Tenda do Amor - Annie West






Tenda do Amor

Annie West




Uma virgem inocente, agora grávida do sheik e prestes a se tornar rainha...

O sheik Khalid Bin Shareef jamais se envolvia com virgens. Mas fora impossível
resistir à inocência de Maggie. Após uma noite de paixão, Maggie simplesmente
desapareceu na manhã seguinte. Contudo, Khalid a considerava um caso pendente, por
isso conseguiu levá-la para seu reino no deserto. Lá ele descobriu o resultado de tê-la
possuído, e casar era a única alternativa. Mas deveria ser uma união sem amor ou
expectativas, apesar de Maggie ter a obrigação de ocupar seu lugar no trono ao lado do
sheik... E na cama dele!








Capítulo Um









MAGGIE ABAIXOU a cabeça contra os pingos de chuva gelada enquanto andava ao
longo da estrada enlameada.

O tecido colava ao seu corpo, onde ela se esquecera de abotoar a capa de chuva.
Agua escorria por suas pernas, entrando nas botas de cano longo. Os cabelos, tão
cuidadosamente lavados e secos, agora estavam emaranhados. De maneira vaga, ela
estava ciente do frio entorpecendo seu corpo. Depois de correr, tropeçar, então andar
com dificuldade na escuridão, seus passos diminuíram, tornando-se instáveis.

Se ela tivesse pensado claramente, teria pegado o velho jipe. Isso não lhe ocorrera.
Uma olhada entre as cortinas abertas da sala de estar de Marcus e todos os
pensamentos coerentes haviam desaparecido.

Maggie ficara parada, enraizada no lugar, distraída da chuva forte. Quando seu
cérebro finalmente processara a mensagem que seus olhos tinham transmitido, ela
simplesmente fugira. Devia ter passado correndo pelo seu carro na escuridão abençoada.

Um nó se formou em sua garganta. Precisava chegar a casa, antes que as emoções
a dominassem.

Todavia, não podia escapar da lembrança do que tinha visto: Marcus nu, nos braços
da amante.

Agora, ela entendia por que ele mudava tanto; às vezes estava muito ocupado para
vê-la, outras, atencioso e carinhoso. A afeição de Marcus tinha sido uma farsa. Ele só a
quisera para esconder seu caso com a esposa troféu de um criador de cavalos ciumento.

O estômago de Maggie se revirou. Ela fora tão ingênua.

Acreditara em Marcus quando ele dissera que a respeitava, não a apressando após
a perda recente dela, alegando que Maggie deveria estar segura antes que eles fossem
mais longe ao relacionamento.

Em sua inocência, Maggie estivera segura. Tinha decidido mostrar a ele que era
uma mulher desejável, madura e pronta para um relacionamento mais profundo. Lera
muitas revistas, desejando transformar-se no tipo de mulher que achava que ele queria.
Havia superado seus medos e reprimido suas dúvidas. Fizera a longa viagem para a
cidade e comprara um vestido!

Sua risada amarga foi engolida pelo vento.

Ele nunca a quisera. Maggie tinha sido muito inexperiente e carente para ver que
Marcus a estava usando. A náusea lhe subiu à garganta quando ela parou e se dobrou
para tentar vomitar, sem sucesso.

Estranhamente, dessa vez, quando olhou para baixo, pôde ver suas botas e suas
pernas, molhadas e enlameadas abaixo da capa de chuva. Franziu o cenho, tentando
focar no presente, não na cena de corpos nus se contorcendo que se repetia em sua
cabeça.

De onde vinha à luz?

— Você precisa de ajuda? — Uma voz profunda soou na escuridão.

Cegamente, Maggie ergueu a cabeça e se encontrou piscando diante de faróis de
um veículo enorme. A silhueta de um homem estava diante do carro. Ele era alto, forte e
estranho. Alguma coisa sobre os ombros largos e pés grandes indicava que ele era um
homem preparado para qualquer coisa, um homem capaz de lidar com qualquer tipo de
problema.

Maggie experimentou um desejo insano de inclinar-se contra aquele corpo forte,
descansar contra os ombros largos e cair no esquecimento.


Então o bom senso venceu o instinto. Ela não sabia quem ele era. Ademais, acabara
de descobrir que seu julgamento era muito falho. Acreditara que Marcus era tudo que ela
queria num homem, num amante, num parceiro. Pensara...

A sombra se moveu para mais perto, o bastante para torná-la ciente da altura e
poder dele.

— Você não está bem. Como eu posso ajudar? — Dessa vez, Maggie percebeu um
leve sotaque na voz dele.

— Quem é você? — perguntou ela.

— Eu sou um hóspede no Haras Tallawanta. Hospedado na casa da fazenda.

Agora ela reconheceu o veículo sofisticado. Apenas os melhores para aqueles na
grande casa. E havia um hóspede especial essa semana. O sheik de Shajehar, que
possuía o imenso haras, tinha enviado um embaixador para um tour de inspeção.

Isso explicava o sotaque do homem. Um sotaque exótico, como se ele tivesse
frequentado uma das melhores escolas britânicas.

— Ou você pretende que nós dois fiquemos parados aqui até estarmos ensopados?

Não havia impaciência naquela voz, mas também não havia engano no tom duro.
Maggie reprimiu os pensamentos. O que havia de errado com ela? Parecia não conseguir
se concentrar propriamente.

Só agora percebeu que o estranho não usava casaco. Devia estar mais molhado
que ela.

— Desculpe. — Maggie balançou a cabeça, confusa. — Eu não...

— Você sofreu um acidente?

— Não. Não um acidente. Eu... Você pode me dar uma carona, por favor? — Maggie
não teve medo de lhe pedir uma carona agora. Ele era o visitante dignitário de quem ela
ouvira falar. Eles estavam numa estrada privada, e ninguém estaria fora de casa naquele
tempo.

— É claro. — Ele inclinou a cabeça, então a precedeu para o carro quatro por
quatro. Os passos eram longos e tranquilos, como se andando num corredor acarpetado,
em vez de numa estrada de cascalho irregular. Maggie o seguiu da melhor maneira que
conseguiu seus membros horrivelmente descoordenados.

Ele abriu uma porta e recuou para que ela entrasse.

— Obrigada — murmurou Maggie, quando uma das mãos firme segurou seu
cotovelo e a ajudou a subir no carro alto.

Maggie se acomodou no assento. Lentamente, abriu os dedos e deixou cair suas
sandálias de salto alto de uma mão, e sua bolsa nova da outra. Mal estivera ciente que
ainda segurava tais itens.

A porta se fechou e ela se recostou, apreciando o calor do veículo, depois do vento
cortante e da chuva fortíssima. Aquilo era... Luxo. Paraíso.

Maggie fechou os olhos, envolvida por uma sensação de paz.

— Aqui — uma voz profunda se infiltrou em sua consciência. — Pegue isto.

Lentamente, ela se virou na direção da voz aveludada, lutando contra a consciência
que a consumia. Ela não queria despertar, mas ele era insistente.

Com relutância, Maggie abriu os olhos. Ele estava no assento do motorista, e ela
fitou os olhos mais pretos que já vira. Olhos que a estudavam de perto, absorvendo cada
nuance de sua aparência.

Os olhos de Maggie se arregalaram diante da visão de seu salvador na luz fraca no
teto do veículo.

Os cabelos pretos como carvão estavam penteados para trás de um rosto
bronzeado. Ela arfou diante da beleza das feições dele, cada plano enfatizado pelo brilho
da chuva. Maçãs do rosto altas espelhavam o ângulo inflexível das sobrancelhas. O nariz
era forte e aristocrático. Os lábios eram estreitos e bem formados, e ela podia imaginá-los


se curvando num sorriso ou se comprimindo emdesprazer. O maxilar falava de podere
autoconfiança.

A combinação lhe tirou o fôlego. Era como se alguémtivesse aberto um velho livro
preciosoe invocado um príncipe guerreiro diretamente de As mil e uma noites.

Mas nada em suas leituras juvenis a preparara para o puro magnetismo daquele
homem. Ele parecia exótico e magistral.

Maggie jamais conhecera um homem com uma aparência tão...

—Aqui—repetiu ele, pondo umcobertor macio emsuas mãos.—Tem certeza quevocênão está ferida?
Ela assentiu,então escondeu o rosto nas dobras da lã, segurando o cobertor commãos trêmulas. O embaraço a envolveu. Sóporqueele a pegara encarando-a, ou porcausa de seus estranhos pensamentos, Maggie não sabia.

Ela devia estar em choque. O que explicaria a sensação de que tudo era distante,
irreal. Sim,era isso. Choque.
Uma mulherficaria chocada ao descobrir o que ela descobrira essa noite...

—Pare com isso.—Uma mão firme segurou seu queixo e lhe virou o rosto. Aquelesdedos firmes eram quentes contra suapele.
Maggie piscou, impressionada ao descobrir que a água emseus cílios não era
chuva, mas lágrimas.Elas queimavamseus olhos.

—Parar com o quê?—sussurrou ela numsoluço, fitandoos olhos escurosqueprendiam os seus.
Gradualmente,o ritmo galopante de seu coração diminuiu. Ela respirou fundo,
consciente de umaperto no peito.

—Você está ficando histérica.
Ainda lhe segurandoo queixo, ele lhe ergueu mais a cabeça, como se precisasse
vê-la melhor na luz fraca. O calor do toque queimava a pele de Maggie, e ela se sentiaestranhamente letárgica.

—D-d-desculpe.—Ela jamais gaguejara na vida. Quanto a estarhistérica... —Eu
tomei um tipo de c-choque. Ficarei b-bem.
—Vocêficou sob a tempestade por tempo demais.—Ele lhe tirou o cobertor dasmãos e o ajeitou ao redor dos ombros dela. O movimento o trouxe para mais perto,eMaggie sentiu o cheiro dele... Uma mistura de sândalo, almíscar e pele úmida. Ela seinclinou parafrente.
Mãos grandes em seus ombros a afastaramdele.

—De onde você veio? Quanto tempoficoufora?
Os lábios de Maggie se curvaram num sorriso sonhador, enquanto suas pálpebrasabaixavam. Adoravaaquele sotaque, que era...Sedutor. Ela podia se imaginar pegandono sono ao som daquela voz.

Ela abriu os olhos quando dedos se curvaram em seus ombros.

—Alguémmachucou você? —A voz dele soou diferente. Maggie tremeu diante dotom raivoso.
—Não! Não,euestou bem. Apenas...—Elapiscouconfusa. Sentia-se muitoestranha.—Eu preciso v-v-voltar.Por favor.
Abruptamente, ele assentiu, recostando-a sobre o assento e alcançando o cinto desegurança de Maggie. O calor do torsomásculo quando ele se inclinou para mais pertoera mais quente que o cobertor.

—Para onde?
Ele se posicionou atrás do volante e ligou o motor, a luz do teto se apagando e
deixando o interior do carro escuro, exceto pelas luzes do painel. Maggie lhe fitou o perfil.
O instinto lhe dizia que podia confiar nele.

—Mais s-seis quilômetros, depois à direita. Eu lhe dareias instruções de lá.

Ele pôs o carro em movimento, e o veículo quatro por quatro começou a deslizar
pela lama grossa.

Lama. Suas botas. Ela olhou para o interior luxuoso do carro.

— Desculpe — sussurrou Maggie. — Minas b-botas estão s-sujas.

— Este é um veículo de fazenda — respondeu ele. — Com certeza, está
acostumado com boa quantidade de lama.

Aquele não era um veículo de trabalho, pensou Maggie. Era reservado para
hóspedes importantes, acostumados com o melhor.

— Quem é você?

Por um momento, ela pensou que ele não ouvira sua pergunta sobre o barulho da
chuva.

— Meu nome é Khalid. E o seu?

— Maggie. Maggie Lewis. — Graças a Deus, seus dentes tinham parado de bater
uns nos outros.

— Prazer em conhecê-la, Maggie. — A voz dele era grave, quase formal.
Subitamente, ela se perguntou como aquele homem passava o tempo quando não estava
visitando haras australianos ou resgatando mulheres abandonadas em estradas desertas.

KHALID SE concentrou na estrada. Precisava secá-la e aquecê-la rapidamente. Ela
estava em choque, e poderia sofrer uma hipotermia.

Seis quilômetros, e então quantos mais para chegar ao destino dela? Ele não podia
arriscar. Em vez disso, iria para Tallawanta, até que ela se recuperasse.

Ela era um enigma. Houvera um carro abandonado e aquelas não eram roupas de
trabalho sob a capa de chuva. O vislumbre das pernas longas abaixo do casaco
instantaneamente despertara seu interesse. E os sapatos de salto que ela segurara nas
mãos eram para uma noite da dança ou para seduzir um homem.

Era isso que tinha acontecido? Algum homem a machucara?

Apesar da altura dela, alta o bastante para chegar aos seus ombros, havia um ar de
fragilidade sobre aquela mulher. Os olhos eram enormes no rosto pálido. O pescoço era
longo, delgado e delicado.

Ela não estivera no jantar daquela noite, onde pessoas importantes tinham ido para
conhecer o herdeiro ao trono de Shajehar. Khalid teria notado.

Ele deu uma olhada para ela, aconchegada ao cobertor, os olhos fechados e a
cabeça relaxada contra o encosto. Ela parecia fraca e indefesa, mas devia ser corajosa
para sair a pé com aquele tempo. A mulher era intrigante, e instigava sua curiosidade.
Isso não acontecia há muito tempo.

Sentiu uma onda de satisfação porque naquela noite, para variar, estava sem a
equipe de seguranças e os anfitriões obsequiosos. Assim, poderia ceder à sua
curiosidade, seguir seus instintos. Considerando a segurança reforçada na vasta
propriedade, Khalid vencera o argumento que estava seguro sozinho dentro dos limites da
mesma. Talvez seu chefe de segurança também percebesse que seria sábio lhe dar
espaço.

Por seis semanas, Khalid tinha visitado as propriedades reais de seu meio-irmão na
Europa, nas Américas e na Austrália. Mas não compartilhava o gosto de Faruq por
grandeza e luxo. Como herdeiro de seu meio-irmão... Que sofria de uma doença
terminal... Khalid recentemente adquirira um cortejo de seguranças. O exagero de tal
segurança se devia mais ao amor de Faruq por ostentação do que a qualquer ameaça.
Além disso, ele tinha uma agenda repleta de compromissos sociais.

Compromissos sociais! Seu tempo seria mais bem gasto supervisionando seu último
projeto, um canal de água doce na remota Shajehar. Pelo menos, isso traria benefícios
tangíveis para seu povo.


Luzes brilharam à frente, e ele relaxou a tensão dos ombros. Uma vez que entrasse
na casa iluminada e quente, poderia acessar os ferimentos dela, e chamar um médico, se
necessário.

Khalid passou pelas garagens e deu a volta para a ala privada do proprietário da
casa de fazenda.

— Chegamos. — Ele a sacudiu de leve para acordá-la. Ela estava flácida sob sua
mão. Franzindo o cenho, Khalid lhe tocou o rosto pálido. Estava gelado.

— Maggie! Acorde.

AQUELA voz novamente. A voz calorosa com seu sotaque estrangeiro. Ela sorriu ao
visualizar um príncipe exótico em túnica larga, uma cimitarra na mão.

— Maggie!

Ela empurrou a mão que ameaçava interromper seu sonho adorável. Em sua mente,
o príncipe sorria e a puxava para mais perto. Seus olhos brilhantes a fitavam e a faziam
perder o fôlego. Ele passou a mão por trás de suas pernas e a ergueu nos braços fortes.

Nunca se sentira tão segura. Aqueles olhos pretos estavam sombreados com a
promessa de puro deleite, os lábios se curvando num sorriso sensual que a fez desejar o
beijo dele.

As batidas do coração dele pulsavam contra o seu, e braços poderosos a
aninhavam, enquanto ele andava sobre a areia quente. Logo eles...

Maggie sentiu pingos de água no rosto. Chovia no deserto?

Instintivamente, virou a cabeça, aconchegando-se mais ao corpo quente e sólido,
inalando o cheiro evocativo do homem. Mas então sentiu que ele estava molhado, as
roupas ensopadas.

Ela abriu os olhos e se encontrou nos braços de um homem, enquanto ele andava
debaixo de uma tempestade.

Luzes brilhavam ao longo do pórtico de uma casa estilo colonial, assim como através
de uma enorme janela acima da porta. De repente, tudo fez sentido. Marcus, a longa
caminhada para casa, o estranho exótico. Eles estavam na Casa Tallawanta.

— Você pode me pôr no chão.

Ele não fez isso.

— Estamos quase chegando.

Ele entrou numa área coberta. Sem palavras, abriu a porta da frente. Aconchegada
contra aquele peito largo, ela foi tomada por desejo novamente. Fechou os olhos. Aquilo
não era fantasia. Era real. Entretanto, sentia-se estranhamente relaxada, quase flutuando.
O calor a envolveu, e ela descansou a cabeça no ombro dele.

Khalid. Gostava do som do nome. Seus lábios se moveram enquanto ela traçava as
sílabas.

Um momento depois, braços fortes a seguraram enquanto ele lhe abaixava as
pernas. Maggie deslizou por um torso sólido até que seus pés tocaram o chão. Todavia,
era o abraço dele que a mantinha ereta.

— Agora — murmurou Khalid naquela voz sedutora — é hora de remover suas
roupas.

— O QUÊ? — Maggie abriu os olhos, instantaneamente prendendo-o. Na luz
brilhante, ele descobriu que eles eram da cor de mel, com reflexos verdes. Hipnotizantes.

Mãos instáveis empurraram seu peito. Khalid observou enquanto ela lutava para
permanecer ereta. Alguém se aproveitara dela naquela noite? A ideia o enfurecia.

— Você precisa remover as roupas molhadas.

— Não com você assistindo! — Faces ruborizadas o fascinaram, realçando algumas
sardas claras. Uma mulher que ainda sabia enrubescer. Quando tinha sido a última vez
que ele vira isso?

— Eu somente quero me certificar de que você não sofra de hipotermia. Não estou
interessado em seu corpo.


O rubor se intensificou, e ela desviou o olhar, mordiscando o lábio inferior. Estava
envergonhada.

— Eu posso cuidar de mim mesma. Não preciso de sua ajuda — murmurou ela.

Não precisava? A curiosidade de Khalid aumentou, assim como sua preocupação. E,
ora, ele estava com tempo livre, pelo menos durante a noite.

Khalid sempre acreditara em duas coisas. Seguir seus instintos e seu dever. Anos
atrás, nos terríveis dias de luto após a morte de Shahina, apenas o dever o mantivera
prosseguindo. Abraçar a responsabilidade para com seu povo lhe dera propósito e força,
quando ele quisera escapar de tudo e sofrer por sua esposa, a única mulher que amara.

Agora, tanto seu instinto quanto seu dever ditavam que ele permanecesse.

E mais alguma coisa. Algo sobre Maggie Lewis que o tocava de um jeito que ele não
experimentava há muito tempo. A percepção o fascinou e o apavorou.

— Então eu deveria ter deixado você na tempestade?

— Eu não quis dizer isso. Apreciei a carona. — Os olhos grandes estudaram o
enorme banheiro, como se ela nunca tivesse visto azulejos de mármore. — Teria sido
mais fácil me levar para casa.

As palavras dela ainda eram indistintas. Mas os olhos estavam claros e brilhantes,
as pupilas normais. Khalid supunha que a hipotermia afetava a fala de Maggie, não
drogas ou bebida alcoólica.

Ele a soltou devagar, observando se ela conseguia ficar de pé sozinha. Então
removeu o paletó e o colocou sobre a borda da banheira de hidromassagem.

MAGGIE OBSERVOU os movimentos rápidos e calculados enquanto ele removia o
paletó. A camisa molhada se aderia lindamente ao torso impressionante, e a boca dc
Maggie secou, enquanto ela absorvia toda aquela perfeição física.

O embaraço à fez corar. E claro que ele não estava interessado em vê-la nua! Ela
sempre fora desajeitada e sem atrativos.

Uma onda de raiva e humilhação a envolveu. Maggie piscou para afastar o
sentimento de autopiedade. Há anos, sabia que não era o tipo de garota que os homens
desejavam. Naquela noite, apenas confirmara... Não, não pensaria sobre isso. A
lembrança era mortificante demais.

O barulho de água a fez voltar ao presente. Ele tinha se inclinado para ligar o
chuveiro. A calça preta estava ensopada, modelando pernas longas e poderosas e um
traseiro firme.

Os olhos de Maggie se arregalaram. Mesmo Marcus, com seus olhos azuis
sorridentes e corpo alto e bem formado, não podia ser comparado à perfeição física
daquele homem.

— Deixe-me ajudá-la com seu casaco. — Ele não esperou resposta. Claramente
estava acostumado a ser obedecido.

Sem palavras, Maggie permaneceu imóvel enquanto ele deslizava a capa de chuva
por seus ombros e a deixava cair aos seus pés.

Inundada por algo que parecia desejo mais uma vez, ela fechou os olhos contra a
tentação. Ficou chocada ao perceber que nunca tinha sentido nada como aquilo por
Marcus. Gostara dele, o respeitara, acreditando que intimidade era o próximo passo mais
lógico no relacionamento deles. Mas nunca sentira essa consciência intensa dele como
homem.

Agora, sentia-se nervosa, como se sua pele estivesse subitamente apertando-a.

Isso era desejo?

Sua experiência era tão limitada. Ela havia passado a vida na fazenda, isolada por
seu pai dominador e longas horas de trabalho. Por isso, o relacionamento com Marcus
parecera tão precioso.

— A seguir o seu vestido, então veremos se você consegue se virar sozinha. —
Apesar do tom casual, a voz de Khalid era sexy.


Não! Aquilo tinha que parar. Quanto antes ele saísse, melhor. Então ela voltaria ao
seu normal, voltaria a ser a comum e pragmática Maggie Lewis. Sem mais fantasias, sem
mais ondas de desejo. Essas reações a um completo estranho se deviam ao choque e ao
cansaço.

Maggie mordeu o lábio num protesto instintivo quando ele levou as mãos para trás
do vestido. Suas próprias mãos tremiam tanto que ela sabia que jamais conseguiria abrir
o zíper sozinha. Então permitiu que ele fizesse isso.

A sensação do zíper se abaixando lentamente, centímetro por centímetro, lhe
arrepiou a pele. Ele não a tocou, mas ficou parado perto, braços ao seu redor, seu calor a
envolvendo.

Maggie balançou, então, horrorizada, percebeu seu ato e se aprumou a coluna
enrijecendo.

— Quase pronto — murmurou ele, os olhos no vestido enquanto o abaixava
gentilmente.

Ele poderia estar vestindo um manequim, por todo o interesse que mostrava. E isso,
por alguma razão, era pior que qualquer coisa que acontecera antes.

Lágrimas furiosas embaçaram a visão de Maggie.

Lá estava ela, nua, exceto pelo novo conjunto de lingerie ultrafeminino, e ele nem
sequer a olhava. Era como se ela não fosse uma mulher de carne e osso. Não uma
mulher real, capaz de despertar o interesse de um homem.

A quem Maggie achava que estava enganando com suas roupas novas? Seu corpo
era longo demais, com poucas curvas. Ela não possuía a sensualidade com a qual outras
mulheres contavam.

A única hora em que os homens a notavam era no trabalho, Pois Maggie era boa no
que fazia. Nos estábulos, era como um dos rapazes. Isso não dizia tudo? Uma súbita dor
comprimiu sua barriga, e ela se dobrou.

— Maggie? Você está com dor? — Olhos pretos insondáveis encontraram os seus.
Mãos fortes pressionaram seus ombros.

— Não. Mas eu preciso ficar sozinha. Vá. Por favor.

Khalid lhe estudou os olhos. Então, lentamente, baixou as mãos para suas laterais.

— Como quiser. — Abruptamente, ele se foi, deixando-a na posse solitária do
banheiro magnífico.

Por um momento, Maggie quis chamá-lo de volta, pedir que ele a abraçasse, que a
protegesse da dor e do frio que assolavam seu corpo.

Então o orgulho falou mais alto. Ele ficara muito grato por escapar. Ademais, ela
estava acostumada a se virar sozinha. Sempre tinha sido assim.

Virou-se para o chuveiro, seus passos lentos. Não se incomodou em trancar a porta
para garantir sua privacidade. Não havia necessidade.

Por que o conhecimento doía tanto?






































Capítulo Dois









MAGGIE EMERGIU do banheiro num roupão branco enorme. Nem mesmo notara que
Khalid tinha levado seu vestido descartado. O tecido atoalhado era quente contra a pele
úmida. Ela ergueu a gola e enfiou as mãos nos bolsos fundos.

Por um segundo, hesitou perto da porta, então se virou ao som da voz dele.

— Sente-se melhor agora? — Khalid parou a alguns passos de distância, as pernas
abertas numa postura muito masculina. Ele a estudou da cabeça aos pés, fazendo o
coração de Maggie disparar. — Você parece melhor. Há cor em seu rosto.

E não era de admirar! Maggie se sentia envergonhada. Estava sem graça por usar o
roupão dele, mas era tudo que tinha para esconder sua nudez.

Sob o olhar de Khalid, o roçar do tecido atoalhado contra sua pele nua adquiriu uma
nova dimensão. Os seios formigavam, e o corpo inteiro parecia pulsar com consciência.

Ou talvez fosse reação diante da visão dele, num traje preto que enfatizava a figura
poderosa. Seu olhar desceu pelas pernas musculosas e pés descalços de Khalid. Até
mesmo os pés dele eram sexies.

Maggie respirou fundo e ergueu os olhos para lhe fitar o rosto.

— Obrigada. Eu me sinto muito melhor. Água quente faz maravilhas, não é?

— Venha. — Ele estendeu a mão imperiosamente, e para a surpresa de Maggie, ela
estendeu a sua sem hesitação. O calor dos dedos que envolveram os seus foi
estranhamente reconfortante.

Khalid a conduziu para uma grande sala de estar, que deveria ser opressora com
seus espelhos emoldurados em ouro e móveis antigos elegantes, mas estava iluminada
por um fogo na lareira e um brilho fraco de lâmpadas. O sofá longo diante da lareira
parecia aconchegante, com muitas almofadas e uma manta vermelha adornando o
encosto.

— Sente-se. — Ele gesticulou para o sofá. — Levará um tempo antes que suas
roupas sequem e você possa ir para casa. Enquanto isso, precisa se manter aquecida.

Enquanto se sentava nas almofadas luxuosas, Maggie soube que não havia perigo
de que sentisse frio. Não do jeito que seu sangue esquentava com o toque de Khalid.

Em silêncio, ele lhe cobriu os joelhos, então lhe passou um copo delicado.

Maggie inalou o vapor subindo do copo. O cheiro era maravilhoso.

— O que é isto?

— Chá doce, estilo shajehami. O remédio perfeito para choque e exposição às
forças da natureza. — Ele parou à sua frente, as costas para o fogo. Maggie observou a
figura imponente, a postura de um homem confiante e no controle. Um nó se formou na
boca de seu estômago. Rapidamente, ela abaixou a cabeça para beber.

— Delicioso!

— Surpreendente, não é? — Não, eu não quis dizer...

— Está tudo bem. Beba e relaxe. Eu voltarei logo. — Ele se afastou e a respiração
de Maggie desacelerou.

Era disso que ela precisava: ficar sozinha para organizar seus pensamentos e
superar as emoções estranhas dessa noite.


Olhou para o fogo, bebeu o chá e questionou a intensidade de sua reação a Khalid.
Ele era um estranho. Um estranho de tirar o fôlego. Todavia, não era somente à
aparência dele que ela respondia. Era também à gentileza, à autoconfiança, ao modo que
ele tomava o controle de tudo, e cuidava dela como se aquilo fosse à coisa mais natural
do mundo. Maggie não estava acostumada a isso.

Esquecera como era ser cuidada por alguém. Ninguém cuidava dela desde que
Maggie tinha oito anos e chegara da escola para descobrir que sua mãe havia ido
embora, levando sua irmãzinha, mas não Maggie.

Não houvera calor humano em seu lar depois disso. Seu pai fora um homem duro,
sério e exigente, nunca dado a abraços ou sorrisos compassivos. Nem mesmo naqueles
últimos meses, quando Maggie cuidara dele, seu pai tinha se suavizado.

— Você precisa de mais alguma coisa? — A voz profunda de Khalid veio do seu
lado. Ela não o ouvira retornar.

Para seu horror, o tom preocupado na voz dele abriu a comporta de suas emoções.
Emoções que a tornavam fraca.

Seus lábios tremeram. O que havia de errado com ela? Descobrira a traição de
Marcus e ficara ensopada. Não era o fim do mundo.

Era mais forte que isso. Maggie Lewis nunca chorava. Essa era uma das razões
pelas quais tinha sido aceita tão rapidamente no mundo masculino do haras.

— Não, obrigada. — Ela liberou o aperto no copo quando uma mão bronzeada o
tirou de seus dedos.

— Nesse caso, vamos secar seus cabelos.

Maggie abriu a boca para protestar, mas ele já colocara uma toalha sobre seus
ombros. Os dedos longos e fortes massagearam seu couro cabeludo através da toalha,
vencendo sua resistência.

Sua cabeça se movia para frente e para trás, seguindo o ritmo das mãos dele,
enquanto ondas de deleite percorriam seu corpo.

Ela teve de reprimir um suspiro de lamentação quando ele levantou a toalha. A
sensação era tão boa, o calor, a companhia, o conforto da presença de Khalid.

Maggie fechou os olhos contra a sensação de perda e solidão em seu interior. O
vazio dolorido que se espalhava por seu ser.

Balançou a cabeça, esperando expulsar a dor, a necessidade estranha. Essa noite
tinha sido um choque, um golpe em sua autoestima e esperança, mas ela superaria. Essa
sensação curiosa de fragilidade era algo passageiro.

— Não chore pequena. — A voz dele era baixinha, o toque terno enquanto ele
secava lágrimas de seu rosto.

Maggie manteve os olhos fechados. Pela segunda vez naquela noite, estava
chorando. A segunda vez em 15 anos. Não chorava desde que sua mãe a abandonara
todos aqueles anos atrás. Na época, soluçara até passar mal, e então, nunca mais
chorara. Agora, numa única noite a comporta se abrira. Um tremor de ansiedade a
abalou.

— Por favor — sussurrou ela. — Eu não quero ficar sozinha.

KHALID OLHAVA para as chamas, as pernas estendidas numa pose casual que
camuflava seu tumulto interior. Uma onda de expectativa o envolvia.

Ao seu lado, Maggie estava sentada de pernas cruzadas, perto o bastante para que
ele tivesse ciência de cada movimento dela.

Todavia, ele não a tocou.

Lutou contra sua reação instintiva de abraçá-la, confortá-la. Tinha melhor senso que
isso.

Apenas ficar sentado ali testava sua força de vontade, e sua honra. Seu desejo de
envolvê-la nos braços não era tão altruísta quanto deveria ter sido. Talvez, levá-la para lá
não havia sido muito sábio, afinal de contas.


Em vez de ver as chamas na lareira, era Maggie Lewis, de pé em sua suíte, usando
nada, exceto roupas de baixo e orgulho, que ocupava sua mente. Ela estivera linda e
magoada, incapaz de esconder a angústia nos olhos.

Mas não eram os olhos de Maggie que tinham prendido sua atenção, e sim um
corpo de linhas elegantes, pele clara e curvas nos lugares certos. Suas mãos haviam
coçado para sentir o peso daqueles seios altos, para alisar a curva gentil dos quadris
dela. Um desejo poderoso o forçara a deixar o quarto, antes que fizesse algo
imperdoável.

Ela parecera tão perfeita, tão pura que ele quase acreditara que Maggie nunca fora
tocada.

Por que estava imaginando suas mãos naquele corpo puro? Nunca fantasiara sobre
tomar uma virgem. Sua experiência nessa área acontecera uma vida inteira atrás.

Khalid reprimiu a memória. Houvera mulheres desde Shahina. Mulheres lindas e
inteligentes, dando-lhe a satisfação pela qual seu corpo ansiava. Porém, sua mente e
emoções nunca estavam envolvidas. Era como ele queria aquilo. Relacionamentos curtos
e fáceis, construídos em prazer físico, não eram ameaças para seu coração. Era assim
que levava a vida desde a morte de sua esposa, e era precisamente como queria
continuar.

Ele franziu o cenho, reconhecendo que naquela noite, com Maggie Lewis, alguma
coisa parecia diferente. O desejo sexual estava presente, e era forte, porém havia algo
mais complexo, também. Algo que mexia com suas emoções tanto quanto mexia com sua
libido. Algo que ele não queria sentir.

Respirou fundo, tentando não notar o jeito com que o aroma feminino provocava
seus sentidos.

— Quer falar sobre isso? — perguntou Khalid, apesar de sua determinação de não
se envolver. — Alguém machucou você?

— Foi culpa minha — murmurou ela, os olhos baixos. Um calafrio o percorreu.

— Não diga isso.

— É verdade. Fui eu quem criou expectativas.

— Se algum homem a forçou, depois que você mudou de ideia, isso não é culpa
sua.

Na luz do fogo, imensos olhos encontraram os de Khalid.

— Não. Ninguém me forçou a nada. Eu não fui agredida, se é isso que você pensa.

Maggie se sentou mais ereta, endireitando os ombros. Infelizmente, o movimento fez
a gola do roupão se abrir para revelar uma faixa de pele alva. Khalid desviou o olhar. Mas,
apesar do tecido atoalhado, podia visualizar os seios firmes e a pele sedosa de Maggie.

Ele se virou para o fogo, tentando ignorar a pulsação acelerada e o calor no baixo-
ventre.

— Você não precisa se preocupar. Intocada pelas mãos de um homem. Esta sou eu.
— A voz dela era dura e amarga.

— Perdão? — Por um momento, Khalid ficou atônito, lembrando-se de sua fantasia
de Maggie sendo virgem, despertando para suas carícias. Percebeu como aquilo era
improvável. Ela devia estar falando sobre essa noite. Ele se virou, incapaz de resistir à
tentação.

Ela parecia diferente, mais viva, mais vibrante. Um rubor tingiu seu rosto, e os olhos
estavam mais brilhantes.

O estômago de Khalid se contraiu com desejo. Ela mexera com seu interior quando
estivera pálida e frágil. Agora, com as feições animadas, as energias evidentemente
renovadas, Maggie estava atraente demais.

— Nada aconteceu esta noite — disse ela. — Nada muito importante, isto é.

Observando-lhe o queixo erguido, ele sabia que ela mentia. Alguma coisa havia
acontecido, mesmo que Maggie não tivesse sido violentada.


— Você falou que teve um choque. Ela deu de ombros.

— Você já cometeu um erro de julgamento?

— É claro. Todo mundo comete.

— Isso é um consolo. — Ela pausou. — Bem, eu cometi um erro. Um erro enorme.
Esta noite, descobri como fui tola.

As palavras de Maggie eram desafiadoras, o perfil orgulhoso, todavia, Khalid a vira
fragilizada uma hora atrás. Sabia que ela ainda devia estar muito magoada.

Durante os últimos oito anos, incontáveis mulheres tinham tentado capturá-lo com
trapaças e apelos emocionais. Ele permanecera impassível. Seu coração morrera com
sua esposa, e Khalid não pretendia se abrir para a dor da perda novamente. Mas a
experiência o ensinara a distinguir manobras femininas com um único olhar. Como
resultado, sabia que Maggie Lewis era sincera. Ela não possuía planos ocultos, além de
tentar esconder a própria fraqueza.

Aquele orgulho teimoso era algo que ele conhecia bem. Seu pai não o acusara de
ser muito orgulhoso quando Khalid se recusara a viver em luxo indolente? Quando, ao
invés disso, criara uma vida de trabalho duro que trazia suas próprias recompensas?

— Pelo menos, você não cometerá o mesmo erro novamente. Olhos solenes
encontraram os seus, antes que um sorriso curvasse os lábios de Maggie.

— Com certeza, não! Eu nunca mais seria tão ingênua. Aprendi minha lição.

Intrigado, Khalid lhe observou a expressão determinada. A inteligência e
personalidade de Maggie o intrigavam tanto quanto à vulnerabilidade e à beleza natural
dela. Maggie não era convencionalmente bonita, mas havia uma elegância nas feições
simples que o atraía.

— Ele é um tolo, seja lá quem for.

— Ele? — Ela arqueou as sobrancelhas.

— O homem desta noite. Aquele que lhe causou tanto sofrimento.

— Como você sabia que havia um homem? Khalid sorriu da ingenuidade dela.

— São relacionamentos entre os sexos que causam a maior parte dos sofrimentos.

— Eu não posso imaginá-lo tendo esse tipo de problema — disse ela. Um momento
depois, adquiriu uma expressão horrorizada, como se não pudesse acreditar nas próprias
palavras. — Desculpe-me. Eu...

— Você ficaria surpresa — murmurou ele. — Riqueza não é garantia de felicidade.

Maggie lhe observou a expressão sombria. Era como se uma tempestade o tivesse
abatido, sombreando o rosto bonito e bloqueando a luz que ela vislumbrara ali antes.

Ela sentiu um impulso louco de tocá-lo, aliviar a dor que via nele. Mas isso não era
uma opção. Mudou de assunto:

— Você é de Shajehar, não é? Ele assentiu.

— Sim, sou.

— Pode me contar sobre o lugar? Eu nunca viajei, e parece tão exótico.

Os olhos escuros penetraram os seus. Maggie tremeu e brincou com o colar no
pescoço. Talvez devesse ir embora. Não importava que suas roupas não estivessem
secas. Ficara lá tempo o bastante, e aquele olhar a deixava nervosa. Mas sair na chuva e
ir para sua casa fria e vazia não era nada atraente.

— E um país de contrastes e grande beleza. Algumas partes não são diferentes de
seu Vale Hunter, embora seja muito mais árido. Há riquezas maravilhosas para ver, e não
estou falando sobre petróleo. — A expressão de Khalid disse a ela que ele amava sua
terra natal.

— O povo é forte e orgulhoso de suas tradições. Mas está se esforçando agora para
combinar suas velhas maneiras com o melhor que o mundo moderno tem a oferecer. —
Ela a fitou. — Você nunca viajou para o exterior?

— Nunca viajei para lugar algum. Eu cresci numa fazenda pequena. Sustento era
sempre uma luta. Viajar era luxo.


— E quando você saiu de casa?

Ela abaixou a cabeça, olhando para as mãos unidas sobre o colo.

— Eu nunca saí. Fiz planos de ir para a cidade e estudar, mas houve uma seca, e
meu pai não pôde abrir mão de mim. — Ele a lembrara repetidamente que era dever de
Maggie ficar ao seu lado, como ele cumprira seu dever e a mantivera com ele durante
todos aqueles anos. Uma pena que o conceito de dever de seu pai não incluísse
nenhuma quantidade de carinho ou amor.

— E agora?

— Agora? Eu trabalho aqui.

— Ajudando sua família?

Maggie pensou no quarto vazio na velha casa, na solidão do local que ela chamava
de lar.

— Só havia meu pai. — Maggie não tivera contato com sua mãe e sua irmã desde
que elas tinham partido. — Ele morreu alguns meses atrás.

— Você deve sentir falta dele.

Falta dos sermões zangados, da atitude desaprovadora, do temperamento
melancólico?

— Eu... Ele não era um homem fácil de conviver. — Nada que Maggie fazia era bom
o bastante, mesmo quando sua renda extra fora tudo que mantivera a velha fazenda
produzindo. — Ele devia ter tido um filho homem. Uma filha é um desapontamento para
um homem como meu pai.

— Sinto muito, Maggie. — As palavras soavam compreensivas. Ela olhou para
Khalid. Era compaixão que via nos olhos escuros? — Alguns de nós não somos
abençoados com os melhores pais.

— Você também? Ele hesitou como se estivesse perplexo pela pergunta.

— Meu pai não tinha tempo para a família — murmurou Khalid. Sem tempo para
crianças. Ele tinha... Outros interesses — acrescentou, deixando claro, pelo tom de voz,
que não aprovava tais interesses. — Era um pai ausente. Nas raras vezes que estava em
casa, vamos dizer que ele tinha pouca paciência com garotinhos. Lendo as entrelinhas,
Maggie sentiu compaixão pelo sofrimento que Khalid fingia ignorar.

— Lamento — murmurou ela. — Garotinhos precisam de um pai.

— Assim como as garotinhas.

Para horror de Maggie, a compaixão dele rachou a parede que ela construíra ao
redor de seus sentimentos. Por anos, vinha; lutando contra a crença de que não era
amada, desde que sua mãe a rejeitara, levando Cassie consigo. Essa noite, seus medos
e dor haviam criado uma angústia que a perturbava. A força desta fechava sua garganta e
dificultava sua respiração.

— Maggie. — Khalid devia ter visto a expressão agoniada no seu rosto, pois
estendeu o braço e a puxou para mais perto, acomodando-lhe a cabeça em seu ombro.
Acariciou-lhe as costas com movimentos circulares.

— Você já fez isso — murmurou ela, tentando recobrar a compostura e diminuir sua
reação ao toque dele. — Tem irmãs?

— Não.

— Uma esposa?

Maggie estava vagamente ciente da pausa que ele fez antes de responder:

— Não. — Após um momento de silêncio, Khalid pediu: — Abrace-me, Maggie.

Ela não precisou de mais incentivos. Deslizou os braços ao redor dele e se
aconchegou ao seu calor. Sabia que mais tarde se sentiria terrivelmente embaraçada,
mas por hora, necessitava daquele conforto.

Os braços fortes se fecharam ao seu redor, e um tremor a percorreu. A força sólida
de Khalid e o poder tangível daqueles músculos eram mais reais que qualquer coisa no


mundo. O cheiro único almiscarado lhe despertou uma consciência que não tinha nada a
ver com consolo.

Ela inspirou profundamente, e foi quando registrou as batidas aceleradas do coração
de Khalid. Hesitante, abriu a mão sobre o peito largo.

Um leve tremor ondulou a pele dele. A mão que estava em suas costas parou o
movimento, e outra mão máscula segurou seu braço, como se para afastá-la.

O coração de Maggie bombeava freneticamente. De súbito, o abraço inocente se
transformara em alguma coisa carregada de perigo.

De excitação. E desejo. Desejo por ele. Aquilo não era nada como o que ela sentira
por Marcus. Era... Elementar, mesmo para alguém de experiência tão limitada quanto ela.

Maggie arfou atônita ao perceber que queria muito mais daquele homem.

— É hora de você se mover. — A voz dele parecia tensa.

Ela enrubesceu. O que estava pensando? Ele lhe oferecera conforto, não um convite
sexual. Somente porque ela estava tomada por desejo ardente, não significava que o
sentimento era recíproco. Não aprendera nada naquela noite?

— Maggie, você precisa se sentar. Não quer fazer alguma coisa da qual se
arrependerá mais tarde.

Alguma coisa da qual ela se arrependesse?

— O que você quer dizer? Mãos fortes a afastaram, gentilmente empurrando-a para
seu canto do sofá. Olhos cor de ébano encontraram os seus.

— Você está triste. Não está no seu estado normal. E hora de acabar com isso. Não
quer brincar com fogo.

— Fogo? — Maggie não era normalmente obtusa, mas não devia estar entendendo
bem. Era possível que Khalid também sentisse aquilo? A súbita necessidade de
intimidade que anulava todo o festo? O desejo que consome? Um desejo por ela, pela
simples e comum Maggie Lewis?

Os olhos dele se estreitaram, indo da boca de Maggie para o decote V do roupão
que ela usava.

— Eu sou homem, Maggie. Se nós não pararmos agora, isso irá se transformar
numa coisa muito mais íntima.

Em vez de chocá-las, aquelas palavras tiveram o efeito oposto em Maggie. A
excitação arrepiou sua coluna e comprimiu seu estômago.

Maggie lutou para ser sensata, cuidadosa, reservada, todas as coisas que tinha sido
antes.

Mas algo vital havia mudado. Agora, pela primeira vez, ela sabia o que era desejar
um homem. Realmente desejar, com todas as fibras de seu ser. Era uma força urgente e
imbatível. Uma compulsão que fazia seu corpo inteiro tremer.

Ela possuía duas escolhas. Podia fingir que aquilo não era real. Encolher-se em sua
personalidade normalmente discreta, e tentar esconder o desejo poderoso que sentia. Ou
poderia ceder ao desejo mais forte que já experimentara na vida.

Podia ser ousada ou sensata.

Passara a vida inteira sendo sensata e se sacrificando pelos outros. Aonde isso a
levara?

— E você não quer fazer isso?

Maggie não reconheceu a própria voz rouca. Excitação e ansiedade fecharam sua
garganta. Não podia acreditar que acabara de convidar outra rejeição, mas precisava
saber.

Olhos semicerrados a estudaram, e ela sentiu a distância crescer entre eles. Ele ia
rejeitá-la, pensou Maggie com tristeza.

— Eu não deveria. — Khalid passou uma mão pelos cabelos. — Eu não deveria,
mas... Sim, que Deus me ajude, eu quero fazer isso.


















Capítulo Três









ELE NÃO poderia. Não deveria.

Aquela mulher estava exausta, não raciocinava claramente. Ele não deveria se
aproveitar disso, por mais visceral que fosse seu desejo por ela. Maggie merecia sua
proteção.

— Você está magoada. Esta é a dor falando. — Khalid forçou as palavras. — Mas
essa não é a resposta. Você quer alguém que pode lhe dar mais. Mais do que algumas
horas de prazer.

Mais do que um homem que desistira de compromisso emocional anos atrás.

Por um momento absurdo, ele sentiu ciúmes do homem que daria a Maggie Lewis
tudo que ela quisesse.

Ela ergueu o queixo.

— E se eu disser que algumas horas de prazer é exatamente o que quero? Que não
estou procurando nada mais? Não mais?

Khalid enrijeceu quando uma onda de desejo comprimiu seu membro. Enrijeceu
cada músculo num esforço de permanecer imóvel, quando queria tanto tomá-la nos
braços.

Entendia o desejo. Possuía uma apreciação saudável pelo sexo feminino. Mas essa
ânsia era algo inteiramente distinto. Abalava-o até o âmago. Inacreditavelmente, parecia
muito mais significante que o simples desejo sexual que experimentara nos anos recentes
com mulheres lindas e dispostas.

Parecia mais vital que qualquer coisa que vivenciara em anos.

Uma visão de olhos castanhos aveludados preencheu sua mente e causou dor em
seu peito.

— Não. Eu não posso.

— Sim, é claro — sussurrou ela. — Eu entendo.

Khalid deu um suspiro trêmulo. Tinha feito à coisa certa, a coisa honrável. Agora só
precisava...

A visão da cabeça abaixada de Maggie, enquanto dentes brancos mordiam o lábio
inferior, o fez parar.

— Obrigada por ter me ajudado esta noite — disse ela, sem olhá-lo. — Lamento tê-
lo embaraçado com meu... — Maggie balançou a cabeça, os cabelos cor de caramelo
capturando a luz.

— Perdoe-me — continuou ela, abraçando a si mesma. — Você deve ter mulheres o
rodeando o tempo inteiro.

Perdão?

Khalid lhe ergueu o queixo, de modo que ela o encarasse. Maggie resistiu, até
mesmo agarrando seu pulso, como se para lhe empurrar o braço.

— Você não me deve um pedido de perdão.


Olhos brilhantes e incrédulos encontraram os seus. Ele desejou que a textura da
pele dela não fosse tão excitante.

Khalid esperou que o destino o recompensasse um dia por sua contenção sobre-
humana.

Ela recuou, fugindo de seu toque, o peito se movimentando com a respiração
ofegante, sob o roupão grande.

— Eu... Entendo — gaguejou ela. — Está tudo bem.

Mas não estava. Maggie achava que ele mentira sobre desejá-la. Poderia ser tão
cega? O que acontecera naquela noite que a deixara tão insegura de seus atrativos?

— Acho melhor eu ir embora. — A voz tremeu, e ela angulou o queixo para anular
qualquer sinal de fraqueza.

Aquela mulher que mexera com Khalid desde o momento que ele a vira era uma
guerreira. E uma das mulheres mais atraentes que ele já conhecera. Mesmo sem
maquiagem, molhada e tremendo em roupas de baixo, ela o fascinara.

Uma nova onda de desejo o abalou, dissolvendo sua resolução, desintegrando sua
cautela.

Um beijo. Ele se permitiria um único beijo para aliviar o desejo compulsivo de tocá-la
novamente. Para assegurá-la de que ela era desejável.

— Maggie. — Mais uma vez, Khalid lhe ergueu o queixo, agora se inclinando para
mais perto. Os olhos dela se arregalaram, a boca se abriu um pouco quando ela percebeu
sua intenção. Perfeito.

Os lábios de Maggie tremeram sob os seus, e ele a abraçou, deleitando-se com o
gosto doce em sua língua e com o jeito que ela se encaixava em seus braços, como se
tivesse sido feita para ele.

A língua de Maggie deslizou contra a sua, quando ele aprofundou o beijo, e uma
onda de prazer o envolveu. Só mais um minuto...

Maggie lhe agarrou os ombros quando o mundo girou, e fechou os olhos, tonta de
deleite. Os sentimentos que ele lhe despertava com o toque da boca e com os braços ao
seu redor pareciam transportá-la para um mundo novo.

Seus corações batiam um uníssono, suas bocas estavam fundidas, enquanto o
desejo explodia. Maggie lhe segurou a parte de trás da cabeça, puxando-o para mais
perto.

Entretanto, não era suficiente.

Sentia um nó de desejo na boca do estômago, e mais para baixo, onde uma dor
curiosa a tomava. Contorceu-se, tentando aliviar aquele vazio em seu interior.

Ela correspondia ao beijo, à febre em seu sangue incentivando-a. Por agora, por
aquela noite, era isso que queria a impetuosidade doce de paixão compartilhada. Todo o
poder magnífico de Khalid concentrado nela.

Quando ele lhe segurou um dos seios, ela gemeu contra a boca dele, despreparada
para a carga elétrica que o toque evocou. E no momento que um polegar roçou seu
mamilo, Maggie tremeu. Pressionou-se contra a mão quente, e foi recompensada quando
ele firmou seu aperto. Ela arqueou as costas num espasmo de prazer. Sim!

— Por favor — sussurrou Maggie, nem mesmo sabendo pelo que suplicava.

Khalid deslizou a mão para dentro do decote do roupão, antes de fechá-la sobre um
dos seios, e dessa vez não havia barreira entre os dois. A sensação daquela mão
massageando-a, então, apertando-a gentilmente, era indescritível. Perfeita.

Ela se inclinou contra o braço dele, interrompendo o beijo para respirar. Estudou-o.

Os olhos escuros brilhavam para ela, ilegíveis. As pálpebras pesadas sobre aqueles
olhos falavam de paixão controlada, contida.

Ele iria embora agora? Removeria a mão de seu corpo? Poderia deixá-la sozinha, e
desejando com tanto desespero?


Maggie não suportaria isso. Khalid lhe dera um gostinho de alguma coisa especial,
milagrosa, algo que somente ele poderia lhe dar. E ela queria mais. Era pedir demais,
essa única vez, pelo prazer íntimo que nunca tivera?

Maggie lhe cobriu a mão com a sua. Os dedos dele se apertaram e ondas de deleite
a percorreram.

— Por favor, Khalid. — Maggie sabia o que estava pedindo dessa vez. Queria que
ele lhe mostrasse mais, que a deixasse experimentar a alegria íntima de estar
verdadeiramente com um homem.

Mas Khalid estava muito sério, percebeu Maggie. Ele iria deixá-la. Orgulho guerreou
com desejo. Essa noite, ela já dispensara qualquer fingimento de dignidade.

Sem palavras, ela abriu a outra lateral do roupão para revelar seu seio desnudo.

O ar frio arrepiou sua pele.

Seu coração disparou em antecipação. Maggie o viu engolindo em seco. Então o
peito largo se expandiu numa respiração profunda.

Ela esperou, tremendo, mas o próximo movimento dele foi remover a mão.

Maggie experimentou a derrota então. Ele não gostava do que via. Por que ela
estava surpresa? Sempre soubera que não era feminina o bastante, com suas curvas
pouco desenvolvidas. Fechou o roupão, cobrindo-se, embora fosse tarde demais para
modéstia.

O toque das mãos dele a fez saltar. Subitamente, ela foi puxada do sofá e para
braços fortes. Khalid a olhou com intensidade.

— Você tem certeza que quer isso?

Ela assentiu, a boca muito seca para falar, quando a excitação esquentou seu
sangue. O silêncio era total, exceto pelo crepitar do fogo. Maggie prendeu a respiração,
esperando.

— Então, que assim seja.

Ele se virou com tanta rapidez que a sala ficou embaçada. Um momento depois,
eles estavam num enorme quarto sombreado. Maggie teve a impressão de móveis
suntuosos, de uma colcha azul e dourada, antes que ele puxasse esta para os pés da
cama e a tombasse sobre os lençóis.

Eles se entreolharam por um longo momento. Maggie observou, com fascinação,
enquanto ele se despia com movimentos rápidos e hábeis, jogando as roupas no chão.

Então estava nu à sua frente, magnífico e mais lindo que qualquer coisa que ela já
vira na vida. O brilho do fogo no quarto lançava sombras douradas para aquele corpo
forte e viril. Ela nunca imaginara que um homem pudesse ser tão potente, tão perfeito.

Debateu se deveria contar-lhe que era virgem. Ele não teria levado a sério seu
comentário sobre ser intocada.

Mas não queria que ele mudasse de ideia agora. Um homem como Khalid devia ter
tido muitas amantes. Ficaria desapontado? Maggie reprimiu a preocupação.

Por essa noite, viveria o momento, jogando a cautela ao vento e tomando o que a
vida tinha a oferecer.

O calor a inundou quando ele abriu a gaveta ao lado da cama para retirar um
pequeno envelope de alumínio e colocá-lo sobre o criado-mudo.

Ela estava grata porque ele pensara em proteção, mas o lembrete das
responsabilidades do mundo real a deixou nervosa.

— Você está muito vestida. — Então mãos fortes estavam sobre seu corpo, abrindo
a faixa atoalhada, depois as laterais do roupão, de modo a expor seu corpo nu. Khalid
permaneceu de pé ali, sem falar uma palavra, o olhar viajando pela extensão de seu
corpo. Maggie teve tempo de se sentir ansiosa novamente, perguntando-se o que ele
achava do que via.

Então não houve chance de outro pensamento quando ele se inclinou e lhe removeu
o roupão, atirando-o no tapete. Um momento depois, cobriu-lhe o corpo com o seu.


Maggie experimentou o delicioso peso quente sobre si, antes que ele abaixasse a cabeça
para seu seio. Êxtase a consumiu.

— Khalid! — Sua exclamação rouca mal foi audível enquanto ela lutava para
respirar. As sensações que a percorriam enquanto ele lhe provocava o seio com a boca
enrijeceram seu corpo em deleite. Então os dedos de Khalid estavam no outro seio,
circulando e provocando. Ela imaginou se era possível morrer de prazer. O calor do corpo
poderoso contra o seu era incrivelmente excitante.

Ela entrelaçou os dedos nos cabelos dele, enquanto a umidade brotava entre suas
pernas. Um desejo urgente a preencheu. Queria-o. Agora.

Mas Khalid não estava com pressa.

— Paciência, pequena. — Ele voltou sua atenção para descobrir o corpo dela com
uma intensidade que fez a cabeça de Maggie girar.

Desde o ombro até as pontas dos dedos, desde o ponto sensível atrás da orelha até
os seios, ele explorou, acariciando, beijando, conhecendo-a. Excitando-a. Ela gemeu
quando ele se moveu mais para baixo, para seu umbigo, quadris, coxas, até mesmo a
parte de trás dos joelhos.

O prazer a consumia enquanto sensação após sensação abalava seu corpo. O
desejo avassalador crescia a cada minuto. Logo era uma dor pulsante.

Horas poderiam ter se passado no momento em que ele estendeu a mão para o
criado-mudo. Então Khalid estava de volta, as mãos carinhosas, a respiração quente na
parte interna das suas coxas, entre suas coxas.

Maggie gritou quando ele a tocou ali, no ápice de seu desejo. Ela estava queimando;
mal conseguia respirar. Seu coração bombeava violentamente.

— Khalid. — Ela enterrou as unhas nos ombros dele. Abriu mais as pernas,
instintivamente se oferecendo.

Não havia dúvida em sua mente agora. Aquilo era certo. Ele era certo. Era quase
como se fosse por ele que ela estivera esperando durante todo esse tempo.

Tal percepção foi esquecida e todos os seus pensamentos desapareceram quando
Khalid lhe cobriu o corpo com o seu.

Maggie envolveu o pescoço dele com os braços, ofegando quando seus seios
roçaram o peito largo.

Olhos escuros insondáveis prenderam os seus, e ela se sentiu... Segura.

Maggie observou enquanto ele se apoiou sobre um braço e moveu a outra mão para
tocá-la entre as pernas. Dedos hábeis deslizaram pelas dobras femininas, sobre o botão
pulsante, enlouquecendo-a de prazer. O corpo de Maggie se convulsionou e ela perdeu o
fôlego.

Por um longo momento, ela esperou seus dedos se apertando nos cabelos dele,
enquanto seu corpo tremia. Viu a pulsação batendo no pescoço de Khalid, sentiu a ereção
dele contra si.

Movimentou-se contra ele, não sabendo como proceder, mas sabendo que morreria
se Khalid parasse agora.

Desajeitadamente tirou um braço do pescoço dele e o desceu, até que seus dedos o
circulassem. Ele ganhou vida ao seu toque, pulsando em sua mão: quente, pesado e
poderoso. Com cautela, Maggie o apertou.

Uma palavra árabe em tom gutural no seu ouvido podia ter sido um encorajamento
ou um xingamento.

— Pare!

Instantaneamente, ela afrouxou seu aperto.

A expressão de Khalid era de dor. Ou de prazer?

Então ele se moveu e não houve mais dúvidas. Posicionando-se acima dela, abriu-
lhe mais as coxas. Começou a penetrá-la, e Maggie instintivamente arqueou o corpo para
encontrá-lo.


Khalid abaixou a cabeça em seu pescoço, beijando e mordiscando a área enquanto
e penetrava lentamente. Maggie experimentou uma estranha sensação de estar sendo
preenchida, estendida. Houve desconforto no começo, mas quando este passou, ela não
pôde acreditar na sensação de unidade.

Ele levantou a cabeça, o cenho franzido. Fitou-a com olhos estreitos por um longo
momento. Então ergueu a mão para seu rosto numa carícia gentil. Para seu espanto,
Maggie registrou um leve tremor no toque dele.

Ela virou o rosto na palma quente, deleitando-se no roçar da pele áspera contra sua
face.

— Você é um tesouro. Tão generosa — murmurou ele com voz rouca.

Khalid a beijou, antes de começar os movimentos rítmicos que incendiaram o corpo
de Maggie. Freneticamente, ela o abraçou, beijando-o com desespero enquanto a tensão
aumentava em seu interior.

Então o fogo que eles haviam construído a consumiu, e o mundo explodiu ao seu
redor, bloqueando tudo, exceto a perfeição daquele único momento de clímax, que
continuou e continuou...

ESTAVA ESCURO quando Maggie acordou. Hora de seu início cedo no estábulo.
Todavia, ela não se mexeu. Sentia-se letárgica, e ao mesmo tempo, energizada.

Sorriu, aninhando mais a cabeça no travesseiro, apreciando a incrível sensação de
bem-estar que a preenchia. Sentia-se uma mulher diferente. Não a velha Maggie Lewis
comum. Então registrou o calor de outro corpo.

Khalid.

Lembranças lhe vieram numa onda agridoce.

Ela pensou na noite anterior, na paixão de Khalid e no jeito que ele a fizera se
sentir... Linda. Maggie nunca recebera um presente como esse antes. Abraçou a
memória.

Quando ele amara seu corpo, ela quase acreditara que era uma mulher desejável.

Seu sorriso desapareceu. Ela... Desejável? Não, não podia se enganar dessa forma.
Era forte o bastante para encarar a verdade.

Khalid fizera amor com ela porque se jogara em cima dele. Maggie percebera a
relutância inicial dele. Vira pena naqueles olhos escuros.

Não importava que ela precisara tanto dele que achara que pudesse partir ao meio
com a força de seus sentimentos. Ou que o ato de amor deles tinha sido a experiência
mais maravilhosa em seus 23 anos.

Na noite anterior, dissera a si mesma que deveria agarrar o que a vida estava lhe
oferecendo no momento. Por uma noite, quisera o prazer poderoso que instintivamente
soubera que Khalid podia lhe dar.

Ele provavelmente pensara em alguma linda mulher voluptuosa enquanto a amava,
não na mulher emotiva e desajeitada em seus braços.

Mortificada, Maggie se sentiu corar.

Era uma pessoa forte, uma sobrevivente. Mas teria coragem de encará-lo de
manhã? Imaginou-o tentando reprimir seu desgosto.

Maggie deu uma olhada sobre o ombro. Ele estava dormindo. Mesmo na
semiescuridão, ela viu os ombros largos e o peito poderoso sobre o lençol branco. Calor a
inundou. O desejo estava de volta.

Não! Ela enterrou o rosto no travesseiro, apenas para inalar o cheiro da pele de
Khalid, que permanecia ali. Sua resolução vacilou. A tentação era forte demais.

Mas bastava de fantasia. A noite anterior tinha sido uma experiência única,
maravilhosa, mas não poderia levar a lugar algum. Era melhor deixar Khalid acordar
sozinho. Ele merecia isso. Merecia o alívio de descobrir que ela não estava ainda colada
a ele.


Com o coração pesado, Maggie afastou as cobertas e saiu da cama
silenciosamente.

KHALID ACORDOU ao amanhecer. Sua lembrança da noite anterior foi imediata,
evidenciada por sua ereção matinal. Apesar do sexo perfeito com Maggie Lewis, tinha
sido uma noite frustrante. Uma vez raramente era o bastante para Khalid, e o clímax da
noite anterior, apesar de sua rara intensidade, não o saciara por completo. Ele ansiava
por mais.

Apenas o conhecimento de que, incrivelmente, era o primeiro amante de Maggie o
impedira de saciar-se naquele corpo sexy repetidas vezes.

Um tremor o percorreu.

Seu primeiro amante. O conhecimento lhe causava uma satisfação primitiva. Não
deflorava virgens. Procurava prazer com mulheres experientes, mulheres que sabiam que
ele não possuía mais um coração para entregar nem para a amante mais generosa.

Todavia, lá estava ele, ansioso pelo gosto de Maggie mais uma vez. O encontro não
tinha sido planejado, porém agora que acontecera, ele desfrutaria da companhia de
Maggie por mais um tempo. Era um amante generoso, e ela não teria arrependimentos.
Ele mudaria seus voos para estender sua estada. Mas antes... Khalid se virou,
procurando o abraço caloroso de sua nova amante.

A cama estava vazia.

Ele se levantou rapidamente e atravessou o quarto. Ela não estava no banheiro. As
roupas de Maggie haviam desaparecido.

Khalid franziu o cenho. Ela o deixara sem uma palavra? Como se ele fosse um
segredo sórdido do qual Maggie se envergonhava!

Nunca uma mulher o deixara assim. Seu orgulho se rebelou diante da mera ideia.
Geralmente, era ele quem se distanciava de amantes inoportunas.

Ele se virou, olhando ao redor. Nenhum bilhete. Nenhuma explicação. Irritação e
frustração guerrearam com curiosidade. O que a fizera fugir da cama no meio da noite?
Medo? Culpa?

Por um momento, Khalid a visualizou correndo para vender sua história para algum
jornal. A imprensa era insaciável por histórias sobre ele.

Mas... Poderia ter se enganado tanto sobre Maggie? O instinto lhe dizia que não,
que ela era exatamente o que parecera na noite anterior. Mas era melhor se certificar.

O toque do celular interrompeu seus pensamentos. Uma olhada para o identificador
de chamadas o fez atender e se sentar numa poltrona.

Dez minutos depois, terminou a ligação para começar a andar pelo quarto
sombreado, seus olhos fixos num lugar distante.

Seu mundo tinha mudado naqueles dez minutos.

Faruq estava morto. Khalid era o sheik de Shajehar.

Ele suspirou, pensando no meio-irmão que mal conhecera. Não houvera amor entre
eles, mas Khalid lamentou a interrupção de uma vida jovem.

Após um tempo, levantou-se e aprumou os ombros. Seu povo precisava dele.
Retornaria imediatamente. Olhou para a cama. Não tinha tempo para procurar Maggie
Lewis agora. Contudo, havia um assunto inacabado entre eles.

A situação era facilmente remediável. Ele teria de mandar alguém localizá-la e levá-
la para Shajehar. Seus lábios se curvaram num sorriso.

Seria um prazer renovar o conhecimento entre eles.
































Capítulo Quatro









— VAMOS, TALLY. Hora do show.

O sol do fim da manhã batia em Maggie através da camisa de mangas compridas
enquanto ela conduzia o Orgulho de Tallawanta para o ringue. O calor seco a lembrava
de um verão em Aussie, e o cheiro de cavalo, feno e serragem era confortavelmente
familiar.

Entretanto, tudo mais era diferente em Shajehar. Os estábulos eram muito mais
luxuosos do que na Austrália. O sheik obviamente gastava uma fortuna com seus cavalos.

Pena que ele não dava a mesma atenção ao seu povo. Nos dias desde que ela
voara para lá, acompanhada pelos cavalos de Tallawanta, vira a divisão nítida entre ricos
e pobres. Complexos modernos extravagantes ao lado de favelas.

— Estamos quase lá, Tally — sussurrou ela quando a égua capturou um cheiro
estranho e parou. O voo para o Oriente Médio tinha sido longo para os cavalos. Mesmo
agora, após serem examinados pelo veterinário, eles estavam desfilando para a
aprovação do sheik.

Não que ele se dignara a ir. A cadeira coberta de ouro, posicionada para o sheik no
centro da arquibancada próxima ao ringue, estivera vazia.

Maggie ficou tensa quando eles entraram no ringue, estudando a multidão à procura
do homem que a mantinha acordada todas as noites.

Khalid. O pensamento sobre ele enviou um arrepio de excitação por sua coluna,
embora fizesse um mês desde que eles tinham ficado juntos.

Ela não o vira desde a manhã seguinte do ato de amor dos dois. Enterrara-se no
trabalho, esperando apagar a memória de seu comportamento naquela noite. Mas nada
podia apagar a lembrança de Khalid abraçando-a, amando-a. Não importava como ela se
comportasse, não era capaz de impedir as ondas de deleite que as lembranças lhe
causavam.

Passara o dia seguinte temendo que ele visitasse os estábulos, ansiosa que
pudesse encontrar o homem que a fizera descobrir uma nova Maggie. Uma mulher
devassa e sensual que respondia ao toque dele com total falta de controle.

Todavia, ao descobrir que o hóspede VIP da fazenda tinha mudado de planos e
partido naquela manhã, ela não sentira alívio, e sim desapontamento.

Uma pequena parte tola em seu interior tivera a esperança que o encontro
apaixonado dos dois significara alguma coisa para ele. Que Khalid iria querer vê-la de
novo. Mas ela não passara de um objeto de piedade.

Maggie ergueu o queixo enquanto conduzia a égua ao redor do ringue. Khalid
provavelmente estava do outro lado do mundo com alguma mulher sofisticada.

Um raio de sol brilhou à sua esquerda e um movimento chamou sua atenção...
Novas pessoas chegando, tomando seus assentos na arquibancada.


Maggie arfou ao ver o homem no centro dos recém-chegados. Alto, magro e vestido
em túnica. Mas o tecido branco da túnica não podia esconder os ombros espetaculares, o
físico poderoso.

O perfil forte também era inconfundível.

Khalid.

Se fosse ele, o que aconteceria? Ele a reconheceria ou fingiria que eles eram
estranhos?

Mas ele se lembraria daquela noite por um tempo, pelo menos. Tinha sido
diferente... Fazer amor com uma mulher desajeitada...

Um grito e um relincho vindos da entrada do túnel a tirou de seus pensamentos.
Maggie agarrou as rédeas quando Tally se moveu abruptamente na sua direção,
precisando usar toda sua força para segurar a égua assustada. Mas conhecia seu
trabalho e seu cavalo, e logo o controlou.

O mesmo não poderia ser dito em relação à Diva de Tallawanta. Maggie viu um
vislumbre de preto quando o cavalo avançou para dentro do ringue, chutando areia e
serragem, a cabeça movimentando-se de modo selvagem.

Droga. Ela fora contra dar Diva para um cavalariço novo e não treinado. Diva era
muito arisca e corajosa para mãos inexperientes. Mas o gerente do estábulo tinha
insistido.

Rapidamente, Maggie se virou em direção à arquibancada do ringue e entregou as
rédeas de Tally nas mãos do treinador local que trabalhara com os cavalos. Ele a olhou
assustado, antes que ela se virasse e fosse para onde o outro cavalo corria solto.

Diva mostrava todos os sintomas de um animal assustado que estava fora de sua
rotina, de suas redondezas familiares. Maggie viu o branco dos olhos do animal quando a
égua empinou e bateu numa faixa de seda balançando na extremidade do ringue.
Espectadores se levantaram ansiosos para assistir.

Maggie não tirou os olhos de Diva por um segundo. Conhecia muito bem o poder do
animal. Nenhum dos cavalariços dava as costas para seu cavalo. Lentamente, ela se
aproximou, mantendo o tom de voz baixo e suave.

Diva ouvia as orelhas se movimentando ao som da voz familiar de Maggie, mas
continuava nervosa, a cabeça virando de um lado para o outro com cada movimento que
ela percebia ao redor. De vez em quando, atacava uma sombra ou a faixa balançando ao
vento.

Uma voz profunda e autoritária gritou alguma coisa em árabe, então, felizmente, os
espectadores voltaram a se sentar. Graças a Deus, alguém na audiência tivera o bom
senso de ver que o cavalo estava assustado pelo movimento ondulante de muitas túnicas
longas.

Maggie se aproximou mais. Mantendo contato ocular, falando o tempo todo,
estendeu o braço para as rédeas. Seus dedos tocaram o couro. Ela quase pegou as
rédeas.

Subitamente, o cavalo relinchou, virou-se e andou para trás em direção à
arquibancada. Maggie tentou sair do vão entre cavalo e arquibancada. Quase conseguiu.
Então foi comprimida contra a estrutura de madeira e dor a assolou.

Um momento depois, Diva se moveu para o lado, e Maggie teve a chance de se
recompor. Abaixou a cabeça, pôs as mãos nos joelhos e respirou fundo. Momentos
depois endireitou o corpo. O silêncio no ringue era absoluto.

Maggie circulou o animal, a mão erguida para agarrar a rédea. Então descobriu que
o trabalho já tinha sido feito. Alguém estava diante da cabeça de Diva, segurando-a com
firmeza.

Através dos cheiros de serragem e cavalo, Maggie sentiu outro aroma. Sândalo com
pele masculina. Diva se moveu, e de súbito, Maggie viu o homem que entrara no ringue
para capturar a égua.


— Khalid!

O coração de Maggie disparou, e uma onda de prazer a inundou. Ele estava tão
lindo.

A expressão dele era dura, a boca comprimida numa linha tensa. Olhos cor de
ébano tinham se estreitado, e as narinas estavam dilatadas, como se ele precisasse de
oxigênio extra. Ou como se estivesse tomado por raiva.

Com a túnica branca que enfatizava o bronzeado, Khalid parecia o epítome de
alguma fantasia exótica.

Ele segurava a égua com a competência de um cavaleiro experiente. Diva já estava
se acalmando.

— Maggie. — O tom dele era abrupto. — Você está de pé? Precisa se sentar e
recuperar o fôlego.

— Eu estou bem — respondeu ela automaticamente.

Olhos escuros prenderam os seus, enquanto sua pulsação batia no pescoço. O que
Khalid estava pensando? Estaria se lembrando da noite dos dois?

— Não tenho tanta certeza disso. — Ele se virou, gesticulou, e o cavalariço líder
apareceu. Khalid falou alguma coisa em árabe, e o outro homem assentiu, antes de levar
Diva embora.

— Eu sou perfeitamente capaz de... — A voz de Maggie morreu quando Khalid levou
mãos quentes para seu rosto, o toque como uma benção em sua pele. Lentamente, ele
deslizou os dedos por seu pescoço e pelos seus ombros.

Maggie engoliu em seco.

O roçar daqueles dedos sobre sua pele despertou sensações que ela descobrira
pela primeira vez, semanas atrás. Quando ele a acariciara, excitara-a.

— Não! Eu estou bem. — Ela tentou se afastar, mas ele lhe apertou mais os braços.

— Nós precisamos nos certificar. — Os olhos de Khalid percorreram as roupas
empoeiradas dela.

Maggie, criada por um pai que não permitia lágrimas nem reclamações, não podia
acreditar com que facilidade enfraquecia diante da determinação de Khalid. Obviamente,
ele era um homem acostumado a dar ordens e receber obediência inquestionável.

Ela mal podia acreditar que ele estava lá. — Você tem o hábito de salvar mulheres
estranhas?

Ele quase sorriu.

— Você é minha primeira. — Khalid lhe encontrou os olhos então, com tanta
intensidade que a garganta de Maggie secou instantaneamente.

Dessa vez, quando ela tentou se afastar, ele não a impediu. Em vez disso, baixou as
mãos em suas laterais.

Maggie se virou e viu, mais adiante, um grupo de estranhos, observando a cena com
preocupação e curiosidade aberta.

— O que você está fazendo aqui? — sussurrou ela. Era mais fácil focar-se nele do
que nos espectadores que os circulavam.

— Vendo os cavalos.

É claro. A presença de Khalid não tinha nada a ver com ela. Ainda não percebera
que ele provavelmente preferiria estar em qualquer outro lugar a estar em sua
companhia? Em Tallawanta, ele aceitara sua partida facilmente, escolhendo ir embora
sem tentar contatá-la.

Khalid lhe encontrou os olhos.

— Um médico irá examiná-la.

—Não. Eu estou bem. — Ela olhou ao redor do ringue, mas os cavalos tinham
desaparecido. Sou necessária nos estábulos.

— Mesmo assim, não seria sensato.

— Mas...


— Especialmente quando você é uma visitante aqui — Khalid interrompeu o
argumento. — Levamos as nossas responsabilidades em relação aos nossos convidados
muito a sério. Você precisa estar em forma para fazer seu trabalho.

— Sire. — Um homem do grupo ao redor deles se aproximou. — O médico está
aqui, como requisitado.

Maggie franziu o cenho. Sire? — Eu não preciso de um médico! Isso é um exagero.

— Deixe-o fazer o trabalho dele — sussurrou Khalid para que só ela pudesse ouvir.
— A menos que você prefira causar uma cena?

Ela balançou a cabeça. Se submeter-se a um exame médico significava escapar
daqueles olhos curiosos, faria isso.

— Ótimo. Mulher sensata.

Observando Khalid, ocorreu a Maggie que, apesar de tudo que eles tinham
compartilhado, ele era um estranho. A expressão dele era inescrutável, mas a postura era
de comando. Ela notou que os outros espectadores, embora parecessem muito curiosos,
mantinham distância de alguns passos.

Então o médico estava lá, distraindo seus pensamentos. Ele fez uma reverência
para Khalid, antes de anunciar que ela deveria acompanhá-lo. Ótimo. Quanto antes
escapasse daquela multidão, melhor. Estava mortificada pela confusão. E pelo desejo que
o toque de Khalid ainda lhe causava.

Se o destino fosse gentil, ela não o veria novamente. Então poderia fingir que sua
reação a ele se devia ao choque, e não, como Maggie temia, a algum sentimento muito
mais forte.

KHALID ESTAVA parado diante da porta da sala de primeiros socorros, grato por ter
finalmente dispensado seu cortejo. Não perdera os olhares especulativos no ringue. Eles
estavam acostumados com Faruq, que tinha sido muito preguiçoso e hedonista demais
para se preocupar com alguém. Ele nunca teria resgatado pessoalmente um cavalariço
dos chutes e patadas de um cavalo assustado.

Podia imaginar os sussurros circulando sobre ele e a australiana que trabalhava com
cavalos. A mulher graciosa e corajosa que trabalhava num estábulo.

Ele já se tornara famoso como um reinante não convencional, mais sério e mais
trabalhador que seu pai ou meio-irmão. Agora, as pessoas especulariam se a última cena
revelara uma fraqueza de família por lindas mulheres.

Eles que especulassem. Se ele tivesse esperado para intervir...

O sangue de Khalid gelara ao vê-la em perigo. Ele ordenara que a plateia se
sentasse, para lhe dar uma chance de acalmar o puro-sangue. Ela quase fizera aquilo.
Não mostrara medo ou dúvida, apenas determinação, e uma indiferença pela própria
segurança que o enchera de admiração, mesmo enquanto o gelava de medo.

Ele estendeu a mão para a porta, demorando-se ali deliberadamente.

Quatro semanas desde que estivera com aquela mulher. Todavia, o impacto de
revê-la foi mais devastador do que Khalid esperara. Dissera a si mesmo que sua memória
estava lhe pregando peças. Que ele imaginara a faísca sensual tão intensa entre eles.

Talvez aquela sensação de um assunto inacabado, aquele desejo físico agudo, se
devesse ao fato de que Maggie Lewis, diferentemente de todas as suas mulheres
anteriores, o abandonara.

Khalid Bin Shareef não era um homem acostumado a ser rejeitado. Apesar de sua
educação moderna, seus antecedentes tinham sido líderes fortes e arrogantes, que
conseguiam o que queriam.

Seu sangue fervia em antecipação quando ele bateu à porta, pausou, então a abriu.

Maggie estava sentada ereta numa cadeira. Por que não o surpreendia que ela não
estivesse deitada depois do que deveria ter sido uma experiência assustadora?


Os cabelos cor de caramelo caíam ao redor de seus ombros. Ela estava suja,
desalinhada e ridiculamente excitante. Talvez porque ele pudesse visualizar, com tanta
clareza, a pele cremosa e os mamilos rosados sob a camisa dela.

Khalid não queria lembrar. Seria tão mais fácil se olhasse para Maggie novamente e
não sentisse nada. Mas assim que a vira no ringue, o perfil orgulhoso, o corpo flexível e
tentador, sua libido ganhara vida, fazendo-o pausar para observá-la, antes de tomar seu
lugar no centro da arquibancada.

— O que você está fazendo aqui?

Maggie poderia ter mordido a língua assim que falou as palavras. Ela soava irritada.

Estava destinada a ficar sempre em desvantagem em relação a ele? Sentia-se suja
e cansada, e a demora do médico a estava deixando nervosa. Sentou-se mais ereta,
observando Khalid atravessar a sala com passos longos.

— Olá, Maggie. É um prazer ver você, também. — Não havia acusação no tom de
Khalid, mas ele parecia amargo.

— Olá, Khalid. — Ela ergueu o queixo.

— Qual foi o veredicto do médico? Ela deu de ombros.

— Eu estou bem. Voltarei aos estábulos em breve. — Com a expressão interrogativa
de Khalid, Maggie acrescentou: — O médico está apenas fazendo alguns exames.

Quando ela mencionara que vinha sentindo tonturas ultimamente, o médico a
mantivera lá por mais tempo. Mas certamente, a estranha sensação se devia à excitação
por sua primeira viagem ao exterior. Maggie passara as últimas semanas mais ocupada e
mais exausta do que nunca.

— Você saiu da casa da fazenda sem uma palavra — falou Khalid abruptamente. —
Por quê?

Maggie o olhou, apavorada com a mudança de assunto, e perguntando-se por onde
começar. Não tinha nada em comum com ele... Um homem rico e poderoso que tivera
pena ao encontrá-la arrasada. Era melhor esquecer aquela noite.

Ela lhe encontrou os olhos de cabeça erguida.

— Nós não tínhamos nada a discutir.

— Nem mesmo o fato de que você era virgem antes de me receber dentro de seu
corpo?

O gemido dela ecoou na sala silenciosa.

— Como você sabia? — perguntou Maggie, então se censurou silenciosamente.
Sem dúvida, seus abraços desajeitados haviam sido testemunhas eloquentes de sua falta
de experiência.

Khalid se aproximou. O ar entre eles parecia quase crepitar.

— Você era inexperiente. Seu corpo me contou. Maggie mordiscou o lábio, sentindo-
se enrubescer.

— E daí? — O tom de voz dela foi hostil. Melhor do que patético.

— Não acha que eu quis saber se você estava bem?

— É claro que eu estava bem! Foi apenas sexo, afinal de contas.

— Apenas sexo. — Os olhos de Khalid se estreitaram, como se ele a estivesse
vendo pela primeira vez, analisando-a e descobrindo seu desejo. Meneou a cabeça. —
Nós dois sabemos que foi muito mais do que isso, Maggie. Quantos anos você tem?

A pergunta a pegou de surpresa, e ela respondeu automaticamente:

— Tenho 23 anos. Por quê?

— Virgem aos 23 anos. Isso não é muito comum atualmente. É claro, ele era
especialista no assunto! Maggie abriu a boca para dizer isso, então desistiu ao perceber
que ele provavelmente tinha muito mais conhecimento a respeito do que ela.

— Você devia estar se guardando — continuou Khalid num tom de voz tão profundo
que arrepiou os mamilos de Maggie.

Ela deu de ombros.


— Mesmo se eu estivesse isso não importa. A pessoa que pensei ser o homem da
minha vida não era quem eu acreditava que ele fosse.

Sua noite com Khalid servira para alguma coisa, pelo menos: mostrara como Marcus
tinha significado pouco para ela. A noite de intimidade com Khalid acabara com suas
ilusões, e a Maggie ingênua não existia mais. Agora, ela era mais forte, livre de fantasias
tolas.

— Você não está mais apaixonada por ele?

Ela meneou a cabeça e se virou para olhar o céu sem nuvens pela janela.

— Não. Acho que nunca estive.

O som da porta se abrindo a fez virar a cabeça. Graças a Deus. O médico. Pelo
menos agora, as perguntas pessoais parariam.

— Sire. — O médico parou abruptamente. — Devo voltar mais tarde?

— Não, não. — Khalid gesticulou para que ele entrasse. — Tenho certeza que Srta.
Lewis está ansiosa para saber sobre os resultados dos exames.

Maggie franziu o cenho. Quase lhe perguntou por que as pessoas se dirigiam a ele
de maneira tão formal. Mas não queria prolongar a presença de Khalid com perguntas.

— É claro. — O homem mais velho se aproximou a expressão séria preocupando-a.
Era impossível que ele tivesse encontrado alguma coisa errada com ela. Maggie era
muito saudável. Mas de súbito, sentiu-se ansiosa.

— Há algo errado?

— Não, não — Tranquilizou-a ele. — Nada errado. — Todavia, o olhar que ele deu
para Khalid era claramente desconcertante.

— Eu os deixarei a sós — disse Khalid.

— Não!

Dois pares de olhos se fixaram em Maggie, e ela mordeu o lábio. Nunca fora
covarde, sempre enfrentando a vida com seus problemas e desapontamentos. Mas se
fosse receber uma notícia ruim, sentiu um desejo irracional de que Khalid estivesse lá
também. Estava num país estranho, e ele era um rosto familiar, racionalizou.

— Por favor, fique. — Ela tentou um sorriso.

Agora o médico parecia muito desconfortável, os olhos indo para o homem mais
jovem, então desviando. Subitamente, Maggie teve um mau pressentimento sobre aquilo.
Lembrou-se de seu pai ter sido diagnosticado com câncer, e de como, no final, a doença
o devastara.

— Está tudo bem — falou ela para o médico, querendo acabar logo com aquilo. —
Por favor, fale.

O médico assentiu e pigarreou.

— Sua saúde está excelente, Srta. Lewis. Aparte alguns arranhões, você está bem.
Entretanto... — Ele pausou e o coração de Maggie disparou de medo.

— Entretanto, você tem ciência que está grávida?




















































Capítulo Cinco









— MAS EU... Isso não é possível. — O rosto de Maggie estava tenso com choque. —
Tem certeza?

Khalid conhecia Aziz muito bem para duvidar. Se ele dizia que ela estava grávida,
então Maggie Lewis estava esperando um filho.

Seu filho.

A ideia causou um aperto em seu peito.

Imediatamente, ele descartou a possibilidade de que Maggie tinha saído da sua
cama para a cama de outro homem, que a engravidara. A ideia era ridícula. Mais que
isso, não podia imaginá-la na cama de mais ninguém. Somente na sua...

A percepção o assustou. Tal sentimento de posse era absurdo. Deveria ser. Ele
respirou fundo.

— Eu lhe asseguro Srta. Lewis, o exame deu positivo. Meus parabéns. — As
palavras do médico e a resposta de Maggie foram abafadas pelos zumbidos nos ouvidos
de Khalid.

Grávida! Aquele era um problema que ele nunca esperara confrontar. Não desde
que sua vida fora despedaçada, oito anos atrás. Desde então, Khalid tinha mergulhado
em projetos exigentes, em vez de enfrentar o vazio doloroso em seu interior. Quando
encontrava consolo na companhia de uma mulher, assegurava-se de que o caso fosse
temporário. Sem elos, sem complicações.

Um filho... Era definitivamente uma complicação. Um filho significava família.
Emoção. Amor.

O maxilar de Khalid enrijeceu. Ele jurara não pegar aquele caminho nunca mais.
Passara anos evitando qualquer coisa que pudesse se desenvolver num relacionamento
emocionalmente íntimo. Jamais quisera se abrir para o risco de tal angústia de novo.

Esse era o único caminho seguro. A única maneira de sobreviver.

Khalid olhou para Maggie, que segurava as laterais da cadeira com força. Ela estava
pálida e chocada. Precisava de apoio. Precisava dele.

Sem parar para pensar, Khalid se virou, foi para a pia e serviu um copo de água.

— Aqui. Beba.

Os dedos dela tremeram quando ela pegou o copo. Uma necessidade de protegê-la
o envolveu. Grávida.

Shahina quisera tanto um bebê. Aceitara a notícia que nunca poderia ter filhos com
um estoicismo que quase partira o coração dele. A coisa que sua amada esposa mais
quisera havia-lhe sido negada.


Todavia, apesar das lembranças tristes, Khalid experimentou satisfação. Uma ponta
de prazer diante da ideia de que sua semente, seu bebê, estava crescendo dentro de
Maggie. Seu coração bombeou freneticamente.

— Mas nós tomamos precauções — falou Maggie para o médico. Aziz balançou a
cabeça.

Nenhuma precaução é infalível, Srta. Lewis. A natureza encontra meios de vencer
em seus propósitos, por mais que tentemos frustrá-la.

Khalid considerou as probabilidades de aquela noite ter levado a uma gravidez. Eles
haviam feito amor uma única vez, e ele usara preservativo. E Maggie nunca fizera amor
antes. O corpo virginal e apertado tinha sido um afrodisíaco potente, tentando-o a dar
vazão ao seu orgasmo quase antes que ela atingira o clímax. Apenas o conhecimento da
inexperiência de Maggie o impedira de amá-la mais e mais vezes durante a noite.

Não havia dúvidas de que aquela criança estava ansiosa para vir ao mundo. Ela
devia compartilhar o espírito invencível da mãe.

Ele olhou para a forma rígida de Maggie. Suas emoções estavam confusas.
Entretanto, acima de tudo, havia aceitação. De alguma forma, aquilo parecia certo.

Khalid queria aquela criança.

— Por enquanto, eu quero que você descanse — falou Aziz para Maggie. — Seu
bebê está seguro, e continuaremos a monitorar o progresso dele. Podemos discutir
cuidados com o pré-natal mais tarde — acrescentou com um sorriso.

— Cuidados pré-natais? — As sobrancelhas de Maggie se arquearam em confusão.

— É claro. — Aziz assentiu. — Precisaremos discutir sua dieta, entre outras coisas.

— Mas eu só estou aqui por um curto período de tempo, para acomodar os cavalos.

Aziz olhou para Khalid, e Khalid soube que o médico estava tentando acessar a
situação entre eles. A presença de Khalid ali era sem precedentes, deixando óbvio que
aquela mulher era especial para ele.

Khalid deu um passo à frente.

— Dr. Aziz a verá amanhã. Sem dúvida, até lá, você terá perguntas para ele. Quanto
à sua estada em Shajehar, deve ter havido um mal-entendido. Sua presença é requerida
durante toda a estação.

— Mas meu visto...

— Um novo visto será emitido. Não se preocupe com isso.

MAGGIE OBSERVOU OS dois homens andarem para a porta, um rechonchudo e
preocupado, o outro, enigmático e poderoso. Eles conversavam em árabe, e ela sentiu
que perdia alguma coisa vital. Ou talvez o choque a fizesse imaginar coisas. Grávida!

Ela bebeu a água que Khalid lhe dera e tentou organizar seus pensamentos. Não
podia acreditar naquilo. A ideia de filhos estivera longe... Num futuro nebuloso.

Pânico lhe roubou o fôlego. Como ia se virar? Não sabia nada sobre bebês. Levara
uma vida isolada demais; seu pai se certificara disso. E possuía poucos conhecimentos
sobre a vida de uma família "normal". Era sozinha, inexperiente e despreparada.

Dinheiro seria um problema, também. Ela teria de adiar seus planos de estudar. Seu
pai insistira que ela usasse seus ganhos para salvar a fazenda endividada. Com a morte
dele, Maggie havia desistido da batalha perdida e começado a economizar para o futuro
que sempre quisera.

Todavia, apesar das dificuldades, Maggie sabia que queria muito esse bebê. A
excitação já estava se sobrepondo ao choque. Não tinha ideia de como faria as coisas,
mas haveria tempo para resolver tudo mais tarde. Determinação a alegria envolveram-na.

Ela precisaria trabalhar duro, economizar e aprender no processo. Nenhuma
novidade aí. E no final de sua gravidez, teria uma criança preciosa, um membro da família
para amar e cuidar.

Um sorriso curvou seus lábios. Por mais louco que fosse, estava empolgada.


— Você está feliz sobre o bebê? — Khalid interrompeu seus pensamentos ao
retornar.

— É... Inacreditável — murmurou ela, fitando-o. O bebê deles teria olhos pretos e
lindos como os de Khalid? Seu coração disparou. O bebê deles. Aquilo era incrível.

O olhar dele era tão intenso que Maggie tremeu, imaginando o que ele estaria
pensando.

— Você não... Está com alguém, está? — perguntou ela quando isso lhe ocorreu.
Ele não era casado, mas havia outros tipos de compromissos. — Você tem namorada?
Noiva?

— Não — replicou ele. — Eu tive uma esposa uma vez. Mas não há ninguém agora.

Ele tivera uma esposa...

Maggie lhe estudou o rosto, cuja expressão agora falava de arrogância e
desaprovação.

Obviamente, ele não queria falar da ex-esposa. Maggie perguntou o que a mulher
fizera para merecer tanto desprezo.

— Por quê? — questionou Khalid. — Você está me pedindo em casamento?

— É claro que não! — exclamou ela, chocada. — Eu só pensei... Não quero causar
problemas. — Maggie pausou, pensando. — Mas então, ninguém precisa saber.

— Você pretende se livrar de nosso filho? É isso que está dizendo?

Maggie se encolheu perante a raiva vibrando na voz dele. Sem desviar os olhos, pôs
o copo sobre a mesa lateral. As mãos grandes se fecharam em punhos e o maxilar de
Khalid enrijeceu. Ela se levantou.

— Não. — Maggie meneou a cabeça veementemente. — Como você pode até
mesmo sugerir isso?

Ele a estudou com intensidade.

— Eu não a conheço.

— Bem, acredite nada me faria me livrar deste bebê. — Ela deslizou uma mão sobre
o abdômen num gesto tão protetor que a impressionou. Faria qualquer coisa para manter
seu bebê seguro.

Khalid continuou estudando-a, fazendo-a se sentir como um inseto sob um
microscópio. Maggie ergueu o queixo. Ele não tinha direito de julgá-la.

— É verdade. Eu quero este bebê.

Nosso bebê. Mas ela não poderia dizer isso, não quando ele a olhava com a
expressão de um estranho desaprovador.

— Por que você quer o bebê? — Ele parecia um interrogador, pronto para acreditar
no pior.

— Eu... — Como podia explicar quando nem ela mesma sabia a resposta? Tudo que
sabia era que aquela criança fazia parte de seu ser, e que precisava protegê-la.

— Eu não acredito em filhos indesejados — respondeu ela. — Toda criança deve ser
desejada... E amada, por alguém. — Maggie passara a maior parte de sua vida sabendo
que não era amada, que seu pai somente a abrigara por dever. Não desejaria isso para
ninguém.

Seu bebê seria amado incondicionalmente. Jamais conheceria um instante de
dúvida sobre seu lugar especial no mundo.

— Eu me certificarei de que este bebê receba cuidados e amor.

— Essa não é sua responsabilidade.

— Perdão? — A palavra à fez virar a cabeça para encará-lo, pronta para a batalha.
— O bebê é nosso.

Nosso? Maggie relaxou com alívio. Por um momento, pensara que ele tinha
implicado que ela não era adequada para criar o próprio filho.

— Você quer um papel na criação deste bebê?

— Eu estarei envolvido na criação de nosso filho — disse ele com firmeza.


Maggie meneou a cabeça. Certamente as dificuldades de paternidade à distância
excederiam os benefícios.

— Você me negaria minha posição legítima como pai do bebê?

Ele se aproximou, e de súbito estava bem na frente dela. Calor se irradiou do corpo
másculo e a envolveu, atrapalhando seus pensamentos racionais. Instantaneamente, ela
estava na cama, o cheiro de sândalo ao seu redor enquanto ele a acariciava e a levava a
um clímax explosivo.

Maggie fechou os olhos, tentando reprimir a memória que interferia no seu processo
de pensamento.

— Não daria certo — murmurou ela finalmente. — Essa seria uma situação difícil de
resolver.

Dedos quentes ergueram seu rosto. Ela abriu os olhos para encontrar os dele, que
brilhavam com alguma emoção indefinida. Por um momento absurdo, Maggie teve a
esperança que ele sentisse algo mais do que compaixão por ela.

— Nada é impossível, Maggie.

O ar pareceu crepitar quando aquela conexão que ela experimentara uma vez com
ele se fez presente. Sem pensar, Maggie se inclinou para mais perto, atraída pela força
de Khalid.

— Nós descobriremos uma maneira de fazer isso — disse ele. Apesar de sua
personalidade independente, aquele homem possuía a habilidade enervante de encontrar
fraqueza onde nenhuma existira, fazendo com que ela sentisse que não era inteira sem
ele.

Khalid era perigoso de maneiras que Maggie só estava começando a entender. Ela
precisava resistir a ele, e pensar racionalmente. Muita coisa estava em jogo. Não apenas
seu orgulho, mas uma nova vida inocente. Maggie se afastou, mesmo lamentando a
perda do calor que o toque em seu queixo lhe causava.

— Não é tão simples assim — argumentou ela.

A expressão desafiadora de Khalid se tornou implacável.

— Talvez você queira explicar porque insiste que eu não assuma responsabilidade
pelo meu filho. — Ele cruzou os braços sobre o peito. — E porque não sou de seu país?
Porque sou um estranho para você?

Ela meneou a cabeça.

— Não tem nada a ver com isso. E só que... — Como ela explicaria que eles eram
opostos aparte em riqueza e posição, em experiência e expectativas, sem dar a
impressão que estava pedindo para ser tranquilizada?

— Você vive aqui, e eu estarei na Austrália e...

— Não necessariamente.

— Perdão?

— Nós não precisamos estar separados. Para o bem de nossa criança, a atitude
sensata é que ficássemos juntos, aqui.

— Juntos? — repetiu Maggie. Ele não poderia estar dizendo o que ela pensava.
"Juntos" não significava nada pessoal. - Essa não é uma opção. Eu preciso voltar para
casa.

— Talvez eu possa persuadi-la a ficar.

Então ele sorriu, e Maggie não podia mais raciocinar com clareza. Como ele fazia
aquilo? Ela lutou por compostura.

— Eu estarei na Austrália.

— Você realmente acha que esse é o melhor para nosso bebê? A mãe na Austrália
e o pai em Shajehar?

Raiva a envolveu diante do tom de voz arrogante dele.

— Você acha que sabe o que é melhor para o bebê. De repente, é um especialista,
com todas as respostas?


— Eu não pretendo ser especialista nisso, Maggie. — A voz dele era calma e baixa.
— Apenas sei que nosso filho merece a chance de ser amado por ambos os pais.

Maggie sentiu como se ele tivesse penetrado em seu medo mais secreto. Uma dor
há muito tempo enterrada ameaçou dominá-la. O que ela sabia sobre amor parental?
Tivera tão pouco deste.

Por um momento de pânico, imaginou se sua falta de amor ia infância significava
que estava destinada a ser uma péssima mãe. Isso era possível? Esse tipo de coisa
podia ser herdado?

Respirou fundo. Certamente não. A negligência que sofrera significava que tentaria
mais arduamente ser uma boa mãe. — Maggie! O que houve?

Khalid a observava, suas sobrancelhas unidas em preocupação. Subitamente,
Maggie se sentia claustrofóbica. Aquela pequena sala e a presença dominante dele eram
demais. Ela estava acostumada a ficar ao ar livre, movimentando-se, não presa entre
paredes.

— Podemos ir embora daqui agora? — perguntou ela. — Falaremos sobre isso mais
tarde. Preciso voltar aos estábulos. — Deu um passo ao lado, ansiosa para escapar dali.

Mas ele não se mexeu. O maxilar rijo lhe disse que Khalid não ia a lugar algum. A
proximidade dele era ameaçadora. Maggie se tornou ofegante, mas se recusou a recuar.

— Ouça. — Ela angulou o rosto para encará-lo. — Temos muito que conversar, eu
sei. Não estou tentando evitá-lo. Todavia, não faria mais sentido falar sobre isso mais
tarde? Em algum lugar privado, onde não temos chance de sermos interrompidos? —
Aquilo lhe daria algum tempo para se ajustar à novidade e organizar seus pensamentos.

— Se eu não voltar logo para o trabalho, meu chefe ficará furioso. É um milagre que
ele ainda não tenha entrado aqui, exigindo que eu volte para os estábulos. O que temos a
discutir é muito importante para interrupção.

O coração dela bombeava enquanto Khalid a observava em silêncio. Finalmente ele
murmurou:

— Você tem razão. Este não é o lugar mais apropriado para nossa conversa. Quanto
a sermos interrompidos, isso não acontecerá.

— Você não conhece o gerente do estábulo. Ele é...

— Ninguém com quem você precisa se preocupar.

Com o olhar perplexo de Maggie, Khalid esboçou um sorriso que fez a pulsação dela
acelerar.

Ele era incrivelmente magnético. Vibrante, e mais atraente do que qualquer homem
tinha o direito de ser. Maggie balançou, sentindo o impacto daquela atração.

Uma mão firme segurou seu cotovelo e a virou em direção à porta.

— Vejo que você não está atualizada das últimas notícias, Maggie. Não sabe quem
eu sou, sabe?

— Seu nome é Khalid. Você é o embaixador do sheik. Ele assentiu.

— Eu era. Agora minha posição mudou. Quatro semanas atrás, eu me tornei sheik
de Shajehar. Você é uma convidada de honra no meu palácio. No meu país.

MAGGIE ESTAVA sentada no pavilhão do jardim ornado enquanto Khalid agradecia
ao servo que levara refrescos. Então ele conversou, por um momento, com um homem
num terno caro, que obviamente tinha notícias importantes.

Ela estava grata pelo intervalo. Sua cabeça ainda girava pelo choque de descobrir a
identidade de Khalid. Até agora, não conseguia acreditar!

Todavia, observando-o, perguntou-se como não adivinhara a verdade. Ele possuía o
rosto de um príncipe de conto de fadas: forte e aristocrático. Mais do que isso, seu ar de
autoridade, de poder absoluto, era inconfundível.

Khalid, o homem que a amara carinhosamente semanas atrás, que cuidara dela
quando Maggie estava arrasada, que entrara no ringue hoje e controlara Diva... Era o
sheik real de Shajehar.


— Desculpe-me, Maggie. Meu chanceler tinha assuntos urgentes que requeriam
minha atenção.

— Tudo bem. — Ela assentiu, embora se sentisse totalmente ignorante no assunto.
Não tinha ideia do que um chanceler fazia muito menos um monarca. O luxo do pavilhão,
com seus divãs cobertos em seda, murais incríveis e vistas das montanhas de tirar o
fôlego somente reforçava o fato que ela não pertencia àquele lugar.

Maggie nunca vira o sheik anterior, mas a riqueza e poder dele eram lendários.
Rumores diziam que ele possuía um Rolls-royce feito de prata. Que comprava resorts
inteiros de luxo, de modo que pudesse apreciar férias em privacidade. Mais do que; isso
ali em Shajehar, a palavra dele era lei. Ele fora um reinante absoluto.

Como Khalid era agora.

Este era o tipo de homem que seria pai de seu filho. Um homem de riqueza e poder
inimagináveis. Um homem que podia comprar o que quisesse.

Subitamente, o medo a assolou. Se Khalid quisesse muito o bebê, poderia tirá-lo
dela?

— Eu não desistirei de meu bebê. — As palavras saíram antes que ela tivesse
tempo de considerá-las.

Khalid pausou no ato de lhe passar um copo de chá.

— Ninguém está lhe pedindo isso, Maggie. Alívio a inundou.

— Ótimo. — Ela se recusou a se desculpar. — Eu só pensei que você deveria saber
disso desde já.

Ele assentiu.

— E você deve saber que eu não ficarei longe de meu filho, também. Aqui. — Khalid
pôs o copo na mão dela. — Beba. Isto lhe fará bem.

Maggie inalou o aroma familiar do chá doce, estilo Shajehar, lembrando-se que
Khalid uma vez lhe dissera que era bom para o choque.

— Eu posso recomendar estas rosquinhas, também.

Ela olhou para as iguarias apresentadas com perfeição. A bandeja poderia ser de
ouro maciço?

— Não no momento, obrigada. — Ela deu um gole no chá. Então percebeu que ele a
olhava intensamente.

— Você não precisa ter medo de mim, Maggie. Eu sou um homem civilizado.

— Um homem civilizado que governa o próprio país e pode comprar os melhores
advogados do mundo.

— Não é assim que eu penso! — Houve um brilho de fúria nos olhos escuros, antes
que ele focasse na vista distante. Instantaneamente, ela se arrependeu, mas precisava ter
certeza.

— Não pedi para ser sheik, não esperava por isso. Mas meu meio-irmão morreu,
sem um filho, então eu tive de assumir o papel.

— Sinto muito sobre seu irmão.

Ele apenas inclinou a cabeça, e Maggie procurou alguma coisa para dizer.

— Você não parece apreciar muito sua nova posição.

— Eu nunca irei me esquivar de meu dever — respondeu ele. — Há muita coisa
para fazer aqui. No passado, membros da minha família foram verdadeiros líderes e
visionários, protegendo seu povo. Mas a expressão dele endureceu —, desde a
descoberta do petróleo, nossos reinantes se devotaram a desperdiçar a riqueza do país.
É meu dever compensar pelos anos de negligência. Retificar os danos. Será o trabalho de
minha vida.

Agora ela entendia. Khalid era um homem de honra, movido por dever.

— Você vê nosso bebê como sua responsabilidade. Seu dever. — Maggie levou
uma das mãos à barriga.


— Juntos, nós somos responsáveis pela nova vida crescendo dentro de você. — Ele
deu um pequeno sorriso, e uma onda de excitação a percorreu. — Então, juntos,
devemos fazer os melhores arranjos para o futuro desta criança.

Ela olhou para cima, cautelosa diante do brilho intenso que viu nos olhos escuros.

— Há uma solução óbvia — continuou Khalid.

— Há? — O coração de Maggie, disparou quando uma sensação de medo a
envolveu.

— É claro. — Os lábios dele se curvaram num sorriso satisfeito. — Nós nos
casaremos assim que possível.













Capítulo Seis









KHALID ESTAVA preparado para a reação de Maggie: silêncio perplexo. Sabia que, no
mundo dela, pessoas geralmente se casavam por amor. Que crianças, com frequência,
nasciam fora do casamento.

Ele mesmo não tinha se casado por amor? Então jurado nunca mais se casar,
depois que a perda de Shahina despedaçara sua alma?

Entretanto, a expressão horrorizada nos olhos de Maggie o irritou. Ela não o achara
tão repulsivo quando se oferecera para ele, semanas atrás. E Khalid conhecia muitas
mulheres que dariam tudo para receber essa proposta.

— Você está... Falando sério? Khalid reprimiu sua raiva.

— É a solução mais apropriada.

— A mais apropriada. — Ela fez uma careta de desgosto. O que esperara? Que ele
desse as costas para ela e para a criança? Não poderia ter esperado uma declaração de
amor eterno. Ademais, isso era algo que ele não poderia dar a nenhuma mulher.

— Maggie, pense bem. Nosso filho nascerá dentro de uma família, tendo dois pais
para amá-lo. Ele ou ela crescerá num ambiente estável, não entre dois continentes,
dividido entre pais separados. E você terá riqueza, segurança, posição.

— E se eu não estiver interessada em dinheiro ou posição? Khalid comprimiu os
lábios. Sabia que Maggie Lewis não era interesseira. Até mesmo o investigador que a
localizara tinha dito que ela era pobre, porém trabalhadora, honesta e confiável.

— Pense no que nossa união significará para o nosso bebê. Isso não é o mais
importante? Você disse que foi criada somente por seu pai, e que não foi a mais feliz das
situações. Não será melhor que nosso bebê tenha o amor e cuidados dos dois pais?

Ele a observou morder o lábio, e sentiu uma onda de triunfo.

— Nós temos isso em comum, lembra? Eu também não tive um bom pai. Mas,
juntos, podemos oferecer à nossa criança o tipo de lar que nenhum de nós teve.

— Mas não existe garantia que isso dará certo. E se nos casarmos, depois nos
separarmos? Isso pode destruir uma criança.

Khalid pegou a sua mão, acariciando-lhe a pele com o polegar.

— Você tem a minha palavra, Maggie, que eu nunca a mandarei embora. Tem a
minha promessa de que eu me empenharei para construir um lar amoroso para nosso
filho ou filha. E, uma vez que não estamos nos casando por amor, nosso relacionamento


não será carregado de emoções. Não teremos o poder de machucar um ao outro, como
pessoas que se amam têm.

— Mas e se você se apaixonar por outra pessoa? — Maggie balançou a cabeça. —
Não, casamento é uma receita para desastre.

Estranho, pensou ele, que Maggie não considerasse a possibilidade de que ela se
apaixonasse por outra pessoa. Não que Khalid tivesse preocupações a esse respeito.
Sabia como manter uma mulher satisfeita e feliz. Maggie não olharia para outro homem
enquanto estivesse ao seu lado.

— Eu não sou o tipo de me apaixonar, acredite — murmurou ele com determinação.
Seu coração estava bem guardado, e Khalid não pretendia abri-lo nunca mais.

Todavia, ela ainda não estava satisfeita.

— Por que você quer se casar? Para ter um herdeiro legítimo?

— Acha errado dar ao nosso filho à segurança de dois pais e a proteção de meu
nome? — questionou ele com raiva.

— É claro que não.

— Ótimo. Não tenho a menor intenção de permitir que esta criança seja ilegítima.

Khalid conhecia bem as implicações indesejáveis daquilo. Se seu tio Hussein tivesse
sido legítimo, em vez de fruto de um breve caso entre o avô de Khalid e uma dançarina,
Hussein teria sido sheik. Honesto, sério e trabalhador, seria um excelente reinante. Em
vez disso, a coroa fora passada para o irmão legítimo mais novo. Para o pai de Khalid, um
homem fraco e egoísta, obsecado por gratificação pessoal. Como resultado direto,
Shajehar tinha sofrido durante todos aqueles anos.

— Então você quer um herdeiro. — A voz de Maggie era desaprovadora.

Ele deu de ombros.

— Se eu não tiver filhos, o título passará para outra pessoa de minha família. Mas há
uma criança. Ou haverá. — Ele fitou sua barriga brevemente. — Você negaria o direito de
primogenitura ao nosso bebê? A chance de conhecer a cultura do pai? Impediria que ele
assumisse seu lugar de direito aqui?

— Você está presumindo que será um menino.

— Não, é você quem está fazendo suposições. — Khalid liberou a mão dela e se
levantou. — Eu amarei nosso bebê, se for menino ou menina. Se tiver pele clara e
cabelos dourados como os seus, ou pele cor de oliva como a minha. O que importa é que
é o nosso bebê, e que faremos o melhor por ele.

Khalid a estudou, vendo a maneira tensa com que ela segurava o copo. Apesar da
força daquela mulher, os olhos castanho-esverdeados ainda revelavam choque em
relação à notícia de Aziz.

Silenciosamente, Khalid amaldiçoou sua falta de paciência. Talvez devesse lhe dar
uma chance para absorver as implicações da gravidez.

Aproximando-se, tirou-lhe o copo da mão.

— Venha, Maggie. Conversaremos sobre isso mais tarde. É hora de você
descansar.

MAGGIE ESTAVA com calor, suja e cansada. Ainda se sentia abalada pelas
revelações do dia anterior. Mal podia acreditar que ia ser mãe! Todavia, sua excitação
estava temperada por emoções confusas.

Nem seu humor melhorara quando ela chegara aos estábulos naquela manhã para
receber ordens de realizar tarefas leves. Um dia de tarefas monótonas e olhares curiosos
não fez nada para reconstruir sua tranquilidade. Cada movimento seu era observado,
especulado.

— Vamos, Tally. — Ela conduziu a égua, através do pátio, para a piscina dos
cavalos. As narinas de Tally se alargaram quando ela sentiu o cheiro da água.

— Maggie!


Ela se virou ao tom de comando na voz de Khalid. Ele estava emoldurado pelas
sombras da passagem arcada. O sol do fim da tarde brilhava em sua túnica clara,
realçando os ombros largos e a beleza do rosto sério.

Maggie arfou enquanto o olhava, fascinada, e sentia sua resposta instantânea. Era
como temera. Uma onda de excitação a percorria diante da visão de Khalid.

Jamais gostara de homens dominadores. Jurara não gostar de um homem como seu
pai. Todavia agora, não conseguia reprimir sua onda de prazer. O ar entre eles parecia ter
energia o bastante para iluminar um vasto palácio.

— Olá, Khalid.

Ele se aproximou lentamente.

— Eu pedi que você fosse me ver. — Olhos escuros a percorreram, esquentando a
pele de Maggie. Ela tentou parecer indiferente.

— Pediu? Estranho. O recado que eu recebi não parecia um convite. Foi mais como
um decreto da realeza.

Ela precisou de toda sua força para encontrar os olhos brilhantes. Agora estava
pagando por sua recusa, vinte minutos atrás, em obedecer às ordens dele
instantaneamente.

Após uma noite de insônia, ainda estava confusa e ansiosa, incerta do que fazer.
Durante o dia inteiro, preparara-se para encará-lo novamente. Todavia, Khalid mantivera
distância. Sem dúvida, tivera coisas mais importantes na mente do que sua gravidez!

— Entretanto, você escolheu não ir. — Raiva parecia emanar de Khalid quando ele
parou muito perto para a paz mental dela.

— Eu não sou uma súdita para obedecer às suas ordens.

— Mas você é minha empregada — replicou ele friamente. — Ou isso não importa?

Maggie piscou, magoada que ele escolhera usar sua posição lá para controlá-la. O
que existia entre eles era pessoal e privado.

— Perdão, chefe. — Ela quase engasgou com a palavra. — Eu não sabia que você
queria discutir meu trabalho.

Khalid ergueu a mão para massagear a nuca, como se para aliviar um nó de tensão
ali.

— Sinto muito, Maggie. Isso foi desnecessário. Eu peço desculpas.

Ele parecia tão desconfortável que a comoveu.

— Desculpas aceitas. Eu ia encontrá-lo assim que terminasse aqui. Levo meu
trabalho muito a sério.

— Acha que o problema entre nós não é sério? — questionou ele.

— Eu presumi que você não precisava falar comigo com urgência, uma vez que
esperou o dia inteiro.

— Ah. — Ele pausou. — Novamente, peço desculpas, Maggie. — Recebi
representantes de dois países distintos para negociarmos acordos multilaterais no
mercado. — A voz de Khalid abaixou de tom: — Eu queria ter visto você antes, mas foi
impossível. Essa reunião estava marcada há meses.

O que fez Maggie se sentir mais insignificante do que nunca. É claro que ele tivera
uma boa razão para não a encontrar mais cedo. Era tolice magoar-se pela falta de
atenção de Khalid.

— Você se importa se eu levar Tally ali? — perguntou ela, gesticulando a cabeça
para o canal profundo de água. — Ela adora nadar.

— E depois que você fizer isso, terá terminado o trabalho pelo dia. — Era uma
declaração, não uma pergunta. — Por favor, vá em frente. Eu a acompanharei.

Ela se virou e conduziu a égua para dentro da água. Maggie andava ao lado da
piscina, enquanto Tally descia a rampa e entrava no canal abaixo do nível do solo. Logo,
o cavalo estava nadando vigorosamente na água profunda.


— Casamento é a melhor opção. Você sabe disso, Maggie. Sem preliminares, sem
hesitação. Khalid era sempre tão seguro de si?

Ele não via como sua sugestão era absurda? Uma garota que trabalhava em
estábulos se casando com um homem que reinava o próprio país.

— Não de minha perspectiva — murmurou ela, olhando para a égua.

— Meu gerente ainda não lhe falou sobre meus planos para o estábulo, falou?

Ela virou a cabeça para fitá-lo. Ele andava ao seu lado, muito perto.

— Que planos?

Seu emprego em Tallawanta acabará num futuro próximo. A boca de Maggie secou.
— Como assim?

— Eu estou me desfazendo do haras. Uma vez que há muita coisa para ser
realizada aqui em Shajehar, não tenho estômago para tais luxos. O que significa que seu
emprego na Austrália não existirá mais. Talvez os novos donos do haras precisem de
você, ou eles podem levar o próprio staff para lá.

Suor brotou na nuca de Maggie com o pensamento de seu emprego desaparecendo.

Seu braço foi puxado quando Tally nadou em frente, e Maggie tentou se concentrar
na égua. Mas seus pensamentos giravam. Precisava de seu emprego para sustentar o
bebê. Boas posições eram escassas, e ela não possuía outras qualificações.

Certamente, Khalid não estava fazendo aquilo para forçá-la ao casamento?

— Eu tinha decidido vender o haras, e diversos outros excessos de Faruq, muito
antes de nos conhecermos.

Ele tinha lido sua mente?

— Mas eu preciso de um emprego seguro para o bebê, e economizar, de modo que
um dia possa estudar para ser veterinária. — Mesmo enquanto falava, ela percebia como
aquele sonho era improvável. Cuidar de seu bebê tinha de ser sua prioridade agora.

— Há uma boa universidade aqui em Shajehar. Veterinária é uma das
especialidades deles.

Claro, como se ela pudesse se matricular. Nem sequer falava o idioma. Maggie fez
uma careta.

— Então, eu deveria ficar aqui, porque seria mais fácil do que encontrar um novo
emprego?

Maggie instigou a égua para que Tally seguisse em frente, desejando que pudesse
correr, deixando Khalid para trás, a fim de absorver aquela notícia sozinha. Mas solidão
era um luxo que não possuía mais. Ela quisesse ou não, Khalid estava determinado a se
envolver em seu futuro.

Correção, no futuro do bebê deles. Os dois estavam unidos de modo insolúvel.
Claustrofobia a assolou, até que ela mal conseguisse respirar.

Tally subiu a rampa e saiu da água. Nem mesmo o cavalo sacudindo o grande corpo
como um cachorro a fez sorrir.

— Maggie? — Khalid se posicionou à sua frente. — Você terá um novo trabalho,
goste disso ou não. Ser mãe será uma tarefa muito exigente.

Ela balançou a cabeça.

— E você acha que será fácil para mim, se eu emigrar, unindo-me a um homem que
mal conheço e me casando dentro da família real?

— Você não estaria sozinha. Nada lhe faltaria. — O tom de voz dele era paciente e
carinhoso.

Entretanto, Maggie corria o risco de perder o pouco que conseguira por si mesma.
Sua independência, seus planos para o futuro.

Mas talvez isso fosse inevitável. Seu futuro não era mais seu. Uma onda de pânico a
envolveu ao pensar em sua nova realidade. Grávida. Respirou fundo para se acalmar.


— Eu não me encaixo no seu mundo. — Ela gesticulou a mão para suas botas
empoeiradas, as roupas molhadas e cheias de pelos de cavalo. — Não pertenço a um
palácio. Sou uma pessoa comum. Trabalho para sobreviver.

Ele prendeu os olhos dela e alguma coisa inesperada pulsou entre eles. Conexão. —
Como eu, Maggie.

Instantaneamente, ela se arrependeu de suas palavras. Já descobrira como Khalid
levava suas responsabilidades a sério.

— Desculpe Khalid. Eu sei que sim. Mas as nossas circunstâncias são diferentes. —
Puxando uma toalha do ombro, ela começou a secar o pelo molhado de Tally. O que lhe
deu a desculpa perfeita para não o olhar. — Certamente, você precisa se casar com uma
pessoa que se encaixe no seu mundo.

— Você irá se encaixar, Maggie. — Ele deu um passo na sua direção, fazendo o
coração dela disparar. — Eu estarei do seu lado. — A voz abaixou para um sussurro
rouco, e Maggie tremeu de prazer.

Mas balançou a cabeça, negando a sensação. Ele não entendia nada! Como ela
poderia se casar com um homem que via o casamento como a "solução mais
apropriada"? Que não a amava e nunca a amaria? Seria louca se concordasse com tal
arranjo.

— Quero dizer, é esperado que você se case com uma mulher linda e elegante,
criada para a posição. Alguém de uma família importante.

ENQUANTO KHALID observava, os ombros de Maggie se endireitaram e ela ergueu o
queixo. Era uma linguagem corporal que ele reconhecia uma postura que usara quando
criança ao receber a ordem de alguma tarefa tediosa.

Maggie não se escondia atrás dos usuais truques femininos. Ela era tão
transparente que chegava a ser vulnerável. Mas isso não podia balançá-lo. Ele pretendia
torná-la sua noiva, por persuasão, se possível.

— Os sheiks de Shajehar têm a reputação de se casarem para agradar a eles
mesmos.

Ele convenientemente omitiu as negociações que Faruq instigara meses atrás para
cimentar uma união dinástica entre Khalid e uma princesa de um reinado vizinho. Khalid
fora contra a ideia desde o começo. Jamais quisera se casar novamente.

Até agora.

Casamento era seu dever para com seu bebê não nascido. O destino lhe dera esta
oportunidade de ter um filho, e ele não poderia virar as costas para isso. Sabia como a
vida era preciosa, e pretendia ser uma parte integrante do mundo de seu filho.

Isso significava ter Maggie, também. Sentia-se surpreendentemente apaziguado
pela ideia.

— Ninguém irá acreditar que você me quer.

Maggie deu um passo ao lado, tentando trabalhar no cavalo. Os movimentos dela
eram suaves e rítmicos, quase escondendo a tensão que a envolvia. Quase.

O sol se pondo enviava um brilho dourado para os cabelos dela, e delineava as
curvas delgadas do corpo flexível. Calor o inundou com a lembrança daquelas pernas
longas o envolvendo na noite que ele lhe tomara a virgindade. Daquele corpo incrível
ganhando vida pela primeira vez ao seu toque.

Ele podia não estar se casando por amor desta vez, mas sem dúvida, queria aquele
casamento. Queria Maggie. Durante todas aquelas semanas, através do tumulto de
assumir seu papel como sheik, sentira falta dela. Mais do que deveria.

Casamento era seu dever... Óbvio e inevitável. Mas teria seu lado prazeroso,
também. Como Maggie logo descobriria.

Ele se aproximou e sentiu o calor dela através das roupas de algodão, seu sexo
enrijecendo em antecipação.


— Ninguém irá questionar minha escolha, Maggie. Eles saberão, assim que a
conhecerem, que eu quero você.

Ela se virou para encará-lo, a expressão evidenciando perplexidade. E mais alguma
coisa. Uma ponta de dor.

— Não. Eles dariam uma olhada para mim e saberiam que isso é mentira.

Ela nunca se olhara no espelho? Não reconhecera o erotismo do próprio corpo? Não
tinha ideia de como era sexy naquela calça justa, o rosto livre de embelezamento
artificial?

Calor inundou seu baixo-ventre. Seria tão fácil puxá-la contra si e mostrar-lhe o
quanto ele a desejava.

Mas a angústia na expressão de Maggie o impediu de fazer isso. A situação já era
difícil o bastante para ela. Grávida, num país estranho, ainda lutando contra a ideia de
casamento. Ele precisava ir com calma.

— Roupas podem ser trocadas — murmurou Khalid. — Eu a tratarei com respeito.
Eu a tratarei como minha esposa. Não haverá dúvida na mente de ninguém.

Ela meneou a cabeça.

— Você quer dizer, o respeito que a mãe de seu filho merece.

— Isso também — replicou ele. Então, lendo o rosto de Maggie, mudou de tática. —
Eu posso prometer respeito e lealdade a você... Esta é uma barganha tão ruim? — Após
uma pausa, acrescentou:

— O que a espera no seu país, que você não pode abrir mão por uma vida nova?

Ele não precisava de resposta. A verdade estava clara entre eles. Ninguém a
esperava. O país de Maggie não lhe oferecia nada além de desemprego, solidão e a luta
de criar um filho sozinha.

— Mas nós não temos nada em comum — argumentou ela, sem olhá-lo.

Khalid reprimiu um sorriso. Ele vencera, mesmo que ela ainda não admitisse isso.
Alegria o envolveu.

Ele evitou mencionar a incrível compatibilidade sexual entre os dois. Instinto lhe dizia
que Maggie acharia aquilo desconcertante. Haveria tempo para lidar com isso depois que
eles estivessem casados.

— Descobriremos coisas em comum com o tempo — ele a assegurou. — Por
enquanto, temos nosso bebê e nossa honestidade. É um começo melhor do que muitos
têm.



— PRONTO QUERIDO. — Maggie ajeitou o garotinho na sela do pônei robusto.

Não importava que ele não falasse inglês, e nem ela falasse árabe. O sorriso dele
lhe disse tudo que Maggie precisava saber. Ela checou se ele segurava as rédeas
propriamente, então gesticulou para que ele endireitasse a coluna, sorrindo em aprovação
quando o garotinho fez isso.

Quando ela pegou as rédeas da frente para liderar o pônei, uma torrente de
protestos saiu dos lábios do menino.

— Não dê atenção a ele, Maggie. — A voz de Khalid veio de sua lateral. — Hamed
sabe que não está pronto para cavalgar sozinho.

Maggie deu ao seu cavaleiro um olhar que indicava que não toleraria nenhuma
gracinha, então abaixou as rédeas principais. Houve um instante de silêncio enquanto
Hamed percebia que não ia a lugar algum, por enquanto.

— Ele ficará bem. — Ela se virou para Khalid. — É o orgulho dele falando. Eu lhe
darei um momento.

O sorriso de Khalid foi caloroso, e Maggie sentiu a tensão das últimas 48 horas se
dissolver. Aquela tarde passada com Khalid e com os filhos do primo dele tinha sido mais
divertida do que esperara. Como sempre, estar com crianças a alegrava. Maggie se
deleitara na excitação das crianças ao visitar os pôneis que Khalid mantinha para elas.


— Você sabe sobre garotinhos. — Havia aprovação na voz dele?

Ela deu de ombros.

— Na Austrália, eu ajudei com a programação de montadores de deficientes físicos.
Nós nos reuníamos todo segundo sábado do mês, e a maioria dos cavaleiros eram
crianças. Aprendi algumas coisas.

— Você gosta de crianças?

— É claro. O que há para não gostar? — Crianças aceitavam as pessoas como elas
eram. E pareciam abertas e honestas com seus sentimentos.

— Você sempre quis ter filhos?

— Eu... Suponho que sim. Não era algo que eu já tinha planejado. Mas sempre
imaginei que teria filhos. Um dia, quando eu encontrasse...

— O homem certo.

Silenciosamente, ela assentiu abalada pela vasta diferença entre realidade e suas
esperanças secretas de amor eterno. Estava na hora de esquecer seu sonho de encontrar
o homem que a amasse por quem ela era. Precisava pensar em seu bebê agora.

— E quanto a você? Queria filhos?

O rosto de Khalid se tornou subitamente sombrio. — Não era uma ambição de uma
vida inteira, mas sim, eu queria filhos.

Maggie não entendeu o sofrimento que viu nos olhos dele. Khalid não era um
homem simples de entender.

Ela se voltou para Hamed, dando-lhe um sorriso encorajador. Logo estava liderando-
o ao redor do pátio do estábulo, relembrando-o da postura adequada.

Mas enquanto eles andavam, era Khalid quem lhe prendia a atenção. Khalid com a
pequena Ayisha nos braços, mostrando a ela como alimentar um dos cavalos com uma
cenoura. Houve um gritinho de deleite quando a égua fungou e agarrou a cenoura.

Maggie observou Khalid aninhar a criança contra seu corpo forte e se emocionou. O
homem grande e a garotinha formavam uma cena tão perfeita.

Ele era paciente, gentil, carinhoso. Seria um bom pai, sem mimar em excesso. O
bebê deles conheceria limites, mas teria muito amor também. Se ela se casasse com ele.

Era isso que Maggie queria para seu filho. Não a existência restrita que levara,
sempre antecipando a desaprovação de seu pai. Khalid não era nada como seu pai. Ele
encorajava, não destruía aspirações juvenis. Apesar de todo poder e riqueza, Khalid seria
o tipo de pai que ela queria para o bebê deles.

Maggie suspirou. Poderia se comprometer a um casamento sem amor, quando
ansiara por amor a vida inteira?

Isso não deveria importar. Ela faria o que fosse necessário para dar o melhor ao seu
bebê.

Khalid jamais a amaria. A "proposta" dele deixara bem claro que suas emoções não
seriam envolvidas. Aquilo se tratava do bebê. De legitimidade, honra e dever.

Ele mantinha distância, nunca a tocando agora. Qualquer casamento seria apenas
no nome. Ela teria de encontrar uma maneira de reprimir o desejo físico que sentia por
ele.

— Você está muito séria.

Maggie encontrou Khalid bloqueando seu caminho, Ayisha ainda nos braços
poderosos. Ela parou o pônei.

— Eu estava pensando.

— Pensando sobre nós — murmurou ele. — Sobre o bebê.

Ele estava tão seguro de si mesmo que ela quis negar aquilo. Mas para quê? É claro
que estivera pensando sobre eles. Era tudo no que pensava ultimamente, enquanto
tentava tomar uma decisão. Temendo unir-se a um estranho, mas forçada a reconhecer
os benefícios para o filho deles.


— Você decidiu. — O olhar de Khalid a aprisionou. — Conte-me. O coração de
Maggie disparou freneticamente. Ela tomara sua decisão.

— Sim, Khalid. Eu me casarei com você.







































Capítulo Sete









DUAS SEMANAS depois, Maggie estava parada diante do espelho, em seus novos
aposentos luxuosos, impressionada com a estranha que via ali. Era incrível o resultado
que uma fortuna em roupas e jóias, e em atenções de um pequeno exército de mulheres,
podia alcançar.

Não havia um único vestígio dos estábulos aderido ao seu traje de noiva.

Incerta, ela se aproximou ciente do peso do tecido bordado com pérolas. Alguém
escolhera esmeraldas como jóias para ela. Elas faziam seus olhos brilharem.

Ou era o medo que sentia? Olhando para a mulher no espelho, perguntou se poderia
fazer aquilo dar certo. Se algum dia poderia crescer dentro do papel de esposa do sheik.
E ela estava...

— Magnífica!

Ela se virou a pulsação acelerada.

— Khalid! O que você está fazendo aqui?

Ele se aproximou, parecendo o príncipe dos sonhos dela ganhando vida. As túnicas
esplêndidas enfatizavam o corpo poderoso e o rosto perfeito.

— Estou admirando minha noiva.

— Mas você deveria estar aqui?

— Onde mais eu estaria no dia de nosso casamento?

Os olhos escuros a percorreram, desde a frente do véu ornado cobrindo seus
cabelos até a extensão inteira do vestido longo. Um pouco mais cedo, enquanto era
vestida, Maggie se sentira uma impostora. Os tecidos luxuosos e as jóias caríssimas não
eram para pessoas como ela. Todavia, enquanto o olhar de Khalid queimava sua pele, ela
se permitiu imaginar, só por um momento, o que ele pensava de sua noiva. Os olhos dele
se demoraram nas esmeraldas, em suas orelhas e no peito.


Lentamente, ele sorriu. Como um homem cobiçando um tesouro secreto. Ela
reprimiu a ideia absurda. Isso era impossível.

— Não traz má sorte o noivo ver a noiva antes do casamento?

— Sorte? — murmurou ele. — Nós mesmos construímos a sorte. Ademais, você
está sozinha num dia quando uma mulher quer sua família e amigos para apoiá-la. —
Khalid pegou sua mão. — Você não tem família, e não convidou amigos para o casa-
mento. Então estou aqui para tomar o lugar deles. Eu não queria deixá-la sozinha,
Maggie.

Aquelas palavras a emocionaram. Maggie esperara que ele fosse gentil, mas não
achara que ele realmente se importasse.

— Obrigada, Khalid.

Ele lhe apertou os dedos e ela sentiu um friozinho na barriga.

— Você tem razão. É melhor não estar sozinha. — Ela passara muito tempo hoje
pensando em velhas feridas, imaginando onde a mãe e a irmã estariam. Suas tentativas
de encontrá-las não tinham sido bem-sucedidas. Sempre sonhara em ter a mãe presente
no dia de seu casamento. E a irmã, Cassie, como madrinha.

Maggie forçou um sorriso.

— Estou ganhando uma nova família — murmurou ela. — E um recomeço.

KHALID VIU a determinação no olhar dela, a força de vontade, assim como as
sombras de dor. Enganchou-lhe um braço no seu, Puxando-a para mais perto.

— Você me honra, Maggie. Eu me certificarei de que nunca se arrependa disso.

Como era diferente aquele dia de casamento, essa noiva, comparado com seu
primeiro casamento.

Na época, houvera festividades por meses antes. Khalid experimentara excitação e
ansiedade. Um senso de aventura enquanto ele e a mulher que adorava embarcavam
numa nova vida, juntos.

Desta vez não havia corações envolvidos. Ele e Maggie estavam assumindo um
compromisso sensato pelo bem do filho deles.

Isso não o impedia de querer remover a dor de Maggie.

Ele pôs um dedo sob seu queixo e lhe ergueu o rosto. Os olhos de Maggie brilhavam
mais que as jóias que ela usava, e uma onda de desejo o percorreu. Estava ansioso pela
noite de núpcias. Ardia por ela há semanas.

— Confie em mim. Apenas relaxe e não se preocupe com nada.

— ENTÃO, ESPOSA, O que você acha de nossas celebrações de casamento em
Shajehar?

Maggie estava sentada ereta em sua poltrona quando a respiração de Khalid lhe
acariciou o rosto, enviando-lhe uma explosão de sensações pelo corpo. O jeito com que
ele falara "esposa" naquele tom baixinho fez seus mamilos se arrepiaram.

— Espetaculares — replicou ela. — Eu não esperava nada como isso.

Desde que eles tinham concordado com o casamento, Khalid mantivera distância.
Eles se encontravam somente na presença de outros. Até hoje, quando ele entrara no seu
quarto. Mas hoje tinha sido para lhe dar apoio, nada mais. Khalid só estivera preocupado
com seu bem-estar.

Para seu desespero, Maggie descobriu que a proximidade dele continuava
excitando-a. Ela o queria, de todas as maneiras que uma mulher queria um homem.
Todavia, prendera-se numa união que seria apenas no papel!

— Fico contente que você aprove — murmurou ele. Evitando a tentação de virar-se
para lhe encontrar os olhos, ela estudou a multidão. Nunca vira tanta gente num só lugar.
A enorme tenda, aberta dos lados, estava repleta de pessoas, e além da tenda principal,
mais pessoas estavam sentadas em tapetes, iluminadas por braseiros ornados. O cheiro
de carne e temperos preenchia o ar. Havia o som de música, risadas e conversas.


— Eles parecem não se importar com sua escolha de noiva — comentou ela. —
Todos são amigáveis. — Tinha sido um alívio encontrar alguns rostos familiares, como o
tio Hussein de Khalid, e a esposa, Zeinab, que pusera Maggie sob sua asa e começara a
lhe ensinar os costumes de Shajehar.

— E claro que eles aprovam. Não questionariam minha escolha — falou ele com
arrogância, então acrescentou: — As pessoas podem ver que você é uma mulher digna
do sheik delas. Você está linda esta noite, Maggie.

Agora, Maggie se virou para fitá-lo.

—Você não precisa dizer isso, Khalid. Eu não preciso ser bajulada.

— Bajulada? — Ele arqueou as sobrancelhas. — Você precisa aprender a acreditar
em mim, Maggie. Eu não minto.

Mas ele exagerava. Ela apreciava a gentileza. Khalid estava tentando tranquilizá-la e
aumentar sua autoconfiança.

Ele se inclinou para mais perto.

— Seus olhos são como estrelas. Sua boca é um convite doce. Seu pescoço é
delicado como...

— Khalid! Por favor! — Ela tentou impedir o deleite que aquelas palavras... E o olhar
ardente dele... Causaram-lhe. — Não faça isso!

— Não fazer o quê?

— Não fale essas coisas para mim. — Ela desviou o olhar.

— Como deseja. — Ele pausou, apenas falando novamente quando ela voltou a fitá-
lo. — Então, sobre o que devemos conversar?

O que dera em Khalid? Ele parecia zangado, de repente. Tudo que ela fizera tinha
sido pedir que ele parasse de fingir ser um amante apaixonado. Maggie sabia que aquilo
era urna farsa para o público, mas era algo muito perto de seus desejos secretos para ser
tolerável.

Ela pegou o copo de ouro à sua frente, deu um gole da bebida refrescante para
aliviar a garganta seca. Estava ciente dos olhos de Khalid observando-a, e se sentia
desajeitada e sem graça. Sua mão tremeu ao colocar o copo sobre a mesa.

— Quanto tempo dura a celebração? — Do nada, uma onda de cansaço a envolveu.
A cerimônia de casamento fora curta, mas as festividades tinham continuado o dia inteiro,
incluindo demonstrações de equitação, onde o próprio Khalid mostrara uma proeza que a
fizera se levantar para aplaudir.

— Alguns dias.

— Dias? Eu não acho que tenho energia para isso.

Os olhos escuros brilharam, mas o rosto era sério quando ele disse:

— Nós, de Shajehar, nos orgulhamos de nossa energia.

Ele estava falando sobre a habilidade de festejar por dias... Nada mais. De qualquer
forma, sob o olhar ardente, Maggie enrubesceu.

— É realmente esperado que festejemos por dias?

— Não. Nossos costumes mudaram. Durante os próximos dias, haverá diversas
festividades. A celebração desta noite continuará até muito mais tarde. Eu devo participar
da maior parte, mas se você estiver cansada, será aceitável que se recolha.

— Verdade? — Subitamente, a ideia de dormir era tentadora. Ela reprimiu um
bocejo.

— Venha. — Khalid se levantou alto e imponente em suas túnicas bordadas.

Quando Maggie o olhou, o silêncio reinou ao redor da tenda. Ele estendeu a mão, e
ela não teve escolha senão estender a sua.

Então Khalid a puxou da cadeira, e eles ficaram frente a frente. Ela fixou o olhar no
peito largo, em vez de encontrar aqueles olhos escuros que pareciam ver demais.

Khalid se virou e a conduziu para fora da plataforma erguida. Aplausos, risadas e
música preencheram o ar.


Maggie parou e o olhou com expressão interrogativa.

— O que está acontecendo?

— Eles estão me encorajando. — Os lábios dele se curvaram num sorriso. —
Aprovam o fato de que eu finalmente vou para cama com minha nova esposa.









































Capítulo Oito









KHALID A conduziu através dos jardins e para dentro do palácio.

Maggie ficou em silêncio. Sua boca estava seca, a respiração ofegante e a mente
girando. O toque da mão dele na sua, e a consciência da proximidade faziam isso.

E o fato de que aquela era sua noite de núpcias, e seu lindo marido a estava
conduzindo para a cama.

Tensão e excitação a envolviam. Não era para ser assim. Aquele deveria ser um
casamento de conveniência. Entretanto, agora, sentindo o olhar de Khalid acariciar sua
pele, Maggie reconheceu que queria mais.

Queria seu marido.

O coração disparou quando ela percebeu que estava numa parte desconhecida do
palácio.

— Onde estamos?

Khalid abriu portas duplas e gesticulou para que ela o precedesse. Cuidadosamente,
ela entrou numa grande antecâmara. Um incrível mural de um jardim cobria uma das
paredes.

— Nossos apartamentos. — A voz baixa e rica ao seu lado a fez tremer. — Estamos
no coração do palácio.

— Nossos apartamentos? — perguntou ela. — Mas eu tenho meus próprios
aposentos. Acabei de me mudar. — No dia que Maggie concordara em se casar com ele.

Khalid a impulsionou para frente.

— Isso foi antes do nosso casamento, Maggie. Não faria sentido vivermos em lados
separados do palácio. Agora, compartilharemos uma suíte.


A respiração dela ficou presa na garganta.

Eles passaram por uma sala de estar luxuosa, então por um salão menor e mais
íntimo, até chegarem a uma porta de madeira entalhada.

Então pararam, e Khalid lhe ergueu a mão para pressionar os lábios quentes em sua
pele, num beijo que fez os joelhos de Maggie fraquejarem.

— Você lidou maravilhosamente bem com as formalidades.

— Obrigada. — A voz de Maggie estava rouca, porque lhe faltava fôlego. O elogio
dele aqueceu seu coração.

— Eu não poderia ter feito isso sem sua tia. Zeinab me ajudou com os preparativos e
me deu aulas do idioma.

— Entretanto, foi você quem fez seu papel de maneira tão magnífica.

Fez seu papel.

Aquelas palavras a lembraram que era tudo uma farsa.

A realidade destruiu sua excitação, a antecipação correndo em seu sangue. Ela se
permitira ser capturada num mundo de faz de conta. Ele não a queria.

Naquele momento, Khalid soltou sua mão e deu um passo atrás. O coração de
Maggie se contraiu. A ação dele confirmava a verdade fria e pragmática sobre o
casamento deles. A verdade que ela secretamente desejava mudar.

Eles eram estranhos. Estranhos casados. Era com isso que ela havia concordado,
portanto não deveria doer tanto.

- ESTE É o seu quarto, Maggie. Espero que você fique confortável aqui.

As palavras de Khalid soavam forçadas para seus próprios ouvidos. Como um
mordomo mostrando hospitalidade a um estranho. Não um homem com sua nova esposa.
Mas somente escapando para a formalidade, ele tinha uma chance de manter alguma
distância.

Ora. Não era assim que imaginara sua noite de núpcias. Ele uniu as mãos atrás das
costas com tanta força que sentiu dor. Melhor do que vacilar em sua resolução. Se isso
acontecesse, provavelmente a tomaria ali, agora, contra a porta, com toda a ansiedade
acumulada por seis semanas.

Khalid tremia com a força de seu desejo por ela.

Estudou-lhe os olhos confusos, os lábios trêmulos, as sombras de fadiga e emoção
na pele clara.

Durante o dia inteiro, ele resistira à verdade, determinado que iria tê-la naquela
noite. Rejeitara as preocupações de Zeinab. É claro que Maggie estava nervosa... Que
noiva não estaria? Quanto a estar superexcitada... Não. Maggie era muito sensata para
isso. Nem mesmo os comentários do médico de que Maggie estava à beira da exaustão,
o tinham feito desistir de sua intenção de torná-la sua naquela noite.

— Você parece cansada, pequena. Precisa descansar. — Ele forçou as palavras.

Ele negara a verdade até que a conduzira para fora da tenda de casamento. Então,
estudara seu rosto, orgulhoso, tenso e exausto. Sentira-a tremer com cansaço e
nervosismo. Maggie tropeçara quando sua usual graça atlética a abandonara.

Somente um bruto demandaria intimidade agora. Ele esquecera como as
celebrações reais de casamento podiam ser exaustivas. Principalmente para uma
estrangeira nos primeiros estágios da gravidez.

O médico enfatizara a necessidade de descanso para proteger mãe e bebê. Khalid
teria de esperar. Por aquela noite, pelo menos.

— Toque o sino se você precisar de alguma coisa.

Olhos castanho-esverdeados enormes encontraram os seus.

— Você não ficará aqui? — A voz dela era trêmula. Mais prova de que ele estava
fazendo a coisa certa. — Não precisa... Ficar por um tempo? Quero dizer, não vai parecer
estranho se você retornar imediatamente?


— Não se preocupe Maggie. Eu não voltarei à festa já. — Algumas braçadas na
piscina fria talvez esfriassem a febre em seu sangue. — Vá direto para a cama e durma.
— Khalid pausou, impedindo-se de tocar a pele aveludada dela. - Durma bem, pequena.

Maggie entrou em seu novo quarto, mal notando o espaço arejado, a cama coberta
com um dossel, os móveis elegantes. Alguns passos a levaram para um divã largo. Ela se
sentou, abraçando os joelhos contra o peito, despreocupada com o tecido caríssimo do
vestido.

Por que estava tão triste? Soubera que aquele casamento era apenas pelo bebê.
Que ela e Khalid nunca seriam um casal de verdade. Todavia, a dor da rejeição a
devastava.

Subitamente, aquele casamento só no nome parecia uma sentença perpétua.

MAGGIE ACORDOU no fim da tarde, depois de ter adormecido perto do amanhecer.
Afastou a colcha bordada, então pausou. Ele estava ali? Esperando que ela acordasse?
Eles teriam deveres oficiais hoje, ou era esperado que ficassem lá, procurando pri-
vacidade como recém-casados normais?

Ela logo descobriu que a suíte estava vazia. Khalid não estava lá.

Ele escolhera deixá-la sozinha no dia seguinte do casamento deles. Apesar de todo
o luxo ao seu redor, ela fora abandonada como uma bagagem indesejada.

O AROMA de Maggie alcançou Khalid enquanto ele estava sentado à sua mesa. Óleo
de rosas. Não do tipo barato que os turistas compravam, mas a destilação sensual que
operava magia quando aquecida na pele quente de uma mulher. Nela, o cheiro era puro
erotismo.

Lentamente, ele levantou a cabeça. Um desejo o inundou, e cada parte de seu corpo
enrijeceu.

Ela estava parada à porta, usando uma abaya cor de bronze e verde. Contas
coloridas na túnica capturavam a luz conforme ela se movia. Sua boca secou quando
Maggie começou a andar na sua direção.

Não parecia mais cansada. Mesmo que um pouco nervosa, tinha ido lá para seduzi-
lo?

Khalid sorriu seu sexo pulsando.

— Olá, Maggie. — A antecipação o alegrava. Obviamente, sua esposa estava se
sentindo muito melhor. Bem o bastante para...

Ela parou diante da mesa, cruzando os braços, como se para esconder os seios.
Tarde demais. Eleja tinha visto os bicos deleitáveis pressionados contra a abaya de seda.
Eles se entreolharam.

— Olá, Khalid. — A voz de Maggie era fria. — Eu não o ouvi entrar.

— Eu acabei de voltar. Você está se sentindo bem? — perguntou ele. — Recuperou-
se de ontem?

— Sim, estou bem. Eu só estava cansada.

— Fico feliz em ouvir isso. — Ele gesticulou para uma cadeira. — Sente-se, por
favor.

— Não, obrigada. — Maggie olhou ao redor da sala. — Mas nós precisamos
conversar. Esta farsa do nosso casamento...

Khalid se sentou mais ereto.

— Não é uma farsa — interrompeu ele. — O casamento é válido, Maggie. Não há
como voltar atrás.

— Não foi isso que eu quis dizer. — Ela comprimiu os lábios, parecendo
embaraçada, mas o brilho dos olhos era desafiador.

— Nós precisamos discutir as regras básicas — murmurou ela.

— Regras?

— O que você espera. Como nossa relação deve funcionar no dia a dia. Nós nunca
falamos sobre isso. — Maggie pausou. — Como hoje. O que eu deveria fazer? Posso sair


sozinha? Eu não tinha certeza se você queria que eu continuassefingindo que nósestávamos aqui...Juntos. —Ela engoliu em seco, desviandoo olhar.—Mas então, vocême deixou aqui sozinha e eu presumi que não importa se as pessoas perceberem que
nossocasamento não é normal.

—Não é normal? —Era raiva que comprimia o estômago de Khalid?
—Geralmente, um noivo quer passar umtempo com sua esposa.—Não havia
engano no tom amargo na voz de Maggie.
Ela realmente acreditara que ele quiseraficar longe?

—Eu vim vê-la mais cedo, mas vocêainda estava dormindo. Acheimelhor não aacordar.
O fato de que ela dormira até tão tarde apenas confirmavaa fragilidade de Maggie, e
ele precisava cuidar dela. Após vê-la dormindo mais cedo, Khalid retornara às
celebrações do dia,mal contendo sua frustração enquanto recebia os parabéns de
muitos.

Havia acabado de retornar aos seus aposentos, e tentado trabalhar, acreditando queMaggie necessitava descansar o resto do dia para se recuperar. Aparentemente, estiveraerrado.

Ótimo. Jáesperara tempo demais.

—Se eu soubesse que você estava acordada, teria vindo mais cedo.
O BRILHOardente nos olhos deledesconcertou Maggie. Era como olhar para o rostode alguém que conhecia, e encontrar umestranho.

—Por que você veio me ver?
—Por que um homem quer vera noiva no dia seguinte do casamento deles? —A
voz de Khalidera como uma carícia, arrepiando-lhe os mamilos. Os lábios dele securvaram num sorriso que era quase desejoso. Maggie deu um passo atrás, subitamenteincerta.
—Não façajogos, por favor.
—Você queria falar sobre regras.—A vozde Khalid era ummurmúrio lento e rico.
—Eu concordo. Está mais do que nahora disso.—A intensidade do olhar dele deixouMaggie tensa e ofegante, enquanto o coração batia alto em seus ouvidos. Alguma coisatinha mudado. Ondas traiçoeiras espiralavamentre eles.
—Talvez pudéssemos resolver os detalhes amanhã. Está ficando tarde. —As
palavras de Maggie saíram apressadamente. Ela se sentia vulnerável naquela atmosferacarregada.
—Não há necessidade de esperar até amanhã —murmurou ele.
Num movimento flexível, Khalid se levantou. A sala espaçosa pareceu encolher. Outalvez fosseporque ocoração dela batia tão descompassado que era difícil respirar.

—Não há?—Maggie o observou rodeara mesa, cada movimento lento e resoluto.
Ela sepegou virando, de modo que ficasse de costas para a mesa, e Khalid seposicionasse entre elae a porta.Tremores de choque vibravam através de seu corpo. Emais alguma coisa. Uma pequena onda de excitação. Ela devia estar louca!
—Não —disse ele, a voz rouca e profunda.—Iremos resolver isso esta noite.
Os OLHOSde Maggie eram ummisto de dourado e esmeralda na luz do abajur.
Khalid nunca vira olhos como aqueles.O peito dela se movimentava coma respiração, osseios pressionando o tecido, como um convite. Os lábios dela se entreabriram.

O corpo dele estava tenso ao ponto da dor, enquanto ele prolongava o suspense pormais ummomento. Nunca tinha pressaem receber seu prazer.

E Maggie seria puro prazer.

Essa noitehaviaumfogo nela, uma energia vibrante que aumentava ainda mais oseu desejo. Oardor nos olhos, a postura orgulhosa,o corpo sexy... Eratudo tão
magnífico.


Ele vira sua coragem tanto no ringue dos cavalos quanto na noite em que a
conhecera, e Maggie desafiara a própria fraqueza física. O estoicismo, a honestidade e o
bom-humor o tinham agradado de imediato. Assim como a maneira com que ela suportara
uma infância infeliz, e emergira forte, entretanto, ainda vulnerável e feminina.

— Só existe uma regra entre nós, Maggie. Eu sou seu marido e você é minha
esposa. — Estranho como aquelas palavras eram satisfatórias em seus lábios.

Ele se aproximou, encostando-a contra a mesa, de modo que ela não tivesse para
onde ir. Os olhos de Maggie pareciam assustados, mas o queixo estava erguido. Ela
estaria lutando contra a força do desejo tão poderoso entre eles?

— Verdade? — Maggie estava ofegante. Ele gostava disso. O som o lembrava dos
gemidos de prazer que ela emitira na primeira vez que ele a preenchera.

— Sim. Eu a tratarei como um homem trata sua esposa. Khalid abaixou a cabeça,
compelido a prová-la novamente.

Ela ficou tensa quando os lábios dele roçaram-lhe o pescoço. A pele ali era como
veludo cheirando a rosas. Incrivelmente macia, deliciosa.

Duas palmas delicadas empurraram seu peito largo. Ele mordiscou o pescoço dela,
e as mãos de Maggie afrouxaram. Khalid sorriu antes de subir uma trilha de beijos até o
lóbulo da pequena orelha.

— Khalid! O que você está fazendo?

— Você não gosta? — Ele pausou, erguendo a boca. Ela balançou na sua direção,
num protesto silencioso contra sua retirada. O corpo de Maggie sabia o que queria,
mesmo se ela não soubesse.

— Mas isso é certamente o que uma noiva espera de seu marido — murmurou
Khalid, beijando-lhe o canto da boca, e puxando-a para mais perto quando ela gemeu.

Ele lhe cobriu a boca com a sua. O gosto doce de Maggie, a intimidade daquele
beijo ardente, as curvas delgadas pressionadas contra si... Enviaram ondas de calor pelo
seu corpo.

Precisava ir mais devagar.

Deslizou as mãos ao redor da cintura dela, então a levantou sobre a mesa. Como
desconfiava, e para seu deleite, Maggie não estava usando sutiã, e ele segurou os seus
seios perfeitos. O gemido dela vibrou dentro de sua boca quando ele os apertou.

Khalid se afastou apenas o bastante para murmurar contra os lábios dela:

— Sensíveis?

Sem palavras, Maggie assentiu, antes de inclinar a cabeça para trás, expondo o
pescoço elegante. Ele deslizou a língua pela extensão, sentindo gosto de almíscar. Ondas
de prazer o percorreram enquanto ele lhe acariciava os seios através do tecido fino.

Khalid se ajoelhou e tomou um dos seios na boca. A seda não era barreira para o
prazer, tornando-se uma segunda pele enquanto ele lambia e provocava, e Maggie se
contorcia em seus braços, o corpo inteiro tenso com êxtase.

Ela era tão responsiva, tão sensual. Ele a queria agora, e ao mesmo tempo, queria
prolongar o prazer para ambos.

Envolvendo um braço ao redor do corpo delgado, puxou-a contra si. Transferiu as
carícias para o outro seio, mordiscando-o de levinho.

Ela tremeu em seus braços.

— Khalid, por favor. — Era quase um gemido rouco.

— Psiu. — Ele endireitou o corpo, deslizando as mãos pelo tecido que lhe cobria as
coxas.

— Nós não podemos! — Ela balançou a cabeça, os olhos ainda fechados.

Khalid alcançou a bainha da túnica de Maggie.

— É claro que podemos. — Ele ergueu a saia dela para o topo das coxas. As pernas
suaves tremiam sob suas palmas. Seu desejo era urgente. — Você é minha esposa. —


Enganchou os dedos na lateral da calcinha branca de renda e puxou, até que ela
erguesse um quadril de cada vez, de modo que ele pudesse remover a peça íntima.

— Você está carregando meu filho. — Os dedos másculos a provocaram entre as
coxas delgadas, encontrando-a úmida e ávida. Era isso que Khalid queria o prazer físico
que ela lhe dera semanas atrás, então lhe negara por todo esse tempo.

Segurando-lhe as costas com uma das mãos, ele a escorregou para a ponta da
mesa, as pernas dela se abrindo quando Khalid se insinuou entre elas. Maggie estava
exatamente onde ele a queria.

Ele a olhou enquanto abria a própria calça. Os olhos de Maggie estavam fechados,
os lábios entreabertos, a abaya tinha as marcas de sua boca, um dos mamilos cercado
por uma auréola de seda molhada aderida ao seio. Ela estava gloriosa, excitada, pronta.

Seus dedos tocaram a entrada feminina, sentindo o calor úmido do prazer dela.

Dessa vez, não haveria necessidade de proteção, nenhuma barreira, uma vez que
sua semente já estava plantada seguramente dentro de Maggie. O conhecimento era
prazeroso. E excitante. Uma sensação de posse o envolveu. Tão forte que seus joelhos
tremeram.

— Abra os olhos, Maggie.

A luz verde-esmeralda naqueles olhos dourados o fascinou. Ela lhe apertou os
ombros com força, como se temesse deixá-lo livre.

Parecia confusa pela força da paixão deles, mas era evidente que ela também
estava inundada por um desejo urgente.

Khalid se posicionou contra ela e deslizou as mãos entre suas pernas. Ela uniu as
sobrancelhas, e ele, tardiamente, lembrou que aquilo tudo era novo para Maggie.

— Levante suas pernas. — Foi um comando rouco, mal audível. A boca de Khalid
secou quando ela o circulou. Sonhara tanto com aquele doce êxtase.

Ele lhe segurou os quadris, ancorando-a enquanto começava a penetrá-la. Girou um
pouco os quadris, observando as expressões de deleite no rosto dela. As unhas de
Maggie se enterravam em seus ombros, e a respiração era audível agora, um ofego raso
que combinava com o ritmo da pulsação dele.

O corpo de Khalid estava em chamas. Ele nunca alcançara um pico de desejo tão
rapidamente antes. Cora desespero, agarrou-se aos remanescentes de seu controle. Mas
não adiantou. Haveria tempo para atos de amor longos e preguiçosos mais tarde,
assegurou a si mesmo. No momento, sentia-se prestes a explodir.

Fechou os olhos, enquanto começava os movimentos, esperando durar mais alguns
momentos se não pudesse vê-la, tão aberta, pronta e generosa. Mas no escuro, todos os
seus sentidos se aguçaram... O cheiro de almíscar feminino e rosas de Maggie, o gosto
dela em sua boca, os sons dos gemidos de prazer.

Ele acelerou o ritmo das investidas. Sentiu-a apertá-lo ao seu redor, enquanto os
dedos em seus ombros se enterravam mais em sua pele.

Khalid abriu os olhos quando a escuridão começou a explodir. Prendeu-lhe os olhos
com os seus, observando o rubor de excitação sexual pintar-lhe o rosto e o pescoço.

Seu ritmo era firme agora, suave e profundo, até que ela emitiu um grito, os
músculos se convulsionando, e as mãos delicadas o puxando para mais perto com
desespero.

Khalid roçou o rosto nos cabelos sedosos dela, abraçando-a com força, antes de
enrijecer o corpo e liberar o próprio prazer.

Quando acabou, ele sorriu com fraqueza.

Seu casamento de conveniência tinha um grande beneficio. O sexo com sua nova
esposa era fenomenal.

Com determinação, ele reprimiu uma desconfortável sensação subconsciente... Uma
sensação de que era mais do que simples liberação física que os fizera atingir aquele
clímax tão poderoso, juntos.


O que mais poderia haver?









































Capítulo Nove











KHALID REMOVEU a abaya de Maggie num único movimento flexível, então a
carregou para sua cama.

Não se incomodou com as luzes, uma vez que a lua iluminava o quarto num brilho
pálido. Logo ela estava deitada diante dele, nua e gloriosamente excitante. As pernas
longas e curvas gentis eram pura tentação.

Seu desejo cresceu novamente. Ele franziu o cenho. Seu clímax tinha sido uma
catarse tão poderosa que deveria tê-lo saciado. Todavia, a visão do incrível corpo de
Maggie nu o deixava pronto para mais.

Sua ânsia por ela era muito profunda. Se ele parasse para considerar as
implicações, sabia que não gostaria delas. Havia feito um casamento de conveniência,
não um que mexesse com sua alma.

Ela estendeu a mão para os lençóis, como se para se cobrir.

— Não! — A voz de Khalid foi ríspida. Ele a viu congelar, os olhos arregalados e
luminosos. Deixe assim.

Maggie ofegou. Fascinado, ele observou o movimento de sobe e desce dos seios, os
mamilos rijos. Suas mãos coçavam para possuí-los.

Sem palavras, ele acabou de se despir. Então subiu na cama. Rapidamente, ela se
virou de lado, frustrando-lhe a intenção de cobrir-lhe o corpo com o seu. Khalid a queria
de novo, mas controlou sua impaciência. Afinal, ela não ainda tinha muita experiência na
arte dos prazeres físicos, e talvez estivesse dolorida.

Ele se apoiou sobre um cotovelo, e passou a coxa sobre as pernas irrequietas de
Maggie. Imediatamente, ela ficou imóvel.


Ela precisava de tempo. Tudo bem. Khalid lhe permitiria isso. Mas não tinha intenção
de deixá-la se esconder dele. Tocou-lhe a lateral do pescoço, e foi recompensado com a
pulsação acelerada contra sua palma.

— Você não precisa fazer isso. — A voz de Maggie era quase inaudível.

— Fazer o quê? — perguntou ele, virando-a sobre as costas, então descendo os
dedos preguiçosamente em direção ao peito dela.

A mão de Maggie se fechou sobre a sua, parando o movimento.

— Tocar-me assim. Eu não fui procurá-lo para sexo.

— Mas foi bom, não foi? — Khalid virou a mão e segurou a dela, impedindo-a de
quebrar o contato. E quando ele a olhou, ela virou o rosto, a boca comprimida numa linha
fina.

Ela era orgulhosa. Todavia, era vulnerável e insegura, também. Isso a tornava
irascível. Maggie tivera até mesmo a audácia de rejeitar alguns presentes que ele
planejara lhe dar durante o noivado, dizendo que eram muito opulentos, muito caros para
ela.

Quase todas as mulheres que ele conhecera tinham ficado fascinadas pela riqueza
de sua família. Khalid esquecera que algumas valorizavam coisas além do dinheiro.

Shahina também fora uma delas. Apesar de ter nascido numa família próspera, não
era luxo que a fazia sorrir, mas sim as coisas que o dinheiro não podia comprar...
Amizade, alegria compartilhada, um pôr do sol na montanha, o sorriso de uma criança.

Khalid franziu o cenho. Apesar de suas origens diferentes, Maggie e Shahina tinham
muito em comum. O espírito invencível, por exemplo. Shahina vivera com uma doença
grave, não permitindo que esta a abatesse até o final. Maggie triunfara sobre uma infância
que, pelo pouco que ele descobrira, havia beirado à crueldade e negligência. Todavia, ela
enfrentava o mundo com coragem única.

Estranhamente, a comparação não lhe causou culpa; ele não sentiu que estava
traindo Shahina com esse novo casamento. Em vez disso, experimentou satisfação.
Contentamento.

Sim. Tinha feito à coisa certa. Casar-se com Maggie, criar o bebê deles juntos, era o
melhor para todos.

Khalid liberou a mão e a deslizou para os seios dela. Instantaneamente, seu membro
enrijeceu, e seus dedos se apertaram de modo possessivo.

— Eu mandarei que seus pertences sejam trazidos para cá amanhã.

Não fazia muito sentido que Maggie usasse o quarto ao lado, mesmo havendo uma
porta de conexão. Eles não estavam apaixonados, então parecera sensato dar um pouco
de espaço para ambos. Mas agora que ela estava ali, aquecendo sua pele, Khalid
percebeu surpreso, que não desejava distância. Não podia ter o bastante dela.

Ele ergueu a perna sobre as coxas dela, até que alcançasse o calor do lugar mais
feminino. Maggie se moveu, enviando-lhe uma onda poderosa de excitação.

— Não! — O grito dela o assustou.

Maggie lhe empurrou a mão de seu seio com força.

— Não há necessidade de fingir comigo, Khalid. Por favor.

— Do que você está falando?

— Eu gostei de fazer amor com você. Foi... Muito agradável. Mas agora que o
casamento está consumado, legalizado, você não precisa... — Ela parou e mordeu o
lábio. — Pode mover-se, por favor? Eu gostaria de me levantar.

— Não tão rápido. — Khalid não podia acreditar no que estava ouvindo. Muito
agradável! Seu ato de amor tinha sido muito agradável! A seguir, ela lhe daria uma nota
de um a dez!

Ele pressionou mais a perna, de modo que ela não pudesse escapar. Após alguns
momentos, Maggie ficou imóvel, mas não encontrou seus olhos.


— Você acha que o que acabou de acontecer, o sexo que nós compartilhamos, foi
uma formalidade legal? — Ele não podia acreditar naquilo. Ela não sentira a perfeição do
ato de amor deles?

— Khalid, por favor...

— Não! Não me agrada libertá-la. — Khalid não pôde evitar a raiva na voz. Raiva de
si mesmo por ter se contido com ela mais cedo? Ou com Maggie por ela ser tão cega?

Culpa o assolou. Ele não gastara tempo para seduzi-la naquela noite. Simplesmente
a tomara, como um predador determinado a capturar sua presa. Assumindo que ela
quisesse aquilo, também.

— O que aconteceu entre nós não tem nada a ver com lei, Maggie.

— Não minta Khalid. — Ela virou a cabeça e ele viu o brilho nos olhos castanho-
esverdeados. — Tem tudo a ver com isso. Eu sei que você não me quer. Não realmente.
Daquela primeira vez, você só ficou comigo porque eu lhe supliquei. Não desejou me ver
novamente.

Khalid meneou a cabeça. Soubera que Maggie escondia cicatrizes emocionais. Vira
a evidência disso naquela primeira noite. Mas não tivera ideia de como elas eram
profundas.

— Eu estava lá! Lembra? — A voz de Maggie era mais alta, repleta de emoção. —
Vi a pena em seus olhos, a relutância. — Ela pôs as duas mãos sobre a perna que a
aprisionava e tentou empurrá-lo. — Bem, não precisamos mais fingir. Não há ninguém
aqui, exceto nós dois.

— Acha que nós fizemos sexo porque eu senti pena de você? E então para legitimar
nosso casamento? — Ele ainda não podia acreditar que ela falava sério. Entretanto, a
evidência estava no rosto de Maggie, e nas tentativas frenéticas de se libertar.

— Realmente acha que precisávamos consumar o casamento para torná-lo legal,
quando você está grávida do meu bebê?

— Eu... Não sei. — Ela parecia confusa.

— Quanto a não querer vê-la de novo... Foi você quem me abandonou, lembra? —
Aquilo ainda doía. — Quando eu soube da morte de Faruq, precisei vir embora
imediatamente. Do contrário, você não teria escapado tão facilmente. Do jeito que
aconteceu, eu precisei esperar semanas até que você chegasse a Shajehar.

— Esperar? Você não estava esperando.

— Quem você acha que insistiu que viesse aqui para trabalhar, Maggie? — Ele
abaixou o tom de voz. — Nós tínhamos assuntos inacabados.

— Não! — Foi apenas um sussurro.

Khalid lhe segurou o rosto na mão e o virou para que ela o encarasse. Pálpebras
baixas velavam os olhos de Maggie, mas ela estava observando.

— Não? Então como você explica isso? — Ele se aproximou, pressionando seu
membro viril contra ela.

Ela arregalou os olhos, antes de desviá-los.

— Eu presumi... Achei que você devia estar pensando em outra pessoa enquanto
fazíamos sexo.

Se aquilo não fosse tão trágico, seria risível. Mas no momento, o que Khalid sentia
era vontade de quebrar alguma coisa.

— Acredite Maggie, eu não estava pensando em ninguém, exceto em você. Apenas
hesitei daquela primeira vez porque não queria me aproveitar de seu estado vulnerável,
quando tinha sofrido algum trauma.

— Oh?

— Acredite ou não, eu tenho escrúpulos sobre quem levo para cama. Mulheres
magoadas que não podem raciocinar com clareza não estão na minha lista. — Ele nunca
fora capaz de se livrar dessa dúvida, especialmente quando ela fugira.


— Eu dormi com você porque a desejei, Maggie. Eu ainda a desejo. — Ele pegou
sua mão e a levou à sua ereção. A sensação daqueles dedos delgados se fechando ao
seu redor era um doce tormento. — Uma coisa que precisa aprender esposa, é confiar na
minha palavra. Eu já lhe disse que não minto. Nunca.



A REALIDADE chocante da excitação dele impediu Maggie de raciocinar com clareza.
A sensação de pele aveludada cobrindo aço sob sua palma era muito erótica. Tremendo,
ela recolheu a mão.

— Mas eu... — Eu o quê? Sou muito desajeitada e muito pouco feminina para ser
desejável? Indigna de amor? Maggie mordeu o lábio, a cabeça girando.

— Mas nada. Você é minha esposa e eu a quero. Estes são os fatos. — Khalid a
olhou, a respiração quente no rosto dela. — Você me quer Maggie?

Ela arfou. Como ele podia ter dúvida? Ela não acabara de se derreter em seus
braços, mesmo acreditando que Khalid não a queria? O desejo ávido sufocara até mesmo
seu orgulho.

— Eu... Quero você, Khalid. Saiba disso. — Não lhe restava orgulho agora. Nada
para protegê-la.

Mas então, ele abaixou a cabeça e lhe deu o beijo mais terno imaginável. Maggie
suspirou, rendendo-se.

— Eu quero você, Maggie. Eu desejo você. — Khalid beijou o canto da sua boca, o
rosto, o queixo. — Você é sexy e linda — acrescentou, lambendo-lhe pescoço e ombro.
— E todos os homens no nosso casamento ficaram com inveja de minha boa fortuna,
ontem.

As palavras foram faladas entre beijos no seu pescoço. Maggie se arqueou contra
ele, deleitando-se nas sensações que Khalid criava tanto em seu corpo como em sua
mente.

As palavras não pararam. Elas fluíam enquanto ele acariciava seu corpo e a
enlouquecia de prazer.

— Khalid! Por favor, eu...

— Sim, Maggie. Não se contenha. — A voz era abafada contra sua pele, enquanto
ele descia a boca para sua virilha.

A pressão dos lábios ali, a pulsação da língua entre suas coxas, levou-a a um clímax
indescritível.

Quando sua mente voltou para o corpo, ondas de deleite a fizeram estremecer.

— Eu adoro vê-la atingindo o clímax — murmurou ele contra seu umbigo, a língua
circulando a área e renovando o desejo de Maggie. — Você é tão linda. Eu quero assisti-
la novamente. — Khalid levou uma das mãos para seus cachos úmidos.

— Não! Por favor, Khalid. — Por mais desesperada que estivesse pelo toque dele,
ela precisava de mais. Ansiava por ele.

Ele a olhou com intensidade, esperando.

— Eu quero você, Khalid.

— E eu quero você, Maggie, minha linda esposa.

Ele se posicionou entre suas pernas, apoiando-se sobre os braços fortes. O ar
estava elétrico com antecipação enquanto o calor de Khalid a cercava.

A ereção viril roçando suas dobras escorregadias foi o paraíso. Até mesmo o roçar
dos pelos das pernas de Khalid no interior de suas coxas a excitava.

— Eu preciso de você, Maggie. Agora.

Ela lhe fitou os olhos brilhantes e soube que o queria mais do que qualquer coisa. O
que sentia por seu marido era mais forte que orgulho, mais potente que dúvidas, ou que
qualquer coisa que acontecera antes.

— Sim — sussurrou ela.


Um segundo depois, ele a tomou, num ritmo acelerado e urgente que a deixou sem
fôlego. Mas Maggie não se importava.

Ele a queria, a desejava. Assim como ela o desejava com cada partícula de seu ser.

A conexão entre eles era tão forte. Mesmo quando o clímax a abalou, Khalid a
prendeu com seu olhar, e quando o mundo explodiu ao seu redor, ela não estava sozinha.
Ele estava lá, também.

Juntos, sem palavras, eles tremeram e gemeram em suas liberações. E o elo ainda
não tinha sido quebrado entre os dois.

Finalmente, quando os tremores diminuíram e as respirações se acalmaram, Khalid
a aninhou contra seu peito, onde Maggie podia ouvir as batidas aceleradas do coração
dele.

— Nunca duvide que eu a desejo, Maggie.

Ele lhe acariciou os cabelos, e ela fechou os olhos. Então Maggie adormeceu com
uma sensação de bem-estar como jamais experimentara em toda sua vida.

QUANDO MAGGIE acordou, o sol estava alto. Seus lábios de curvaram num sorriso
secreto quando ela se recordou do prazer, da intimidade, do carinho que compartilhara
com Khalid na noite anterior.

Seu marido lhe dera um presente tão precioso. Não apenas o prazer físico do corpo
poderoso, embora esse tivesse sido magnífico. Mais que isso, Khalid lera sua alma. De
alguma forma, parecera entender a insegurança da garota que tinha crescido sem
modelos femininos, cujas tentativas para despertar sua feminilidade haviam sido
esmagadas por um pai desaprovador, que a tratara como o filho homem que ele queria.
Uma garota que só conseguira ganhar aceitação reprimindo sua feminilidade num reino
masculino.

No entanto, Khalid a considerava desejável, a queria.

Ela estivera resignada a um casamento apenas no papel, pelo bem do filho deles.
Nunca esperara o tipo de carinho que ele lhe mostrara na noite anterior.

Certamente, ele a desejava. Apenas esse fato já era milagroso. Mais que isso,
Khalid se empenhara em convencê-la, de modo completo e inequívoco, que a achava
linda. Ele a fizera se sentir mulher, preciosa e apreciada.

Ela suspirou satisfeita ao se recordar da infinita paciência e cuidado de Khalid na
noite anterior.

Havia desejo, respeito, carinho. Seria possível que um dia, talvez, pudesse existir
ainda mais?

Instantaneamente, ela reprimiu a ideia. Ficaria contente com sua nova vida ali. Não
perseguiria o paraíso na terra.

- UMA SURPRESA? Para mim? - Maggie olhou dentro dos olhos escuros de Khalid, e
esperou que ele não pudesse ler suas emoções.

Após o ato de amor da noite anterior, ela se sentia estranhamente vulnerável, como
se ao abrir o corpo para o novo marido, tinha também lhe permitido entrar em sua mente
e em seu coração. Nunca antes confiara em alguém o bastante para isso.

- Sim, uma surpresa. Venha. - Ele a conduziu para fora do pavilhão e através do
palácio.

Essa manhã, Khalid usava a túnica tradicional, e um lenço liso e elegante,
enfatizando o corpo poderoso. Maggie lutou para manter os olhos no caminho e não o
observa-lo avidamente.

Eles contornaram um jardim florido e entraram num pátio familiar. O cheiro de cavalo
e feno preencheu o ar, e Maggie franziu o cenho. Pensara que Khalid preferisse que ela
não visitasse os estábulos, agora que eles estavam casados.

— Aqui. — Ele gesticulou para uma construção que ela nunca entrara. Um lugar
menor, porém não menos luxuoso que os estábulos onde tinha trabalhado.


Khalid cumprimentou um ajudante de estábulo e liderou o caminho para uma baia
espaçosa. Maggie olhou para dentro e encontrou um par de enormes olhos escuros
encarando-a de volta. A égua árabe era linda e vivaz. Maggie estendeu a mão e o animal
se aproximou. Ela automaticamente acariciou o pelo branco do cavalo.

— Ela é dócil — murmurou Maggie. — Posso entrar?

— É claro.

— Ela foi criada aqui? — perguntou ela enquanto acariciava a égua. — É realmente
muito bonita.

— Não, ela estava nas montanhas. Foi trazida para cá há poucos dias.

— Você deve estar muito orgulhoso dela.

— Você aprova, então?

— O que há para não aprovar? — A égua era um sonho, e dócil. Maggie desejou
que pudesse treiná-la. — Você tem um bom olho para escolher cavalos.

— Fico contente que você pensa assim. — A voz de Khalid era como uma carícia. —
Ela é sua.

— Perdão? — Maggie se virou para fitá-lo, atônita.

— Afraa é sua. Meu presente de casamento para você.

— Minha? — Maggie não podia acreditar. Ele estava lhe dando uma égua? Aquele
cavalo perfeito era seu?

Ele assentiu.

— Sim, sua.

Maggie estava perplexa. Aquele era um presente precioso demais. Ela não tinha
palavras para agradecer. A égua gentilmente a cutucou com a cabeça, e Maggie deu um
passo atrás, em direção à parede, atordoada pela generosidade de Khalid e pelo modo
com que seu coração se alegrou com o gesto.

— Maggie? — A voz dele era preocupada. — O que houve?

Ela meneou a cabeça, mordendo o lábio para conter a emoção. Nunca tinha
recebido um presente antes. Seu pai considerara aniversário e Natal dias de trabalho
comum na fazenda. Talvez ela tivesse ganhado presentes quando era menor, mas não
podia se recordar de nenhum.

Não contaria isso a Khalid. Parecia tão patético.

— Não houve nada — respondeu ela. — Obrigada, Khalid. Ela é maravilhosa.

Maggie queria atirar os braços ao redor dele e beijá-lo, mostrar o quanto tamanha
generosidade significava para ela. Mas uma vida inteira de contenção a fez hesitar.

— Afraa, você disse?

Khalid assentiu, olhando-a fixamente.

— Chama-se assim por causa do pelo branco.

— É um lindo nome — murmurou ela, o coração repleto de alegria. — Um cavalo
adorável. Obrigada.

— Nós teremos de consultar seu médico sobre cavalgar enquanto você está grávida,
mas mesmo que você tenha de esperar até depois que o bebê nascer, Afraa estará aqui,
esperando-a. — Ele pausou. — Sei que é difícil para você, Maggie, desistir de seu
trabalho, de seu país. Adaptar-se a uma vida nova. Eu quero que seja feliz aqui.

Maggie esfregou a mão no pelo sedoso de Afraa, a emoção fechando sua garganta.
Ele realmente se importava. Ela estava encantada com o pensamento de que Afraa era
sua. Nenhum presente poderia ter significado mais.

— Sinto muito por não ter um presente para você — disse ela, lamentando que
aquilo nem lhe ocorrera.

Khalid estendeu a mão. Quando ela posicionou a palma ali, ele a puxou para mais
perto. Maggie respondeu instantaneamente ao calor do corpo másculo.


— Não há necessidade de um presente. — Ele usou a outra mão para lhe acariciar a
barriga num gesto possessivo. — Você está carregando meu filho. O que mais eu poderia
querer de você?

Maggie congelou. Não tinha espaço para equívoco ou mal-entendido naquelas
palavras. Khalid deixara claro que não havia mais nada que ela poderia dar ao marido.
Nada que ele quisesse dela. Exceto sexo, é claro.

Tudo que importava para ele era o bebê.

Foi como sair do sol de verão para dentro de uma caverna glacial. Do brilho para a
escuridão. Um nó dolorido se formou em seu estômago.

Ela disse a si mesma que aquilo não importava. O casamento era pelo bebê. Se o
sexo entre eles parecia apaixonado e carinhoso, isso era um bônus. Era mais do que
Maggie esperara da união deles.

Então por que doía tanto ser lembrada de que o casamento deles era apenas
pragmático e conveniente?

































Capítulo Dez









— CONTE-ME SOBRE a escola onde você estudou Maggie. Khalid a viu erguer os
olhos da página que ela estava lendo.

— Perdão?

— Sua escola. Quero que você me conte sobre isso.

Ele fracassara, durante a noite inteira, em se concentrar nos novos planos para a
educação em seu país. Sua mente continuava indo para a mulher do outro lado da sala
de estar, e para a mudança nela desde que Maggie aceitara seu presente.

A égua tinha sido um presente de casamento perfeito, ou assim ele pensara. Os
olhos de Maggie haviam brilhado com encantamento, o rosto se aberto num sorriso raro.
O impacto quase lhe tirara o fôlego.

Então, inexplicavelmente, a luz interna de Maggie se extinguira.

Perturbava-o não saber por quê. Num minuto, ela estivera radiante, no instante
seguinte, fechara-se para ele. E continuava fechada.

— Por que você quer saber sobre minha escola? — Os olhos desconfiados dela
estavam dourados na luz do abajur.


Khalid se levantou da mesa, alongando-se. Reprimiu um sorriso satisfeito quando a
pegou dando-lhe um olhar furtivo. Aquela era uma área onde ele e Maggie se
conectavam... Na paixão física.

A resposta dela aos seus toques... Um misto de inocência e abandono erótico... Era
viciante.

Khalid queria amá-la ali no sofá, agora. Fazê-la ganhar vida em seus braços. Seu
corpo pulsava de desejo.

Todavia, não era o corpo de Maggie que precisava ganhar agora, e sim a mente
dela.

Atravessou para o sofá e se sentou ao seu lado. Perto o bastante para ouvir a
respiração dela acelerando.

— Você foi educada no campo, não foi? — Khalid sorriu. — Eu estou trabalhando
num projeto para educar crianças em áreas isoladas. Estou interessado em ouvir sobre o
sistema onde você cresceu.

Maggie fechou a revista sobre cavalos.

— Era apenas uma pequena escola rural.

— Quão pequena? Eu tenho opções para construir escolas e para professores
viajarem de lugar em lugar, indo até os alunos.

Ele viu um brilho de interesse nos olhos dela e se parabenizou por ter escolhido o
tópico certo. Se conseguisse fazê-la falar, relaxar encontraria um jeito de quebrar-lhe a
reserva.

— Eu nunca ouvi falar sobre professores que viajam — disse ela. — Em áreas muito
isoladas, eles têm escolas à longa distância, onde os alunos falam com os professores
pelo rádio e usam a internet.

Khalid assentiu.

— Essa pode ser uma opção quando eles tiverem cobertura apropriada de internet
para o país inteiro. — Ele pausou. — Como era sua escola?

Ele genuinamente queria saber. Sua curiosidade sobre Maggie crescia a cada dia.
Pela primeira vez em anos, queria conhecer melhor uma mulher. Entendê-la. A percepção
o intrigou.

— Pequena, uma única sala de aula. Um único professor ensinava todas as
matérias, até que os alunos saíssem para o Ensino Médio.

— E funcionava?

— Era maravilhoso. — Um entusiasmo iluminou o rosto dela.

— Ah, suponho que você só tirava A. Maggie balançou a cabeça.

— Infelizmente, não.

— Você me surpreende. — Khalid já descobrira que Maggie era inteligente e ávida
para aprender. A rapidez com que ela estava aprendendo o novo idioma o impressionava.

Ela deu de ombros.

— Era uma longa caminhada até a escola, e às vezes, eu era necessária na
fazenda.

— Seu pai a mantinha em casa para trabalhar? — perguntou ele. — Eu pensei que
escola fosse compulsória na Austrália.

— É. — Ela deu um sorriso triste. — Meu pai se certificava que eu frequentasse a
escola o suficiente para que as autoridades não tivessem uma desculpa para intervir.

— Eles devem ter pensado que você fugia do colégio por escolha. O que é comum
entre adolescentes.

— Oh, isso começou muito antes da adolescência — murmurou ela em tom sofrido.
— Começou quando eu tinha OITO anos.

Só OITO anos! A fúria ferveu no sangue de Khalid com o pensamento de que não
houvera ninguém para apoiá-la, quando Maggie era tão jovem e vulnerável.

— Seu pai deveria estar cuidando de você — comentou ele, ultrajado.


Ela deu de ombros.

— Meu pai achava que meu dever era para com ele e para com a fazenda. Nunca
entendeu que eu queria fazer outra coisa.

— Como estudar para ser veterinária? — Ele se lembrou de Maggie dizendo isso
quando eles tinham discutido a mudança dela para Shajehar.

Ela assentiu.

— Não teria dado certo, de qualquer maneira. Eu não tinha tempo para estudar.
Nem dinheiro para pagar uma faculdade.

— Você tem, agora — murmurou Khalid, pegando-lhe a mão num gesto para
confortá-la. Estranho como a sensação daqueles dedos delgados nos seus lhe causava
contentamento. Alguma coisa sobre Maggie o fazia se sentir... Mais completo do que em
muito tempo.

Ela encontrou seus olhos e um tremor o percorreu. O que era aquela conexão que
sentia com Maggie? Era mais do que física. Khalid se enervava pela força inexplicável
dessa conexão. Mas estava lá, real e inegável.

— Você estava falando sério? Eu realmente poderia estudar aqui? — A empolgação
deu vida à voz dela. Pensei que, como sua esposa, eu não poderia ter uma carreira.

— Você não poderia trabalhar em período integral — replicou ele. — Ainda teria os
deveres oficiais. — E, com o tempo, mais filhos. — Mas não vejo por que você não
poderia estudar para ser veterinária, se é isso que realmente quer.

— Khalid. — Os olhos de Maggie reluziam. — Isso é maravilhoso. Obrigada. — Ela
fechou a outra mão sobre a dele, envolvendo-o em seu calor. — O peito de Khalid se
inchou com a visão do sorriso e óbvia felicidade de Maggie.

Tanto prazer diante de uma coisa tão simples. Maggie era uma mulher única. Não
era de admirar que ele passara a... Gostar dela. Ergueu a mão para acariciar o rosto
bonito.

— Eu quero fazê-la feliz, pequena. Você merece felicidade. — Ele pausou, ainda
pensando na revelação que ela lhe fizera.

— Talvez seu pai não devesse ter criado você depois que sua mãe morreu. Não
havia outros parentes para recolhê-la em suas famílias?

O sorriso desapareceu do rosto dela.

— Minha mãe não morreu. Pelo menos, não que eu saiba. Khalid lhe tocou o rosto
novamente, e a sentiu tremer quando ela respirou fundo. Censurou-se por não ter
perguntado antes, por ter tirado conclusões precipitadas.

— O que aconteceu? Maggie abaixou o olhar.

— Ela partiu. Simplesmente foi embora. Eu estava com oito anos quando cheguei à
casa um dia, e ela se fora.

Deixando Maggie com um pai bruto.

Khalid sentiu a angústia de Maggie, e se sentiu impotente por não poder fazer nada
para suavizá-la. Uma angústia que devia consumi-la há anos.

— Sinto muito, Maggie — murmurou ele, mas era duvidoso que ela tivesse ouvido.
Parecia focada num lugar distante.

— Eu nunca mais tive notícias delas.

— Delas? — O que ele tinha perdido? — De quem você está falando?

Ela olhou para cima. Não havia lágrimas nos olhos castanhos. Todavia, a aceitação
de dor que ele lia ali era mais confrontante que a visão de lágrimas. Instintivamente,
soube que aquela era uma aceitação que Maggie lutara muito para conseguir. Ele desejou
que pudesse lhe tirar a dor.

— Quando minha mãe nos deixou, ela não foi sozinha. Levou Cassie, minha
irmãzinha. — Maggie deu um suspiro trêmulo. — Mas ela não quis me levar, também.

— Maggie. — Khalid a puxou para seu colo, aninhando-lhe a cabeça sob seu queixo.
Abraçou-a com força, como se pudesse protegê-la do sofrimento do passado. Embalou-a


devagar, confortando-a como confortaria uma criança, esperando que o balanço e as
palavras ternas ajudassem Maggie a encontrar paz.

O que aquela mulher tinha suportado. Rejeitada pela mãe, negligenciada e usada
pelo pai. Forçada a ser forte e independente desde muito cedo.

Não era de admirar que ela concordara em se casar com ele, a fim de proporcionar
segurança para seu bebê. O tipo de segurança que nunca tivera.

Khalid a abraçou mais forte. Era seu dever cuidar dela.

Mas aquilo não parecia um dever, e sim um sentimento muito mais profundo que não
podia nomear. Não suportava vê-la sofrer.

— Nós as encontraremos — jurou ele. Ela meneou a cabeça.

— Não acho que isso seja possível. Eu tentei, mas elas devem ter mudado de nome.
Até mesmo contratei um investigador, quando pude pagar.

— Então nós contrataremos um melhor. Não importa quanto tempo leve, nós as
encontraremos algum dia. — Ele lhe acariciou o rosto sedoso.

— Obrigada, Khalid. — O suspiro trêmulo de Maggie foi tão sofrido que atingiu
diretamente o coração dele.

MAGGIE CONHECIA Khalid bem o bastante para entender que ele cumpria sua palavra.
Um dia, encontraria a família perdida dela. E tal percepção a preencheu com uma
inesperada sensação de paz.

Ele lhe devolvera a esperança.

Aquele podia ser um casamento de conveniência, mas seu marido acabara de lhe
oferecer um compromisso precioso. Um que não tinha nada a ver com o bebê deles. A
promessa de Khalid significava mais que qualquer coisa que Maggie já recebera na vida.

Sua garganta se fechou num nó de emoção.

— Maggie? Vai dar tudo certo.

— Eu sei. — Ela saiu dos braços dele e lhe sorriu. — Acredito em você.

Olhos escuros prenderam os seus, e alguma coisa preciosa pulsou entre eles,
aquecendo a alma de Maggie.

— Família é importante — murmurou ele. — É parte de quem somos.

Ela assentiu.

— Você entende.

Pela maior parte de sua vida, Maggie se sentira sozinha, sem rumo, apesar de
algemada por uma obrigação familiar. Se pudesse ouvir o lado de sua mãe da história,
talvez fosse capaz de deixar o passado para trás.

Todavia, ali nos braços de Khalid, sentia como se já tivesse prosseguido com sua
vida. Como se estivesse pronta para o futuro, independentemente do que este lhe
reservava.

— E quanto a você, Khalid? Como sua família o influenciou? — Ela nunca lhe fizera
perguntas tão pessoais antes, mas acabara de desnudar suas emoções. Certamente,
tinha o direito de conhecê-lo um pouco melhor.

Com gentileza, ele afastou uma mecha de seus cabelos do rosto.

— Eu aprendi independência com minha família. Meu pai era uma pessoa hedonista,
mais interessado em suas amantes do que na vida familiar.

O coração de Maggie se contraiu com a imagem que ele pintou. Todavia, a
inclinação orgulhosa da cabeça de Khalid lhe disse que ele não queria compaixão.

— De certa forma, isso foi uma sorte. Eu fui criado por minha mãe, que me amava
incondicionalmente, e por meu tio Hussein, que me ensinou responsabilidade e dever,
assim como uma paixão por Shajehar. Quando eu estava com idade suficiente, fui para
um colégio interno. Eu não era o herdeiro, então meu pai não tinha expectativas ao meu
respeito, deixando-me livre.

— Parece que você não se importava. Khalid deu de ombros.


— Meu meio-irmão mais velho era o favorito de meu pai. Ele foi mimado e
estragado. Não era esperado que ele trabalhasse ou assumisse responsabilidades por
suas ações.

Ele sorriu.

— Em vez de ficar sentado aqui, esperando a herança, eu tive liberdade para seguir
meu próprio caminho. Um diploma de engenharia na Inglaterra. Mestrado em
Administração de empresas nos Estados Unidos, então desenvolvimentos de projetos ao
redor do mundo, até que estivesse pronto para criar uma posição para mim aqui.

Maggie observou o rosto dele se iluminar com prazer e entusiasmo. Claramente,
aqueles anos construindo o próprio caminho tinham sido um desafio, não um dever.

— Ter sido deixado livre não o prejudicou em nada. Ele meneou a cabeça.

— Nós criamos nosso próprio futuro.

Khalid deslizou a mão para descansar, de modo possessivo, na barriga dela.

Maggie fitou os olhos dele e uma onda de excitação a percorreu. Seu marido a
desejava com uma paixão que nunca deixaria de impressioná-la.

Ela lhe cobriu a mão com a sua. Talvez, apenas talvez, com o tempo, eles
pudessem construir alguma coisa mais forte do que meramente um casamento de
conveniência.





























Capítulo Onze









— SE VOCÊ se posicionar aqui. Alteza será capaz de ver o monitor.

Em vez de se mover, Khalid deu a Maggie um sorriso tranquilizador e se inclinou
para mais perto.

— Tudo pronto? — murmurou ele. Ela assentiu.

— Eu estou bem.

Ela estivera nervosa durante toda a manhã, esperando o momento do ultrassom.
Inevitavelmente, Khalid percebera seu nervosismo, e decidira não trabalhar naquele dia,
em vez disso, passando horas com Maggie, mostrando-lhe partes do palácio que ela
nunca vira tesouros históricos exóticos, assim como lugares que ele ia quando criança.

Contara-lhe histórias de aventura e travessura, com o objetivo de distrair o medo
irracional dela de que o ultrassom pudesse revelar alguma coisa errada com o bebê.

— É melhor você se mover, de modo que a pobre mulher possa fazer seu trabalho
— sussurrou ela.

Ele lhe apertou a mão, e ela sorriu.


- Eu estou feliz que você está aqui.

- Eu não perderia isso.

Maggie não duvidava daquilo. O bebê deles significava tanto para ele quanto para
ela. Era o que os unia.

A médica tomou o lugar ao lado de Maggie quando Khalid se afastou. Espalhou gel
na barriga de Maggie, antes de deslizar o aparelho de ultrassom sobre a área levemente
arredondada. Pelo que pareceu séculos, a tela mostrou imagens sombreadas. Então... Lá.
Maggie olhou incapaz de acreditar em seus olhos quando a tela mostrou o bebê... Real,
vivo, maravilhoso!

Seu bebê. Seu e de Khalid... Vivo em seu interior.

Era um milagre. Uma ternura a preencheu. E uma felicidade tão intensa que tinha de
ser compartilhada.

— Khalid! Isso não é a coisa mais incrível que você já viu? — Instintivamente, ela
estendeu a mão na direção de seu marido.

Ele não notou. O rosto estava congelado enquanto Khalid olhava para a tela. A
tensão se irradiava em ondas do corpo forte. O que ele estava pensando?

— Khalid? — A voz de Maggie era um sussurro quando ansiedade a envolveu.
Dessa vez, ele ouviu. Lentamente, virou a cabeça, encontrando-lhe o olhar com uma
expressão tão intensa que a fez tremer. Ele parecia... Diferente. Não o homem que ela
passara a conhecer naquelas últimas semanas.

A boca de Khalid estava curvada no que parecia ser um sorriso. Todavia, ele estava
visivelmente tenso. Aproximou-se, curvando a mão com força ao redor dos dedos dela.
Como se nunca quisesse soltá-la.

— O bebê parece bem? — perguntou ele. — Está tudo normal?

— Sim, Vossa Alteza. Até agora, está tudo como deveria estar.

KHALID OLHAVA para o monitor, atônito pelo que via.

Um bebê. Seu bebê. O ar se esvaía de seus pulmões e o choque o mantinha rígido.
Nada o preparara para a realidade de ver seu filho na tela. Avidamente, seu olhar traçou o
contorno da pequena cabeça, o minúsculo corpo curvado com os joelhos erguidos. As
batidas rápidas do coraçãozinho.

A emoção comprimia seu peito diante do milagre à sua frente.

Certa vez, pensara que nunca teria filhos. Fora quase um alívio saber que não
transmitiria traços da família. Havia coisas pouco preciosas da família de seu pai que ele
quisera que a próxima geração herdasse.

Shahina desejara tanto um bebê. Um bebê deles. Descobrir que ela nunca poderia
engravidar havia sido um golpe cruel. Uma culpa o inundou. A única coisa que ele nunca
pudera dar para a mulher que amava. Agora, lá estava ele, vendo seu bebê chutar dentro
do útero. Uma criança gerada por um único ato de intimidade. Uma criança que,
estatisticamente, não deveria ter sido concebida, considerando as precauções que ele
tomara.

Uma criança que ele queria com todas as fibras de seu ser.

Emoções distintas o percorriam... Confusão, dor e excitação.

Khalid tentou reprimi-las. Dissera a si mesmo, muito tempo atrás, que não havia
lugar para emoções em sua vida. Depois de seu sofrimento intenso oito anos atrás, ele
sobrevivera não tendo sentimentos.

Sem sentimentos como aqueles evocados pela visão de um bebê inocente no útero
de Maggie. Pela visão das lágrimas de felicidade nos olhos de Maggie, enquanto ela
compartilhava a alegria daquela nova vida que eles tinham criado.

Alguma coisa apertava seu peito. Uma sensação não familiar que o apavorava.

Khalid gemeu silenciosamente ao perceber que, com aquele bebê, com aquele
casamento, ele se abrira para um tipo de compromisso emocional que evitara pela maior
parte de sua vida adulta.


Mas não havia retorno.

Queria essa criança. Cuidaria de seu filho.

Ele apertou a mão de Maggie. Cuidaria de ambos. Custasse o que custasse. Eles
eram seus.

O ROSTO de Khalid era uma máscara tensa quando ele escoltou Maggie de volta aos
apartamentos deles. Parecia um homem encarando uma realidade indesejada.

Tristeza a inundou. O companheiro sorridente daquela manhã havia desaparecido,
substituído por um homem que ela não conhecia. Um homem educado e controlado.

A nítida tensão de Khalid na sala de ultrassom ainda a enchia de dúvida e confusão.
Ele não sorrira nem por um instante ao ver o bebê deles. Alguma coisa estava errada.

Ele não queria mais o bebê? Estava ressentido com ela?

Maggie abraçou o envelope com a foto do ultrassom contra o peito.

Daria tudo certo.

Khalid certamente amaria o bebê depois que ele nascesse. Ele possuía uma
natureza amorosa. Um homem como aquele não resistiria amar um ser de seu próprio
sangue.

— Entre. — Ele segurou a porta aberta e deu um passo ao lado, esperando que ela
entrasse na sala de estar deles.

— Obrigada. — Maggie atravessou o cômodo, pausando diante do sofá.

— Você precisa se deitar? Parece cansada.

Maggie deu de ombros, grata que aquilo era tudo que ele lera em seu rosto. Não a
confusão ou a dor que estavam tão perto da superfície.

— Estou um pouco cansada, porém não mais que o usual.

— Neste caso, eu a deixarei descansar. — Ele soava aliviado, e se afastou vários
passos, como se relutante em se aproximar. Calafrios percorreram os braços de Maggie.

Subitamente, ela percebeu como precisava daqueles braços fortes ao seu redor.
Passara a contar com a força e o carinho físico de Khalid. Sentindo um súbito frio,
esfregou as mãos sobre os braços.

— Você está bem?

Ela desviou os olhos, não querendo revelar a tristeza que sentia.

— Sim, é claro. — Maggie andou em direção ao fim da sala, onde Khalid às vezes
trabalhava. — Só vou guardar esta foto em algum lugar seguro.

Ela se encontrou diante de uma estante de livros que ia do chão ao teto. Andara
para lá ao acaso, precisando fugir do olhar intenso dele. Agora estava parada ali, olhando
para uma coleção de livros. Lembrou-se do envelope em suas mãos. A foto do bebê
deles.

Uma dor lancetou seu peito. De repente, queria ficar sozinha, longe da tentação
agridoce da presença de Khalid. Ela rodeou a mesa.

— Você se importa se eu guardar isso aqui por enquanto? — Ela não olhou para
cima ou esperou que ele concordasse. Continuou falando, precisando preencher o
silêncio. — Eu vou comprar um álbum bonito para pôr muitas fotos do bebê. Mas por
enquanto, deixarei aqui, onde não irá amassar.

Ela abriu a primeira gaveta, cheia de canetas, réguas e calculadoras.

— Acha que eu posso encontrar um álbum na feira souk? Zeinab falou que vai me
levar lá em breve. Ou preciso ir a uma loja de departamento? — Maggie fechou a gaveta
e abriu à próxima. Aquela era melhor. Blocos e livros com capa de couro macia. A foto
ficaria segura ali.

Maggie levantou um livro e colocou o envelope precioso sob este.

— Pronto perfeito. Amanhã eu comprarei um álbum. — Ela levantou a cabeça e deu
um breve sorriso, vagamente notando que ele estava parado do outro lado da mesa.

Ao mesmo tempo, percebeu que não era um livro que segurava, mas um grande
porta-retratos de couro. Seus dedos traçaram o contorno da moldura e o vidro protegendo


a foto. Automaticamente, Maggie o virou nas mãos. O movimento abrupto de Khalid lhe
chamou a atenção. Ela observou as mãos dele fechadas nas laterais, a pulsação frenética
na base do pescoço, visível mesmo dali.

A falta de expressão no rosto dele assustou Maggie. Subitamente, ela soube que
tinha invadido um território particular.

Nervosa, abaixou o porta-retratos em direção à gaveta aberta, seus olhos fixos nos
de Khalid. Ele nem piscou. O coração de Maggie disparou. Ela sentia como se segurasse
alguma coisa viva nas mãos. Khalid não falava nada. Estava apenas ali... Esperando.

Maggie começou a deslizar o porta-retratos para dentro da gaveta. Ainda nenhuma
reação de Khalid.

Ela devia estar imaginando coisas. Talvez estivesse mais cansada do que
acreditasse.

Tal pensamento desapareceu quando seu olhar abaixou, e ela soube que não
imaginara nada.

Maggie arfou.

Khalid parecia tão jovem. Impossivelmente jovem e lindo, como um príncipe de um
conto de fadas. E aquele sorriso. Ela nunca o vira sorrir daquele jeito, com suprema
alegria, como se segurasse o mundo nas mãos.

Distraidamente, Maggie alisou o rosto dele na fotografia. O vidro era frio sob seu
toque.

Ele deu um passo na sua direção quando Maggie perguntou:

— Qual era o nome dela?

Khalid parou abruptamente. Ela não olhou para cima, mas continuou focando na
mulher sorridente com ele na foto. Sabia exatamente quem era a mulher. Com as mãos
pintadas com hena, o traje rico e as jóias familiares, não era difícil adivinhar.

— O nome dela era Shahina. — O tom de voz dele era neutro. Instintivamente,
Maggie entendeu que aquele tom escondia emoções muito fortes para serem
compartilhadas.

Ela olhou para os rostos radiantes, para o amor inconfundível que brilhava nos olhos
do casal. Estava lá, na intimidade compartilhada capturada naquele momento, mesmo
que eles estivessem apenas de mãos dadas. Eles pareciam gloriosos.

De repente, ela se sentiu uma tola pelas esperanças secretas que alimentara. As
esperanças de um casamento de verdade algum dia. Sentiu-se uma fraude, uma
impostora.

— Ela era uma linda noiva.

— Esta foto foi tirada no dia de nosso casamento. Dez anos atrás. — A voz de
Khalid não conseguia esconder a dor que tingia suas palavras.

Maggie ouviu um barulho como um eco de uma porta de metal se fechando,
deixando-a mais uma vez sozinha do lado de fora. Era a batida de seu coração? Tinha
imaginado aquilo?

Não importava. A verdade estava lá, claramente. Khalid fora loucamente apaixonado
pela esposa.

Maggie provou o gosto de sangue ao morder o lábio. Como estivera errada ao
assumir que lera desaprovação no rosto de Khalid quando ele dissera que não tinha mais
uma esposa. Ele parecera tão furioso que ela concluíra que houvera um divórcio. Agora
percebia que o controle rígido de Khalid tinha sido porque ela tocara num ponto fraco. A
menção da esposa evocara muitas memórias.

Finalmente, Maggie encontrou a voz.

— Você devia ser muito jovem.

— Eu tinha 20 anos, e ela 18. Mas nós nos conhecíamos desde sempre. Crescemos
juntos.

Eles haviam compartilhado tanto.


— Ela era muito, muito linda — sussurrou Maggie.

A primeira esposa de Khalid tinha sido tudo que Maggie não era. Pequena, vivaz,
repleta de curvas, olhos escuros brilhantes, abundantes cabelos pretos e feições
perfeitas. Parecia uma boneca; entretanto, era a incrível felicidade no sorriso dela que a
tornava tão maravilhosa.

Qualquer mulher se sentiria inferior à adorável Shahina.

Inveja a envolveu. Não da aparência magnífica de Shahina, mas porque ela possuía
uma coisa que Maggie sabia agora que nunca poderia ganhar. O amor de Khalid.

Maggie se deleitara na companhia atenciosa de Khalid, na paixão desenfreada dele.
Apenas agora reconhecia que isso não era suficiente. Ela queria mais.

Porque descobrira que sentia muito, muito mais por ele.

Ela fechou a gaveta e apoiou as mãos sobre a mesa. Já vira o bastante. Seu
coração batia descompassado no peito.

— Ela era sempre cheia de vida — murmurou Khalid abruptamente.

— O que aconteceu? — Ela não olhou para cima. Não queria ver as lembranças nos
olhos dele.

Khalid andou até a janela e olhou para fora.

— Ela era asmática. Severamente asmática. — Os pais de Shahina foram avisados
que talvez ela não sobrevivesse até se tornar adulta.

O coração de Maggie se comprimiu, sabendo o que estava por vir.

— Medicamentos e tratamento mantiveram a condição sob controle. Mas ela teve
uma crise, num dia em que estávamos longe da capital. — Ele pausou, e Maggie o ouviu
respirar fundo.

— Foi tão de repente. O remédio não resolveu. Shahina precisava de um hospital,
mas nós não conseguimos chegar lá a tempo. Meu pai estava entretendo hóspedes
importantes, e se utilizara até mesmo dos helicópteros de emergência médica para levar
seus convidados a um piquenique no deserto. Quando conseguimos desviar um dos
helicópteros para apanhá-la, era tarde demais.

— Sinto muito — sussurrou Maggie, levantando a cabeça e olhando para as costas
rígidas de Khalid.

— Faz muito tempo. Oito anos.

Mas não tempo o bastante para aliviar a dor dele. Agora ela entendia por que,
apesar do jeito atencioso, da consideração, Khalid sempre parecia conter uma parte vital
de si mesmo.

Maggie engoliu em seco, lamentando pela adorável Shahina, morta tão jovem.
Lamentando por Khalid, que claramente nunca superara a perda da primeira esposa.
Lamentando por si mesma, a mulher que nunca poderia ocupar o lugar de Shahina no
coração dele.

Devia ser incrivelmente difícil para Khalid abraçá-la, tê-la em sua cama, em sua vida,
em vez de ter a mulher que amara.

Quando eles estavam juntos, ele pensava em Shahina? Na escuridão da noite, fingia
que abraçava Shahina, em vez de Maggie?

Um nó se formou em sua garganta, e ela precisou de toda sua força de vontade para
não chorar.

Ele nunca prometeu amor. Está lhe dando tudo que pode. Você devia estar grata
pelo que tem.

Mas dessa vez era muito difícil aceitar. Ela não queria ser uma obrigação na vida
dele, percebeu numa onda de desafio. Queria lutar pelo que queria, por Khalid. Queria
conquistá-lo.

Ela o amava. Apaixonara-se pelo homem orgulhoso e honrável que lhe dera carinho,
introduzira-a no mundo dos prazeres e lhe prometera segurança. Que se casara com ela,


porque achava que deveria, mas que a fizera mais feliz do que Maggie algum dia tinha
sido.

— Aonde você vai? — A pergunta dele tirou Maggie de seus pensamentos.

Ela pausou no meio do caminho e se virou para dar um olhar vago na direção dele,
não ousando encará-lo. Temia que ele lesse seus sentimentos.

— Para os estábulos. Eu não vi Afraa o dia inteiro. Além disso, as crianças virão nos
visitar.

— Eu tinha me esquecido disso. Irei com você.

— Mas e quanto ao seu trabalho? Você já tirou a manhã inteira de folga.

— O reino não irá desmoronar se eu passar um dia com minha família.

Família dele... E claro Khalid se referia aos filhos do primo.

Maggie ergueu o queixo, escondendo sua dor, assim como a inevitável onda de
prazer quando ele lhe pegou a mão e a conduziu em direção à porta.









































Capítulo Doze











KHALID SAIU de seu escritório e virou num corredor, seus passos diminuindo ao som
surpreendente de risadas femininas.

Uma porta estava aberta, e ele pausou para espiar lá dentro. A sala estava repleta
de mulheres, e Khalid soube, pelos trajes que viu que elas tinham viajado de suas casas
na montanha para lá.

Observou o grupo, reunido em volta de bandejas com roscas e chá. Seu olhar
descansou numa figura em seda cor de âmbar. Ondas de desejo o percorreram quando
ele se lembrou de abraçá-la na noite anterior, enquanto seus corpos estremeciam em
mais um clímax incrível que tinham alcançado juntos.

Maggie falava em árabe, com cuidado, porém de forma fluente.

— É uma sorte para mim por vocês serem tão pacientes com minhas pobres
tentativas de falar sua língua.


Houve mais risadas, intercaladas com elogios pela maneira rápida com que Sua
Alteza aprendera.

Khalid prestou atenção. Soubera que Maggie estava indo bem nas aulas e
praticando muito com o tutor. Mas nunca a ouvira tão confiante.

— É importante que eu fale a língua de vocês — disse Maggie. — Este é meu lar
agora. Ademais, um dia eu quero ir à universidade, e preciso entender as aulas.

As perguntas das mulheres vieram em seguida. Uma mulher podia realmente
estudar numa universidade? Qualquer um podia se inscrever?

Maggie respondeu as perguntas com a ajuda do representante oficial ao seu lado.
Até mesmo mencionou as novas bolsas de estudo para alunos de localizações distantes.
As bolsas que ela mesma sugerira para Khalid apenas semanas antes.

— Então — continuou ela —, um dia, seus filhos poderão estudar numa
universidade. Mas antes, precisam frequentar a escola que está sendo construída para
eles.

Houve uma discussão sobre a relutância de alguns maridos permitirem que suas
filhas frequentassem aulas.

Então Maggie olhou para o outro lado da sala e o viu. Ela enrubesceu. Outras
cabeças se viraram e a conversa morreu. Rapidamente, Khalid saiu dali, sabendo que as
mulheres não ficariam confortáveis em sua presença.

Era uma pena encerrar a reunião. As conversas informais de Maggie tinham
alcançado mais do que seus esforços oficiais para persuadir os aldeões mais isolados a
apoiaram às novas escolas.

Todavia, o que o preocupava era o jeito que o rosto de Maggie se fechara assim que
ela o avistara. A máscara de reserva, que ela usava tanto ultimamente, cobrindo todos os
traços de vivacidade que ele testemunhara momentos antes.

Com outras pessoas, ela sorria e ria. Não com ele.

Khalid sentiu uma onda de impaciência. Estava cansado de ser excluído, tratado
como um estranho educado, exceto na cama. Em seus braços, ela se tornava uma
sedutora desinibida. Embora, recentemente, ele precisava persuadi-la para a intimidade.
A espontaneidade anterior de Maggie desaparecera.

Hoje, ela parecia absorvida no trabalho e nas reformas dele. As reformas nas quais
Khalid tinha se enterrado, enquanto o relacionamento deles se tornava cada vez mais
tenso.

Certa vez, teria dado as boas-vindas à contenção de Maggie. Mas não agora...
Alguma coisa tinha mudado.

Desde o dia que ele vira a foto de si mesmo com Shahina e percebera que o amor
que eles haviam compartilhado, apesar de ainda real, era uma vaga memória.

Percebido que era ganancioso o bastante, egoísta o bastante, para querer mais de
uma memória para sustentá-lo.

— Khalid. — Maggie parecia nervosa quando se juntou a ele. Não satisfeita em vê-
lo.

Franzindo o cenho, ele a conduziu ao longo do grande hall, em direção aos seus
escritórios.

— Eu não esperava vê-la nesta parte do palácio — murmurou ele, impulsionando-a
para dentro de sua suíte privada e trancando a porta.

Os gloriosos olhos dourados se arregalaram, então se desviaram.

— Você não deveria estar descansando? — perguntou Khalid.

— Eu não preciso descansar. Não tanto, pelo menos.

— Você não dormiu muito ontem à noite.

Para o deleite de Khalid, o rosto dela corou. A resposta física de Maggie a ele era
um prazer perpétuo.


Ela se distanciou alguns passos. De noite, ela era todas as suas fantasias eróticas.
Durante o dia, era outra história. Sempre ocupada, com aulas de árabe, ou com
atividades culturais e sociais planejadas por tia Zeinab.

Ocupada demais para seu gosto, percebeu ele. Cada vez mais, Khalid se descobria
querendo compartilhar novidades com Maggie, ver a reação dela, ou simplesmente estar
em sua companhia. Era desconcertante perceber o quanto queria compartilhar com ela.
Mas ele sempre se continha. Um hábito enraizado durante oito anos o fazia manter
distância, e cada dia a reserva de Maggie crescia mais.

Ele a observou esfregar a mão na parte baixa das costas. O movimento estendeu o
tecido do vestido sobre os seios orgulhosos e sobre a barriga grávida, e o baixo-ventre de
Khalid pulsou.

— Venha. — Ele estendeu a mão. — Eu tenho uma coisa para lhe mostrar.

— Do que você está sorrindo? — perguntou ela, cautelosamente.

— Eu estava pensando que poderia ter economizado uma fortuna, deixando toda a
pesquisa de projetos escolares com você e Zeinab. As informações fornecidas em suas
reuniões têm sido inestimáveis.

— Verdade? As mulheres respondem muito bem a Zeinab. Elas a respeitam e
confiam nela. — Um sorriso brilhante iluminou o rosto de Maggie, antes que ela desviasse
o olhar. Perturbava-o que ela pudesse se entusiasmar tanto com projetos públicos, mas
não com o próprio marido.

— Mas minha tia não estava lá hoje. — Maggie tinha conduzido à reunião sozinha, e
se saído brilhantemente.

Ela deu de ombros, não encontrando seus olhos.

— As mulheres são muito educadas.

— Ou talvez estejam empolgadas em passar um tempo com você — apontou ele. —
Já considerou essa possibilidade?

Maggie meneou a cabeça.

— O que as empolga é a chance de enviar os filhos para a escola.

Khalid desejou que sua esposa lhe sorrisse com metade do entusiasmo que sentia
por estranhos.

Poderia estar com ciúme de seu próprio povo?

— Aqui — disse ele, abruptamente. — Eu quero que você veja as últimas plantas.
Eles acabaram de chegar. — Khalid a puxou para a mesa, abrindo folhas que estavam
enroladas. — Está vendo como o arquiteto adaptou o projeto para o espaço extra? Uma
enfermeira irá alguns dias por semana para examinar mães e bebês.

— Verdade? — Com entusiasmo, ela se inclinou para frente, pondo as mãos sobre a
mesa. — Essa foi uma de nossas sugestões. As mulheres irão adorar. Onde isso será
construído?

Khalid respondeu as perguntas, apontando para os locais num mapa de províncias,
divido entre prazer pela alegria dela e desgosto porque tal alegria era para um conjunto
de plantas. Ele fechou os olhos, deleitando-se com o calor do corpo feminino próximo ao
seu, e com o rico aroma de Maggie.

Queria sua esposa. Ali. Agora.

Khalid deixou as mãos deslizarem pelas laterais do corpo dela, descansando-as na
curva erótica do traseiro de sua esposa.

Ela congelou, antes de inclinar-se para frente e apoiar os braços sobre a mesa.

— Khalid? O que está fazendo?

— Eu quero você. — Ele lhe roçou o pescoço com os lábios.

— Não! Não agora. — A voz dela acabou num gemido de prazer, mesmo enquanto o
corpo enrijecia contra seu toque.

— Sim, agora.


— E você sempre consegue o que quer, não é? — A amargura na voz de Maggie o
fez parar. Era possível que ela não quisesse aquilo? Ele duvidava. Certamente, ela não
podia fingir que o fogo entre os dois era unilateral. Maggie nunca fingira seu desejo por
ele!

Ele lhe acariciou os seios e sentiu os mamilos se arrepiarem. Lambeu o ponto
sensível atrás da orelha dela, e a sentiu tremer.

— Está dizendo que não quer isso, também?

— Eu...

Tremores a abalaram quando ele lhe ergueu o vestido até que pudesse deslizar a
mão por baixo, sob a renda da calcinha, para seguir os contornos deliciosos das nádegas
femininas.

— Você... O quê, Maggie? — Ele abriu as pernas, de modo a cercá-la. — Fale que
não quer isso, esposa, e eu pararei.

Ele estava mais excitado do que podia se lembrar de ter estado antes. Ansiava por
Maggie com um desejo pulsante que ameaçava seu autocontrole.

— Khalid, por favor, eu... — As palavras dela acabaram num suspiro quando as
mãos dele deslizaram para as curvas que aninhavam o filho deles, e se inseriram
novamente sob a renda.

Com um gemido de rendição, Maggie pressionou a pélvis contra seu toque, no
momento que ele lhe abriu as pernas com os joelhos e deixou a ereção roçar-lhe as
nádegas.

— Fale — demandou ele com voz rouca. — Fale que você me quer.

— Eu... Sim, Khalid. Eu quero você.

Ele a recompensou com uma mordidinha no lóbulo, e deslizou os dedos lentamente
contra o ponto sensível dela.

— Alguém pode entrar — sussurrou ela, mas seus quadris já estavam balançando
no ritmo que dizia tudo que Khalid precisava saber sobre a excitação de sua esposa.

Sua esposa, sua amante. Sua mulher.

Ele estava determinado a tê-la inteirinha.

Khalid puxou suas roupas, liberando-se, de modo que pudesse deslizar sua ereção
contra aquelas curvas suaves, enquanto lhe removia a calcinha. Seu corpo estremeceu
em antecipação.

— Ninguém vai entrar.

Queria tanto Maggie. Era até mesmo mais que sexo. Seu desejo era algo primitivo
que ele não entendia. E com o passar do tempo, aumentava, em vez de diminuir. Queria
marcar sua posse sobre ela da maneira mais primitiva possível.

— Estamos em plena luz do dia. — Mesmo enquanto falava isso, Maggie abriu mais
as pernas, permitindo-lhe melhor acesso.

Khalid se posicionou, então deslizou para dentro dela. Com uma das mãos,
acariciou-lhe entre as pernas. A outra subiu para os seios.

Ela gritou quando ele rolou um de seus mamilos entre o indicador e o polegar.
Maggie se contorceu, e ele aproveitou para aprofundar a penetração.

— Por que eu não poderia fazer amor com minha esposa durante o dia? — Khalid se
retirou um pouquinho, então investiu novamente, mais fundo dessa vez, cada centímetro
glorioso, uma revelação em desejo e êxtase. — Deixe-me levá-la ao paraíso, Maggie.

Dessa vez, o ato de amor deles foi mais forte e mais profundo que qualquer coisa
que ele pudesse se lembrar. Maggie entrara em seu sangue, em sua alma, e Khalid era
impotente para resistir.

Não queria resistir.



— MAIS UMA vez, meus parabéns por seu casamento. Você escolheu muito bem,
meu amigo.


Khalid seguiu o olhar do rei Osman e viu Maggie do outro lado da sala, conversando
com um executivo de uma petrolífera internacional. A empresa que estava atualmente
perfurando na fronteira entre Shajehar e o reino de Osman.

Nos meses desde que eles tinham ido para Shajehar, Maggie florescera. Ela
abraçara seu papel de forma magnífica, superando dificuldades conforme sua confiança
aumentava. Tinha sido como assistir a uma linda rosa desabrochar.

— Obrigado, Osman. Aprecio seus desejos de boa sorte.

O corpo de Khalid enrijeceu enquanto ele a observava. Aos sete meses de gravidez,
Maggie estava exuberante. E sexy demais para estar em público.

Khalid não perdeu a linguagem corporal do homem do petróleo. Ele também estava
ciente de Maggie como uma mulher desejável, embora fosse respeitador.

Maggie sorriu genuinamente de alguma coisa que o homem falou, e o ciúme o
corroeu. Há quanto tempo ela não lhe sorria daquela maneira? Cada dia o abismo entre
eles parecia maior, apesar das intimidades que compartilhavam.

— Não é de admirar que você não estivesse interessado em se casar com minha
filha — continuou Osmar. — Não quando descobriu essa pérola adorável.

— Sua filha é uma boa mulher — respondeu Khalid entre dentes. Não perdera o
brilho malicioso no olhar de seu companheiro, a apreciação de um homem que se
considerava conhecedor das mulheres. — Fiquei honrado por você ter considerado a
sugestão de meu irmão de um possível elo entre nossas famílias.

— Ah, mas Fatin não teria servido para você. Vejo isso agora.

Khalid reprimiu um impulso de levar Osman para um cômodo, onde ele não pudesse
ver Maggie. Não queria nenhum homem olhando daquele jeito para sua esposa.

— Eu apreciei a conversa com sua esposa mais cedo — disse Osman. — Ela é uma
mulher sensata, que sabe quando ouvir e quando falar. Você é um homem de sorte, meu
amigo. Talvez mais do que saiba.

Sabendo da usual preocupação de Osman com a beleza física, o comentário
surpreendeu Khalid.

O outro homem estava certo. Khalid valorizava o bom senso de Maggie. Com seu
entusiasmo e bom senso, ela o vinha ajudando em suas reformas.

— Concordo plenamente — replicou ele. — Eu não poderia ter escolhido uma
esposa melhor.

Entretanto, a insatisfação o consumia. Ela era sedutora na cama, e logo seria a mãe
de seu filho. Mas isso não bastava. Ele queria... Mais. Não queria aquela distância entre
eles.

Lembranças da felicidade, da proximidade que compartilhara com Shahina vieram à
superfície. Para seu espanto, Khalid percebeu que era isso que queria. Um casamento de
verdade. Um relacionamento genuíno, não um arranjo conveniente.

E não uma imitação pálida de seu primeiro casamento, mas algo único e especial,
com suas próprias características.

O que aconteceria se derrubasse todas as barreiras que erguera em torno de si
mesmo? Se ele se abrisse totalmente para sua esposa? Maggie, por sua vez, abriria seu
coração, mostrando a mulher que era em essência?

De repente, ele experimentou uma imensa necessidade de descobrir.

Eu NÃO posso mais fazer isso. Simplesmente não posso.

O rosto de Maggie doía de uma noite de sorrisos educados. Mas isso não era nada
comparado à dor em seu peito, à angústia de saber que não poderia continuar assim.

Ela ouviu rei Osman despedindo-se de Khalid, o som da conversa deles envolvendo-
a.

Sentira o olhar de Khalid sobre si durante toda a recepção, e a resposta do seu
corpo traidor.

Porém sexo não era mais suficiente.


Por meses, Maggie vinha tentando. Tinha aceitado o que o destino lhe oferecera...
Um casamento sem amor. Tentara se adaptar a tudo, mesmo depois de entender que
Khalid jamais corresponderia aos seus sentimentos. Ele ainda amava Shahina.

Maggie não podia competir com um fantasma. Estava muito cansada para continuar
tentando. Ser a segunda melhor escolha não lhe bastava mais. Desejo sem amor era,
descobrira, uma farsa vazia.

— Venha, Maggie. — Khalid lhe enganchou o braço no seu e a puxou para mais
perto. — Hora de ir para a cama.

Instantaneamente, seu corpo traidor tremeu diante da promessa no tom de voz do
marido. Ela olhou ao redor para ver o elegante salão de recepção vazio, exceto pelos
criados. Osman se recolhera em sua suíte de hóspedes.

Eles percorreram o caminho para seus aposentos em silêncio, e uma vez dentro da
sala, Maggie se afastou do toque de Khalid, mal notando o olhar surpreso dele.

Ela merecia mais do casamento. Se não podia ter um casamento de verdade,
certamente tinha o direito de proteger sua sanidade e seu autorrespeito. Precisava sair
daquele relacionamento sem futuro.

— Maggie? O que houve?

Ela olhou para seu marido distante. Por mais que ela lhe desse prazer na cama, por
mais que tentasse se encaixar em seu mundo, ele sempre seria assim. Distante.

Era aquilo que tinha acontecido com seus pais? Amor unilateral? Era isso que os
separara?

Maggie pensou nas intimidades que compartilhara com Khalid. Vendera-se para ele.
Por segurança e apoio financeiro para seu bebê. Pela vã esperança de que amor pudesse
nascer do desejo físico.

Não mais. Era hora ficar sozinha. Continuar com aquele arranjo era condenar-se à
infelicidade.

— Eu vou para a cama. — Agora que a decisão estava tomada, Maggie se sentiu
estranhamente livre das emoções que a tinham abalado por tanto tempo.

— Precisamente o que eu tinha em mente, habibti. Ele estendeu o braço para tocá-
la, e ela deu um passo atrás.

— Não, não isso. — Ela viu a expressão dele mudar, tornar-se intrigada. — Eu quero
dormir.

— Foi uma longa noite. Talvez você queira tomar um banho de banheira antes?

E talvez alguma sedução dentro da água aromática e espumante?

— Não. — Quantas vezes Khalid a seduzira naquela imensa banheira? Maggie
respirou fundo e o encarou. — Eu quero dormir imediatamente. Usarei o segundo quarto.

As sobrancelhas de Khalid se arquearam.

— Não há necessidade para isso. — O tom de voz era de censura. — Respeito sua
necessidade de descansar. Eu não a perturbarei esta noite.

Maggie estudou as feições bonitas dele e sentiu a inevitável onda de desejo. Seria
sempre assim, pensou. Ela meneou a cabeça.

— Eu quero dormir sozinha. Permanentemente.

Olhos escuros a fitaram com incredulidade, enquanto o corpo poderoso se tornava
muito imóvel. Então ela olhou para baixo, e viu que as mãos dele estavam fechadas em
punhos.

— Se meu ato de amor lhe causa desconforto, agora que o bebê está tão grande,
você devia ter me falado. — O tom de Khalid era ultrajado. — Eu não me forçarei sobre
você. Não sou um ogro egoísta.

— Não é o bebê, Khalid. Sou eu. Não quero sexo com você. — Mentirosa, gritou
uma voz em seu interior.

Todavia, ter somente aquela pequena parte dele a estava matando. Seus corpos em
tanta sintonia, mas seus corações...


Ele estreitou os olhos, e Maggie falou rapidamente, antes que pudesse mudar de
ideia:

— Eu não quero você. Não posso continuar com este casamento.

— Você quer me deixar? — As palavras saíram num tom furioso. Mas pelo menos
ele não fechara o abismo entre os dois e a envolvera nos braços.

KHALID A olhou, estupefato. Ele a sentira escapando, mas nunca imaginara que
aquilo pudesse ir tão longe! Era impossível que Maggie não o desejasse mais. Ele sabia
que ela mentira sobre aquilo.

— Você não pode estar falando sério. — Ela lhe pertencia. Ele nunca a libertaria.

— Eu nunca falei tão sério em minha vida.

Uma dor aguda pareceu dilacerar o peito de Khalid. Ele abriu mais os pés,
balançando pela força do golpe. Orgulho e raiva o envolveram.

— Você esqueceu minha esposa, que somos casados. — Ele deu um passo à
frente, querendo envolvê-la em seus braços, mas instintivamente sabendo que sedução
não era a resposta. — Ninguém se divorcia na família real de Shajehar. Você é minha e
continuará sendo minha. — Seu coração batia descompassado. — Eu não a deixarei ir.

Maggie não revelou o mínimo tremor, nem um sinal de fraqueza. Permaneceu forte,
determinada e desafiadora.

— Eu não pretendo ir embora de Shajehar. Eu sei o que assinei, e sei que não há
escape fácil disso.

Khalid sentiu ultraje diante daquelas palavras. E mais alguma coisa. Algo como
mágoa.

Ela fazia o casamento deles parecer um dever opressivo. Ele não lhe dera um lugar
no seu mundo, onde Maggie era valorizada e respeitada, capaz de contribuir? Não lhe
dera riqueza e jóias? Um futuro seguro para seu bebê? Não lhe dera prazer e a satisfizera
incontáveis vezes?

Khalid não podia acreditar que ela não o queria. Às vezes, pensava que o
sentimento de Maggie por ele era mais forte do que ela deixava transparecer. Ou era seu
orgulho masculino falando?

— Então, fale. O que você quer? Ela encontrou os olhos dele.

— Eu quero espaço. Distância. Ainda serei sua esposa diante dos olhos do mundo.
Mas não quero que vivamos como marido e mulher. Criaremos nosso filho, juntos, como
combinado. Eu cumprirei meus deveres como membro da família real, mas...

— Não na cama — murmurou Khalid com amargura. Maggie não disse nada,
apenas o fitou com aqueles olhos enormes. Ela estava pálida. Pela primeira vez, ele
notou que ela usara mais maquiagem do que o usual. Havia olheiras naquele rosto
bonito? Linhas de estresse ao redor da boca? Ele estudou as mãos de Maggie sobre a
barriga.

Ela achava que precisava proteger o bebê deles da fúria do marido? O terrível
pensamento o fez dar um passo atrás.

— Por que, Maggie?

Houve um longo silêncio antes que ela respondesse:

— O nosso casamento nunca foi de verdade, Khalid. É apenas um casamento de
conveniência. Quero que respeitemos isso. — Ela pausou e engoliu em seco. — Levou
um longo tempo, mas eu descobri que não quero ser íntima de um homem quando não há
amor envolvido.




















































































Capítulo Treze











— QUANTO TEMPO até chegarmos lá?

Khalid deu uma olhada para Maggie, procurando sinais de fadiga antes de voltar
para a estrada. Ela estava sentada ereta, as mãos unidas no colo. A estrada precária na
montanha parecia não a incomodar.

— Aproximadamente vinte minutos.

Silêncio. A conversa deles ultimamente era breve e tensa.

Ele estava fazendo a coisa certa, concordando com a demanda de Maggie por
distância? Gostaria de ter certeza.


Dois dias atrás, quando ela anunciara que não o queria mais, a expressão de
Maggie fora desprovida de emoção. Como uma boneca sem vida. Ou uma mulher sob
tanto estresse que se fechara emocionalmente.

Isso o assustava mais do que qualquer coisa que ela dissera. Assustava-o tanto que
ele ignorara sua necessidade instintiva de provar que ela mentira ao dizer que não o
desejava mais.

Eu não quero ser íntima de um homem quando não há amor envolvido. As palavras
tinham se repetido infinitamente na cabeça dele.

Amor não fizera parte do acordo. Mas agora, saber que ela não o amava, causava-
lhe uma dor profunda. Um vazio.

Apenas a vulnerabilidade dela o fizera lhe dar tempo para se ajustar.

Maggie tinha muitas coisas para enfrentar. Hormônios da gravidez. O estresse de se
ajustar a uma vida nova num país novo. As pressões dos deveres e protocolo da realeza.
Exaustão física que o bebê colocava sobre seu corpo. Medo do desconhecido. Dor pelo
passado que deixara para trás. As exigências de Khalid, com sua incessante ânsia de
tocar-lhe o corpo.

Ele precisava lhe dar tempo. Até que o bebê nascesse, as coisas seriam diferentes.
Khalid se certificaria disso.

— O que você achou da escola do vilarejo?

— Maravilhosa! — exclamou ela com entusiasmo.

— Você foi um sucesso — murmurou ele. — As crianças a adoraram, e todos os
pais aprovaram.

Khalid observara os pequenos a rodeando, enquanto Maggie embalava um bebê no
colo e ouvia às conversas juvenis.

Um calor primitivo o percorrera com a visão de Maggie embalando uma criancinha.
Logo ela teria o filho deles para embalar. Uma satisfação o preencheu. E trepidação.

Não! Até lá, tudo estaria estabilizado entre eles. Precisava apenas controlar sua
impaciência.

Queria ouvir a voz dela, especialmente agora, Khalid percebeu quando as curvas da
estrada começaram e uma memória lhe veio à mente. A tensão se instalou em seu
estômago, e ele apertou as mãos sobre o volante.

Lembrou-se de ter levado outra mulher por aquele caminho, anos atrás. Dirigindo por
aquela, estrada, enquanto eles riam juntos.

Mas Shahina não voltara viva.

O SOL estava alto no céu quando eles atravessaram a ponte que separava o castelo
do resto do contraforte da montanha. Era uma fortaleza impressionante, erguendo-se de
rochas para comandar o vale distante abaixo, e a rota sobre as montanhas, acima.

Maggie mal notou as portas pesadas de madeira, as paredes grossas, as grades de
ferro nas poucas janelas com vista para a montanha.

Seus pensamentos estavam no homem ao seu lado, cujo apoio gentil... Enquanto
ele lhe rodeava as costas com um braço... Era pura tortura. O tom de voz de Khalid era
solícito, os passos lentos em respeito à sua gravidez.

Qualquer um que os visse, acreditaria que o príncipe se importava com sua esposa.
Mas eles estariam errados. O pensamento lhe causou angústia.

Ele se importava, certo, mas era pelo bebê precioso que ela carregava. Maggie era
apenas uma incubadora necessária até que a criança viesse ao mundo.

Infelizmente, o estado desprovido de emoções que lhe dera forças e amenizara sua
dor tinha desaparecido. Nem mesmo o fato de que Khalid respeitara seu desejo de dormir
em quartos separados lhe trazia conforto.

Ela tremeu e o braço dele se apertou ao seu redor.

— Sua Alteza precisa de chá, no pequeno salão — disse ele.


O mordomo que os recebeu fez uma reverência e se virou para cumprir a ordem.
Maggie permitiu que Khalid a conduzisse.

— Aqui. Você se sentirá melhor quando tomar um chá e comer alguma coisa.

Maggie fez uma careta. Duvidava que alguma coisa a fizesse se sentir melhor
novamente. Ela se sentou na cadeira que ele segurou. Todos os seus músculos doíam.
Estava tão, tão cansada.

— Maggie? — Ela virou a cabeça ao som da voz dele, mas não lhe encontrou o
olhar quando Khalid se agachou à sua frente, pegando-lhe a mão na sua. — Você está
bem?

Ela se sentou mais ereta.

— Sim, obrigada. Mas o chá será bom — mentiu. A ideia de qualquer coisa em seu
estômago lhe causava ânsia.

O silêncio se estendeu. A cada segundo, a distância entre os dois parecia maior.

Deliberadamente, Maggie virou a cabeça para as enormes janelas com vista para a
cadeia de vales abaixo.

— A vista é espetacular.

Ele não disse nada por um momento, então, abruptamente, levantou-se e devolveu a
mão de Maggie ao colo dela.

— Num dia bonito, é possível ver por centenas de quilômetros.

Nuvens haviam coberto o céu desde que eles tinham chegado. Ela imaginou se ele
algum dia a levaria lá novamente para admirar a vista num dia bonito.

— Eu preciso cuidar de algumas coisas — murmurou Khalid. — Enquanto isso
aprecie seu chá. Voltarei a tempo de levá-la para visitar o próximo vilarejo.

Então ele saiu, e Maggie foi deixada na luxuosa sala de estar vazia, os sofás
cobertos por almofadas de seda, o piso, por tapetes antigos coloridos. O cortejo deles
estava, sem dúvida, preenchendo a velha fortaleza, todavia, ela podia facilmente imaginar
que era a única ali.

Uma hora depois, ainda estava sozinha. O mordomo levou uma segunda bandeja de
chá, doce e fragrante. O aroma enjoou seu estômago, e Maggie se levantou numa onda
de energia repentina. Era hora de ir.

Não importava que ela estivesse deprimida e apática. Ou que Khalid insistira em
levá-la de carro, e Maggie não quisesse estar fechada num veículo com ele. Os aldeões a
estavam esperando, e ela não os decepcionaria.

Além disso, se continuasse sentada lá, pensando no impasse que seu casamento se
tornara, enlouqueceria.

— Onde está meu marido? — perguntou ela para o mordomo.

— Sua Alteza está numa reunião com lorde Hussein. Ótimo. O tio de Khalid era um
homem racional; não se importaria em ser interrompido.

— Onde eles estão? Eu preciso falar com meu marido — acrescentou Maggie
quando o mordomo hesitou. — É urgente.

— Eles estão no jardim de lady Shahina — respondeu ele. Um tremor interno a
percorreu. Jardim de Shahina. Era lá que seu marido escolhia conduzir negócios
importantes?

Maggie assentiu.

— Mostre-me o caminho. — Ela foi para a porta, forçando-o a acompanhá-la.
Enquanto eles andavam ao longo de um corredor de pedras, perguntou casualmente: —
Lady Shahina plantou este jardim?

— Não, Alteza — replicou ele, obviamente sentindo-se desconfortável. — O lorde
mandou plantar depois que ela...

— Entendo. Depois que ela morreu. — Um jardim memorial, então.

Seu marido se refugiara no lugar dedicado à memória de sua amada perdida.


Ela fizera a coisa certa em se distanciar dele. Khalid nunca a amaria enquanto
Shahina possuísse seu coração, pensou Maggie com profunda tristeza.

Seus passos hesitaram perto da porta arcada, sua mão indo para a barriga, de modo
protetor, quando o bebê chutou.

— Alteza? Você está bem? Maggie endireitou o corpo.

— Sim, obrigada. Falta muito? Ele meneou a cabeça.

— Vá em frente até chegar ao pátio, então vire à direita e entre à primeira porta de
vidro que encontrar.

— Obrigada. — Maggie forçou um sorriso. — Irei sozinha daqui. Você deve ter
muitas coisas para organizar, com tantos convidados.

Ela esperou até que ele desaparecesse de vista, antes de continuar.

As pedras eram quentes sob seus pés quando o aroma a assaltou. Rosa, jasmim e
uma mistura de outras fragrâncias. Aquele cheiro adocicado a enjoou. Maggie pausou
dentro do jardim murado, a mão apoiando na parede de pedra, enquanto ela tentava
acalmar seu estômago.

Isso foi um momento antes que ouvisse vozes. Ao som da voz de Khalid, ela se
aproximou da porta de vidro. Olhou para os dois homens do outro lado do jardim.

— Você não acha que deveria falar com Maggie? — perguntou o tio de Khalid.

— Eu sei o que é melhor, Hussein. Você não entende...

— Eu entendo Khalid. Lembra que vi você e Shahina juntos? Eu o vejo agora com
Maggie. Sei como você se sente.

— Essa não é a questão. Eu sei o que estou fazendo.

Os joelhos de Maggie tremeram. Khalid soava tão nervoso, tão desesperado.

— Ela não é Shahina — disse Hussein. — Não se esqueça disso.

— Acha que eu não sei? — A voz de Khalid era brusca, repleta de emoção. — Toda
vez que eu a vejo, a toco, sinto a diferença. Eu sinto aqui. — Ele bateu no peito com tanta
força que Maggie balançou para trás, como se Khalid a tivesse golpeado, roubando-lhe o
ar.

— Você lhe contou como se sente? Precisa explicar para ela. Mas Maggie não
precisava de explicações. Ela se afastou da porta de vidro, tão atordoada que mal notou
quando seu lenço azul-claro prendeu no galho de uma rosa.

Khalid tinha sido muito claro. Ela não podia suportar mais aquilo.

A desolação na voz dele não deixara espaço para dúvida. A confirmação de que ele
sentia falta da primeira esposa a devastava.

Maggie começou a voltar com dificuldade, à mão estendida para a parede de
pedras, a outra apoiando a barriga. Precisava sair dali, ir para algum lugar onde pudesse
respirar. Mesmo lá no jardim, podia se sentir sufocando.

Continuou andando até que se encontrou no pátio de entrada. Veículos quatro por
quatro estavam alinhados onde houvera cavalos de batalha um dia.

Maggie consultou seu relógio. Tinha de sair agora se não quisesse desapontar os
locais, que, timidamente, haviam lhe oferecido hospitalidade. Era óbvio que Khalid
esquecera o compromisso. Ela deveria procurar outra pessoa para acompanhá-la? A
última coisa que queria era um acompanhante.

Aparentemente, eram 15 minutos de carro até o vilarejo. Era dia, e ela estava
acostumada a dirigir em estradas de cascalho, ou estivera antes de se tornar princesa
real.

Khalid saberia para onde ela fora. Ele não se preocuparia.

Ela endireitou os ombros. Não se esconderia num canto e lamentaria o que não
podia mudar. Não era isso que prometera a si mesma quando confrontara Khalid?
Precisava seguir com sua vida.


Maggie foi para o veículo mais próximo do portão aberto. Três minutos depois, o
motor estava ligado. Sem olhar para trás, começou a dirigir, atravessando a ponte estreita
e pegando a estrada da montanha.

Tinha dirigido quatro quilômetros quando viu a saída que Khalid apontara. Virou ali,
satisfeita por escapar dos confins claustrofóbicos do castelo, que era de Khalid e de
Shahina. Onde Maggie sempre seria uma intrusa.

Trabalho sempre fora uma necessidade e um consolo. Era disso que necessitava.
Focar-se em seu bebê e em seu trabalho com as mulheres de Shajehar.

Maggie fez uma curva e seu coração disparou quando viu duas cabras atravessando
a estrada a poucos metros de distância. Ela pisou no breque, então praguejou quando as
rodas travaram e o veículo derrapou para o lado no cascalho. Seus reflexos eram lentos e
suas mãos escorregaram no volante quando ela tentou mover as rodas.

Os segundos se estenderam enquanto o carro ia para a extremidade. Uma vala
profunda de pedras cortantes se agigantava ao seu lado enquanto ela lutava com o
volante.

Houve um terrível barulho de metal raspando em pedra. O veículo se inclinou
metade sobre a vala e continuou deslizando. Maggie mal notou. Ela tinha batido a cabeça
no impacto inicial.

Finalmente, o barulho ensurdecedor de metal sendo torturado cessou. O veículo
parou num ângulo de 45 graus contra a cadeia de pedras.

Após alguns momentos, ela conseguiu energia para desligar o motor. Permitiu-se
fechar os olhos, apenas por alguns momentos. Quando os reabriu, foi com uma sensação
de que tinha acordado de um desmaio.

Era muito perigoso. Tinha de sair do veículo. Não estava sentindo cheiro de
gasolina, mas não podia correr riscos. De repente, percebeu horrorizada, que ela não
conseguia sentir o menor movimento de seu bebê.

Medo e culpa a assolaram. Nunca deveria ter ido sozinha. Não importava que fosse
uma motorista competente, acostumada com estradas precárias. Lágrimas encheram
seus olhos, e ela as reprimiu. Tinha de se mover. Agora.

Agarrando a alça de apoio acima de sua cabeça, Maggie tentou erguer-se.

Duas coisas aconteceram simultaneamente. Uma dor desesperadora lancetou sua
perna esquerda, e... Um líquido quente escorreu entre suas coxas.

Com cautela, ela levou uma mão para baixo, medo gelando suas veias. Mas não
havia engano naquilo. Era sangue. Muito sangue. Estava sangrando, e seu bebê estava
em perigo.

Ignorando a dor que fazia sua cabeça girar, ela ergueu o braço e agarrou o volante.
Pressionou a mão fechada contra a buzina, e a manteve lá.









Capítulo Catorze











As IMPRESSÕES de Maggie eram confusas. Acima de tudo, havia dor e medo. Ela
ouvia vozes desesperadas e sentia mãos fortes e seguras sobre seu corpo. Houve uma
explosão de agonia repentina, e nada mais.


Sons a despertaram, quase a ensurdecendo. Era seu coração bombeando o sangue
precioso que seu bebê necessitava? Ou era um helicóptero? Resgate? Maggie abriu a
boca para perguntar, ciente de uma voz chamando seu nome, repetidamente. Mas ne-
nhum som saiu, e ela mergulhou de volta na escuridão.

Foi dor que a acordou mais uma vez. A dor de seus dedos sendo apertados com
muita força. Por uma grande e quente mão. Khalid. Ele estava lá. Ele a encontrara. Tudo
ia ficar bem agora.

Maggie lutou por alguma reação que mostrasse a ele que ela estava ciente de sua
presença.

Vozes chegaram aos seus ouvidos. Ordens dadas por uma voz que ela não
conhecia, e então a voz autoritária de Khalid.

— Faça o que deve fazer. Qualquer coisa que seja necessária, mas salve minha
esposa. Isso é tudo que importa.

Por um breve momento, Maggie tentou alcançá-lo, conectar-se com ele, porém as
vozes se distanciaram e ela mais uma vez perdeu a consciência.

Quando voltou a si, não sentia... Nada. Nenhuma dor, nenhum desconforto, nada.
Estava deitada sobre as costas, sua mão envolta por dedos quentes.

Khalid. Então era verdade. Aquilo não tinha sido um sonho. Ele estivera com ela o
tempo todo.

Seu corpo se inundou de calor e alguma coisa difícil de definir. Alívio? Amor?
Esperança? Maggie deixou as sensações a percorrerem, contente porque ele estava lá.

Aos poucos, seus sentidos se tornaram mais alertas e seu corpo despertou.

— Khalid — sussurrou ela. O nome dele era como um talismã, o som do mesmo lhe
dando forças para abrir os olhos.

— Maggie! Maggie, querida, você acordou. — Mas não foi à voz de Khalid que ela
ouviu. Era Zeinab.

Virando um pouquinho a cabeça, ela encontrou o rosto de sua amiga, observando-a
atentamente. A mulher mais velha parecia ter envelhecido da noite para o dia.

— Está tudo bem — assegurou-a Zeinab, embora seus olhos estivessem
sombreados. Maggie foi tomada por um medo instintivo. — Você está segura agora.

— O bebê?

— Você tem uma filhinha, nascida por cesariana. Ela está na unidade neonatal de
terapia intensiva.

Um peso se instalou sobre o peito de Maggie, enquanto medo a consumia.

— Como ela está? De verdade? — Culpa a assolou. Era culpa sua que o bebê tinha
nascido antes da hora.

— Ela é pequena, então precisa de atenção extra. Houve complicações durante o
parto. Mas ela está melhorando, ficando mais forte a cada hora.

Maggie olhou para a expressão preocupada de sua amiga, tentando discernir a
verdade das palavras otimistas.

— Khalid ficou com você o tempo inteiro — disse Zeinab. — Ele não saiu do seu
lado. Agora foi somente ver o bebê.

Mas Maggie não acreditou naquilo. Khalid não estava lá, e nenhuma quantidade de
palavras bem-intencionadas poderia esconder o fato. Ela realmente esperara encontrá-lo
ao seu lado quando acordasse? Sabia qual era a prioridade dele, e esta era o bebê. A
única coisa que importara para Khalid sempre fora o bebê.

Lágrimas inundaram seus olhos, e ela virou a cabeça em direção ao travesseiro,
muito cansada para erguer a mão e secar os olhos.

Devia ter imaginado a mão firme de Khalid envolvendo a sua. E a voz desesperada
dele, implorando que os médicos a salvassem.

Era engraçado o que o cérebro humano podia inventar, não era?


— Maggie. — A voz de Zeinab era baixa e calma. — Você e sua garotinha estão
seguras e em excelentes mãos, aqui. — Ela pausou. — Khalid ficará radiante por vê-la
consciente. Ele está frenético sobre vocês duas. Mas tudo dará certo.

Maggie ofereceu um sorriso fraco, mas não disse nada. O que havia para dizer?

Era óbvio que as coisas nunca dariam certo. O casamento deles nunca daria certo.

Ela fechou os olhos e se permitiu voltar para o lugar onde não havia dor nem
desapontamento, apenas o vazio da escuridão.

KHALID ESTAVA de pé no quarto parcamente iluminado, olhando para o rosto pálido
de sua esposa.

A afirmação do médico de que Maggie já tinha acordado e estava respondendo bem
não o convenceu. Ele não acreditaria nisso até que visse por si mesmo.

Somente seu supremo autocontrole o manteve imóvel, as mãos unidas atrás das
costas.

Queria aninhá-la nos braços, beijá-la até trazê-la à consciência. Sussurrar pedidos
de desculpa no ouvido dela. Mas não podia.

A culpa o corroia. Por sua causa, Maggie quase morrera, assim como o bebê deles.

A culpa era toda sua.

Khalid acreditara que conhecia a dor da perda, mas não estivera preparado para a
agonia que experimentara ao pensar que ia perdê-la. Ele deveria ter estado lá para levá-la
de carro, para mantê-la segura.

Mais, nunca deveria ter concordado com uma separação. Deveria ter derrubado as
barreiras que os dividiam. Acima de tudo, não devia ter negado seus sentimentos.
Condicionara-se a acreditar que nunca mais experimentaria tais emoções. Tinha sido um
covarde, com medo de amar e perder sua amada novamente.

O resgate havia sido precário; poderia facilmente ter acabado em desastre naquele
terreno irregular. A cirurgia fora uma tentativa desesperada de salvar mãe e bebê.
Durante tudo isso, Khalid tinha sido inútil, incapaz de fazer qualquer coisa, exceto abraçar
Maggie e suplicar que ela ficasse com ele. A possibilidade de que o destino a levasse
embora quase o matara. Mesmo agora, medo fazia sua pulsação acelerar.

Os cílios de Maggie se moveram. Ela estava acordando? Ele deu um passo à frente,
então parou de súbito quando os olhos castanho-esverdeados se fixaram nos seus.
Khalid se sentiu tonto com alívio e remorso. Ela parecia tão frágil, tão pálida e indefesa.

— Khalid. — A voz saiu com dificuldade, como se ela estivesse com a boca seca.
Ele se inclinou para frente e lhe serviu água.

— Aqui, habibti. Beba isto. — Khalid deslizou a mão por trás do ombro dela para
erguê-la. Maggie tremeu em seu abraço, e ele esperou que fosse pelo esforço físico, não
de desgosto.

Ele a ajudou a beber um pouco de água, antes de acomodá-la contra os travesseiros
e, relutantemente, afastar-se.

— Como você se sente, Maggie?

Os lábios dela se curvaram numa ameaça de sorriso.

— Viva.

— Você me deixou preocupado. — Na verdade, ele ficara apavorado!

Ela encontrou seu olhar por um segundo, antes de desviá-lo.

— Sim, e o bebê. Como ela está?

— Cada vez mais forte. — A capacidade de recuperação do pequeno bebê o
impressionara, dando-lhe força quando a sua própria força começara a fraquejar. — Ela é
linda como a mãe.

Mais uma vez, Maggie o olhou brevemente.

— É mesmo? Ela está segura? Khalid assentiu.

— Não foi um começo fácil para ela, mas os sinais vitais estão excelentes, e ela está
se fortalecendo. Aqui. — Ele se aproximou, pegando o celular do bolso. — Veja isto.


Khalid abriu o telefone e acessou as fotos que acabara de tirar. Entregou-lhe o
celular, seu prazer momentâneo desaparecendo ao perceber que ela evitara tocá-lo.

Ele a magoara tanto que Maggie queria fugir de qualquer contato? Ela lhe permitiria
reparar os erros passados, ou era tarde demais?

Não, ele se recusava a contemplar tal possibilidade. Maggie olhou para o celular e
uma ternura preencheu seus olhos.

— Ela é linda. E tão pequenina. Tem certeza que ela ficará bem?

Ele assentiu.

— Os médicos estão muito satisfeitos com o progresso dela.

— Eu quero vê-la — sussurrou Maggie.

— Em breve. — Khalid endireitou o corpo, abalado pelo conhecimento do que
poderia ter impedido aquilo. Se não tivesse desapontado Maggie, a gravidez teria
completado seu prazo. Ela não teria precisado lutar pela própria vida.

Ele não estivera lá. Não ganhara a confiança de Maggie. Deixara o casamento deles
se desintegrar. Não era de admirar que ela o rejeitara. Ele lhe tomara paixão, afeição, até
mesmo a inocência, e não lhe dera nada em retorno. Nada que verdadeiramente
importava. Não era de admirar que ela procurara uma chance de sair sozinha, de escapar
de sua companhia.

Era criminalmente culpado. Mesmo se ela pudesse ser persuadida a perdoá-lo,
Khalid nunca se perdoaria.

Lentamente, ele se sentou na cadeira ao lado da cama. Ela estendeu a mão com o
celular.

— Aqui. Obrigada por me mostrar. Khalid meneou a cabeça.

— Fique com as fotos até que você possa ver nossa filha.

— Obrigada. — A voz era tensa, como se Maggie estivesse falando com um
estranho.

Khalid não podia aguentar mais.

— Maggie. — Ele lhe pegou a mão, segurando-a com força quando ela tentou
recolher os dedos. Não queria soltá-la nunca mais.

Mesmo agora, no melhor hospital de Shajehar, Khalid estava morrendo de medo de
perdê-la. Reviveu alguns momentos, quando seu mundo se desequilibrara. O lenço de
Maggie enganchado no galho de uma roseira, como uma bandeira na brisa. O barulho do
motor de um carro saindo da fortaleza. O gosto metálico de terror em sua boca quando
ele percebeu que Maggie estava sozinha na montanha precária. A impotência de esperar,
rezando para o helicóptero chegar, sabendo que tudo que ele podia fazer era segurá-la
nos braços e não perder a esperança.

Ecos do passado o tinham inundado. Ele temera que a história estivesse se
repetindo.

— Você está me machucando.

—D esculpe — murmurou Khalid, mas não podia liberá-la. Isso era pedir demais.
Então lhe ergueu a mão e deu diversos beijos em seu dorso.

— Por favor, Khalid. — Ela tremeu. — Não faça isso.

Havia lágrimas nos olhos castanho-esverdeados, e a culpa o assolou. Ele não queria
mais machucá-la.

— Não chore Maggie. — Ele lhe virou a mão e beijou a palma. Fechou os olhos e
inalou o aroma único, então lhe provou a pele com a língua. Tremeu em reação.

Sua mulher. Faria qualquer coisa por ela, mas não a libertaria. Pedir isso era pedir o
impossível.

— Eu FRACASSEI em proteger você. Fracassei em proteger minha família. — A voz
de Khalid era mais emocionada do que ela já ouvira antes. Ele continuava segurando sua
mão.


O comportamento dele era muito possessivo. Maggie sentia o quanto ele parecia
abalado. Todavia, Khalid estava com medo pelo bebê. Como ela. Aquele era o único elo
emocional entre eles: o amor pela filha.

— Está tudo bem, Khalid. Acabou agora. O bebê está seguro. — Maggie não
questionou, por um segundo, a necessidade de confortá-lo. Amava-o, mesmo que seu
sentimento não fosse correspondido.

— Vocês estão seguras. — A voz dele era emocionada. — Eu pensei que perderia
as duas.

Khalid levantou a cabeça, e ela ficou chocada pela emoção profunda que viu no
rosto dele. A expressão era sofrida, angustiada.

Maggie curvou os dedos ao redor dos dele, oferecendo conforto. Não suportava vê-
lo em tamanha agonia.

— Ver você lá, inconsciente... Foi como se todos os pesadelos do passado tivessem
vindo me perseguir.

O passado? É claro, como ela poderia ter esquecido?

— Shahina — murmurou Maggie. O acidente devia ter despertado lembranças da
morte da primeira esposa de Khalid.

Ele assentiu.

— Como eu pude deixar isso acontecer? Ela morreu nem dez quilômetros de onde
você se acidentou na estrada.

Maggie ficou horrorizada com a novidade. Não era de admirar que Khalid estivesse
nervoso. O que ele devia ter passado enquanto esperava por ajuda, imaginando se o
helicóptero chegaria a tempo?

— Eu não deveria ter levado você para a montanha. Deveria ter imaginado que era
perigoso, principalmente para uma mulher grávida. Muito longe de ajuda médica.

A tensão e agonia de Maggie pareciam nada comparadas à agonia que lia nos olhos
de Khalid.

Instintivamente, ela lhe tocou o maxilar. Ele virou o rosto para lhe roçar a palma, os
cílios baixos para esconder os olhos.

— Eu não mereço você, Maggie.

Deparada com a dor profunda dele, Maggie não conseguia se sentir zangada porque
ele não era capaz de amá-la. Amor não era uma escolha. Não podia culpá-lo pelo fato de
que Khalid dera seu coração para outra, anos atrás.

— Eu jamais irei me perdoar. Como posso esperar que você me perdoe?

— Khalid...

— Mas tenho de pedir perdão. Eu preciso.

— Khalid, não há nada a perdoar.

— Não há? — Ele lhe encontrou os olhos agora. — E quanto ao nosso casamento?

— Por favor, não faça isso — suplicou Maggie, tentando manter a voz firme. Não
tinha energias para ouvi-lo dizer que o casamento deles era um erro. Que seu coração
pertencia à primeira esposa.

Khalid mudara de idéia sobre o divórcio? Legalmente, ela estaria livre, então. Mas no
fundo, Maggie sabia que nunca mais seria inteira.

Os olhos escuros não deixaram os seus.

— Eu preciso falar Maggie. Eu fui negligente. Pior que isso, eu a fiz sofrer. — Ele
respirou fundo. — Contentei-me por tempo demais em apreciar os benefícios de nosso
casamento sem dar nada de mim em troca. Fui altamente egoísta. Mantive distância
emocional porque me acreditava incapaz de amar de novo. Você merece mais que isso.

Ele estava prestes a lhe dar a liberdade que Maggie precisava. Então, por que ela se
sentia como uma prisioneira condenada, esperando uma sentença de morte?

Lágrimas nublaram os olhos de Maggie, e ela tentou liberar a mão do aperto dele.
Necessitava de espaço. Necessitava estar sozinha.


Mas ele não a soltou.

— Não foi até que você me enfrentou, até que me negou seu corpo, e mais, sua
afeição, que percebi o que eu tinha feito. Foi quando entendi o que sentia por você.

A respiração de Maggie se tornou ofegante. Entretanto, ela não conseguia desviar
dos olhos brilhantes e intensos.

— Estou envergonhado, Maggie. Muito envergonhado por não ter entendido antes.
— Khalid meneou a cabeça. — Eu me escondi da verdade, sendo covarde demais para
ver além dos limites que estabeleci para mim mesmo. Eu devia ter percebido como tratei
você mal. — Ele lhe apertou mais a mão.

— Khalid, basta. Por favor. Eu sei como você se sente; não precisa dizer mais nada.
— Seu coração já estava se despedaçando.

— Então, você sabe mais que eu, habibti. Levei muito tempo para entender o que
você significa para mim. Como passei a amá-la por sua força e beleza, por seu charme e
carinho, por sua determinação, por todas as coisas que a tornam a mulher especial que
você é.

Atônita, Maggie encontrou seus olhos, vendo apenas honestidade neles.

— Eu pensei que fosse conveniência, respeito, até mesmo desejo sexual intenso,
que me fizesse querer estar com você — continuou ele. — Qualquer coisa, exceto amor.

Amor?

Maggie arfou, sem conseguir falar.

— Foi fácil dizer a mim mesmo que eu a desejava porque você era tão sexy, a
fantasia de qualquer homem – murmurou ele entre beijos fervorosos em sua palma. — Ou
que você era boa companhia, capaz de ouvir e dar outra perspectiva sobre os problemas.
Ou que eu respeitava o jeito com que você se adaptava às demandas da vida num novo
país.

— Ou que eu carregava seu bebê? — Ela não podia acreditar naquelas palavras
maravilhosas, apesar da esperança brotando em seu interior.

Ele assentiu.

— Essa era outra razão lógica, que você estava grávida com nosso filho. Afinal de
contas, foi à desculpa que eu usei para forçá-la ao casamento.

— Como?

— Eu já tinha decidido que a queria em minha vida. — Ele sorriu. — Eu soube,
depois de uma noite, que queria muito mais de você. Não pretendia ser rejeitado. Por
isso, você foi trazida para Shajehar. Eu tinha todas as intenções de seduzi-la para minha
cama de novo e de novo.

Ela não conseguia acreditar naquilo.

— Não, Khalid. Não há necessidade de mentir, de esconder a verdade. — Ele
estava tentando construir alguma coisa entre eles que não existia. Presumivelmente por
causa do bebê.

— A verdade? A verdade é que eu a adoro, habibti. Sinto isso há meses, mas estava
muito cego e obstinado para ver. Hussein sabia. E Zeinab. Mas eles não falaram nada,
até que Hussein me confrontou na fortaleza.

— Hussein disse que tinha visto você e Shahina juntos, e que eu merecia saber a
verdade. — Pronto, ela falara.

— Ah, então você ouviu? Maggie assentiu.

— Você falou que eu era diferente de Shahina. Que sentia a diferença toda vez que
me via. — Ela mordeu o interior da boca, para impedir que seu queixo tremesse. Não
desmoronaria.

— Exatamente, minha querida. — Khalid lhe inclinou o queixo. Através do
sofrimento, Maggie registrou um tremor nos dedos dele.


— Shahina foi meu primeiro amor. Nós nos conhecíamos desde crianças, e nos
apaixonamos enquanto crescíamos. O que tínhamos era especial, e eu nunca pensei que
pudesse amar outra mulher novamente.

Ela mal conseguia respirar quando ele a olhava assim.

— Eu nunca esperei ser tomado por um amor tão poderoso que descontrolasse
tanto meu bom senso quanto minha libido. Encontrar uma mulher que significa mais que a
vida para mim. — Ele lhe traçou os lábios com os dedos. — Sim, eu amei Shahina, mas
você me fez perceber que eu precisava deixar o passado para trás. Eu a amo, Maggie,
com todas as fibras de meu ser. Não sou mais um jovem imaturo, e sei o que quero na
minha vida.

Khalid respirou fundo.

— Eu quero você. Sempre. Para sempre. É possível que você sinta alguma coisa
por mim? O bastante para aceitar meu pedido de perdão e ficar?

Os olhos de Maggie brilhavam com lágrimas. Ela queria tanto que aquilo fosse
verdade.

— Você diz essas coisas porque está em choque. O acidente o lembrou de Shahina.

O horror no rosto dele a fez perder o fôlego.

— Não, meu amor. Nunca diga isso! Apesar das lembranças, meu medo era por
você. E por nosso bebê. O que sinto por você é verdadeiro. Sem você, não sou ninguém.

Ele se inclinou e lhe roçou os lábios num beijo terno.

— Mas eu ouvi...

— Você ouviu meu tio me censurando por eu deixar que nosso casamento
continuasse no impasse que estava. Eu tinha acabado de entender meus sentimentos por
você. E entender quão pouco eu lhe dava em retorno de sua fé, lealdade e paixão. Estava
inundado de culpa. — Khalid lhe prendeu o olhar, parecendo poder ler as emoções no
rosto dela.

— Eu sabia que estava apaixonado, que você era a coisa mais preciosa da minha
vida. Que eu nunca suportaria perdê-la. O conhecimento me apavorou. Você havia se
fechado para mim, com motivo. Eu não sabia como persuadi-la a me dar outra chance.

Khalid segurou o rosto dela com ambas as mãos.

— Eu gostaria que tivesse feito tudo diferente, que a tivesse cortejado propriamente,
dito que a amava. Em vez disso, fiquei paralisado pelo medo, afastando-a ainda mais de
mim. Eu não tinha esperança de conquistá-la. — Ele tremeu e fechou os olhos.

— Khalid. — Maggie olhou para o homem que, pela primeira vez, revelava seus
medos e esperanças mais secretos nos olhos não velados.

— Pode me perdoar, Maggie? Por não a merecer? Por não ter lhe oferecido meu
amor antes? Eu a magoei tanto...

— Psiu... — Maggie pressionou seus dedos trêmulos nos lábios dele. Por dentro, um
calor se espalhava por todo seu ser. O calor do amor, como ela jamais conhecera em
toda sua existência. — Não há nada a perdoar, Khalid.

Ele a fitou com intensidade.

— Maggie. Você não pode estar falando sério.

Ela sorriu, piscando contra lágrimas enquanto encontrava o olhar esperançoso de
Khalid.

— Eu estou. — Foi tudo que Maggie conseguiu falar, antes que sua garganta se
fechasse.

— Então fale. Diga o que eu preciso ouvir. — O tom de voz de Khalid foi um pouco
arrogante, mas a incerteza nos olhos escuros a convenceu mais do que quaisquer
palavras poderiam.

— Eu amo você, Khalid — falou ela pela primeira vez, ouvindo a alegria em sua
própria voz, vendo essa alegria refletida na expressão amorosa dele.


Então Khalid a puxou para perto, e não houve mais palavras por um longo, longo
tempo.



























































































Capítulo Quinze












MAGGIE SE despediu das mulheres da montanha à porta do jardim murado. A
reunião tinha ido bem, e elas estavam entusiasmadas sobre a nova escola no vale. Uma
delas até mesmo sugerira um programa de alfabetização para adultos. Maggie sorriu e
voltou pelo jardim fragrante.

Khalid já trabalhara arduamente para garantir que os homens idosos mais
tradicionais não vetassem a ideia de meninas frequentarem a escola. Ele teria de ser
ainda mais persuasivo para convencê-los de que as esposas também deveriam aprender.
Mas Maggie não tinha dúvidas que seu marido obteria sucesso. Khalid podia ser muito
persuasivo quando desejava. Ou bastante prepotente, se a ocasião demandasse.

Uma onda de calor a envolveu, e ela parou distraída pela ideia de ele ser
persuasivo.

— Do que você está sorrindo, habibti?

Maggie se virou para vê-lo saindo das sombras. O sol brilhava nos cabelos pretos e
enfatizava as linhas de risada ao redor dos olhos e boca dele. Adorava a risada de Khalid,
sempre tão rica e profunda.

Estudou-lhe as feições esculpidas, os ombros poderosos, então olhou para o
pacotinho que ele carregava nos braços de maneira tão protetora.

Jasmine estava com SEIS meses. Com faces redondas e um lindo narizinho, ela
possuía os cabelos escuros do pai e uma risadinha rica que combinava com seu
temperamento alegre. No momento, a expressão no lindo rosto era de fome.

Como sempre, a visão dos dois juntos, das pessoas que ela mais amava no mundo,
emocionou Maggie.

Observou Khalid aconchegar mais a filha na curva do braço, e pensou no quanto era
sortuda. Ele era tudo que ela queria num homem, num marido, num amante, no pai de
sua filha.

— Eu só estava pensando em como você é bom em conseguir tudo que quer Vossa
Majestade. — Ela abaixou os olhos num gesto que indicava flerte.

Ele sorriu.

— Parece-me que você é a persuasiva aqui. Quem decidiu que nós deveríamos
passar alguns meses por ano nas montanhas?

Maggie o olhou.

— Você se arrepende disso? Ele meneou a cabeça.

— Não. Você estava certa. Não posso manter você e Jasmine numa bolha de ar, por
mais que eu quisesse. — Ele a puxou para mais perto com seu braço livre, então,
mordiscou seu pescoço.

— Khalid!

— Hum?

Maggie tentou, em vão, ignorar as sensações que as carícias dele lhe causavam.
Estendeu os braços para Jasmine, que emitiu um som em aprovação. O cheirinho quente
de bebê preencheu seus sentidos quando ela a aninhou contra o peito.

— Esta não é a hora ou o lugar — disse ela, tentando soar sensata.

— Talvez você esteja certa. — Khalid olhou para Jasmine, faminta, puxando a blusa
de Maggie com força. — Esta não é a hora. Mas depois que alimentar Jasmine, talvez me
permita praticar minhas habilidades de persuasão com você. — Ele arqueou as
sobrancelhas, acentuando seu incrível magnetismo.

Khalid passou os braços ao redor dela e de Jasmine, envolvendo-as no seu abraço
protetor.

Maggie suspirou em puro deleite. Encontrara o amor que nunca pensara que seria
seu. Tinha tudo que seu coração desejava.

Os sonhos realmente se transformavam em realidade.