o inevitável fato de que Tess era filha de Brian Steele estava longe de ser irrelevante.
O passado não fora deixado para trás. Não hoje à noite. Nascimento... casamento... eram ciclos da vida, ressucitando fatos anteriores que influenciariam o futuro, dando início a relações que nunca desapareceram, embora devessem ter sido afastadas. Era impossível acabar com aquelas relações e fingir que não existiram, que não tiveram nenhuma importância. O passado de Nick acabara e voltar. E, embora Tess soubesse de onde aquilo vinha, isso não facilitava nada, continuava sendo difícil encarar aquela situação.
Zack adormeceu antes de terminar de mamar, arrotando de satisfação. A mãe o carregava de volta para aninhá-lo. Tinha consciência de que Nick estava ao lado dela, observando-a em cada movimento. O bebê foi colocado no berço, parecia estar em paz com o próprio mundo, pequeno e inocente, ainda sem cicatrizes emocionais. Tess esperava que o filho nunca carregasse uma bagagem de experiências ruins.
A pele de Tess formigava devido ao nervosismo que sentia ao conduzir Nick para fora do quarto do bebê e através do largo corredor, em direção ao próprio quarto.
— Há monitores eletrônicos de forma que tanto eu quanto a enfermeira possamos ouvir se Zack ficar agitado, não importa onde estejamos — explicou ao fechar a porta, tentando manter a naturalidade.
— Tenho certeza de que você foi meticulosa em preparar um ambiente seguro. — O comentário direto e objetivo a deixou com o coração ainda mais apertado. O ressentimento de Nick por ter sido deixado de lado, no que se referia ao filho, vinha à tona de forma enfática e clara. Tess o viu entrando na vida dela, dirigindo-se para abrir a porta do quarto, roubando-lhe aquele espaço também.
— Devemos começar a procurar um lar. Essa casa não vai ser suficiente para nós com Zack — disse, determinado.
A herdeira dos Steeles sentiu as pernas afrouxarem. Nick agora tinha a intenção de intimidá-la ao casamento. Falara dos próprios direitos, mas estava cego às preocupações que enfatizavam as decisões de Tess assim como a moça estivera cega às dele.
— Papai não sabe que você é o pai do meu filho. Não lhe contei. Ainda não fiz isso. Estava ao meu lado no hospital porque eu queria alguém para cuidar de mim caso... alguma coisa saísse errado.
Nick estufou o peito. Tess não sabia se ele estava enchendo os pulmões de ar porque precisava ou se estava se contendo em dar uma resposta violenta. Uma necessidade de revelar a verdade fez com que Tess falasse antes que erros terríveis fossem cometidos.
— Também não ia lhe contar. Me encontrei com você hoje à noite porque papai me fez ver que seria muito ruim esconder a sua identidade de Zack. Lembrou que sua mãe fez isso, deixando-o no escuro sem que você soubesse quem era o seu verdadeiro pai, e o quanto isso o magoara. Papai disse que Zack tinha o direito de saber.
— Teria ido atrás de você. — Recuou, se aproximando de Tess, o corpo poderoso emanando um ar cruel de confiança, os olhos queimando de determinação. — Já estava vindo atrás de você.
A respiração ficou presa na garganta, deixando-a muda, quando as mãos de Nick deslizaram pela cintura da moça. O publicitário atraía o corpo de Tess em direção ao dele. A srta. Steele ergueu as mãos para atrair a compreensão daquele homem, pousando automaticamente no peito dele, e logo foram tentadas a deslizar, indo até os ombros, ao ler a expressão no rosto de Ramirez.
— E nada iria me deter — assegurou-lhe. Comum dos braços, Nick a prendeu com firmeza. Ergueu o outro braço e acariciou-lhe o rosto, os olhos presos os dela suplicando perdão. — Lamento que tenhamos chegado a esse ponto dessa forma. Mas estamos aqui, e
é a mulher com quem quero estar.
Era? Propusera casamento antes de saber a respeito de Zack. Então, Tess era a mulher que Nick escolhera. E uma vez que houvera uma tremenda lista de mulheres formidáveis, belas e talentosas na vida dele, a srta. Steele deveria se sentir lisonjeada porque o publicitário a escolhera, e não dilacerada por medo de ser enganada e usada.
Embora Ramirez pudesse ver o caos emocional que a consumia, murmurou:
— Agora vou prendê-la para compensar os meses em que estivemos separados... — Abaixou a cabeça, os lábios chegando cada vez mais perto dos dela, sussurrando — devido ao mal-entendido que a afastou de mim. Não deixei de desejá-la...
Beijou-a. Um beijo que começou com uma suave confiança passando à excitação. Tess não resistia ao poder do desejo daquele homem. Queria sentir que Nick Ramirez era dela até...
Não pensaria além desse momento. Tudo dentro dela pulsava com prazer diante da paixão impetuosa que aquele homem emitia e evocava. Então, por que não se entregar ao sonho de que Nick a amaria enquanto a suprisse com esse brilho intenso de vida? A palavra
dançava no pensamento. E cantarolava pela corrente sangüínea. Ela não queria ouvir mais nada.
A boca de Nick separou-se da dela para tragar um gole de ar. Ramirez a segurava de forma intensa. Era uma conexão íntima com forças naturais que a envolviam sem que Tess tivesse que tomar qualquer decisão.
Os lábios do publicitário a beijaram da bochecha até o ouvido. As palavras que sussurrava eram como vinho estonteante, causando uma deliciosa embriaguez.
— Basta prová-la e me afogo novamente, Tess. Se eu fosse um velho marinheiro em viagem, nunca deitaria seu canto de sereia para ir a lugar nenhum.
Mas tinha ido a outro lugar, para outra mulher. E se fizesse isso novamente... De repente, uma necessidade selvagem de possessividade primitiva fez com que Tess se aproximasse de Nick, agarrando-lhe a cabeça, puxando-a para trás, o olhar advertindo-o.
— Se decidir se casar comigo, fica comigo. Se me trair... nem tente voltar. A porta será fechada para você e permanecerá assim.
— Entendi, mas também passo a ter você. — Nick alisou os cabelos dela. — Fantasio vê-la impetuosa pelos travesseiros de cetim preto.
travesseiros. Toda vez que quiser.
Isso significava estar totalmente nua, o que revolveu todas as inseguranças físicas de Tess. Ramirez estivera nu com inúmeras mulheres esculturais. O pensamento da moça se dirigia a posições de defesa comandando o amortecimento da paixão.
— Que azar! Essa noite, se está pensando... só tenho roupa de cama de algodão na cor marrom-chocolate.
Nick riu.
— Essa é a minha Tess! Mas a imagem no meu pensamento não some de jeito nenhum. Devemos experimentar. Preto talvez seja um pouco frio. Marrom-chocolate poderia ser um contraste mais quente devido ao brilho perolado da sua pele.
Nick tivera amostras de tantas mulheres bronzeadas que Tess pensara que o publicitário a veria como uma branca desbotada. Mas brilho perolado soava atraente, até sedutor. E realmente não havia nada de
com o corpo dela. Simplesmente, Ramirez fizera com que a moça não se sentisse à altura dele quando a deixou depois de uma única noite.
Precisava que aquele homem apagasse a longa e infeliz lembrança da rejeição que a moça sofrerá no passado. Precisava que Nick a fizesse sentir-se tão desejável que nenhuma outra mulher poderia jamais seduzi-lo a ser infiel.
Provavelmente, estaria esticando muito o sonho, mas a esperança ganhava asas e Tess não tinha coragem de acorrentá-la. Na verdade, o coração batia tão forte e rápido, parecia um rufo de tambor fatal, anunciando um bravo novo mundo com Nick.
Ramirez conduziu Tess até a cama, avistando-a por cima do ombro da moça. De fato, a colcha era de seda, estampa xadrez, em tons marrom-escuro e marrom-acinzentado. Essas cores se repetiam em uma pilha de almofadas decoradas com brocado dourado.
— Muito sensual, sedutor e suntuoso — Nick observou. — Assim como você, Tess.
— É algodão embaixo — rebateu. Depois, desejou trancar a própria língua. Por que não poderia simplesmente aceitar o elogio, considerá-lo um reflexo feliz de como ele a via? Contra o que estava lutando? A resposta surgiu como uma luz
atravessando o pensamento confuso. Detestava superficialidade... e todas as magníficas mulheres que Nick preferira a Tess, mulheres como a mãe dele, que tinha sido Miss Universo, passavam com pompa pela vida do publicitário. Instintivamente, sempre lutara contra isso desde que o conhecera e não conseguia parar mesmo agora que o tinha — parecia tola, dispensando o que obviamente o atraíra.
— Sei que o lençol por baixo da coberta é de algodão, assim como você também, sensível, prática, fácil de conviver. — Nick revelava os dois lados dela, os olhos provocando a insistência de Tess em zombar dos elogios que o publicitário lhe fazia. Parecia que se deleitava com a perversidade dela.
— Oh, maravilha! Isso me coloca na mesma categoria de um par de calças velhas — o comentário escapou da boca geniosa.
— Não, você está na sua própria categoria. Não tem de ficar me dizendo que é diferente de todas as outras mulheres que povoaram minha vida. Ouço, vejo, sinto, provo, cheiro isso. Todos os meus cinco sentidos me mostram essa diferença.
— O problema era... — continuou — ...você não se encaixava à minha descrição. Dessa vez, começo com você como se fosse a coisa mais importante. Então, deixe-me focalizá-la. Chegaremos ao algodão, mas não negue o prazer que há na suntuosa sexualidade que você personifica hoje à noite.
Prazer cruel designado a causar impacto em Nick e dar a Tess o prazer secreto da emoção de saber que isso acontecia. A batalha dos sexos... outra estratégia convincente. Nick sabia disso, mas não importava que soubesse porque havia prazer para ambos... Prazer na sensualidade do olhar enquanto afagava os cachinhos ruivos sedosos que brilhavam como ouro, enquanto acariciava a nuca sensível e, calmamente, abaixava as alças do vestido, mantendo-a ansiosa para toques mais delicados e íntimos.
Nick sabia como beijar, como tocar. A lembrança da única noite que passaram juntos percorria-lhe o corpo, deixando-a excitada. Fechou os olhos quando os dedos daquele homem tocaram-na levemente nos seios.
— Ainda bem que Zack não sabe o que está perdendo ou gritaria, frustrado, toda vez que você lhe desse mamadeira. Você nasceu para ter filhos. E nada é mais sensual para um homem... do que seios grandes, suaves...
Abaixou-se para beijá-los, sorvê-los gentilmente, fazendo com que cada músculo do corpo de Tess se contraísse e estremecesse de prazer. As mãos dele encontraram o zíper na parte detrás do corpete, abriram-no, e a saia — não mais presa à cintura — caiu com todos os babados aos pés dela. Somente as calcinhas de seda, com rendas, na cor de malva, a salvaram de estar totalmente nua. E Nick ainda estava completamente vestido!
— Dê uma olhada em você... — disse enquanto se endireitava e recuava, as mãos nas curvas dos quadris dela, perto da tira de elástico das calcinhas, fazendo com que ela tivesse plena consciência para onde os polegares iriam em seguida.
— Gostaria mais de olhar você — Tess disse em tom baixo, com uma voz áspera que saiu da garganta seca. Queimava devido à repentina exposição, quase que completa, do próprio corpo. Queimava devido à impotência em reagir à esperteza de Nick em aumentar a excitação sexual.
— Mas você é muito mais exótica. E erótica — declarou com um sorriso malicioso. — Fogo e gelo com esses brincos de diamantes balançando contra o seu cabelo e o pingente aconchegado onde está... — O olhar dele descia, crepitando, até a fenda entre os seios. — Sem mencionar... — Abaixou-lhe as calcinhas, a voz engrossando ao revelar o lugar mais secreto de Tess — ...coxas brancas como a neve divididas por uma ardente flecha de pêlos.
A mente de Tess explodiu com a pressão de estar nua. As palavras de Nick deveriam ter banido a sensação dele ter preferido outras mulheres. Mas, de alguma forma, disparavam uma tempestade de comparações, retorcendo-lhe o estômago.
— Pensei que uma mulher depilada seria mais do seu agrado — falou asperamente.
Nick balançou a cabeça.
— Isso revela o que deveria ser um mistério provocante. Você, Tess... — Deitou-a na cama, colocando um dos joelhos por entre as coxas delas, acelerando-lhe a sensação de completa vulnerabilidade. — ..você... — rosnou, os olhos crepitando de satisfação diante do cabelo dela todo espalhado sobre as almofadas chocolate — ...é a síntese da sensualidade visual.
Verdade ou não, Tess disse a si mesma para deixar de se preocupar. Poderia se concentrar nele agora. Despia o paletó, jogando-o ao chão. A gravata-borboleta preta foi rapidamente retirada, a camisa desabotoada, as abotoaduras removidas e colocadas em um dos bolsos das calças.
A respiração de Tess ficou presa na garganta quando Nick tirou a camisa. Fotografias de homens bonitos ao natural — mesmo sendo vistos em ação nas telas do cinema ou da TV — não tinham o impacto físico da coisa real.
Nick Ramirez era musculoso e o físico tão elegante que impressionava — o poder dominador dos ombros largos, a amplitude do peito, o torso afinando com uma precisão atlética até um abdômen plano. Mas o mais formidável de tudo: a repentina extensão da pele acetinada brilhando com um tipo de vitalidade animal que hipnotizava por completo.
Enquanto Tess olhava com maldosa satisfação a gloriosa masculinidade de Nick, o publicitário despia o restante das roupas. Ela queria tocar, provar; sabia que não haveria mulher no mundo que não desejaria tê-lo disponível para si dessa forma. Ramirez se oferecia a ela essa noite.
Tess se esticou e o tocou. As mãos deslizavam devagar, divertindo-se com o calor e a suavidade da pele daquele homem. Sentia esquentar o agitado e faminto desejo que já corria pelo sangue. Ficava excitada por saber que, embaixo daquela pele acetinada, Nick bombeava de desejo.
O pensamento se enchia de uma alegria travessa, impetuosa, enquanto o acariciava mais intimamente, provocando-o, exultando ao ver que Nick a desejava. Queria deixá-lo cego e surdo, de forma que só pudesse vê-la, ouvi-la e senti-la.
O grunhido que veio do fundo da garganta parecia de angústia quando Ramirez, por alguns momentos, deixou a cama para se livrar das últimas peças de roupa. Os olhos eram como raios verdes iluminando, ziguezagueando pelo corpo dela, disparando tensão elétrica a todos os pontos elevados, despertando tremores em todos os músculos do corpo, acelerando a pulsação diante da promessa de intensa excitação que estava por vir.
Nick parecia magnífico, suave e misterioso e tão sexualmente másculo. O coração de Tess acovardava-se à terrível necessidade de o ter para si. Os seios ansiavam por isso. Ao deitá-la, o contato do corpo inteiro fez com que ela se arqueasse, colocando os braços e as pernas ao redor dele, exigindo uma satisfação instantânea do desejo que brotava dentro de si.
O desejo veio forte e rápido. Um mergulho impetuoso que fumegava em direção ao ponto quente e úmido de Tess, esmagando a urgência para reivindicar o local mais íntimo e profundo — não uma, não duas, mas inúmeras vezes. Uma união primitiva que os conduziu à beira de uma incontrolável ainda que refinada tensão.
Os olhos de Nick a desafiavam — determinados a sustentar o controle, mantendo o poderoso ritmo até que Tess chegasse ao clímax. A tensão sombria no rosto, a inflexibilidade da boca de lábios finos, a saliência do queixo — tudo demonstrava o quanto lhe custava. Mas isso não era impedimento se fosse para o publicitário ganhar, principalmente com mulheres.
Para Tess isso era uma profunda controvérsia. Recusava-se a ser uma parceira fácil. Queria deixá-lo esperar. Deixar que os limites
fossem testados. Deixar que a confiança arrogante na própria perícia sexual fosse prejudicada uma vez. Divertia-se no vaivém à beira do orgasmo, contendo-se ao máximo, trabalhando a musculatura interna para apertá-lo até que se rendesse primeiro. Chiava com uma provocação maldosa. Rangia os dentes. Agüentava porque isso o prendia de forma tão intensa que não havia lugar para nada ou ninguém mais. Nick era todo dela.
Distraída com aquele pensamento, perdeu a batalha. Os músculos ondulavam com a poderosa masculinidade de Ramirez. Uma onda de prazer fazia com que ela transbordasse de satisfação. Ouviu-o gritar e parecia o berro triunfante de um vencedor que se empenhara em ganhar, apreciando ainda mais a vitória. Mas Tess não se sentiu derrotada quando o publicitário a soltou. O corpo formigava exultante com a última fusão, dando-lhe a sensação de uma partilha muito exclusiva... uma satisfação mais rica, profunda e mútua que jamais poderia ser alcançada com outra Pessoa.
Tess se agarrava àquela crença enquanto a intensidade da intimidade dos dois diminuía passando a um aconchego confortável. Um dos braços de Nick repousava ao redor dos ombros da moça, a cabeça dela encostada ao peito do publicitário.
— Ouvi dizer que o segredo para um casamento de sucesso é o sexo — Nick murmurou.
Outras pessoas poderiam ter dito que era quando o casal se amava, Tess pensou, a fantasia ruía diante daquela realidade. Será que se
constantemente Nick ficaria satisfeito com o compromisso?Ainda não havia consentido com o casamento, mas a tentação de aceitar a oferta era grande, nem que fosse pelo prazer que nenhum outro homem jamais lhe dera. Ao acariciá-lo, Tess divertia-se ao sentir que o publicitário tremia, excitado com o toque.
— Não me vejo como uma esposa que teria dores de cabeça — disse, deslizando uma das mãos pelo quadril de Nick. Este a puxava, tomando conta da situação.
— entoou, os olhos brilhando de satisfação por estar no comando. — Sem problemas com a promessa?
— É uma via de mão dupla — lembrou-o, sem conceder nada.
— Bom. Contanto que esteja pronta para isso. O desejo é uma arma muito poderosa, e as mulheres gostam de testá-la. Mas nunca a instigue se não estiver preparada para igualar-se ao que você instiga. Entendeu?
Poder... Tess não concebia a idéia de ter qualquer poder sexual sobre Nick. Via a união dos dois de forma diferente.
— Provoque... e considerarei isso um convite — continuou, o brilho se transformando em um sorriso cruel ao acrescentar: — Tente fazer permutas e eu desapareço.
Tess memorizou a regra embora parecesse acontecer ao contrário de tudo o que pensara que Nick representasse. Certamente era como o mundo dele funcionava — negociando tudo com sexo.
— Entendeu? — repetiu, o olhar intenso. Ela não teve dúvida de que se tratava de um requisito primordial para a relação dar certo.
— Sim — concordou.
Nick soltou a mão de Tess que estava presa. E, com as pontas dos dedos de uma das mãos dele, traçou o contorno dos lábios da srta. Steele. Então, abaixou a cabeça e a beijou. E a moça não se importou se o publicitário sempre tinha poder sobre ela. Contanto que permanecesse desejável. A única mulher que Ramirez queria. Poderia ser somente um sonho idiota que não duraria muito, mas Tess queria se agarrar a isso o máximo que pudesse.



Na manhã seguinte, Nick presumiu que Tess se casaria com ele, sem perguntar se a questão
decidida entre os dois. Ela optou por nada fazer no momento. Queria ver o quanto duraria o entusiasmo de Ramirez. O publicitário não foi embora antes do café-da-manhã. E com a intenção de retornar dentro de uma hora ou duas, assim que coletasse os formulários legais que tinham de preencher e registrar oficialmente para se casarem.
Tess despediu-se de Nick. Precisava de algum tempo para lidar com a proposta que ela teria declarado impossível no dia anterior. Ao se virar para entrar, o olhar percorreu a velha mansão colonial que a herdeira dos Steeles transformara para servir de residência e de escritório. Era bem localizada em Randwick; perto do centro da cidade, perto dos Estúdios Fox e do Instituto Nacional de Arte Dramática. A entrada que conduzia à garagem — antes destinada às carruagens — era um semi-círculo. Assim, os clientes não precisavam estacionar na rua. As salas do andar térreo alojavam não somente a agência de modelos, mas também um estúdio com os melhores fotógrafos, de forma que
pudessem ser criados sob a orientação dela.
Sempre gostara do estilo gracioso do lugar, a larga varanda com o pomposo entrelaçado de ferro, na cor branca, e o telhado estilo antigo, pintado com o mesmo verde-escuro dos pinheiros dos jardins. A mansão apresentava certa classe que não era diminuída pela mudança arquitetônica de estilos exigida pela sociedade moderna.
Mas Nick estava certo. Sendo mãe solteira, a casa continuaria atendendo às necessidades de Tess. Mas casando-se com ele, e formando uma família, teria que se mudar. Para onde?
Ela não conseguia pensar nisso. A sensação de ainda estar em um mundo de sonhos era forte demais para decisões tão práticas. Tudo o que sabia com absoluta certeza era que não queria vender a casa. Representava a vida que construíra para si mesma — uma vida na qual acreditava.
Confiança era um assunto que a preocupava quando Nick voltou com os formulários legais, querendo resolver a questão do casamento. No andar superior, Zack tirava a soneca do meio da manhã. Tess estava no escritório, revisando a lista dos novos contratos que a assistente organizara. Ao entrar, Ramirez confiscou-lhe a mesa, espalhando os documentos, dando-lhe uma caneta, instruindo o que era preciso e onde.
— Uma vez que eu encaminhe ao cartório essa papelada com os documentos principais, as cópias das nossas certidões de nascimento, teremos de esperar um mês — informou-a. Depois, posicionou-se na frente da mesa, de forma arrogante, assumindo o controle da situação.
Um mês, ela pensou. Será que era tempo suficiente para testar o quanto era verdadeiro o comprometimento de Nick com ela e Zack?
— O que significa que será depois do Natal e do ano-novo. Se contratássemos um bom profissional para organizar o casamento, produzíssemos os convites agora...
— Pare!
Olhou-a irritado quando Tess colocou a caneta em cima da mesa e deslizou a cadeira para trás.
— Parar o quê? — Ramirez questionou. A moça se agarrou ao bom senso que vinha tentando manter.
— Tive pouco tempo para pensar nisso. O ambiente ficou tenso.
— Não me diga que mudou de idéia.
— Não lhe disse que me casaria — declarou, recusando-se a se intimidar. — Você me deu muito pouco tempo para analisar sua proposta.
— O que precisa analisar? Temos a obrigação de cuidar do nosso filho. E vai ser melhor se nos casarmos. Admitindo o seu passado e o meu, como pode haver alguma questão para discutirmos?
Aturdida pela lógica cruel de Ramirez, Tess aproveitou a oportunidade para se agarrar à principal incerteza.
— E nós?
— Pensei que tivéssemos entrado em acordo na noite passada. Estabelecemos ou não as regras para que o nosso casamento funcione?
— No calor da noite, sim, mas...
— Por que está recuando? Somente assine os papéis e dê uma chance. — O olhar dele a desafiava. — Lembre-se de quando era criança e o quanto ficava perdida entre o mundo de Livvy e o do seu pai. Também lembro bem como era para mim: ninguém me queria, ia de um lado para outro, tinha que me defender sozinho. Temos de fazer que seja diferente para Zack, para o bem dele.
Sim. Agarrou-se ao convincente argumento da infância infeliz que os dois tiveram. Era a coisa certa e justa a ser feita pelo filho. Ao menos, tentar um casamento com Nick. Vendo pelo lado positivo, não teria uma cama solitária e fria enquanto Ramirez se mantivesse fiel ao compromisso. Poderia aproveitar o prazer que lhe estava sendo oferecido.
— Ok! — decidiu, deslizando a cadeira de volta à mesa e continuando a assinar os formulários. Provavelmente, era uma idiota, mas até que o casamento fosse considerado inútil, daria uma chance. Pelo bem de Zack!
— Mas não quero o meu casamento transformado num grande evento social — disse, enfática, colocando a caneta em cima da mesa e fitando Nick.
— Por que não? Nenhum de nós planeja fazer isso novamente. É só uma vez. Por que não causar furor... o casamento conto-de-fadas que toda mulher quer?
— Porque não seria um casamento conto-de-fadas. — O olhar zombava daquele conceito impossível quando impingiu a inevitável verdade. — Seria o festival de fofocas do ano; meu pai e as três esposas; sua mãe e a minha disputando notoriedade: a noiva que
filha de Brian Steele e o noivo que veio a saber que
era filho dele... — Nick ergueu as sobrancelhas pretas ao zombar. — Seria muito divertido.
A visão cínica da situação familiar não levava em conta o principal.
— Acha que alguém lá vai realmente desejar a nossa felicidade? — lançou a dúvida, exasperada, pensando na lista de mulheres que a odiariam por
o homem que elas tinham escolhido como alvo. Podia ouvi-las agora:
Nick deu de ombros.
— A humanidade é como é. Nadamos nessa corrente, e nosso filho fará o mesmo. Não vai adiantar nos escondermos.
— Mas não temos de representar para uma platéia — protestou.
— Que alternativa você tem em mente? Fugir?
— Sim... não... quero dizer, pensava em algo bem íntimo...
— Não pode manter o nosso casamento em segredo permanente. E o fato de adiar encarar as pessoas com a verdade somente torna tudo mais difícil — argumentou, avisando. Depois, acalmou o tom de voz ao acrescentar: — Nossa situação não é vergonhosa. Estarei a seu lado, protegendo-a de...
— Não! — Levantou-se agitada ao se sentir pressionada por ter de se apresentar publicamente. — Por que colocar em evidência o dia do nosso casamento?
— Meu objetivo é ser honesto, não esconder nada sobre nós — retrucou.
O rosto de Tess queimava diante da crítica implícita da postura dela ser menos aberta.
— Pensei que esse casamento só interessava a você, a mim e a Zack! Quando passou a ser de interesse público?
Jogou a pergunta ao rodear a mesa e se afastou, dando-lhe as costas. Não se tratava de não poder enfrentar as opiniões e as atitudes das outras pessoas. Não se tratava de não poder desafiá-las. Podia e as enfrentaria quando tivesse que fazer isso... mas não antes do casamento dela com Nick Ramirez e não no dia da cerimônia!
Se os dois se casassem, em uma cerimônia íntima, e perdessem a época das festas natalinas em Sidney, passando esse tempo fora, em lua-de-mel, talvez pudessem começar bem. Celebrariam juntos o primeiro Natal de Zack, como uma família. Queria agarrar-se ao próprio sonho, acreditar nele... nem que fosse só um pouquinho.
Nick não se mexeu. Sim, esse casamento interessava a Tess e a Zack, mas o publicitário não queria fazer nada às escondidas. Na cabeça dele, um homem não era homem se não dissesse publicamente que sustentava a própria família.
Foi muito ruim Tess ter escondido o fato de dar à luz o filho dele, negando-lhe a oportunidade de ajudá-la. Queria assegurar a todas as pessoas que tinham contato com os dois que estava orgulhoso de ter Tess como esposa e mãe do filho deles. Um casamento era uma declaração publica. Era o que deveria ser.
Ainda assim Tess reagia de forma arisca. Nick foi forçado a fazer uma repentina reavaliação das próprias prioridades. Ela fora à varanda e permanecia lá, de braços cruzados, de costas para ele... numa postura de repugnância à idéia do casamento conto-de-fadas.
Nick a imaginava uma noiva espetacular. Apagaria o estrelato das mães dos dois. Não haveria competição de modo algum. Apesar disso, um argumento relacionado a esse assunto parecia fútil. O objetivo era casar-se. O melhor era não perder mais tempo.
— Podíamos tomar um avião, viajar para Las Vegas, e voltar casados, se é como você quer — continuou, testando-a.
Tess sacudiu a cabeça, negando.
— Las Vegas é ultrapassado. Além disso... — Ergueu os ombros, sinalizando uma forte onda de tensão interior — ...acho que o melhor é esperar o mês requisitado pela lei australiana. É um tipo de proteção contra casamento às pressas e arrependimento por perda de liberdade.
Será que Tess estava com segundas intenções ou pensava que Nick pudesse tê-las?
— Não vou mudar de opinião — assegurou-lhe. Ela lançou-lhe um olhar forte.
— Ainda nem foi testado com relação aos cuidados que um bebê requer. Como sei que não vai fugir à responsabilidade? Como sei que não vai deixar para mim a maior parte da educação do menino assim que descobrir que não é nada divertido?
— Quer o mês para ver como enfrento essa situação?
— Uma noite não faz de ninguém um pai — disse.
— Tenho plena consciência disso. Se tenho um objetivo na vida é dar ao meu filho tudo o que
queria que o meu pai, que não estava a meu lado, tivesse me dado.
— Boas intenções nem sempre são mantidas.
— Não são intenções. São promessas que eu vou cumprir. — Os olhos de Tess zombavam da pretensão de Nick.
— Minha vida tem sido repleta de promessas quebradas.
— É por isso que quer um casamento íntimo? Mais fácil de cancelar?
— Funciona de duas formas. Você pode se chatear com nós dois.
— Sem chance. — Nick deixou a mesa e foi até Tess. Tinha de apagar as dúvidas da herdeira dos Steeles com relação ao comprometimento dele.
Deslizou os braços ao redor da cintura de Tess e a puxou para si. Ela usava calças jeans justas, sexy e, com a proximidade dos corpos dos dois, a rigidez desapareceu debaixo de uma onda de pequenos tremores. Mesmo assim, os braços permaneceram na defensiva, cruzados sobre a camiseta branca, negando ao publicitário acesso aos seios sensacionais. Nick abaixou a cabeça para desviar o emaranhado de caracóis ruivos, de forma que pudesse fazer jogos eróticos com a delicada orelha de Tess; querendo ganhar de volta a mulher sensual que dividira a cama com ele na noite anterior.
— Um mês não vai dar nem para começar a satisfazer todas as sensações que você me instiga — murmurou, soprando suavemente dentro do ouvido dela.
Todo o corpo de Tess tremia de prazer. A moça afrouxou os braços, deixando-os cair. Recuou e começou a acariciar-lhe as coxas. Instigado a desafiá-la, Nick colocou as mãos embaixo da camiseta da moça e tomou posse dos seios dela, massageando-os sem arranhá-los.
— Deveríamos guardar alguma coisa especial para a noite do nosso casamento — disse.
— O que lhe daria prazer? Como imagina o dia do nosso casamento... e a noite?
— Íntimo... bonito... — A cadência na voz de Tess disparou novamente o canto da sereia. A necessidade — o desejo — de fazer sexo com
mulher era totalmente obsessiva.
— Se quer privacidade, melhor fechar as portas à sua frente — disse, com a voz rouca, abaixando uma das mãos para afrouxar a cintura dos
dela. — Você fará o nosso casamento ser bonito independente de onde estivermos e do tipo de cerimônia que escolhermos.
— Há um lugar em Queensland...
— Bom! Faça a reserva! — Botão e zíper abertos, calor não mais contido. — Feche as portas, Tess!

Um mês mais tarde, Nick olhava para outras portas, esperando a noiva aparecer. Respeitara o desejo de Tess em querer um casamento íntimo — sem nenhum sussurro para a mídia sobre onde e quando — mas, certamente, o atordoara com a escolha do local. Aquele casamento era o final de uma fantasia romântica e, na cabeça do noivo, unicamente apropriada a ela.
Era uma capelinha linda, construída em terras de um grande balneário com barreira de recifes localizado perto de Cairns, no norte de Queensland. Três lados da capela eram paredes de vidro; a parede da extremidade com vista para uma praia, de areia branca e um mar turquesa, as paredes laterais com vista para um gramado verde, palmeiras e jardins tropicais. Somente a parede que alojava as portas da entrada, em forma de arco, era sólida, bloqueando a visão de outros prédios, assegurando que aqueles que estivessem dentro da capela tivessem para si esse glorioso, pedaço de mundo virgem.
Não havia nenhuma faixa de tapete vermelho dividindo ao meio as quatro fileiras de bancos brancos. O corredor era a superfície de vidro de um aquário subterrâneo, artisticamente iluminado para realçar as fantásticas formas e cores de um coral com minúsculos peixes tropicais arremessando-se para dentro e para fora dele. O efeito era surpreendente, dando a impressão de se estar caminhando no mar.
O celebrante — um sujeito de cinqüenta e poucos anos com um olhar benevolente e paternal — ficou ao lado de Nick, esperando pela noiva. À esquerda, duas mulheres com vestidos cintilantes na cor verde-água — uma era a pianista sentada a um piano de cauda branco, a outra era a cantora. À direita, uma mesa branca com um magnífico arranjo de flores de uma lado e, do outro, os papéis oficiais a serem assinados com duas canetas douradas.
Um sino foi tocado, obviamente, o sinal para iniciar os procedimentos. Nick se consumia com tanta impaciência, querendo que a espera terminasse. Tinha sido um longo mês, precisando provar a si mesmo que merecia a consideração de Tess como marido assim como pai de Zack. Queria que as portas da capela se abrissem agora, a cerimônia acabasse, o certificado de casamento assinado, confirmado e entregue.
A pianista começou a tocar os primeiros acordes de "Ave Maria" de Schubert. Quando as portas da capela finalmente se abriram, a cantora entoou, com voz vibrante, o tradicional cântico religioso, anunciando a noiva.
Nick impressionou-se diante da visão de Tess, magnífica em um vestido branco de renda com fios de minúsculos cristais. Um véu, preso a uma tiara cintilante, adornava o cabelo que brilhava com o vermelho-dourado do sol. Parecia uma deusa do mar enquanto caminhava devagar em direção ao noivo.
Uma deusa... trazendo-lhe o presente da vida - não carregava um buquê de flores, mas a criança que criaram juntos, o símbolo vivo da união deles e a esperança primordial de uma vida diferente... Zack!
Nick percebeu naquele momento o quanto aquele casamento era certo — somente os três, um íntimo entrelaçamento de vidas que estavam prestes a se juntarem legalmente. As únicas pessoas presentes, além deles, eram os profissionais contratados por uma empresa de casamento — estranhos que participavam desse momento que pertencia somente a Tess, a ele e ao filho. E que iriam embora, assim que tivessem contribuído com o que era preciso.
Era estranho o quanto estava comovido por essa escolha pessoal e particular. O coração batia forte quando Tess se aproximou e lhe ofereceu Zack para segurar durante a cerimônia. Os adoráveis olhos azuis transmitiam esperança de que essa ligação seria boa e verdadeira.
As palavras — Confie em mim — foram ditas por Nick ao pegar o bebê nos braços. Ganhou um sorriso da noiva, lágrimas que transformaram os olhos azuis em grandes piscinas. Ramirez não tinha certeza se isso significava que a noiva aceitara a palavra dele ou somente desejava que pudesse acreditar nisso.
Zack não tinha dúvidas, dando um gorgolejo alegre e confiante com a troca, saindo do colo da mãe para o do pai. Aprendera a confiar nele ao longo do último mês, e Ramirez jurou que nunca desapontaria o filho. Confiança entre adultos era uma equação mais complexa. Esperava que Tess aceitasse que o futuro marido levava a sério o compromisso que os dois estavam firmando.
Não era um casamento imposto. Podia ter pensado nisso antes de saber da existência de Zack, mas esse bebê fazia toda a diferença. E Tess, ao ter dado à luz o filho dele, também conquistou um lugar muito mais especial na vida do publicitário. Por causa disso, em vez, de usar um cínico escudo contra as palavras ditas pelo celebrante, Nick as escutava, apreciando a verdade ali escondida.
— Essa união é mais séria porque vai atá-los em um relacionamento tão próximo e íntimo que irá influenciar profundamente todo o futuro dos dois. Esse futuro com esperanças e desapontamentos, sucessos e fracassos, prazeres e dores, alegrias e tristezas está escondido aos olhos do casal. Os dois sabem que esses; elementos se misturam em todas as vidas e são esperados nas de vocês...
Exceto que, diante das dificuldades, a maioria das pessoas não vai adiante. Aceitaram o compromisso de permanecerem unidos para enfrentarem as situações juntos. A determinação em fazer isso brotava em Nick. O filho dele não seria vítima de um divórcio, de jeito nenhum!
— sorriu para o bebê.
— E então — o celebrante continuou — sem saber o que os espera, vocês prometem fidelidade um ao outro na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, até a morte. Ao reconhecerem o pleno significado dessas palavras, tão sérias, vocês estão dispostos e prontos a pronunciá-las. — O celebrante sorriu para os dois e pediu que dessem as mãos. Inclinou a cabeça na direção de Nick primeiro enquanto prosseguia com a cerimônia. — Por favor, repita depois de mim...
Ouvir Nick repetir as velhas promessas de casamento em um tom solene — sem hesitação ou o menor sinal de humor cínico — era o que a moça precisava para alimentar a esperança de que esse casamento seria mantido.
O celebrante mostrara a Tess variações modernas do serviço de casamento, dando diferentes versões das falas que poderiam ser ditas pelos noivos. Apresentaram promessas agradáveis, mas o que importava era assinar um contrato de parceria que seria mantido somente enquanto as condições permanecessem convenientes.
Tess escolhera as tradicionais promessas de compromisso pela vida toda, sem consultar Nick. O publicitário lhe dera total liberdade para decidir o que quisesse em relação ao casamento. As promessas transmitiam o que
queria, o que desejava, e sentiu o coração repleto de alegria ao ver o futuro marido recitá-las.
Tudo podia ser simplesmente uma atuação de Ramirez, mas a mão daquele homem segurando a dela transmitia um sentimento genuíno, reforçando a convicção que pulsava através da voz. Tess se sentiu confiante no momento de falar, sabia que nunca quebraria aquelas promessas. Para a moça, eram muito reais, e se não fossem para Nick... não queria saber.
Quando foram declarados — Marido e mulher — O beijo que compartilharam pareceu um beijo de amor... suave, carinhoso, a doce carícia de almas que se tocavam e se entrelaçavam ao reconhecerem que pertenciam um ao outro. Não podia dizer se era fantasia. Mas, ao se dirigirem à mesa para assinarem a papelada do casamento, a canção entoada, lembrando esses sentimentos, ecoava no pensamento de Tess.

— O que está acontecendo, Tessa? — o pai perguntou, o olhar vivo analisando a nova casa da filha enquanto esta o conduzia até o pátio com vista para o porto de Sidney. — Ouvi dizer que Ramirez pagou quinze milhões por essa propriedade quando foi colocada à venda há um mês.
— Sim, pagou — concordou, ansiosa. Desejava saber se o encontro para um chá matinal era a melhor forma de apresentar a notícia que tinha de comunicar.
— Então, quanto cobrou para vender-lhe a casa? — O tom de voz do pai era hostil e suspeito. Brian odiava pensar que Nick pudesse ter extorquido a filha na negociação da propriedade. — Não que fosse uma compra ruim — continuou, não querendo desmerecer o bom senso da filha em relação aos negócios. — Ponto nobre. Sempre aceitável. Mas Ramirez logo passou a casa adiante.
— Não foi assim, pai — declarou.
— O que está dizendo? Ramirez a representava na compra dessa casa?
— Bem, sim. Comprou-a para mim e Zack, um lar para nós.
— Por que usá-lo? — Tess esmoreceu diante do tom de desaprovação na voz do pai. — Se queria um agente que lhe comprasse uma nova casa...
— Pai, por favor, pare — implorou. — Só quero lhe mostrar...
— Ok... — Conteve-se. Examinou a propriedade um pouco mais. — É uma excelente casa.
Chegaram ao pátio. Avistavam uma paisagem que abrangia a larga extensão do porto até a Ópera em Bennelong Point. Mais adiante, a enorme ponte de Sidney formando um cenário ao fundo fabuloso. Era uma linda manhã ensolarada, céu azul, a água cintilava. Tess queria que o pai fosse influenciado por elementos positivos.
— Vai precisar de uma boa equipe para manter tudo isso — observou, apontando para o terreno. A grama aparada e jardins planejados. Uma piscina rodeada por um pavilhão de colunas. Uma quadra de tênis. Um cais.
— Tudo providenciado — assegurou-lhe, indo ao bar e apontando para a mesa e as cadeiras. — Sente-se e relaxe enquanto faço um chá para nós.
— É difícil conseguir gente boa, de confiança — avisou, seguindo-a para sentar-se em um banco do outro lado do bar enquanto a filha colocava água para ferver. — Checou as credenciais do pessoal? Ao decidir morar aqui, tem que pensar mais com relação à segurança. Não é só você agora, sabe disso. Há que pensar no meu neto. Não que seqüestro seja um crime comum na Austrália, mas... onde está Zack? — Girou o banco à procura de um carrinho de criança. — Esperava vê-lo.
Tess respirou fundo. Sentindo que não havia jeito de evitar o choque, disse:
— Zack está com o pai.
— Voltou-se para a filha, o olhar penetrante, querendo saber mais informações.
— Você me aconselhou a contar-lhe sobre o filho e fiz isso — declarou.
— Não a aconselhei a abrir mão dos direitos de custódia. Quem é esse sujeito? Pensei que você havia dito que ele não se interessaria.
— Estava errada.
— Mas Zack ainda é um bebê. Como pode deixar que fique sem os seus cuidados? Meu neto...
— Não está sem os meus cuidados. Somos... uma família. — Encheu-se de coragem e deixou escapar — Casei com o pai de Zack há três semanas.
O pai ficou boquiaberto.
— Não queria um casamento espalhafatoso — logo se justificou. — Pegamos um avião para Cairns e...
O homem deu um soco na bancada ao se levantar. Ergueu os ombros, encheu o peito de ar. Gritou, irritado:
— Você se casou com um patife que a engravidou sem deixar que eu pedisse aos advogados para o investigarem primeiro! Onde está com a cabeça? Aprontou uma vez e foi embora, e vai aprontar novamente.
— Não, não vai! Nick nunca pegaria um centavo dos Steeles. Comprou essa casa para nós, sozinho. Pagou por tudo o que está aqui.
— Nick! — Brian ficou corado de raiva, pescoço e rosto vermelhos. — Está me dizendo que se casou com Nick Ramirez? Que
é o pai de Zack? É isso que está me dizendo, Tessa?
— Sim, estou. — Ergueu o queixo, orgulhosa. O pai balançou a cabeça, incrédulo.
— Não acredito! — Deu-lhe as costas como se a confirmação fosse ser muito dolorosa para confrontar. — Não posso acreditar!
— Nick é bom com Zack — Tess declarou. Brian virou-se, gesticulando, os punhos fechados para dar um soco.
— Ao se casar com Ramirez ficará propensa a uma humilhação atrás da outra — gritou em protesto contra a decisão da filha. — Pode não ser um gigolô e sugar-lhe dinheiro, mas ouvi dizer que se interessa por todas as mulheres bonitas que passam pela vida dele.
Palavras repletas de ódio. Tess procurava uma forma de contê-las, o estômago agitava-se devido à possibilidade de um rompimento a ser provocado pelo pai. Não podia negar a história de Nick. E era impossível afirmar que o futuro seria diferente, embora desejasse acreditar no sentimento de união que conseguira junto ao marido nas últimas sete semanas.
— Ao menos Zack saberá que me casei com o pai dele. Saberá que tentei formar uma família. E, se falhar, meu filho ainda terá uma mãe que não só o ama como sempre terá tempo para ele.
Lágrimas brotaram nos olhos de Tess. A voz ficou embargada diante das lembranças das inúmeras vezes em que a mãe falhara em lhe dar tempo ou carinho quando mais precisou. Foram tantos os
emocionais na vida dela. Talvez Nick não os preenchesse. Talvez os deixasse ainda mais vazios no final. Mas agora...
A chaleira elétrica começou a apitar. Tess se esticou para desligá-la. Nesse tempinho, o pai rodou o balcão do bar e a abraçou, acariciando-lhe as costas como se ela fosse um bebê precisando de consolo.
— Ok... Não importa o que aconteça com Ramirez, basta lembrar que você tem um pai com quem pode contar.
A tensão começou a diminuir. O corpo tremia. Sentia-se aliviada. O pai não mais se enfureceria. Preocupava-se o suficiente para permanecer ao lado dela. Ao provar a magnitude desse carinho, lágrimas fluíram desenfreadas.
— Lamento que tenha sofrido na infância. Droga de situação difícil. Tentei compensar. Acho que não fiz isso muito bem.
Não fizera muito mal, dado o temperamento caprichoso de Livvy e o ciúme da terceira esposa. Sem ressentimentos.
— Sempre fez tudo direito, pai.
— Deveria ter deixado que eu lhe desse um casamento apropriado — disse, um toque de orgulho ferido. — Minha única filha... deveria ter sido a maior e a melhor festa que o dinheiro pudesse comprar.
Tess respirou fundo e ergueu a cabeça, evitando que a voz oscilasse.
— Não pode comprar os sentimentos das pessoas, pai. Resumidamente, diria
Teria odiado entregar a sua filha nas mãos de Nick e as suas três esposas teriam brigado entre si... — O pai fez uma careta em face daquela verdade. — Muito melhor uma cerimônia íntima, só eu, Nick e Zack.
— Zack... acabei me dando mal com o meu próprio conselho.
— Foi o conselho certo, pai. Funcionou bem. Brian, preocupado, fitou a filha.
— Funcionou? Não importa Zack. Quero saber se é bom para você. Deus sabe que a minha filha sempre recebeu menos amor do que deveria ao longo da vida. Casar-se pelo bem de uma criança...
— Não pense assim. — Nick e eu... temos algo bom juntos... Sexo! Maravilhoso! E muitas vezes! Mas não podia dizer isso ao pai. O rosto corava devido ao calor que sentia ao pensar nesse assunto.
— Não teria me casado com ele se não o
como marido.
— O tom de voz e o olhar zombeteiro sabiam precisamente ao que a filha se referia em relação a Nick Ramirez.
Tess ficou envergonhada por revelar a verdade.
— Eu o amo, pai. Sempre o amei, desde o início. E vou ter tudo o que puder dele. Por favor... tente entender e concordar.
— Oh, entendo. — Ergueu uma das mãos até o rosto da filha e, gentilmente, enxugou-lhe as lágrimas. — Agarramos o que podemos do que nos faz bem. É isso que faz a vida valer a pena.
Tess não tinha certeza se essa era a filosofia dela, mas podia ver que era a do pai...
Era parte da corrupção que vinha junto com grandes riquezas. O amor estava acima disso, argumentou para si mesma. Era um presente que não podia ser comprado. Mas podia ser pago com sofrimento, uma voz no pensamento avisou-a.
— Vamos ferver essa água novamente. Precisamos de uma xícara de chá.
Era um grande alívio que a costumeira harmonia pai/filha tivesse sido restabelecida. O chá logo ficou pronto e a moça levou-o até a mesa onde o pai se encontrava.
— Contou à sua mãe sobre o casamento? — perguntou.
— Ainda não. No momento, está fora, em turnê. E acabamos de retornar da lua-de-mel. Nick quer oferecer uma grande festa assim que a casa estiver arrumada. Contarei a ela antes de enviar os convites.
— Será uma grande surpresa quando a notícia se tornar pública.
— Sim, mas não deve durar muito. E é mais fácil lidar com um fato consumado, não acha?
— O que está feito está feito. E, uma vez que já conversamos, onde está seu marido com o meu neto?
Ouviu o tom hostil na voz dele novamente. Sentiu que isso anunciava a necessidade de um encontro cara a cara com Nick, que insistira na mesma coisa. O marido concedera-lhe somente meia hora a sós com o pai antes de se juntar a eles. A imagem de dois touros discutindo agitou o pensamento de Tess ao olhar, nervosa, para as escadas que iam do jardim ao terraço onde ficava a piscina.
O olhar da esposa foi detido pela cabeça de Nick que surgia à medida que ele subia as escadas — os ombros, depois Zack no bebê-conforto atrelado ao peito do pai, as perninhas do bebê chutando alegremente. Ramirez sorria e falava com o filho que não respondida, mas demonstrava gostar muito, como se bebesse ceada palavra de amor e de atenção do pai.
— Ele se preocupa com o filho — Brian observou, rispidamente.
— Muito.
— E você, Tessa... o quanto ele se preocupa com você?
A moça hesitou, ainda sem saber realmente qual era a resposta.
— Mais do que eu esperava. Está sempre... me surpreendendo. — O que era a mais absoluta verdade.
Mas o suspense retornou enquanto Nick se aproximava. O bom humor estampado no rosto começou a perder o brilho, assumindo um ar de cautela. Os olhos verdes observavam a linguagem corporal do sogro, um homem cujo poder financeiro e influência poderiam ser um problema na vida do casal.
Brian levantou-se, estendendo uma das mãos para cumprimentar o genro.
— Não carrega mais meu nome — começou, referindo-se à mudança do sobrenome Steele para Ramirez há 8 anos. — Respeito a integridade por trás da correção pública daquela mentira ao proclamar sua verdadeira filiação. Entretanto, minha filha me contou que você agora é meu genro, o pai do meu neto. Essas duas circunstâncias fazem de você um membro da família. Certo?
— Certo! — Nick afirmou, apertando a mão do sogro. — E vamos deixar claro que teríamos sido uma família muito mais cedo se Tess tivesse me contado que estava grávida.
Brian balançou a cabeça, concordando com a verdade que estava sendo dita, embora perguntasse:
— Uma situação difícil quando as escolhas parecem... forçadas... não acha?
— Não culpo Tess pelas decisões que tomou. De acordo com o ponto de vista dela, tinha o direito de fazer o que fez, embora eu fizesse diferente se tivesse tido chance. Lamento não estar ao lado dela, compartilhando ó que deveria ter sido compartilhado.
— Gostaria de pensar que estava disposto a isso. Não sei se Tess lhe contou, mas ela passou por um momento difícil ao dar à luz. Na minha opinião, os médicos demoraram a optar pela cesariana. Estressaram mãe e filho. Depois, a infecção resultante da operação...
— Pai, acabou — Tess interrompeu, assustada com qualquer ameaça que pudesse surgir à frágil paz estabelecida.
— Sim, ela me contou. Você tem meu respeito... e minha profunda gratidão... Esteve lá para ajudá-la, confortá-la, e agradeço por isso.
— E minha filha...
— E agora minha esposa. Acredite... não vai precisar assumir o meu lugar novamente.
— Cumpra o que está dizendo, e nunca discutiremos — afirmou.
— Não sou como meu pai. Não cometa o erro de me julgar como tendo o mesmo caráter dele. Passei a usar o nome Ramirez porque me pertence, mas sou independente. E de uma coisa você pode ter certeza... sempre lutarei pelo que me pertence.
— Assim como eu. Se fosse você, nunca esqueceria quem é a sua esposa.
— Pai... — Tess deu um pulo, implorando ao pai que ouvisse, escutasse, compreendesse... — Ameaças não vão ajudar. Não faça isso. Por favor! E minha escolha, minha vida...
— Nossa vida! — Nick corrigiu, colocando o braço que estava livre ao redor dos ombros da esposa, puxando-a para perto dele. — Tess e eu estamos trabalhando nisso juntos. Temos um filho. Faremos de tudo para termos um bom lar, sermos uma família. Você pode fazer parte...
— Por favor, pai.
Brian suspirou, deixando de lado as suspeitas e a animosidade. Lançou um olhar desafiador para Nick. Depois, abaixou os olhos até a mesa.
— O chá deve ter esfriado — resmungou. — E ainda nem peguei meu neto ao colo.
Com a mesma velocidade que a tensão cresceu entre os dois homens, também atenuou. O sogro passou a falar sobre a compra de uma propriedade. Nick se juntou a Brian na conversa, sentando-se à mesa, enquanto tirava o filho do bebê-conforto e o passava ao avô.
Intensamente grata pela trégua, Tess os deixou reunidos enquanto se recolhia atrás do bar para ferver mais água. Depois de ter sido surpreendida por um forte redemoinho de tendências masculinas primitivas — proteção paternal e um marido reivindicando seus direitos — era com uma sensação quase de alívio que agora Tess fazia a parte dela, servindo o chá matinal.
Felizmente, esses dois homens importantes na vida de Tess tinham autocontrole e inteligência para evitarem uma situação irreparável. Tess tinha consciência do considerável teste e da ponderação que estavam por trás daquela aparente e inofensiva troca de idéias e opiniões. Certamente, nenhum dos dois estava prestes a se retirar desse compromisso, dando vantagem ao rival. O respeito estava garantido, embora dependesse de como o futuro seria conduzido.
O que, rapidamente admitiu, era sensato. Tinha as próprias dúvidas com relação ao quanto duraria o compromisso de Nick com ela. O casamento dos dois se baseava na paternidade e no sexo, e ambos os fatores ainda eram novidade para Ramirez. Enquanto a moça acreditava que o publicitário sempre estaria ao lado do filho para ajudá-lo, já não acontecia o mesmo com relação aos seus romances que nunca duravam muito. Pelo que sabia, seis meses no máximo. Depois disso...
Logo colocou uma barreira mental para não olhar muito adiante. Até agora, Nick não lhe dera motivos para recear qualquer rompimento. E a esposa não estava prestes a apresentar qualquer incerteza sobre o futuro ao pai. Hoje, ao menos, queria apresentar uma relação sólida com o marido.
— Olhando para Zack... e você... — O sogro lançou um olhar zombeteiro ao genro — ...não daria para você duvidar de que é pai dele.
— Não. Embora eu teria acreditado na palavra de Tess se Zack tivesse saído fisicamente à mãe — retrucou.
— Como eu fiz com a sua mãe — veio a lembrança ridícula.
Tess ficou nervosa, prevendo uma resposta rápida. O marido balançou a cabeça.
— Não há comparação entre a minha mãe e Tess — disse, calmamente. — Os corações das duas estão em lugares muito diferentes.
O sogro resmungou, aprovando, relutante.
— Que bom que sabe disso.
— E embora avalie o quanto o nascimento de Zack foi difícil para Tess, gostaria que minha esposa tivesse vontade de enfrentar outra gravidez...
que tenhamos outro filho? — entrou na conversa, exaltando de felicidade diante desse plano para o futuro.
Nem a sua mãe nem a minha nos deram um irmão ou uma irmã — salientou. — Acho que fomos crianças solitárias.
Os fascinantes olhos verdes procuraram os da esposa cautelosamente, não querendo pressioná-la a nada.
— Gostaria que fizéssemos o melhor para Zack.
— Faremos. — A promessa, acompanhada de um sorriso, logo acabou com qualquer nota de discórdia por parte de Brian. Ou se houve alguma durante o resto da visita dele, a filha não ouviu. Somente escutava a esperança que cantava no coração.
Nick a surpreendera novamente. Outra criança... isso provava um comprometimento maior com o casamento... parceiros criando e compartilhando vidas.
Tess acrescentou esse bom sentimento a todos os outros que Nick lhe dera. Devia estar chegando perto do amor. Ou talvez estivesse colorindo as surpresas com o próprio amor. Não importava... a vida com o marido era boa. E melhorava a cada dia.



O convite para o café-da-manhã com a mãe significava que Nadia queria alguma coisa. As mensagens que deixara para o filho, ao longo das últimas três semanas, demonstravam que a sra. Condor tinha algo em mente e não adiantaria Nick ignorar. E, agora que Brian sabia a respeito do casamento de Ramirez com Tess, era melhor dar a notícia à Nadia também.
Uma coisa era certa. Não queria a esposa perto da mãe dele até que esta tivesse lidado com a reação inicial. Não queria que Nadia tornasse Tess ainda mais vulnerável ao casamento.
A esposa parecera atordoada com a sugestão de que tivessem outro filho — atordoada, mas feliz que o marido planejasse um futuro junto dela. Isso demonstrava que Tess pensava que Nick encarava o casamento como algo temporário. Afinal de contas, a vida de Ramirez se baseara em diversos relacionamentos temporários. E os dois não estavam juntos tempo suficiente para que a esposa acreditasse que o casamento seria diferente. Embora fosse. Muito diferente de qualquer coisa que o publicitário conhecera antes.
Nick não queria perder aquele casamento. Nem queria que fosse estragado por pessoas que não compreendessem a relação dele com Tess e o que sentia com a esposa e o filho. A mulher evitara que o pai prejudicasse o relacionamento deles ontem, afirmando que
casar-se com Ramirez. Agora, essa manhã, era ele quem tinha que garantir que a mãe não estragaria nada.
O café-da-manhã na residência dos Condors era servido em uma sala esplêndida. Da mesa contemplava-se a vista de Balmoral Beach e a marina onde Philip Condor guardava o iate.
A governanta conduziu Nick até a sala do desjejum. A mãe estava sentada em uma cadeira posicionada de forma que, ao entrar na sala, só dava para ver metade do rosto. Assim, o filho teve o impacto de ver uma pessoa usando calças bem justas, num tom amarelo-claro — a curva perfeita do quadril e da coxa negando o menor indício de celulite. As calças combinavam com uma blusa de estampa floral, em tons amarelo-claro, branco e verde-limão, amarrada na cintura.
— Querido! — Levantou-se da cadeira com uma sensualidade que, provavelmente, tinha sido ensaiada um milhão de vezes. Deu-lhe beijinhos nos dois lados da face antes de o abraçar e o conduzir a uma cadeira à cabeceira da mesa — o lugar
— Por onde tem andado? — ralhou, acariciando o rosto do filho.
A atitude da mãe fez com que Nick lembrasse o quanto era prazeroso viver com Tess porque a moça nunca fazia esse tipo de joguinho. Não se lembrava dela jamais disparando qualquer pensamento cínico, dúbio, assim como acontecia com ele em relação à própria mãe. Na verdade, isso acontecera com todas as mulheres que passaram pela vida do publicitário. Exceto Tess. A moça sempre foi direta, não tentando nenhum tipo de suborno.
Ainda assim, tinha que admitir que a esposa nunca tivera problemas financeiros — herdeira de uma fortuna desde o dia em que nasceu. Nadia Kilman era filha única de um casal de imigrantes, muito pobres — pessoas que se empenharam em proporcionar-lhe todas as vantagens possíveis no novo país. Os dois morreram tentando salvar a casa, nos arredores de Sidney, durante um incêndio de verão.
Claro que se asseguraram que Nadia se salvasse primeiro. Aos 17 anos, já tinha começado uma carreira brilhante como modelo. O passado da moça pobre que torna-se rica também lhe foi favorável, atraindo admiração e gerando oportunidades para que avançasse.
— Já me tem aqui, mãe. O que tem em mente? — Era melhor jogar como Nadia queria: deixá-la de bom humor.
— Suco? Café? — Pronta a dar uma de serviçal o que, sem dúvida, significava que queria um grande favor! Afinal de contas, era somente filho dela, não um prospecto de casamento bilionário.
— Eu me sirvo, obrigado.
A mesa estava disposta com um completo café-da-manhã. Nick serviu-se de suco de laranja e pegou um
para ajudar a passar o tempo de forma civilizada.
— Você comprou a propriedade dos Uptons em
— os olhos dourados cintilavam prazer.
— Sim. Ouvi dizer que seria colocada à venda e fiz uma proposta — respondeu.
— Fui a tantas festas maravilhosas lá! O que eu gostaria de sugerir — e sabe o quanto sou boa nisso — em vez de contratar um profissional para decorar...
— Não. Já está tudo arranjado.
— Mas
de um novo projeto. — Fez beicinho e sorriu, usando de todos os truques para convencer o filho. — E lhe daria um resultado brilhante. Prometo que a sua nova casa será o assunto da cidade. Deixe eu liquidar com o contrato que assinou...
— Não. Não é uma situação a negociar.
— Querido,
é negociável. E só uma questão de encontrar o preço certo.
Nick balançou a cabeça, imaginando que teria feito a mesma generalização cínica há algumas semanas, mas agora sabia que isso não era verdade. O amor que sentia pelo filho não era negociável. E a confiança da esposa não era negociável. De fato, nada relacionado a Zack ou Tess era negociável.
— Sei que gosta de fazer as coisas do seu jeito, mas tem que concordar que eu tenho grande experiência em...
Nick rejeitou qualquer tática de persuasão e declarou, rude:
— Me casei depois da última vez que nos vimos. Minha esposa vai escolher e supervisionar a decoração da nossa casa.
— Casado! — Fitava-o, descrente, atordoada. A descrença passou a ser contrariedade. — Por que não ouvi falar disso?
— Não é da sua conta. Não lembro de você ter me consultado sobre nenhum dos seus casamentos. Somente se foi adiante...
— Sabia com quem eu estava me casando — interrompeu, mais chateada por ter os próprios planos frustrados do que preocupada com quem o filho escolheu como esposa.
— Irrelevante. A questão é...
— Quero saber quem é — voltou a interrompê-lo, de forma petulante. — Depois de todas as suas piadas cínicas s relacionadas aos meus casamentos, quero saber quem é e o que fez você mudar de idéia. Nada a ver com a sua personalidade...
— Deve ter julgado mal minha personalidade.
Nadia revirou os olhos.
— Só me dê o nome dela. Vou avaliar o resultado. Ramirez sentiu orgulho ao dizer:
— Tessa Steele é minha esposa agora.
— Tessa Steele? — A mãe elevou o tom de voz, chegando a um ponto estridente. — Tessa Steele, a filha de Brian Steele?
Nick balançou a cabeça, concordando. A mãe irrompeu em uma gargalhada.
— Oh, isso é impagável! — comentou alvoroçada, batendo palmas de alegria. — Brian se livra de mim como sua esposa e você se casa com a única filha dele! Adorei!
Ramirez suspirou de raiva diante do hábito da mãe em distorcer as coisas, voltando-as para si. Só por essa vez, desejava que Nadia pudesse ir além do próprio centro do universo.
A mãe ergueu os braços, esticando as mãos para demonstrar o quanto o casamento do filho com Tess significava para ela.
— Que simetria maravilhosa! E todo aquele adorável dinheiro está de volta à família! Que golpe fabuloso!
Dinheiro! Nick contraiu o maxilar ao tentar não demonstrar a onda de rancor que sentia pelos valores que a mãe adotara ao longo de toda a vida... pura mesquinhez.
— Nada nesse mundo me faria tirar um centavo da fortuna da família Steele — disse, irritado.
A mãe ficou pasma diante da declaração tão enfática. Mas logo restabeleceu-se, zombando:
— Então, por que se casou com ela? Nem é bonita.
— Para mim é. — Levantou-se, chateado demais para permanecer sentado. — E o mais importante, Tess teve uma criança, um menino...
— Uma criança! — disse, irritada. — Então, a situação se inverteu e você se deixou seduzir. Tess usou a mesma armadilha para fazer com que você se casasse com ela, assim como fiz com Brian.
— Não como você fez com Brian. Eu não era filho dele enquanto Zack é.
— Tem prova disso?
— Indiscutível.
— Bem, de qualquer forma, foi inteligente. E ao ter um menino... arma perfeita para atraí-lo.
A raiva pulsava em ambos. A conversa passou a ser uma rixa maldosa. A mãe não compreendia os interesses em jogo. Nick respirou fundo para se acalmar e explicou.
— Tess não usou isso para me prender. Nem me revelou a existência do nosso filho a não ser
que a pedi em casamento.
— O quê?
— Você me ouviu. Eu a pedi em casamento primeiro.
— Por quê?
— Porque eu queria exatamente o que Tess e Zack me dão.
— E quando decidiu isso? Sabia dos seus relacionamentos quando Enrique morreu e isso foi há pouco menos de dois meses.
O pacote vindo do Brasil... Estranha ironia que mal tivesse pensado na carta do pai desde que Tess lhe contara sobre Zack. Ainda assim, o que lera como fantasia do pai de uma vida ideal estava agora tomando forma como a realidade que vivia. Será que Enrique acertara no final? A recompensa de encontrar os dois meios-irmãos impulsionara Nick a considerar um casamento com Tess. E, conseqüentemente, a agir em prol disso, conduzindo-o aonde se encontrava agora.
— Será que a notícia da morte do seu pai despertou em você um senso de mortalidade? Hora de se casar e gerar filhos? — continuou, determinada a alfinetá-lo até descobrir o que queria.
Isso significava encaixar as decisões e atitudes do filho aos valores dela. Algo impossível. Não dava para estabelecer qualquer entendimento entre os dois.
— Continue vivendo do seu jeito, e me deixe viver como quero — disse ao se despedir.
Longe de admitir a saída do filho, o rosto de Nadia se iluminou, excitada, por ter tido uma idéia que respondia a tudo.
— A herança! Esse casamento é por causa disso, não? Negou que Enrique tivesse lhe deixado qualquer coisa. Mas, por que me daria de presente um colar de esmeraldas e não lhe daria nada; ao próprio filho? Casar-se com Tessa Steele é o seu bilhete para conseguir a herança de Enrique — declarou, triunfante.
O estômago do filho se contraiu àquela situação revoltante. Os olhos dourados da mãe brilhavam de satisfação.
— Sim, posso vê-lo rindo ao escrever a condição. Uma piada bem bolada...
— Não, mãe. Também não vou tocar em um centavo da fortuna do meu pai. E Tess não foi mencionada na carta.
— Querido, pode confiar em mim. Manterei segredo. O que Enrique lhe escreveu?
— Já disse. Revelou que tenho dois meios-irmãos.
— E ficariam com a herança se você não...
— Não tem nada a ver com herança! Vim aqui lhe contar que tenho a minha própria família. Embora vejo que não está nem um pouco interessada no seu neto, não mais do que alguma vez esteve em mim.
— Como pode dizer isso? — protestou.
— Tenha um bom dia! Peça a Philip que lhe compre outra casa para decorar. A minha é área interditada.
Nick foi embora. A única coisa que compartilhava com Nadia era a ligação mãe-filho que os unia gostassem ou não. Pensara que isso justificasse cortesia, mas a atitude dela com relação à nora tornara isso impossível.
Era o momento da separação. Hora de deixar ir embora o que nunca tinha sido bom. O vazio que sempre existira no relacionamento dele com a mãe estava sendo preenchido por Zack e Tess. Não precisava manter-se agarrado à saia de Nadia.
Tudo isso passava pela cabeça de Nick ao ir embora. Não levava em conta que a mãe deveria estar frustrada por ter sido impedida de participar de diversas questões. De fato, Nadia estava decidida a explorar outra fonte para conseguir a informação que queria — a nora, que não lhe negaria o direito de ver o próprio neto!



Quando Nadia Condor foi embora, Tess sentiu que o novo mundo com Nick tinha ruído e que ela caía na mais absoluta escuridão. Ao menos, conseguira manter a altivez. A sogra não percebeu quanta dor deixara. Mas isso era pouco diante da fantasia que se despedaçava.
A pior ironia era que... acreditara na palavra de Nick que o casamento deles nunca os envolveria na
Nenhum dos dois queria ou precisava do dinheiro do outro. Nunca lhe ocorrera que houvesse outra herança ligada ao casamento deles. Não sabia nada sobre
Mais importante, Nick não mencionara a morte do pai.
Um casamento de conveniência — foi o que o publicitário propusera e a herdeira dos Steeles aceitara,
Dessa forma, o filho teria um pai presente enquanto Ramirez estivesse disposto
Precisava se agarrar àquela razão e seguir em frente. Estavam casados. Nick comprara aquela magnífica casa para que tivessem um lar. Não somente estava morando junto deles, mas sendo um bom pai, até querendo que tivessem outra criança — um irmão ou irmã para Zack.
Também não tinha do que reclamar dele como marido. Era carinhoso, atencioso, generoso. E o sexo não perdera o calor apaixonado. Era tão bom quanto esperava que fosse...
Não valia a promessa de Nick feita durante os votos de casamento. Tess escolhera as palavras a serem ditas. Na hora, o tom de voz do noivo a persuadira a pensar que ele realmente queria dizer aquilo. Mas, sem dúvida, ela se deixara levar pela emoção da cerimônia, sem manter os pés no chão.
Nadia a trouxera de volta à realidade. Amar Nick não significava que ele a amasse também. Tinha que parar de alimentar essa fantasia. Não tinha nada a ver com o fato de Ramirez a ter escolhido como esposa... a mulher que não pediria um acordo caso se divorciassem. O marido lhe dissera isso, tinha sido honesto!
A própria Tess causara a si mesma esse terrível desgosto que lhe devastava o coração. Nick não mentira. Não revelara o motivo que o levou a tomar a decisão de se casar, mas não mentira para a esposa. Nem a seduzira ao casamento. Expusera o plano de forma bem razoável... não oferecendo mais do que uma parceria que servisse aos dois. Estava fazendo a parte dele. Era um absurdo sentir-se enganada. Era errado culpar o marido.
Não deixaria Nadia destruir a sólida relação que conseguiram juntos a partir da noite em que revelou a Nick que tinha um filho. O amor por Zack era real. E embora o casamento possa ter sido concebido visando alguma conveniência
Tess dizia a si mesma que o relacionamento progredira para algo mais.
Algo bom. Muito bom para ser prejudicado por um orgulho idiota. Quando Nick voltou do trabalho, a esposa tentou não mostrar qualquer mudança. Agiu conforme a rotina noturna normal. Tentou parecer relaxada. Não imaginava que representasse tão mal. Estava tentando tanto...

Algo estava errado. Nick não sabia precisar o que era. Mas Tess não agia como de costume. Durante a hora que precedia o jantar, destinada às brincadeiras com Zack antes de ele dormir, o rosto da esposa não se iluminava com sorrisos e gargalhadas. Estava quieta, preocupada, juntando-se somente à brincadeira com o filho quando Ramirez a trouxe para perto dos dois. Parecia que o pensamento dela estava em outro lugar.
A enfermeira contratada, Carol Tunny, ainda estava com os Ramirez. Embora não precisassem mais da experiência dela com bebês recém-nascidos, era bom tê-la por perto para cuidar do menino quando os dois se encontravam ocupados.
Zack estava feliz, pronto para dormir no novo berço. Não havia nada a dizer a Carol, nenhuma preocupação. Ao se dirigirem ao andar térreo, para jantarem, Nick abraçou a esposa. Queria confortá-la caso precisasse desabafar. Imediatamente, os músculos das costas enrijeceram como se aquele toque não fosse bem-vindo, até ofensivo!
— Tess? — questionou, franzindo as sobrancelhas.
A esposa lançou um sorriso pedindo desculpas. Suspirou.
— Longo dia com o vaivém de pessoas deixando brochuras relativas a móveis, amostras de tecidos para cortinas e estofamento.
— Tess, se está ficando estressada por ter que decidir tudo, deixe a decoração interna por conta de...
— Não, quero escolher. É a
casa. Se deixar por conta deles, teremos um resultado que nada diz sobre nós, exceto que temos
Nick suspeitava que algo delicado incomodava a esposa.
— Alguém criticou suas decisões? Alguém fez com que você se sentisse...
— Não. Foi somente um dia fatigante. E o seu? Não me contou como foi o café-da-manhã com a sua mãe.
Droga! Era isso que martelava na cabeça dela! Deveria ter telefonado para contar, garantindo-lhe que o encontro não resultará em nada. Embora Tess imaginasse que a opinião da sogra, com relação ao casamento dos dois, seria tão irrelevante quanto a opinião da mãe
— ambas baseadas na forma como viviam as próprias vidas.
— Previsível. Não consegue imaginar que não me casei por dinheiro, mais do que ouso dizer que Livvy Curtain possa imaginar que você não se casou comigo somente por sexo. Por que mais, querida? — imitou, zombando.
Tess lançou-lhe um sorrio irônico.
— Realmente, por que mais?
Nick relaxou, pensando no quanto era fácil se comunicar com Tess. Às vezes, palavras nem eram necessárias. Somente um olhar transmitia o significado e a compreensão. Uma das melhores coisas sobre o relacionamento deles era o sentimento de união, de tudo ser compartilhado.
— Nenhuma alegria ao saber que tem um neto. Zack é uma evidência sólida de que ela está envelhecendo. Não consigo prever muito contato entre nós de agora em diante.
— Não se incomoda de perder sua mãe?
— Será que realmente tive mãe?
— Nadia tem sido... uma figura importante na sua vida.
— Difícil não ser. Fui usado para atrair seu pai ao casamento. Não dá para negar que foi uma maternidade pública. A posse tinha que ser mantida.
O pensamento de Nick perambulou pelas outras relações consangüíneas — os meios-irmãos desconhecidos. Desejava saber em quais situações os dois nasceram — como as mães deles explicaram as gestações. Devem ter sido adotados. Ou conduzidos a acreditarem que outros homens eram os pais, assim como acreditara que Brian fosse o pai dele. Nesse caso, as notícias vindas do Brasil deveriam estar causando muito mais mudanças nas vidas dos dois do que resultará na dele.
— Posses podem ser algo importante para algumas pessoas — Tess comentou, seca.
— Certamente são para a minha mãe — Nick respondeu com sentimento, franzindo as sobrancelhas diante da ávida fixação da mãe pela herança do pai. Não se importava se fosse para os meios-irmãos. Talvez fizesse diferença na vida dos dois. Uma sorte desesperada. Para ele, sempre seria uma nódoa, um presente dado após a morte do pai, não em vida. Não precisava disso e não queria nada.
— Bem, Nadia soube o que era não ter nada quando criança — Tess o lembrou. — Você e eu nunca estivemos
Verdade. Por causa dos planos ambiciosos da mãe, nascera rodeado de riqueza e privilégios, assim como Tess. Não sabia o que era necessidade no sentido
Então, era muito fácil não notar o que estava por trás do ímpeto da mãe em adquirir as riquezas desse mundo. Talvez para Nadia, nunca se pudesse ter o suficiente.
— Está sempre querendo mais — resmungou ao entrarem na sala de jantar. — Ainda essa manhã, queria colocar as mãos nessa casa, decorando-a para espalhar boatos sobre si mesma, atraindo a admiração das pessoas por ter conseguido essa façanha. Não entende a palavra
Tudo é uma vitrine para a sra. Condor.
— O que é um
para você? — Tess perguntou.
O marido a abraçou e acariciou-lhe o rosto marcado por sinais de evidente tensão interna... os adoráveis olhos azuis estavam nebulosos, fugindo dos dele, procurando evasivas. Segurou-lhe o rosto para atrair-lhe a atenção.
— O velho ditado é verdadeiro.
E o meu está aqui com você e Zack — disse.
— Certo! — Sorriu e escapou do abraço, acenando na direção da mesa de jantar que tinha sido trazida do apartamento dele, em Woolloomooloo. A mesa era de vidro, apoiada em blocos de mármore preto. E as cadeiras de couro preto, vindas da Itália, eram o que havia de mais moderno. — Então, não vai se importar se eu me livrar dessa mobília escura e substituí-la por uma combinação na cor maçã verde suave. Meu coração não é preto. Não quero escuridão. Não quero...
— Maçã verde parece ótimo! — logo lhe assegurou, ouvindo um tom de excitação na voz dela. — Sem dúvida, descartarei essa mobília. Só servia como tapa-buraco enquanto fazíamos outras escolhas.
Embora a extremidade da mesa onde se encontravam estivesse arrumada para o jantar, o outro lado estava coberto com brochuras e amostras de tecidos. Tess se dirigira para lá, pegando algumas como se colocasse toda a extensão da mesa entre os dois.
— Gostaria que olhasse essas aqui. Mas abra a garrafa de
primeiro. — Apontou para o balde de gelo; vinho selecionado e pronto para os dois. — Vamos ter galinha ensopada com chouriço, a cozinheira me disse. Será servida em minuto. Melhor servir o vinho.
Algo muito errado, Nick concluiu. Táticas evasivas estavam sendo empregadas, ambas verbais e físicas. Sentia a indiferença de Tess. Barreiras sendo erguidas novamente. Ramirez desconhecia o motivo, mas sabia o local onde poderiam ser arruinadas da melhor forma possível. Não iria tolerar nenhuma barreira no quarto.

Tess sentou-se à penteadeira no quarto do casal, escovava o cabelo, tentando acalmar a tensão interna com movimentos repetitivos. A mobília ao redor era dela, trouxera da casa em Randwick. Não condizia com aquela casa — aquele quarto. Mas, ao menos, lhe dava uma sensação confortável de familiaridade. Vestira um roupão azul de seda, com renda, que fazia parte do conjunto de
que comprara para a lua-de-mel. O objetivo era ser atraente, mas sedução estava fora dos planos dela hoje à noite. Sentia-se muito vulnerável para a nudez desinibida que Nick encorajara no quarto deles, embora o roupão não servisse para esconder a nudez dela, mas livrá-la do frio. Apesar de estarem no meio do verão, e o ar condicionado na casa estar regulado para temperaturas quentes, Tess sentia arrepios.
Queria sentir o calor do desejo crescendo dentro de si, prevendo as intimidades que Nick esperava que a esposa dividisse com ele hoje à noite na cama. Não adiantava, Ramirez era o marido dela. E, como dissera, sexo bom era o que mantinha casais unidos. E ela queria manter o casamento, independente do que acontecera. Tess o amava. Deveria ser capaz de corresponder ao prazer sexual que o marido lhe proporcionava.
Atrás dela, uma porta se abriu. Ela não se virou ou parou de se pentear. O espelho em frente refletia a beleza do homem nu que saía do banheiro — um homem com quem qualquer mulher gostaria de se casar. O olhar sombrio, mortal, que lançou para Tess, paralisou-lhe os pulmões, enviando um estranho medo que fez com que seu coração disparasse.
Pensara que conhecesse Nick. Mas será que o conhecia realmente? Será que usara o sexo para cegá-la, não deixando que fizesse perguntas antes do casamento? Mas ainda havia Zack, tinha que considerar isso. Pelo bem do filho deles...
Talvez Brian estivesse certo e tivesse sido um erro casar-se pelo bem de uma criança. O estômago se contraiu em ondas de pânico conforme Nick atravessava o quarto, indo até onde Tess estava sentada. Sentia um aperto no peito a cada passo do marido. Esqueceu de continuar se penteando. O pensamento girava com o conflito que a torturava — querer esse homem ou não.
Era impossível fingir que nada mudara. Mudara onde era mais importante para Tess. Nick a usava para lucrar financeiramente. Poderia haver também um milhão de outras razões, e todas válidas e significativas, mas Tess não podia ignorar esta.
— Deixe-me — disse, tirando-lhe a escova da mão, um sorrisinho sensual, o olhar queimando de desejo.
disse a si mesma, agarrando-se à segurança do silêncio porque talvez pudesse ser envolvida pela forte sexualidade dele. Se ao menos pudesse deixar escapar esse tormento mental infeliz na sensação física...
— Juro que você tem o cabelo mais erótico que já vi ou toquei — murmurou.
Tess fechou os olhos. Poderia acreditar? Quanto, de tudo o que dizia, era verdade?
— E fica melhor ainda em contraste com sua pele, linda, nua — sussurrou, soprando suavemente as palavras no ouvido dela enquanto começava a tirar-lhe o roupão de seda.
Não havia uma decisão consciente para se mexer. A explosão veio de forma rápida. Tess se viu em pé, o corpo tremendo enquanto se virava para repelir qualquer toque do marido. O banco estava entre os dois. Encostara-se à penteadeira, as mãos segurando o roupão, os olhos cintilando uma forte rejeição.
Nick se endireitou, emanando uma corrente de agressão masculina que não ia ser afastada de jeito nenhum. Os músculos do peito e dos braços ficaram ainda mais delineados com a tensão de quem está pronto para uma batalha. O rosto assumiu o ar cruel de um soldado preparado para vencer o inimigo. Os olhos brilhavam com a determinação de derrubar qualquer coisa que se colocasse no caminho de onde o publicitário queria estar.
— Diga logo! — ordenou, como se sentisse a formação da montanha emocional que os separava agora.
— Quinze de novembro — deixou escapar.
— O que tem? — rebateu.
— Foi o dia em que me ligou, querendo marcar um encontro. Disse que estava esperando que eu voltasse de L.A. Disse que sentia a minha falta.
— Sentia sua falta, mas não disse que estava esperando que voltasse de L.A. — corrigiu-a. — Disse que Livvy estava em Sidney. Então, me parecia lógico esperar que você também estivesse em casa.
O caos que sacolejava no pensamento deu lugar a uma sóbria reavaliação. A memória de Nick era mais precisa que a dela. Não mentira para Tess. Mas também não lhe contara a verdade!
— Foi nesse dia que decidiu se casar comigo, não foi? — questionou.
— O dia em que comecei a considerar um casamento com você — admitiu, nem um pouco perturbado pela acusação. — Nenhuma decisão tinha sido tomada até aquele momento.
— Mas o que fez você considerar um casamento, Nick? O que fez com que o seu pensamento percorresse caminhos nunca antes imaginados? — perguntou, zombando. — O que estava por trás daquele telefonema em 15 de novembro?
Viu nos olhos do marido o reconhecimento do que ela agora sabia, mas Ramirez não hesitou. Em vez disso, desafiou-a.
— Por que não me conta, Tess?
O convite, feito com voz suave, não tocou nenhuma campainha de advertência na mente enraivecida da herdeira dos Steeles. Via isso como outra evasiva, estimulando-a a apresentar a verdade em termos irrefutáveis.
— Foi no dia em que a sua mãe recebeu um fabuloso colar de esmeraldas de Enrique Ramirez. O dia em que você recebeu um pacote vindo do Brasil, informando-o sobre a morte do seu pai e estabelecendo condições para...
— Nomeá-la como a mulher com quem eu tinha que me casar para ganhar a herança? — Nick interrompeu-a, o olhar de fúria. — Minha mãe contou-lhe até esse ponto?
Não muito, mas... a implicação estivera lá... A esposa não tinha mais certeza de onde o marido vinha. O pensamento dela murmurava que Nadia Condor vinha de um lugar diferente. De fato, havia somente um único lugar seguro para estar e Tess o ofereceu ao homem que ainda queria manter como marido, não importava o desgosto que lhe causasse.
— Conte-me a verdade, Nick.



As palavras martelavam na cabeça de Nick, triturando idéias e sentimentos, sem qualquer discernimento. Até ali, não houvera necessidade de recuar e definir o posicionamento dele com Tess. Vivia com a esposa uma relação baseada na profunda intimidade — sem noção de tempo, devido ao fato de ser tão bom. Tess era a esposa, a mãe do filho dele. Eram uma família.
— Essa é a verdade — insistiu, aproximando-se, pegando uma das mãos da esposa, segurando-a com firmeza, puxando-a para perto dele. A mulher não podia negar como era o relacionamento deles na cama.
— Nick... — A angústia na voz da esposa o incitou à ação. Pegou-a no colo, embalando-a contra o peito, os olhos apunhalando o medo estampado nos dela.
— Essa é a verdade — declarou, apaixonado, sabendo que Tess não tinha o que temer.
Deitou-a nas almofadas de cetim marrom e dourado, prendendo-lhe as pernas. O desejo de tê-la o incitava a proteger cada possível movimento. Segurou as mãos dela, acalmando-a. Empregou toda a sua força para esmagar as dúvidas que alimentavam o medo da esposa. O olhar se prendia ao de Tess com uma intensidade implacável.
— O que sentimos um com o outro... a posse... o sentimento profundo de união... já sentiu isso com alguém antes? — questionou.
Tess permaneceu em silêncio, não estava preparada para se render, entregando a própria alma ao marido. Uma mistura de cólera e indiferença lutava com Nick devido à interferência egoísta da mãe dele.
— Não. Isso só pode acontecer se os sentimentos são mútuos, aproveitando algo tão poderoso que tem que ser único para nós.
Nick fez uma pausa, recompôs-se mantendo a promessa de falar a verdade. A esposa o escutava. Não se esforçava para livrar-se dele. Podia sentir que Tess se concentrava no que ele dizia.
— A verdade é... você deixou minha mãe entrar na nossa casa e destruir a confiança no que temos juntos. Minha mãe, que não reconheceria a verdade mesmo que a jogassem na cara!
— Pode não saber a verdade, mas me jogou aquela data na cara — veio a represália.
— Não me casei com você por dinheiro — retrucou.
— Não. Casou-se comigo porque eu era a única mulher que você conhece que não o perturbaria tentando tirar uma fatia da fabulosa herança de Enrique Ramirez. A mulher que já tinha dinheiro suficiente para gastar...
— Pare com esse absurdo de auto-depreciação! Não vou aceitar! Você é a minha esposa porque é a única mulher com quem considerei passar o resto da minha vida. Com quem queria ter um filho. Isso não tem nada a ver com dinheiro!
— Quinze de novembro! — gritou, o olhar ostentando frustração com a recusa dele em atribuir qualquer importância àquela data.
— Foi o dia em que decidi que não viveria como o meu pai. Ele me renegou em vida e eu o renego na morte! Sou
o homem com quem se casou. Não minha mãe, cobiçando tudo o que puder ter. Não meu pai, que fez o que quis sem se preocupar com as vidas que deixou ao longo do caminho. Preocupo-me com você e com o nosso filho. E o nosso casamento não tem nada a ver com dinheiro. Se não pode sentir isso...
O olhar dele queimava, forçando-a a fixar na memória a verdade que lhe contava.
de sentir isso...
Tess permaneceu quieta, absorvendo a paixão que Nick pulsava, profundamente emocionada. Mas, ainda assim, sem saber quanto do carinho do marido era de fato direcionado a
Quando a beijou, determinado a fazer com que a esposa
a verdade, Tess não resistiu. Deixou que os lábios respondessem. Registrava mentalmente cada sensação erótica que o marido incitava, sentindo o desejo explodir.
disse a si mesma. O publicitário deve ter escolhido casar-se com a herdeira dos Steeles para provar alguma coisa sobre si mesmo. Se não foi por dinheiro, poderia viver sendo a esposa que Nick escolheu. De acordo com o marido, a missão dele era se tornar um
em vez de um conquistador. E a esposa e o filho lucravam com isso.
Tess queria que o marido continuasse sendo
e isso significava manter a boa qualidade do sexo. Ramirez lhe dissera no começo que sexo era o que mantinha a solidez do casamento. Disse que não se incitava nenhum desejo sem corresponder ao mesmo, não havia permutas no sexo. A esposa concordara, e ainda tinha a mesma opinião, porque queria
o casamento.
— Diga que sente isso! — exigiu, erguendo-se para ver a resposta nos olhos da esposa.
— Sim — respondeu. O casamento
importante para Nick. Além disso, Tess concluiu que não era a promessa de uma herança que inspirava o amor do marido por Zack. O carinho que sentia pelo filho era real. E a esposa sentiu o carinho dele nos beijos logo a seguir.
Era uma resposta muito mais suave, carinhosa, do que algo forçado. Nick não mais agarrava-lhe as mãos com tanta força. A necessidade de mantê-la cativa à vontade dele passou ao desejo mútuo de estarem juntos. Não havia dúvida da profunda comunhão física que compartilhavam. Tess a sentia cada vez que faziam amor.
Queria entregar-se a esse momento. Queria esquecer Nadia Condor e os motivos mercenários que a sogra fizera com que parecessem ser tão críveis. Queria fazer com que a data de quinze de novembro passasse a ser insignificante. Então, tirou as mãos que estavam presas a Nick, abraçou-o e o beijou com todo o amor que tinha no coração.
— Essa é a verdade — o marido murmurou. — Saboreie.
— Sim — disse. O gosto era bom.
— Sinta! — Nick repetiu, beijando-a ao longo do pescoço, edificando o calor que terminaria com a fusão dos dois.
Era bom. Tess deslizava os dedos pelo cabelo do marido que se abaixava para beijar-lhe os seios fazendo com que se sentisse sensual, feminina e desejável. A mulher que escolhera como esposa. Por causa disso, não por dinheiro. Tinha que acreditar. E acreditava.
Nick a acariciava, beijando-lhe a barriga, o umbigo, excitando-a ao prazer. A língua deslizava eroticamente pela cicatriz da cesariana... não, deslizava de forma respeitosa... projetando o quanto valorizava o presente que era o filho dos dois. Por causa disso, casara-se com ela. Não por dinheiro.
Sentiu aquela verdade com todos os sentidos quando o marido a beijou intimamente, impulsionando ondas de prazer por todo o corpo. A intensidade do sentimento batia forte no coração. Tess gemeu, gritou, os dedos agarrando o cabelo dele, puxando, desejando. Nick respondeu à necessidade da esposa, entregando-se de forma selvagem, completa.
E terminou como sempre acontecia, o marido levando-a a um fantástico auge de prazer enquanto Tess se desmanchava. Depois, Ramirez se concentrava no próprio clímax, esforçando-se para juntar a própria força vital à da esposa.
E, claro, isso nada tinha a ver com dinheiro! Tinha uma verdade inteiramente própria... impossível de comprar, simular, negar! Era uma verdade que a mantinha feliz depois com o abraço de Nick, a cabeça dela descansando em um dos ombros do marido, as pernas esparramadas por cima das dele. Tess não queria se mexer. Estava com o marido, o amante. E, na secreta fantasia que ainda acalentava no coração, sua alma gêmea.

Nick não queria conversar. O corpo estava relaxado. O cabelo sedoso da esposa estava espalhado, de forma desleixada, por um dos ombros dele. A respiração quente dela acariciava-lhe a pele. A sensação de harmonia física entre os dois não convidava a nenhum pensamento de conflito. Ainda assim, não conseguia livrar a mente do sofrimento que a mãe infligira à Tess.
A data — 15 de novembro — tinha sido significativa, e havia uma ligação entre o pacote vindo do Brasil e a decisão dele em casar-se com Tess. A recusa de que essa conexão estava relacionada à herança de Enrique Ramirez era verdadeira. Nada iria persuadi-lo a aceitar qualquer parte das propriedades do pai.
Mas não tinha sido inteiramente honesto com Tess. Ao lembrar de como pensara naquele dia... não foi a necessidade de provar que a opinião do pai estava errada que o influenciou a aceitar o desafio. Conseguiu, a tempo, se livrar da visão de que a vida dele seguia o mesmo rumo da de Enrique. Não havia nada
O que influenciara as decisões e atitudes de Nick foi a promessa de um encontro com os dois meios-irmãos de quem nada sabia.
A única família de sangue. Exceto que isso não era mais verdade. Deixara de ser no momento em que Tess lhe contou sobre Zack. E a paternidade tornou-se mais importante que o assunto dos irmãos. Vivenciava a realidade da própria família com Tess e o filho. E era tão bom. Nick sabia que faria qualquer coisa ao seu alcance para proteger essa realidade de eventuais problemas.
A estranha ironia era que Ramirez mal pensara no desafio de Enrique desde que Tess o apresentara a Zack, há menos de dois meses. O publicitário começava a sentir que o
brasileiro, a quem tanto desprezara, tinha visto a luz de uma boa vida. Escrevera na carta —
Um conselho de pai. Nick mentalmente zombara dessa sugestão. Ainda assim, desejava saber se a carta — o desafio — poderia não ter sido motivada por um carinho verdadeiro... as tristezas de uma vida inteira empilhadas para produzir uma percepção que Enrique quisera passar ao filho, uma última atitude proporcionando algo bom no final, esperando reparar o mal que fizera.
Tess suspirou. Imediatamente, Nick a acarinhou puxando-a para mais perto. Deu-lhe um beijo na testa.
— Está bem comigo agora? — perguntou, esperando que não houvesse nenhum veneno deixado pela visita de Nadia.
— Mmmh... — Parecia cantarolar alegremente.
— Sente-se bem? — O marido sorriu, confiante.
— Bom sexo — disse com outro suspiro.
O sorriso vacilou e sumiu. Contudo não havia nada de errado com o comentário. O sexo tinha sido bom. Era sempre bom com Tess. Tinha mais ou menos definido o relacionamento deles como maravilhoso.
Então, por que se sentia insatisfeito, frustrado, porque a esposa pensara que ele somente concordara em ter uma boa noite de sexo? Desejava que Tess tivesse dito algo mais.
Mas o quê? O que mais queria dela? Não estava sendo justo. Conseguira o que planejara. A esposa esquecera as terríveis suposições da sogra e os dois acabaram o dia de forma harmônica, juntos, como deveriam estar.



Tess estava na sala de jantar, observando a colocação das cortinas de seda. Aos poucos, a casa se tornava o lar dos Ramirez — não uma vitrine com pertences valiosos. Mas um lugar que, em breve, se tornaria agradável, harmonioso e confortável.
Não esperava visitas. Era sábado de manhã. Surpreendeu-se quando a nova governanta, Betty Parker, entrou na sala de jantar para lhe entregar um cartão comercial e anunciar:
— Deixei o cavalheiro na sala de estar, sra. Ramirez.
O termo um tanto obsoleto e o tom respeitoso na voz da governanta incitaram a curiosidade de Tess. A eficiente Betty Parker, com quarenta e tantos anos, encarava a vida com uma visão moderna. Era claro que a governanta impressionara-se com o visitante.
Tess olhou o cartão à procura de identificação. Ficou chocada. Javier Estes... advogado... endereço do Rio de Janeiro. Só poderia haver uma ligação — a herança de Enrique Ramirez no Brasil. E por que um advogado tomaria um avião até Sidney se não houvesse uma herança para administrar? Tinha que ter dinheiro envolvido na história. E se havia dinheiro... Nick mentira!
— O sr. Estes pediu para ver o sr. Ramirez — Betty a informou —, mas como ele está na piscina com o bebê...
O marido estava ensinando Zack a nadar. O menino parecia um peixinho na água... o filho deles... com o pai... que o amava. Será que importava tanto que Nick não a amasse? Que tivesse se casado por... Cerrou os dentes. Não sabia, mas descobriria!
— Fez bem em me contar antes de ir buscar Nick, Betty — logo assegurou à governanta, devolvendo-lhe o cartão. — Leve isso a ele agora enquanto vou cumprimentar o sr. Estes e fazer-lhe companhia.
Betty sorriu, confiante.
— Imaginei que fosse um cavalheiro muito importante, não deveria ficar esperando muito tempo, e com o sr. Ramirez na piscina...
— Certíssima. Obrigada.
Pelo menos, 15 minutos se passariam antes que Nick aparecesse respeitavelmente vestido como, sem dúvida, queria estar para esse visitante. Tess não se incomodou em cumprimentar o brasileiro da forma como estava — calças castanho-claras, blusa listrada nas cores castanho-claro, azul-celeste e branco. Uma roupa bem casual para quem estava em casa.
A sala de estar era uma das poucas que Tess acabara de mobiliar. Surpreendentemente, conseguira todas as peças em leilão e gostara muito da arrumação. Mas o advogado do Brasil não estava admirando nada disso. Em pé, à janela, olhava fixamente a vista do porto de Sidney.
— Sr. Estes...
O advogado virou-se e Tess apreciara o impacto que aquele homem causara na governanta. Era alto e o cabelo grisalho emoldurava o rosto moreno dando-lhe um ar de autoridade. Os ombros não eram caídos, apesar de estar na faixa dos setenta anos, devido às profundas linhas de expressão.
Apresentava-se bem vestido em um terno de seda cinza. Parecia ter dinheiro. Se Tess não estivesse rodeada de dinheiro a vida inteira, teria se sentido intimidada por Javier Estes. A presença daquele homem a aborrecia. Queria brigar, não importando o motivo que o levara à casa dela.
Por alguns momentos, Tess teve a sensação de que o advogado a olhava fixamente. O par de óculos que Estes usava não dava certeza à moça sobre a expressão daquele homem. Então, a boca curvou-se num sorriso que a desarmou, pronunciando o nome dela como se o considerasse encantador.
— Tessa Steele...
— Tessa Steele Ramirez — acrescentou o nome de casada enquanto se dirigia para lhe estender a mão e cumprimentá-lo.
— Claro. Achei curioso que o filho de Enrique tenha escolhido como esposa uma mulher da família Steele uma vez que houve... pode-se dizer... um parentesco escandaloso.
— Não foi Nick quem criou esse problema. Nem eu — declarou, aliviada por ouvir que ela tinha sido a escolha de Nick... uma escolha surpreendente para aquele homem.
— O que faz de vocês duas pessoas decididas, originais — comentou, o olhar percorrendo o cabelo de Tess antes de acrescentar, admirado: — E você é surpreendentemente bela. — Envolveu-lhe uma das mãos enquanto os olhos a apreciavam, apesar da idade.
— Mas vamos ao que o fez vir do Brasil até aqui. — Tirou a mão que estava presa às dele, e apontou para um conjunto de sofás. — Vamos nos sentar?
— Esperava pelo seu marido.
— Logo estará aqui. Enquanto isso... — Encaminhou-se para sentar-se, esperando que o advogado a seguisse, mas o homem não fez isso. Permaneceu em pé, à janela, observando-a acomodar-se. Tess pressentia que aquele homem a observava em tudo, ajustando respostas às perguntas que tinha em mente. Parecia validar a alegação de Nadia Condor que o casamento de Nick a ela estava ligado à herança do pai.
— Sendo um advogado e vindo do Rio de Janeiro, presumo que tenha algo a ver com a execução do testamento de Enrique Ramirez — sugeriu, uma forma de sondar e conseguir alguma informação.
— Sou o único executor testamentário — admitiu. Então, com um ar notável de orgulho, acrescentou: — Enrique me incumbiu de julgar se cada missão foi cumprida.
— Cada
— Tess questionou, achando o termo um tanto estranho.
— Você desconhece as condições relacionadas à herança do seu marido que o pai dele impôs?
Lá estava — a ligação com a proposta de casamento de Nick!
— Já que nada sei sobre essa herança, não posso estar a par das condições — explicou ao advogado, erguendo o queixo com um considerável orgulho enquanto acrescentava: — Não me casei com meu marido por dinheiro, sr. Estes.
Irônico, o advogado comentou:
— Não imaginei isso devido à riqueza da sua própria família. Mas há uma herança em jogo aqui...
— Claro que há! — Tess comentou, irritada.
As palavras de fúria ecoaram pela sala quando Nick apareceu, vestindo apenas um roupão atoalhado branco. Ramirez não se arrumara direito e dava para ver a sunga preta que usava por baixo.
Zack, enrolado em uma toalha, estava no braço de Nick. O rostinho alerta diante do pai que apontava para a porta e gritava para Javier Estes:
— Saia da nossa casa!
— Nick! — Tess interviu devido à falta de educação do marido.
— Fique fora disso, Tess! Esse homem não tem negócios aqui. Veio sem ser convidado. Não é bem-vindo. Parta sem nada assim, como Enrique Ramirez fez comigo quando eu tinha 18 anos.
— Vim para dar... — Javier Estes argumentou.
— Não quero o que veio dar. Não quis nada do que o meu pai me negou enquanto estava vivo. E não vou querer depois de sua morte. Se pensou isso, errou.
— Você cumpriu as condições.
— Não para me beneficiar da herança de Enrique Ramirez — rebateu, não dando margem para discutir.
— Ainda posso lhe dar um terço de tudo...
— Não!
O velho homem gesticulou, insistindo.
— Você tem um filho... neto de Enrique...
— Deixe meu menino fora disso.
— Por que lhe negaria essa herança?
— Porque a única herança que conta está aqui com a mãe dele e comigo. — Nick caminhou em direção à esposa, puxando-a para perto dele, querendo apresentar uma família unida a Javier Estes.
— Tess e eu vamos criar nosso filho ao nosso jeito. Para valorizar o que
valorizamos. E isso se refere a amá-lo, a nos preocuparmos com a pessoa que ele é, sempre estando perto para ajudá-lo. Zack não precisa de nada de Enrique Ramirez.
Tess permaneceu protegida pelo braço de Nick, sentindo pulsar no marido uma mistura de orgulho e independência, e considerando-a parte essencial da vida dele. Parceiros, pensou com profundo alívio. Finalmente, tirou do pensamento o doloroso conflito estimulado pela chegada de Javier Estes.
Uma parceria foi o que Nick propusera no começo. Não tinha nada a ver com ganhar uma herança. Era sobre compartilhar o que acreditavam ser importante para crianças. E dividir uma cama também. Não era
o que Tess queria, mas... a ansiedade doentia que carregara consigo para dentro daquela sala estava escoando. Nick não mentira.
O advogado não pareceu perturbado pela explosão de Nick. Parecia aprovar o grupo familiar ostentado à frente dele. Após alguns momentos, perguntou:
— Acha que Enrique não se preocupava com você?
— Lembro muito bem do meu encontro com ele no Rio de Janeiro — Nick retrucou irritado, amargo. — Esse encontro está gravado na minha memória.
— Assim como estava na de Enrique — veio a réplica. — Por que acha que ele pagou para ter relatórios sobre a sua vida nos últimos 16 anos?
Relatórios? Será que o marido sabia que tinha sido vigiado? Tess sentiu medo só de pensar nisso, mas Nick não parecia surpreso com aquela declaração. Olhou irritado para Javier enquanto o advogado ia adiante com outro argumento.
— Por que imagina que ele escreveu aquela carta antes de morrer, a tarefa que lhe deu na esperança de mudar, o que sabia ser uma vida de prazeres vazios... — O olhar se moveu, indo na direção de Zack e Tess antes de acrescentar — ...para o que você tem agora?
O pensamento de Tess logo se agarrou ó
Recebida em 15 de novembro com o pacote vindo do Brasil? Será que casar e formar uma família era parte da tarefa — da missão que ele tinha que cumprir antes... Mas por que cumpri-la se não queria a herança? Por que correr em propor-lhe casamento? Não fazia sentido.
O braço de Nick a apertava conforme o publicitário resmungava:
— O que tenho agora devo à Tess, a pessoa que
é e o que me deu. — A esposa saboreou aquelas palavras. Não eram vazias. Foram ditas com significado, fazendo-a sentir-se importante para Nick.
O velho homem balançou a cabeça, concordando, e sorriu.
— Posso ver que o compromisso que um tem com o outro é verdadeiro. Enrique ficaria satisfeito.
Desgostoso, Nick gesticulou, cortando o ar com uma das mãos.
— Não me casei com Tess para satisfazer meu pai.
Javier o desafiou.
— Nega que a carta dele não o instigou a pensar em casamento? Há... considerável coincidência... na escolha do momento.
Certamente há, Tess pensou. Como Nadia Condor observara.
— Coincidência, sim — Nick admitiu —, mas meu casamento com Tess não tem nada a ver com as condições que Enrique estipulou para que eu herdasse o que quer que fosse que ele decidira ser a minha parte.
— A herança... Enrique simplesmente usou isso como um instrumento de poder para levar você a reavaliar a sua vida. Funcionou, não?
Nick bufou. Fumegava com aquela manipulação enquanto Tess concluía que isso não prejudicara ò marido. Mesmo que tivesse lhe proposto casamento, em um ato de rebeldia contra a avaliação da vida dele feita pelo pai, isso os conduzira ao que compartilhavam agora. E, certamente, Nick valorizava esse relacionamento, querendo protegê-lo.
— Você plantou sementes de carinho quando, aos 18 anos, confrontou Enrique — o advogado continuou. — Não podia considerar sua existência sem destruir as poderosas conexões que tinham se tornado a estrutura da própria vida. Mas a esposa não lhe deu filhos, somente duas meninas doentes, e não conseguiu mais lhe dar crianças. Doeu-lhe muito não tê-lo deixado entrar na vida dele.
— Não lamento! — Nick zombou. — Desculpe-me, mas não estou impressionado com o aumento do meu merecimento porque meu pai não conseguiu ter filhos legítimos.
— Foi ficando frente a frente com você que o fez passar a se preocupar — o advogado retrucou, gesticulando, enquanto seguia explicando: — com o homenzinho que você era aos 18 anos. Você fez com que ele quisesse conhecê-lo. Como os anos passaram, a esposa dele morreu de leucemia e as duas filhas faleceram de outras enfermidades, Enrique tornou-se obsessivo com a sua vida.
— Também não estou impressionado por ter minha vida espionada — Nick disse, rejeitando a obsessão do pai. — Se isso ainda está acontecendo, suspenda os detetives porque...
— Enrique também velou pelas vidas dos seus dois meios-irmãos, procurando-os depois que o mandou embora.
Meios-irmãos? Tess custou a acreditar no quadro que o advogado acabara de esboçar. Nick explodiu, uma mistura de ciúme e fúria.
— Ele
encontrou? Reconheceu-os como filhos? — O veneno da rejeição transbordava.
— Não. — Javier balançou a cabeça, arrependido.
— As vidas deles estavam tão bem estruturadas que Enrique achou melhor permanecer incógnito.
— Oh, vamos lá! — Nick o desafiou, zombando, descrente, de qualquer gesto de sensibilidade do pai.
— Teriam interferido na vida dele assim como eu teria. Muito mais seguro não ter nenhum contato até que morresse.
— Talvez seja verdade. Mas preocupou-se bastante com todos os três para dar...
— Dar? Um presente não vem atrelado a condições.
— Cada missão foi designada para o bem de cada filho.
missão? — Nick, sentindo-se ultrajado, alterou o tom de voz. —
Zack decidiu que deveria igualar-se à explosão do pai e gritou. Mesmo um bebê de quatro meses não era imune às tensões que tumultuavam aquela sala, Tess pensou. Pegou-o ao colo quando o marido, por causa da agitação, lhe entregou o filho. Era impossível para Nick acalmar a criança quando a própria testosterona o excitava a forçar o testamentário de Enrique a voltar para o mundo de onde veio — um mundo que o publicitário rejeitava.
— Melhor tirar Zack daqui — Nick murmurou, os olhos estremecendo de fúria.
— Não. — Imediatamente, aconchegou a cabeça do bebê à curva do pescoço e de um dos ombros dela, o lugar favorito de Zack. Ao acariciar os cachinhos na cabeça do filho com o próprio rosto, a mãe reduziu o volume da angústia do menino para uma lamúria. — Aconteça o que acontecer aqui, permanecemos juntos — insistiu, os olhos cintilando determinação. Não perderia, de jeito nenhum, qualquer informação que pudesse revelar o que Nick pensava e o que sentia!
O marido respirou fundo e encarou o advogado novamente. Com uma voz ameaçadora, perguntou:
— Está me dizendo que qualquer encontro com os meus meios-irmãos depende
executarem as missões designadas pelo
antes de morrer?
— Correto.
— Nunca houve garantia de um encontro com eles mesmo se eu fizesse a minha parte, realizando a fantasia de meu pai?
— Cada um de vocês tinha que ganhar o direito para...
— O direito! Não vê o quanto isso é obsceno? Não somos os filhos dele. Somos os miquinhos adestrados de Enrique! E você... é o diretor do circo. Está se divertindo? Vendo o quanto os vagabundos bastardos se dobram aos desejos de Enrique, obedecendo-lhe, distribuindo recompensas por serem bons miquinhos...
Javier assumiu uma postura rígida em face de um possível ataque.
— Asseguro-lhe, senhor, não era para ter esse significado. Eram questões de estilos de vida...
— Eles são meus irmãos! — Nick gritou. — Temos o mesmo sangue! Deixe que me rejeitem se quiserem, mas Enrique não tinha o direito de falar sobre a nossa existência e depois nos manter à parte. Somos homens e temos o direito de escolher por conta própria.
— Acha que a irmandade de vocês seria naturalmente mais significativa se cada um tivesse uma missão a cumprir a fim de se encontrarem todos? — Estes questionou.
— Deturpe como quiser... — Nick respondeu. Depois, forçou-se a parar, cerrou os punhos, o queixo salientando-se de forma agressiva enquanto declarava, enfático — ...ainda é abuso de poder e não vou compactuar com isso. Não
do que Enrique poderia ter me dado. Agora tenho minha própria família.
Recuou, erguendo uma das mãos, em sinal de advertência, para o advogado que estava abrindo a boca para falar novamente.
— Basta! Cancele os detetives. Volte para o Brasil. Não temos negócios juntos. Acabou. Vá embora!
Nick deu as costas para Javier e se dirigiu à esposa para tirar-lhe o filho. Depois, aninhou o bebê contra um dos ombros.
— Vou levá-lo de volta à piscina. Se quer ver esse sujeito fora daqui, faça isso. Ou peça a Betty. Estou longe de ser educado com diretores de circos.
Tess balançou a cabeça, concordando, consciente da turbulência que o guiava. Lembrou-se de quando lhe contou que Brian Steele estivera com ela durante o nascimento de Zack. O senso de direito de Nick tinha sido violado. E estava sendo novamente. Laços de sangue... o nascimento do filho sem o conhecimento dele... os irmãos mantidos afastados...
Tess viu o marido levar a criança para fora da sala. A saída deles foi seguida por um silêncio carregado de uma história familiar muito dolorosa para ser facilmente transposta. Javier não fez nenhum movimento para sair nem sugeriu isso. Parecia enraizado naquele lugar, talvez chocado. Reavaliava o próprio papel como executor de um testamento que via as pessoas como marionetes.
— É um assunto lamentável — finalmente murmurou, fazendo uma careta por falhar em conseguir a cooperação de Nick com o plano mestre.
— Um presente deveria ser algo bom, sr. Estes. Algo dado livremente... — Tess comentou.
— Quando algo dado livremente foi valorizado? — lançou-lhe a pergunta. — Parecia consentir com as condições...
— Quais eram as condições? — Tess perguntou, determinada a saber de toda a verdade agora.
— Encontrar uma mulher que ele amasse, casar-se, ter uma criança, formar uma família... parar de passar rapidamente de uma mulher a outra em relacionamentos vazios. — O advogado gesticulou, suplicando: — Não é um bom conselho? Não sugere o carinho de um pai por você?
Aparentemente, os detetives falharam, pois ela já tinha tido o filho de Nick antes do casamento. E essa união era baseada no amor pelo filho, não no amor que sentiam um pelo outro.
— Vim porque ele não entrou em contato — o advogado disse, frustrado. — Os outros dois fizeram isso. Era a coisa natural a fazer.
— Os outros irmãos?
— Sim. E a data do encontro foi marcada.
— Cada um cumpriu sua missão?
Javier franziu as sobrancelhas.
— Não tenho liberdade para dizer.
— Mas a data do encontro foi marcada — Tess pressionou, pensando no quanto era inútil marcar uma data se nenhum deles apareceria.
— Quatorze de fevereiro. Quatro horas da tarde. No meu escritório — disse, sem hesitar.
— No Rio de Janeiro?
— Claro. Há a questão de se decidir a herança.
— Nick não vai mudar de opinião em relação à herança, sr. Estes — Tess disse.
Javier estremeceu.
— Não esqueceu, não perdoou a rejeição que sofreu quando tinha 18 anos. Que ironia, não acha, ter sido ele quem tanto impressionou Enrique... — Suspirou. — ...e que agora nada ganha?
— Pagar um preço pelo que deveriam ser nossos direitos naturais como seres humanos... isso nos consome.
O advogado sorriu. Os olhos brilhavam com respeito e admiração.
— Você o entende.
— Eu o amo — Tess declarou.
— Lamento não poder romper os termos do testamento. Não posso
dar os irmãos. Se o ama, não vai deixar que abandone tudo. Sabe a data e o horário para o encontro...
Tess acompanhou o advogado até a porta principal. Depois, vagou de volta pela bela casa que o marido comprara para a família, relembrando cada passo dado para chegarem até onde estavam hoje.
O casamento deles não tinha nada a ver com a herança. A sogra errara. Mas será que Nick começara aquela jornada ao lado dela para chegar até os irmãos? Será que o destino da jornada mudara? Se mudou... quando e por quê?
Tess continuou vendo a imagem de uma balança. De um lado, ela e Zack. Do outro, os dois irmãos de Nick. Essa manhã, o fato dos irmãos serem descartados afetou o resultado. Apesar disso, Tess não se sentia vencedora. Sabia que Nick estava perdendo e não havia como esquecer a dor da perda. A questão tinha que ser analisada e decidida.



Nick sentia-se irritado demais para ficar perto de Tess. Nem estava com cabeça para tomar conta do filho. Era errado usar a própria paternidade como uma venda para o rancor instigado pela atitude do pai em relação a ele e aos irmãos — não lhes dando nada, nem lhes contando a respeito uns dos outros. Ramirez tinha que lidar com isso sozinho, deixar o passado para trás, seguir adiante.
Procurou por Carol, a enfermeira que agora fazia parte da família, encontrando-a no quarto onde Zack deveria tirar o cochilo da manhã. Ao deixar o filho aos cuidados dela, decidiu que precisava de algo que não o fizesse pensar, uma tarefa física, árdua, para se livrar daquela turbulência interna doentia.
Dirigiu-se ao cais, despindo o roupão ao passar pelo terraço. O pequeno iate estava em posição para que o casco fosse limpo, e as cracas retiradas. Esse era o tipo de trabalho que o faria retomar o autocontrole.
Estava lá há mais de uma hora, quando Tess apareceu. Nick parou de trabalhar e a olhou fixamente. Imaginava que algumas questões tivessem surgido com a visita do advogado brasileiro embora refutasse qualquer vestígio da herança que atrapalhasse o casamento deles. A esposa não podia mais acreditar nisso. Ainda assim, o marido sentia que as barreiras tinham sido erguidas novamente.
Tess parecia fria, calma e controlada, como sempre fora quando trabalhavam juntos, discutindo o elenco de acordo com cada projeto. As roupas que a moça usava eram elegantemente bem combinadas, vistosas, sem serem sensuais. A maquiagem era mínima, o glorioso cabelo ruivo-dourado puxado para trás em um rabo-de-cavalo por causa do calor do verão.
Não era somente a aparência da esposa que o fazia lembrar-se dos outros tempos. Era a expressão
que o rosto revelava, a prudência afiando o azul transparente dos adoráveis olhos. A intimidade do casamento deveria ter mudado isso. Os violentos sentimentos que o marido vinha trabalhando com afinco para deixá-los de lado, cresciam transformando-se em frustração porque Tess não acreditava nele.
— Trabalho difícil — a esposa comentou, lançando um olhar sobre o peito e os braços do marido que estavam suados e sujos. O olhar não foi até a sunga que Nick usava. De fato, logo se desviou para o pequeno frigobar ali perto. — Posso pegar uma bebida gelada para você? — perguntou. Tess estava receosa com ele. Ramirez também detestava aquela situação.
— Sim, obrigado — disse, tentando parecer civilizado, consciente de que sua aparência era a de alguém saído de uma selva. Caminhou até a pia para se lavar. — Suponho que tenha mandado Javier Estes embora.
— Ele já foi — a esposa declarou.
— E você quer falar sobre isso — lançou-lhe o comentário ao abrir as torneiras.
— Sim. — Tess abriu a porta do frigobar e observou o que havia nas prateleiras.
Ao menos a esposa estava sendo direta dessa vez, sem esconder o que a preocupava como fez depois da visita de Nadia. Nick pegou um sabonete e uma esponja, jogou água no rosto, nos braços e no peito. Depois, lavou-se. Estava se secando quando Tess colocou uma lata de água mineral em cima da pia. O marido a segurou, mantendo-a perto dele.
— Nunca quis a herança — declarou, o olhar queimando. O objetivo era acabar com aquela situação de forma que nunca mais fosse discutida.
Tess baixou o olhar até a mão de Nick que a segurava.
— Mas havia outro assunto em pauta. Quando me propôs casamento, pensava em se aproximar dos seus irmãos.
— Pensava? — Essa pergunta fez com que Tess erguesse o olhar e o desafiasse.
Nick também a desafiou.
— Talvez eu os tenha usado como desculpa para ir atrás do que eu realmente queria.
Tess franziu as sobrancelhas. Depois, lançou um olhar que suplicava a verdade, sem florear o que o fizera mudar de idéia. Afinal, antes, o relacionamento deles baseava-se somente em trabalho.
— Quinze de novembro — lembrou-o.
Estranho o quanto era difícil render-se à verdade, ainda que fosse para incutir a confiança que Ramirez sabia ser vital à vida que tinha agora. Mas não havia alternativa, sem tática para desviar a atenção da esposa e ficar menos exposto, sem escudo para esconder a pobreza que atormentara a vida dele apesar de todas as riquezas materiais que o cercavam. Somente a verdade serviria àquele relacionamento.
Nick colocou a toalha em cima da pia e abraçou Tess enquanto se concentrava na melhor maneira de chegar ao entendimento.
— Você tem uma família, pode não ser satisfatória, mas conheceu todos os integrantes. Sabe como são, de onde vêm, e pode encontrá-los livremente, tanto os familiares maternos quanto paternos.
Tess logo contraiu os ombros, os músculos ficaram tensos. Nick não podia dizer se era impaciência ou resistência. Mas a esposa não concordava com essa conversa sobre a própria família.
— Não é para dizer que não estava sozinha, sei que se sentia solitária a maior parte do tempo. — A sra. Ramirez sussurrou um suspiro, relaxando, mas nada disse, esperando mais do marido. — O pacote vindo do Brasil... saber que eu tenho dois meios-irmãos, filhos ilegítimos assim como eu, um nos EUA e outro na Inglaterra... e me disseram que eu não os encontraria ou saberia quem eram a não ser que o advogado que lida com a herança de Enrique se convencesse de que eu cumprira o desafio do meu pai... De repente, eu
uma família. Não estava sozinho. Havia outras duas pessoas ligadas a mim por laços de sangue.
— Imagino a importância disso — a esposa murmurou.
— Isso me fez pensar... que aquele patife, que foi nosso pai, os manteve longe de mim enquanto estava vivo. Mas me recuso a deixar que continue mantendo-os longe de mim mesmo depois de morto!
— Nem deveria. Foi o que vim aqui lhe dizer.
— Não, Tess. Não quero que Enrique continue manipulando a mim e aos meus irmãos. Assim como não quero a sombra da influência dele em parte alguma da nossa vida.
— Mas...
Logo a silenciou, colocando um dedo nos lábios dela, detestando o protesto doloroso nos olhos de Tess.
— Não. Me escute. — Acariciou-lhe o rosto, sentindo uma ternura que precisava ser demonstrada. — Acha que comecei essa jornada com você por causa do pacote vindo do Brasil. E foi isso sim, foi o gatilho que disparou e me fez despertar. Mas ao ler o desafio do meu pai, pensei... Tess. Ao atiçar o desejo de encontrar meus irmãos, pensei... Tess. Nunca houve a menor dúvida a quem deveria pedir em casamento.
— Você me deu razões lógicas — lembrou-o.
— Ser razoável era mais condizente com a minha cínica visão de vida sobre amor e casamento. Mas não havia nenhuma razão nos fortes sentimentos aos quais você me instigava. E deve saber que a razão desapareceu quando me contou sobre Zack. — O olhar de Tess era questionador, não estava convencida do que o marido lhe contava. — Deve compreender que tudo mudou naquela noite quando fui confrontado por você como a mãe do meu filho, e Zack. Uma relação de parentesco das mais íntimas que poderia ter, e não sou como meu pai, não vou embora.
irei embora, largando o que temos e o que podemos dar aos nossos filhos.
Tess sentia a dor de Nick por trás daquela demonstração de sentimentos, o vazio de uma vida que conhecera muito mais rejeição do que união. Deu-se conta de que a única relação de parentesco com a qual o marido convivera — a própria mãe — nunca lhe inspirara confiança. De fato, o oposto. Isso explicava muito a forma como Ramirez lidara com as mulheres. Não confiava.
Ainda assim, para cumprir o desafio do pai, Nick tivera que confiar em uma mulher o suficiente para terem um filho juntos — uma mulher que não o lesaria naquilo que era dele. Ramirez a escolhera sem pensar nas outras mulheres que conhecera. Uma escolha intuitiva ou não, sem dúvida, era o maior elogio que poderia dar a uma mulher e o publicitário lhe dera isso.
Estava abraçada ao marido, com os punhos cerrados contra o peito dele, como se quisesse deter o magnetismo que Nick pudesse usar para desviá-la do objetivo que a levara até ali. O coração repleto de amor pelo menino que fora tão solitário quanto ela — mais ainda uma vez que Tess nunca fora rejeitada pelo pai. Amor pelo homem que rompera com o próprio isolamento e a pedira em casamento com o objetivo de formar uma família.
— Obrigada por confiar em mim. Obrigada por me explicar toda a verdade. Isso significa muito para mim — a esposa agradeceu. Intuitivamente, sabia que o marido se afastaria caso não demonstrasse confiança nele. Agora era o momento de conseguir uma intimidade nunca alcançada antes. — Desculpe-me por ter dado ouvidos à sua mãe. Nadia evocou coisas que me atormentaram. E, embora tenha tentado ignorar, precisava que as desconsiderasse para voltar a me sentir bem com você.
— Fiz isso? — o marido perguntou.
— Sim — respondeu, enfática. — Sim, você fez.
Um brilho de triunfo no olhar.
— Bom! Porque
a mulher certa para mim, Tess. Certa em todos os sentidos possíveis.
Agora, seria fácil festejar devido à certeza que Nick sentia com a esposa, mantê-lo consigo, e não deixar que ninguém entrasse no mundinho particular do casal. Mas Tess sabia que nunca se sentiria bem consigo mesma se fizesse isso. Amor era doar-se, não apoderar-se de alguém. Nick queria conhecer os irmãos. Poderia tê-la procurado e, assim, chegar até Zack. Mas o desejo de saber quem eram os irmãos fizera com que Ramirez chegasse mais cedo, dando a Zack o próprio pai, dando a ela o marido...
Nick pretendia cumprir os votos de casamento. Não iria embora. Nunca. Tess acreditava plenamente nisso agora. A moça respirou fundo e ergueu uma das mãos até o rosto do marido, o olhar implorando uma opinião.
— Acha certo impedir a entrada dos seus irmãos na sua vida, depois que eles fizeram o que o seu pai ordenou para que pudessem conhecer o irmão que mora na Austrália? Todos esses meses, querendo um encontro com você...
— Mais provável que queiram a herança — interrompeu-a com cinismo.
— E se forem como você e não se importarem com a herança? — argumentou. — E se progrediram e obtiveram sucesso nas carreiras que escolheram, assim como aconteceu com você? E, mesmo assim, se sentirem sozinhos e desconectados do resto da humanidade?
Nick fez uma careta ao ouvir a descrição feita pela esposa, o olhar cintilando ironia ao dizer:
— Podem não gostar de mim. Posso não ter nada em comum com os dois.
— Mas você tem, Nick. Vocês tiveram um pai que não se fez presente enquanto esteve vivo, mas que os desafiou, depois de morto. Parece que falava com cada um dos três filhos... quanto carinho vocês têm no coração?
— Mais do que
teve.
— Mas você está deixando que a carência provocada por Enrique bloqueie o seu caminho rumo aos seus irmãos. E sairá perdendo novamente se fizer isso. É a sua chance para se livrar da má sorte que seu pai lançou sobre a sua vida. É a forma de superar o passado. — Nick franziu as sobrancelhas embora não alcançasse a lógica da argumentação da esposa, ou compreendesse o significado de tudo isso. — Você tem uma escolha — Tess arriscou. — Pode estender as mãos aos seus irmãos ou pode lhes dar as costas. Se lhes virar as costas, Nick, se rejeitar a chance de os encontrar e conhecê-los... estará agindo exatamente como o seu pai.
— Não! — Nick recuou, segurando os braços da esposa como se quisesse sacudi-la devido àquele comentário que lhe era tão ofensivo.
— Sim. Foi o que Enrique fez a você. O que fez aos outros dois filhos ilegítimos. Nick, seus irmãos de sangue vão estar no escritório de Javier às quatro horas da tarde do dia 14 de fevereiro...
— Como sabe?
— Perguntei.
— Por que se importaria se vou conhecê-los ou não?
— Porque
se importa... — Respirou fundo, e baseando-se na emoção que o marido emanava, revelou um segredo que era a mais pura verdade. — ...e eu o amo. — Sorriu. — Muito simples. Quero o melhor para você.
— Você me ama. — O marido repetiu como se estivesse surpreso. Os olhos de Nick procuraram os de Tess com uma expressão de incredulidade que, aos poucos, foi se transformando em alegria. — Você me ama — entoou mais uma vez, apreciando o som e o significado daquela frase.
— Não comece a pensar que pode tirar proveito disso — avisou, reagindo a um estímulo de pânico. — Tenho um sentido muito elevado do que é justo.
— Muito justo — concordou. — Gostaria de ter isso bem definido antes de admitir que eu a amo, minha bela Tess.
A esposa sentiu o ar sendo sugado dos pulmões. Perguntou com a voz entrecortada:
— Você me ama?
— Talvez uma escravização mútua funcione. É o amor desequilibrado que causa o tormento e o caos.
Tess bateu no peito do marido, forçando-o a se concentrar nela.
— Você realmente me ama?
— Você me excita, não me deixa pensar claramente — respondeu, zombando. — Passatempo terrível. Suspeitava que isso aconteceria se a deixasse se aproximar muito de mim. E, aqui estou, lutando como louco para que acredite no que estou dizendo, desesperado para convencê-la de que você é o centro do mundo com o qual realmente me preocupo, pronto para fazer qualquer coisa...
— Qualquer coisa? — interrompeu-o, feliz: O marido parecia nervoso.
— Quase qualquer coisa.
— Então, vai ao Rio para o encontro do dia 14 de fevereiro? — Tess perguntou.
— Se você for comigo — decidiu sem problemas.
— Estaremos juntos — a esposa prometeu. Nick balançou a cabeça, concordando.
— Cheguei à conclusão de que não é o sexo que mantém um casamento. O que realmente faz com que um casal fique junto é o amor que sentem um pelo outro.
— Eu amo você, Nick — disse.
— Vamos ver quanto. — Ramirez a beijou. E a esposa demonstrou o quanto o amava, o que o inspirou a lhe mostrar muito mais. Mesmo ali, o sexo era bom. Mas não era a única coisa boa naquele casamento.



Nick quisera dar aquela festa antes de partirem para o Rio de Janeiro, o objetivo era celebrar publicamente o casamento. Achava importante fazer isso. A felicidade dos dois juntos desconcertaria a todos. Os convidados brilhariam exasperadamente ao redor deles, tentando salientar as fissuras no relacionamento do casal. E seriam forçados a admitir o fracasso porque não havia nenhuma falha.
E isso aconteceria hoje à noite, Tess pensou, satisfeita com as perguntas ultrajantes que foram lançadas a ela e a Nick enquanto permaneciam de braço dado, cumprimentando e conversando com os convidados que chegavam. A alta sociedade de Sidney estava excitada para analisar os recém-casados e ver a tão invejada casa em Point Piper.
A parte engraçada era que Tess sabia que, até pouco tempo atrás, detestaria esse tipo de cena. A segurança de saber que Nick a amava fazia toda a diferença. Não se importava como os outros os viam ou o que diziam. A felicidade que sentia não podia ser diminuída ou envenenada.
As pessoas desejavam que o casal fosse feliz. E, mesmo os invejosos pareciam afáveis. Talvez uma felicidade verdadeira fosse contagiante. Era fácil sorrir, mesmo diante de Nadia Condor ostentando o fabuloso colar de esmeraldas — o presente que ganhara de Enrique Ramirez por lhe dar um filho tão ilustre. A sogra escolhera um vestido longo, preto, para exibir a jóia.
— Vão viajar para o Rio — disse, confiante. Os belos olhos dourados de Nadia brilhavam de prazer. — Sabia que aceitaria a herança.
— De fato, só vamos encontrar meus irmãos. Deve ser divertido. E, enquanto estivermos lá, doarei minha parte da herança para um orfanato.
O prazer estampado no olhar da mãe se transformou em choque.
— Um orfanato?
— Sim. Tess e eu achamos que seria muito apropriado, não é querida?
— Há tantas crianças que são sozinhas nesse mundo — a esposa acrescentou. — Deve se lembrar de quando perdeu tudo aos 16 anos, Nadia.
Uma longa caminhada... mas para Tess, Nadia nunca chegara aonde ela e Nick estavam agora. E, provavelmente, nunca chegaria. O que era triste. Num impulso, disse:
— Estava me perguntando, com toda a sua experiência em decoração, se poderia lhe pedir uns conselhos quando voltássemos de viagem.
O desprezo logo foi substituído pelo deleite do que poderia acontecer.
— Minha querida, tenho certeza de que podemos passar bons momentos juntas fazendo isso. Basta me ligar.
— Ok. — Tess prometeu.
Nadia se afastou com a confiança de uma rainha prestes a inspecionar o próprio reino e ordenar melhoramentos em um futuro muito próximo.
— Minha mãe tentará ganhar o controle da situação — Nick murmurou, avisando a esposa.
— Vou deixar só um pouquinho, sem criar problemas. — Tess lançou-lhe um olhar sábio. — Nadia precisa de nós. Somos a única família que sua mãe tem.
O marido sorriu e balançou a cabeça, concordando.
— Ok, mas precisa saber que minha mãe sempre objetiva conseguir o que quer, do jeito dela. Não hesite em gritar por ajuda quando a sra. Condor ultrapassar a linha do que é aceitável.
Tess sorriu.
— Gritarei.
— E lembre-se que você sempre vem em primeiro lugar. Não está nem nunca estará competindo com a minha mãe.
A esposa riu, alegre com o apoio do marido. Nick abaixou a cabeça, sussurrando ao ouvido dela:
— Se continuar me olhando desse jeito, terei que levá-la rapidamente para a cama e...
— Não pode! Aí vem a
mãe. — Nick reassumiu o papel de anfitrião da festa.
Enquanto Nadia Condor seguia o estilo régio, esperando que todos a venerassem, admirando-lhe a beleza, o estilo de Livvy Curtain era totalmente vistoso, esperando que todos a cortejassem devido ao seu magnífico valor teatral.
Livvy usava um vestido longo, de seda, vermelho bem escuro e roxo — surpreendente com o cabelo louro meio avermelhado e jóias pretas para contrastar. Tess tinha que admitir que a mãe não parecia muito mais velha devido aos pequenos procedimentos cirúrgicos aos quais se submetera ao longo dos anos.
Sempre chegava atrasada a todos os lugares. Sentia-se mais valorizada tendo pessoas à espera dela — o poder de uma estrela. Dirigiu-se à filha e ao genro como se, ao participar da festa, lhes fizesse um favor.
— Casados! Com uma criança! E um lar! Embora eu tenha que dizer que essa casa tem um cenário fabuloso!
— Bom saber que alguma coisa é do seu agrado — Tess não se conteve.
— É sempre tão literal, Tessa. De fato, nunca a vi tão bem antes. Está desabrochando. Deve estar cuidando muito bem dela.
— Tess está cuidando muito bem do nosso bebê — Nick retrucou, a voz calorosa, repleta de satisfação.
— Verdade? Sempre pensei que Tessa se parecia mais com Brian do que comigo, tão nervosa, inibida e sincera. — Acariciou o rosto da filha. — Estou contente em ouvir que você tem um pouco do meu coração e da minha alma, querida.
Tess rangeu os dentes diante da visão que a mãe tinha sobre vida e amor.
— Há muito mais do que sexo em um casamento, mãe.
Chamar Livvy de mãe era um pecado imperdoável.
— Se vai usar esses chavões tão chatos, Tessa...
— Sempre fui chata — Tess acenou para a mãe e o garotão que a acompanhava. — Tenho certeza de que vai encontrar uma companhia mais excitante entre os convidados.
— Assim espero — respondeu zangada e foi embora, querendo ser venerada.
— Essa não é a Tessa afável que conheço — Nick comentou.
A esposa suspirou para se livrar da tensão.
— Desculpe-me! Acho minha mãe embaraçosa. Suponho que eu seja tão nervosa, inibida e sincera como meu pai.
— Não tanto que eu tenha notado!
— Senti como se Livvy o reduzisse a um bolinho de carne. Faz isso com todos os homens — Tess explicou.
— O Sonho de Hollywood continua privilegiando o desejo. Tem que entender que Livvy é obcecada por isso. Tudo o que faz e diz objetiva sustentar a própria noção de desejo.
— Incluindo o garotão?
— Isso é aceitação. — Lançou-lhe um sorrisinho zombeteiro. — É como ela contabiliza o próprio valor, assim como a minha mãe adiciona posses para valorizar a si mesma. Nenhuma delas vai mudar esses hábitos tão enraizados. Só temos que aceitá-las como são. E, ocasionalmente, podemos até nos divertir com quem elas são.
Tess concluiu que aquele comentário era justo, triste. Então, antes que a festa terminasse, faria as pazes com a mãe e manteria as portas abertas. Talvez no futuro, Livvy quisesse ser mãe e avó.
Mais tarde, o pai a afastou da conversa que Nick estava tendo com um produtor de cinema.
— Bela festa — ressaltou.
— Fico contente que esteja aproveitando, pai. Brian riu consigo mesmo.
— Um pouco parecido com o circo que você supôs que seria o seu casamento. Embora, para mim, tenha sido bem interessante observar os personagens principais delimitando as cenas centrais. Nenhuma aflição com isso?
A filha balançou a cabeça.
— Não podem tocar no que Nick e eu temos juntos.
— Então, está tudo bem com vocês.
— Tão bom quanto poderia estar, pai. O pai abraçou a filha.
— Só queria lhe dizer o quanto estou orgulhoso de você. Casei-me com três belas mulheres, mas você as ofusca hoje à noite. E sabe por quê?
— Porque gosta do meu vestido azul? — implicou com o pai, sabia que azul era a cor predileta de Brian.
Steele riu, abraçando-a ainda mais.
— Porque você tem tudo junto. Não é apenas bonita. Irradia felicidade. E faz bem ao coração de um pai ver que a filha brilha tanto. — Beijou-a na testa. — Agora, vá ao encontro do seu marido. E pode lhe dizer que também estou orgulhoso dele.
— Porque Nick me faz feliz?
Pensativo, Brian abaixou as sobrancelhas por um momento.
— Nick era uma boa criança. Acho que se tornou um bom homem. Do contrário, não poderia fazê-la feliz.
Um bom homem... A frase permanecia no pensamento. Era verdade. Não havia dúvidas quanto a isso. Mas Tess se perguntava e se preocupava um pouco com os dois irmãos desconhecidos. Será que eram homens bons? Como seria o encontro? Persuadira o marido a isso. Mas as pessoas eram sempre a soma das próprias vidas, e as vidas dos outros dois filhos de Enrique poderiam ter sido muito ruins. O que valorizavam? O que queriam?
A festa acabou. Os convidados foram embora. Nick levou Tess para cama. Fizeram amor noite adentro. Também falaram sobre a festa. A esposa revelou o que pensava sobre a iminente viagem ao Brasil.
— Sabe que seus irmãos podem querer somente a herança. — A esposa tinha consciência de que as esperanças poderiam magoar. Poderia haver mais rejeição reservada para o homem a quem amava.
— Pode ser o fim ou o começo. Meus irmãos podem se unir a nós ou não. E parte dessa escolha vai ser se queremos nos unir a eles também. O que tiver que ser será. Certo?
Tess balançou a cabeça, concordando. Claro que, juntos, poderiam lidar com qualquer situação que surgisse. O beijo do marido lhe prometia isso. Fidelidade um ao outro, de hoje em diante, na alegria e na tristeza...

FIM...